SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.17 issue2Child neglect: the most recurrent form of maltreatmentMaternal perceptions and seelings related to universal newborn hearing screening of their child author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Pensando familias

Print version ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.17 no.2 Porto Alegre Dec. 2013

 

ARTIGOS

 

Práticas parentais maternas e a influência de variáveis familiares e do bebê

 

Maternal parenting practices and the influence of variables on the family and the baby

 

 

Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues1, I; Sária Cristina Nogueira2, I, II; Elisa Rachel Pisani Altafim3, III

I Universidade Estadual Paulista UNESP - Bauru
II Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP
III Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP-Ribeirão Preto

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo investigou a influência das variáveis idade e sexo do bebê, configuração familiar e número de filhos sobre as práticas parentais de mães de bebês. Participaram da pesquisa 50 mães adultas de bebês com até 22 meses de idade que responderam ao Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês (IEPMB). Os resultados apontaram que mães de meninas utilizam mais a prática de Monitoria Positiva do que as de meninos (p=0,04) e, quanto mais velho o bebê mais utilizam a prática de Negligência (r= +0,54, p<0,001). Das características maternas observou-se que as mães de famílias nucleares utilizam mais a prática de Punição Inconsistente (p=0,04) do que as mães de outras configurações e mães multíparas utilizam mais a prática de Abuso Físico do que as mães primíparas (p=0,02). Discute-se a importância de intervenções pontuais que privilegiem práticas positivas resultando na diminuição das práticas negativas como apoio ao desenvolvimento infantil.

Palavras-chave: Práticas educativas, Desenvolvimento infantil, Comportamento materno.


ABSTRACT

Parenting practices can be understood as the behaviors emitted by parents to educate and socialize their children. The present study investigates the influence of the parenting practices according to the baby sex and age, family configuration and number of children. For this, 50 adult mothers were questioned according to the Parental Styles Inventory for Mothers with Babies (IEPMB). An analysis with the results indicates that mothers with baby girls normally uses a more Positive Monitoring practice when compared with mothers with boy babies. A positive correlation (r = +0.54, p <0.001) was found, between the age of the baby and the practice of negligence, meaning that there is an increase of the usage in the practical as the baby age increases. Also a significant difference (p = 0.04) in the Inconsistent Punishment practice pointed out to the fact that mothers from nuclear families seem to use this practice more than mothers from other family configurations. And multiparous mothers use more Physical Abuse practical than primiparous mothers (p = 0.02). Concerning this analysis, we support a discussion in the present work about the importance of interventions that focus on the effect of specific positive practices, the reduction of negative practices and the role of the network support on the children development.

Keywords: Parental practice, Maternal behavior, Child development.


 

 

Práticas parentais maternas e a influência de variáveis familiares e do bebê

Práticas parentais podem ser definidas como os comportamentos que os pais emitem na expectativa de educar seus filhos. O conjunto de práticas educativas utilizadas pelos adultos significativos para educar, socializar e controlar o comportamento de seus filhos são chamados de estilos parentais (Gomide, 2006). A autora descreve sete práticas educativas parentais. Delas, duas estão atreladas ao desenvolvimento de comportamentos pró-sociais das crianças, as práticas positivas e, outras cinco estão relacionadas a comportamentos antissociais, as negativas. Entre as práticas positivas estão a monitoria positiva, que se refere à atenção quanto à localização dos filhos e acompanhamento de suas atividades, e o comportamento moral, que remete ao ensino de valores culturalmente aceitos, tais como justiça e responsabilidade. Das práticas consideradas negativas, a autora descreve cinco: a negligência, o abuso físico, a disciplina relaxada, a punição inconsistente e a monitoria negativa. A negligência envolve a ausência de atenção e afeto; o abuso físico compreende o uso de ameaça, chantagem e castigos físicos; a disciplina relaxada implica o descaso do não cumprimento das regras pré-estabelecidas; a punição inconsistente refere-se ao humor dos pais como medida para punir ou reforçar comportamentos e, a monitoria negativa, compreende o excesso de regras que resulta no não cumprimento das mesmas pelas crianças, criando um clima de hostilidade entre pais e filhos (Gomide, 2006).

Com base nas práticas descrita acima, Gomide (2006) propôs o Inventário de Estilos Parentais (IEP) que busca diagnosticar famílias de risco e de não-risco social. Em caso de famílias de risco social, é possível a implementação de intervenções e, posteriormente, a avaliação de mudanças decorrentes das mesmas.

Logo, as práticas parentais têm uma função relevante para o desenvolvimento infantil, uma vez que propiciam a aquisição de repertórios comportamentais dos filhos e estão presentes desde as primeiras interações pais-filhos (Gomide, 2004). Após o nascimento do bebê, as mães precisam exercer as funções de cuidar e de educar, o que será feito a partir da emissão das práticas parentais, aprendidas no contexto cultural em que vivem. Isso pode ficar claro no caso do desenvolvimento infantil, uma vez que as crenças e valores dos pais acerca do desenvolvimento influenciam as práticas parentais por eles emitidas (Dessen, 2005).

Em uma revisão da literatura brasileira sobre as práticas parentais, Macarini, Martins, Minneto e Vieira (2010) ressaltaram a complexidade das relações familiares e das variáveis que influenciam nas práticas dos pais em relação ao cuidado dos filhos, como: características específicas da criança e dos pais, relação entre os cônjuges, história de criação dos pais e contexto sócio-cultural em que estão inseridos. Alvarenga, Piccinini, Frizzo, Lopes e Tudge (2009) alertam que, assim como comportamentos adequados de bebês, as primeiras manifestações de problemas de comportamentos externalizantes e internalizantes poderiam ser detectadas precocemente, aproximadamente entre os 18 e os 24 meses. Uma pesquisa realizada por Rodrigues, Altafim, Schiavo e Valle (2011) aponta para a importância da avaliação das práticas parentais no início da infância, para a realização de intervenções que promovam a melhoria de práticas educativas maternas. As autoras observaram que mães adolescentes de bebês de até 12 meses de idade, após a participação em um grupo de intervenção, relataram utilizar mais a prática parental Negligência. A hipótese levantada foi que a idade do bebê que aumentou no decorrer do grupo o que pode influenciar no uso mais frequente de práticas negativas. Portanto, a idade, assim como o sexo, são variáveis que podem interferir nas práticas utilizadas por pais de bebês.

Sobre a variável do sexo, Gomide (2006) encontrou diferenças significativas nas práticas maternas quando o mesmo foi considerado. As práticas comportamento moral e monitoria positiva aparecem mais no relato de mães de meninas. Por outro lado, as práticas abuso físico e disciplina relaxada são mais utilizadas com meninos. Nas demais práticas não foram encontradas diferenças significativas.

Há resultados semelhantes em relação à prática comportamento moral, em uma pesquisa com 322 adolescentes entre 13 e 17 anos (Sampaio & Vieira, 2010), utilizando o Inventário de Estilos Parentais (Gomide, 2006). Ao comparar os Índices de Estilo Parental (iep) maternos utilizados com meninas e meninos não foram encontradas diferenças significativas. Todavia, ao considerar cada uma das práticas educativas segundo o gênero dos filhos, observou-se que os escores maternos diferenciaram-se estatisticamente na prática de comportamento moral, apenas. O grupo feminino avaliou as mães como mais atuantes nessa prática do que o masculino (U = 10295; p<0,05). A partir de uma revisão bibliográfica, Sampaio (2007) concluiu que, de modo geral, existem diferenças no modo como pais e mães relacionam-se com seus filhos e filhas e, que, pais de meninos e meninas apresentam formas particulares de lidar com suas competências e dificuldades.

Partindo do princípio que crenças determinam as expectativas e sentimentos com relação aos filhos, foi conduzida uma pesquisa na qual os autores analisaram os conteúdos das verbalizações de mulheres no terceiro trimestre de gestação sobre estes temas em relação ao sexo do bebê (Piccinini, Gomes, Moreira & Lopes, 2004). Os resultados apontaram que a variável sexo do bebê pode estar relacionada aos sentimentos das gestantes e à futura relação que estas estabelecerão com o bebê, trazendo implicações para o papel/lugar que ele ocupará na família, bem como para as práticas educativas que essas mães utilizariam com seus bebês, pois há estereótipos sociais envolvidos, como por exemplo, a crença de que meninas são mais fáceis de educar do que meninos.

Em uma análise comparativa realizada com 76 mães adolescentes com bebês até 12 meses de idade, sendo 37 mães de bebês do sexo feminino e 39 do sexo masculino, foi constatada diferença significativa na prática monitoria positiva (p = 0.02), demonstrando que as mães de meninas utilizam-se mais dessa prática do que as mães de meninos (Nogueira, Uliana, Altafim, Schiavo & Rodrigues, 2009). Nas demais práticas educativas não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas relacionadas ao sexo do bebê. Essa análise demonstra que é possível observar diferenças nas práticas parentais relacionadas ao sexo da criança desde as primeiras relações que as mães adolescentes estabelecem com seus bebês.

Pesquisas têm demonstrado que os estilos e práticas parentais passam por mudanças significativas ao longo do desenvolvimento da criança, decorrentes de modificações no comportamento infantil (Piccinini, Marin, Alvarenga, Lopes & Tudge, 2007; Altafim, Schiavo & Rodrigues, 2008; Marin, Piccinini & Tudge, 2011). Verificou-se que mães de bebês com mais de oito meses relatavam utilizar-se mais da prática negligência do que mães de bebês mais novos, sugerindo que à medida que o bebê cresce as mães se utilizam mais dessa prática negativa (Altafim, Schiavo & Rodrigues, 2008).

Em outra pesquisa conduzida foram analisadas as práticas de 111 mães de bebês adultas e adolescentes considerando as idades dos bebês, de um a quatro meses, de cinco a oito meses e de nove a 12 meses de idade (Rodrigues et al., 2011). Os resultados apontaram para diferenças significativas na prática disciplina relaxada, sendo que mães de bebês de cinco a oito meses a utilizam mais. Também foi verificada uma diferença significativa entre mães de bebês com até quatro meses e mães de bebês com mais de nove meses de idade, na prática negligência, sendo que as mães de bebês mais velhos a utilizaram com maior frequência. Em relação às outras práticas não foram encontradas diferenças significativas. Os resultados sugerem que, à medida que o bebê cresce, as mães utilizam-se mais de algumas práticas negativas.

Marin, Piccinini e Tudge (2011) realizaram um estudo com o objetivo de examinar a estabilidade e mudança nas práticas educativas maternas e paternas, em particular o uso de práticas indutivas, coercitivas e de não interferência aos 24, 36 e 72 meses de vida da criança. Os resultados indicaram diferenças quanto às práticas indutivas maternas entre os 24 e 36 meses, bem como entre as práticas de não interferência entre os 24 e 36 meses e, também, entre os 36 e 72 meses. Quanto aos pais, as diferenças foram encontradas entre as práticas indutivas aos 24 e 72 meses e entre as de não interferência aos 24 e 36 meses e aos 36 e 72 meses. Os resultados sugerem que tanto estabilidade quanto mudanças estão presentes nas práticas educativas parentais ao longo do desenvolvimento da criança.

A forma como os pais cuidam e educam seus filhos influencia a saúde mental e física das crianças, porque é na família que se produzem cuidados essenciais à saúde. Estes vão desde as interações afetivas necessárias ao desenvolvimento da saúde mental e da personalidade madura de seus membros, passando pela aprendizagem da higiene e da cultura alimentar e atingem o nível da adesão aos tratamentos prescritos pelos serviços (medicação, dietas e atividades preventivas). Essa complementaridade se dá através de ações concretas no cotidiano das famílias, o que permite o reconhecimento das doenças, busca "em tempo" de atendimento médico, incentivo para o autocuidado e o apoio emocional (Gutierrez & Minayo, 2010).

Considera-se a família como o primeiro ambiente social em que a criança se insere, sendo o início da aprendizagem humana. Na sociedade atual, as famílias e suas configurações têm sido constantemente modificadas, não havendo uma configuração ideal, mas diversas formas de combinação, nas quais cada indivíduo tem o seu papel (mãe, pai, filho, avô, avó, tio, dentre outros) e cada família tem um número variável de pessoas que a compõe (Dessen & Polonia, 2007).

Seben, Nunes e Falceto (2012) destacam a alteração nos reagrupamentos familiares que têm ocorrido na sociedade, salientando que, ainda que não haja dados conclusivos sobre as consequências das novas configurações familiares para o desenvolvimento da criança, a literatura aponta para a importância dos vínculos estabelecidos no ambiente familiar para o desenvolvimento infantil. No mesmo sentido, Gomes e Magalhães (2007) colocam a família como importante fonte de suporte para seus membros, constituindo-se numa fonte primária de refúgio e aconchego desde idades precoces.

Diante desse dado, Marin e Piccinini (2007) desenvolveram um estudo para verificar se haveriam diferenças nas práticas educativas de mães solteiras e de mães pertencentes a famílias nucleares, com filhos entre 30 e 36 meses de idade. Os resultados apontaram que não há diferenças significativas nos comportamentos e práticas educativas maternas, bem como no desenvolvimento infantil dos filhos de famílias de mães solteiras e de casadas. Esse dado torna-se importante devido ao fato de muitas mães adolescentes serem mães solteiras ou de mães casadas serem separadas, o que poderia influenciar a forma como exercem as práticas parentais sobre seus filhos. Os resultados desse estudo apontam para o fato de que a condição civil da mãe (solteira ou casada) não é o principal fator que influencia nas práticas que elas exercem para com seus filhos.

No entanto, em outro estudo também realizado por Piccinini et al. (2007), investigando a responsividade materna (mães solteiras comparadas a mães de famílias nucleares) aos seus filhos de três meses de idade, observou-se diferenças significativas entre os dois grupos de mães, indicando que as mães solteiras foram menos responsivas do que as mães casadas, em especial no que se refere à vocalização e ao choro do bebê. Assim, tais resultados apontam para a possibilidade de que mães solteiras podem passar por estresse maior quando precisam suprir sozinhas as demandas do bebê, principalmente nos primeiros meses de vida.

Além disso, a literatura aponta para fatores que podem afetar a dinâmica e o funcionamento de famílias de mães solteiras. Segundo Marin e Piccinini (209), são eles: fatores familiares (atitudes e comportamentos maternos, ausência do pai), sociais (nível socioeconômico, escolaridade da mãe, rede de apoio social, prestígio profissional) e emocionais (aspectos subjetivos, estresse e depressão). Os autores também destacam que, uma vez que as condições básicas sejam adequadas à maternidade, as famílias de mães solteiras podem desempenhar seu papel de maneira satisfatória. Por outro lado, entende-se que o pai não pode ser relegado ao segundo plano no desenvolvimento infantil, pois ele se constitui numa importante rede de apoio para a mãe e de apoio afetivo para a criança.

Um estudo conduzido com 350 crianças entre 17 e 42 meses, avaliando a estimulação no ambiente familiar e o desenvolvimento infantil, observou que a qualidade do primeiro influencia o segundo (Andrade et al., 2005). Neste estudo, notou-se que a condição materna de trabalho e seu nível de escolaridade, bem como as crianças que ocupam as primeiras ordens de nascimento, convivendo com reduzido número de crianças menores de cinco anos, têm melhor estimulação no ambiente doméstico. Os membros de uma família, independente da configuração, estão inter-relacionados e se influenciam de forma mútua. Outra variável que tem sido apontada na literatura como influente nas práticas parentais é o número de filhos, com diferenças entre mães primíparas e multíparas (Fox, Platz & Bentley, 1995).

Diante do exposto, entende-se que a família pode constituir-se em um fator de risco ou de proteção para o desenvolvimento humano. As relações estabelecidas entre seus membros podem ser inadequadas, gerando problemas futuros, principalmente para as crianças (família como fator de risco), ou podem ser satisfatórias, constituindo-se uma rede de apoio para o casal e para a própria criança (família como fator protetivo).

Ainda no início da infância identificam-se práticas educativas que, mais tarde, poderão ter reflexos no comportamento infantil. Estudos têm sido desenvolvidos com mães de bebês com o objetivo de identificar a relação entre práticas parentais e variáveis como idade da mãe e do bebê, assim como o efeito de um programa de intervenção com mães adolescentes (Altafim, Schiavo & Rodrigues, 2008; Rodrigues et al., 2011). A investigação das práticas educativas pode contribuir para a elaboração de estratégias de intervenções precoces que podem prevenir futuros problemas para o desenvolvimento infantil e para a dinâmica familiar (Piccinini et al., 2007).

Assim, esta pesquisa objetivou investigar a influência das variáveis idade e sexo do bebê, configuração familiar e número de filhos sobre as práticas parentais de mães de bebês até 12 meses.

 

Método

Participantes

O presente estudo trata-se de um relato de pesquisa. Foram convidadas para participar do presente estudo todas as mães de bebês com idade entre seis e 12 meses participantes do projeto de extensão "Acompanhamento do desenvolvimento de bebês: avaliação e orientação aos pais", que funciona em Centro de Psicologia Aplicada, de uma universidade pública do interior do estado de São Paulo. Foi determinado um período de seis meses para a coleta de dados. Como critério de exclusão, utilizou-se o fato do bebê apresentar alguma condição de risco por ocasião do nascimento (prematuridade, baixo peso, mãe adolescente). Foram identificadas 50 mães adultas de bebês até 12 meses de idade, sendo 26 mães de bebês do sexo feminino e 24 mães de bebês do sexo masculino. As mães tinham em média 27 anos (DP=5,79), a mais velha com 40 e, a mais nova, 20 anos. Quanto às idades dos bebês, a idade média foi de oito meses (DP=5,56) e, o bebê mais velho com 22 meses e, o mais novo, um mês.

Ao aceitarem participar da pesquisa foram informadas de todos os aspectos éticos pertinentes à pesquisa com humanos. A partir do aceite e esclarecidas todas as dúvidas, as participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Material

Uma entrevista inicial possibilitou a coleta de dados sobre o nascimento do bebê e informações sobre condições familiares, como idade, tipo de família, número de filhos e escolaridade dos pais.

Para a coleta dos estilos e práticas parentais utilizou-se o "Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês" (IEPMB), que consiste num instrumento adaptado de Gomide (2006) que consta de 25 itens sendo cinco de Monitoria Positiva e cinco de cada uma das práticas negativas: Negligência, Punição Inconsistente, Disciplina Relaxada e Abuso Físico, distribuídos de forma aleatória.

Procedimentos

a) Para coleta dos dados

Mães do projeto de extensão "Acompanhamento do desenvolvimento de bebês: avalição e orientação aos pais" e de duas creches próximas à Universidade foram convidadas a participarem do presente projeto. Cumpridas as formalidades éticas, em horários previamente agendados as mães responderam ao IEPMB.

b) Para análise dos dados

A relação, entre idade do bebê e os índices de estilo parental e de cada prática parental foi verificada por meio do teste de correlação de Pearson (p<0.05). Para realizar as comparações entre os dados de mães de bebês do sexo feminino e masculino, família nuclear e outros tipos de família, mães primíparas com mães multíparas, foi utilizado o Teste-t de Student (p<0,05).

 

Resultados

Sexo do bebê

Comparando o sexo do bebê com as práticas parentais utilizadas observa-se, na Tabela 1, que as mães de meninas (M= 9,29; DP = 1,04) apresentaram pontuação superior à das mães de meninos (M= 8,38; DP =1,91) na prática de monitoria positiva com diferença estatisticamente significativa (p=0,04). Consequentemente, verificou-se maior uso de práticas negativas para as mães de meninos. Todavia, não foram observadas diferenças significativas entre os dois grupos quanto ao uso de práticas negativas.

 

 

Idade do Bebê

A idade do bebê foi outra variável correlacionada com os índices das práticas parentais utilizadas por mães de bebês. Nas práticas parentais foi verificada correlação significativa entre a idade do bebê e a prática parental negligência (r= +0,54, p<0,001) (Tabela 2). A correlação foi positiva demonstrando que quanto mais velhos os bebês mais as mães utilizam-se dessa prática. Nas outras práticas parentais não foram verificadas correlações significativas.

 

 

Configurações Familiares

As configurações familiares de mães adultas foram relacionadas às práticas parentais. Para tanto, considerou-se duas categorias de configurações familiares, que foram as predominantes, a saber: "Família nuclear" e "outros" (englobando mães que moram com famílias de origem, famílias estendidas, isto é, outras pessoas moram com a família nuclear ou famílias monoparentais). Assim, 36 mães adultas pertenciam a famílias nucleares e 14 mães adultas pertenciam à categoria "outros". A Tabela 3 apresenta as médias de cada conjunto de práticas considerando a configuração familiar.

 

 

Com relação às práticas parentais os dados mostram que as mães de família nuclear apresentaram menor média da prática monitoria positiva quando comparada com outras configurações familiares. Das práticas negativas o grupo "outras configurações" apresentou média maior somente em disciplina relaxada, todavia, sem diferença significativa entre os grupos. Nas demais práticas negativas a média do grupo de mães de "famílias nucleares" superou o outro grupo. Observou-se diferença estatisticamente significativa em punição inconsistente (p=0,04).

Mães primíparas e multíparas

Outra variável analisada, descrita na Tabela 4, refere-se às práticas parentais de mães primíparas e multíparas. Observou-se que as mães primíparas apresentaram média maior na prática monitoria positiva. Quanto às práticas negativas, as mães primíparas apresentaram média mais baixa, que significa menor uso do que as mães multíparas, em todas as práticas analisadas. Entretanto, foi encontrada diferença significativa somente para a prática abuso físico (p=0,02), demonstrando que as mães multíparas (M= 0,64; D=0,96) utilizam-se mais dessa prática do que as mães primíparas (M=0,18; D=0,39).

 

Discussão

O presente estudo analisou as suas práticas parentais de mães de bebês considerando as seguintes variáveis do bebê, o sexo e a idade e, entre as variáveis da mãe, a configuração familiar e o número de filhos.

Quanto ao sexo dos bebês os dados do presente estudo apontaram para maior média para as mães de meninas em monitoria positiva. Tais dados confirmam os achados de Gomide (2006) que encontrou diferença significativa na mesma prática positiva que apareceu mais no relato de mães de meninas. Quanto às práticas negativas, ainda que as médias fossem maiores para as mães de meninos não foram observadas diferenças significativas entre os grupos. A autora observou, também, que entre mães de crianças maiores Gomide (2006) as práticas abuso físico e disciplina relaxada foram mais utilizadas com meninos. Os resultados semelhantes, mas com populações com idades diferentes indicam que é possível observar diferenças nos estilos e práticas parentais relacionadas ao sexo da criança desde as primeiras relações que as mães estabelecem com seus bebês.

Pesquisas têm demonstrado que as práticas parentais passam por mudanças significativas ao longo do desenvolvimento da criança, decorrentes de modificações no comportamento infantil (Piccinini et al., 2007; Rodrigues et al., 2008; Marin, Piccinini & Tudge, 2011). Na presente pesquisa observou-se que à medida que aumenta a idade do bebê as mães passam a utilizar mais a prática de negligência. Tais resultados confirmam os obtidos por Rodrigues et al. (2011) de que, à medida que o bebê cresce, as mães utilizam-se mais de práticas negativas. A configuração familiar tem sido considerada como fator de risco e/ou de proteção ao desenvolvimento infantil, podendo ser responsável pelo estilo parental utilizado. Na amostra avaliada, entre as mães adultas prevaleceu a configuração de família nuclear (mães moram com o pai e os filhos). Concorda-se com Macarini et al. (2010), que destacam a complexidade das relações familiares como fatores que influenciam nas práticas parentais emitidas, ressaltando a relevância da compreensão das diferentes configurações familiares para a promoção do desenvolvimento infantil. Os resultados obtidos apontaram para resultados melhores para "outras configurações" em monitoria positiva, porém, também foi superior em disciplina relaxada. Nas demais práticas negativas o grupo de mães de famílias nucleares superou o de "outras configurações". Uma hipótese é de que as mães de "outras configurações" podem contar com maior rede de apoio, o que pode promover boas práticas parentais, seja por modelo ou por orientação de outras pessoas da família. Assim como em outros estudos com bebês (Araujo, Rios, Santos & Gonçalves, 2010), demonstra-se a importância do apoio da rede familiar.

Uma das variáveis analisadas foram as práticas parentais de mães de bebês considerando o número de filhos. Observou-se que mães multíparas possuem práticas parentais piores do que as mães primíparas, ou seja, as mães com apenas um filho utilizam-se menos de práticas parentais negativas, como a punição inconsistente, presente no repertório de mães multíparas. Tal dado corrobora o encontrado por Andrade et al. (2005) cujos resultados também mostraram que mães com mais filhos interagem menos com eles, o que pode resultar em maior uso de práticas negativas e menos estimulação.

 

Considerações finais

Os dados obtidos no presente estudo indicam a importância de análises das práticas educativas parentais de mães de bebês. Observou-se, ainda, que por mais que as mães utilizem de práticas positivas fazem uso, também, de práticas negativas. A literatura tem apontado para a relação entre práticas negativas e problemas de comportamento de crianças na primeira infância (Bolsoni-Silva, 2003; Patterson, DeBaryshe & Ramsey, 2002). Todavia, é importante a presença de práticas positivas, ainda que as negativas existam em baixa frequência. É preciso, portanto, identificá-las de modo a oferecer orientações pontuais às mães, instrumentalizando-as no trato com o seu bebê, desenvolvendo formas adequadas de lidar com ele tornando a interação prazerosa e produtiva para ambos. Isto significa implementar intervenções que aumentem a frequência de práticas positivas e diminuam a ocorrência de práticas negativas. É pouco provável que pais alterem sua forma de lidar diferencialmente com bebês considerando seu sexo dado a carga cultural existente nas práticas. Porém, é provável que piorem suas práticas à medida que os bebês crescem ou que tenham mais filhos. Intervenções pontuais podem auxiliá-los na reflexão de crenças sobre desenvolvimento infantil e, consequentemente, sobre as práticas utilizadas. Um dado interessante obtido na presente pesquisa foi o desempenho pior de mães de famílias nucleares. Uma hipótese a ser investigada é o papel da rede de apoio que os diferentes tipos de famílias dispõem para o cuidado com a prole. É preciso, portanto, identificá-las e mapeá-las entre as mães de diferentes configurações familiares auxiliando-as no fortalecimento das possíveis redes de apoio disponíveis. Orientações às mães e às famílias têm resultado em pais e familiares seguros e orientados, aptos a cuidar com responsabilidade do bebê (Araújo, Rios, Santos & Gonçalves, 2010). O fato de mães multíparas apresentarem práticas piores do que mães primíparas deve ser melhor investigado associando as práticas observadas ao número de filhos, o que deve ser feito com populações maiores do que as utilizadas no presente estudo.

Os resultados obtidos apontaram para a importância aprimoramento de instrumentos que avaliem as práticas utilizadas desde a mais tenra idade, possibilitando que a reflexão sobre as mesmas faça parte de programas preventivos junto a mães de bebês de forma a propiciar o desenvolvimento pleno das capacidades da mesma e interação sadia e produtiva no seu ambiente familiar.

 

Referências

Altafim, E. R. P., Schiavo, R. A., Rodrigues O. M. P. R. (2008). Práticas parentais de mães adolescentes: Um estudo exploratório. Temas sobre Desenvolvimento, 16, 104-110.         [ Links ]

Andrade, A. S., Santos, D. N., Bastos, A. C., Pedromônico, R. M., Almeida- Filho, N., Barreto, M. L. (2005). Ambiente familiar e desenvolvimento cognitivo infantil: Uma abordagem epidemiológica. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 39(4), 606-611.         [ Links ]

Alvarenga, P., Piccinini, C. A., Frizzo, G. B., Lopes, R. S, Tudge, J. (2009). Estabilidade e mudanças nas práticas educativas de mães e pais dos 18 para os 24 meses de vida da criança. Interação em Psicologia, 13(2), 253- 262.         [ Links ]

Araujo, C. L., Rios, C. T. F., Santos, M. H., Gonçalves, A. P. F. (2010). Método mãe canguru: Uma investigação da prática domiciliar. Cien Saúde Colet , 15(1), 301-307.         [ Links ]

Bolsoni-Silva, A. T. (2003). Habilidades sociais educativas, variáveis contextuais e problemas de comportamento: Comparando pais e mães de pré-escolares. Doutorado em Psicologia. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP.         [ Links ]

Dessen, M. A. (2005). Construindo uma ciência do desenvolvimento humano: Passado, presente e futuro. In M. A. Dessen & A. L. Costa Junior (Orgs.). A ciência do desenvolvimento humano: Tendências atuais e perspectivas futuras (pp. 264-278). Porto Alegre: Artmed.         [ Links ]

Dessen, M. A., Polonia, A. C. (2007). A família e a escola como contextos de desenvolvimento humano. Paidéia, 17(36), 21-32.         [ Links ]

Fox, R. A., Platz, D. L., Bentley, K. S. (1995). Maternal factors related to parenting practices, developmental expectations, and perceptions of child behavior problems. Journal of Genetic Psychology, 156(4), 431-441.         [ Links ]

Gomes, L. A., Magalhães, A. S. (2007). Ampliando e fortalecendo as redes sociais de famílias de baixa-renda em situação de adoecimento infantil. Pensando Famílias, 11(2), 83-100.         [ Links ]

Gomide, P. I. C. (2006). Inventários de Estilos Parentais (IEP): Modelo teórico, manual de aplicação, apuração e interpretação. Rio de Janeiro: Editora Vozes.         [ Links ]

Gomide, P. I. C. (2004). Pais presentes, pais ausentes: Regras e limites. Petrópolis, RJ: Vozes; 2004.         [ Links ]

Gutierrez, D. M. D., Minayo, M. C. S. (2010). Produção de conhecimento sobre cuidados da saúde no âmbito da família. Cien. Saúde Colet (online), 15(1), 1497-1508.         [ Links ]

Macarini, S. M., Martins, G. D. F, Minetto, M. F. J, Vieira M. L. (2010). Práticas parentais: Uma revisão da literatura brasileira. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 62(1), 119-134.         [ Links ]

Marin, S. H., Piccinini, C. A. (2007). Comportamentos e práticas educativas maternas em famílias de mães solteiras e famílias nucleares. Psicologia em Estudo, Maringá,12(1), 13- 22.         [ Links ]

Marin, A., Piccinini, C. A. (2009). Famílias uniparentais: A mãe solteira na literatura. Psico Porto Alegre. PUCRS, 40(4), 422- 429.         [ Links ]

Marin, A. H., Piccinini, C. A., Tudge, J. R. H. (2011). Estabilidade e mudança nas práticas educativas maternas e paternas ao longo dos anos pré-escolares da criança. Psicologia: Reflexão e Crítica (UFRGS. Impresso), Porto Alegre, 24(1), 71-79.         [ Links ]

Nogueira, S. C., Uliana, M. C., Altafim, E. R. P., Schiavo, R. A., Rodrigues, O. M. P. R. (2009, agosto). Práticas parentais de mães adolescentes e seus bebês [Resumo]. In Anais XVIII Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental (p. 275-276). Campinas, SP.         [ Links ]

Patterson, G. R., DeBaryshe, B. D., Ramsey, E. (2002). A developmental perspective on antisocial behavior. Psychologist, 44(2), 329-335.         [ Links ]

Piccinini, C. A., Gomes, A. G., Moreira, L. E., Lopes, R.S. (2004). Expectativas e sentimentos da gestante em relação ao seu bebê. Psicologia: Teoria e Pesquisa (UnB. Impresso), Brasília, 20(3), 223-232.         [ Links ]

Piccinini, C. A., Marin, A. H., Alvarenga, P., Lopes, R. C. S., Tudge, J. R. (2007). Responsividade materna em famílias de mães solteiras e famílias nucleares no terceiro mês de vida da criança. Estud. Psicol. (Natal), 12(2),109-117.         [ Links ]

Rodrigues, O. M. P. R., Altafim, E. R. P., Schiavo, R. A., Valle, T. G. M. (2011). Estilos e práticas parentais de mães adolescentes: Um programa de intervenção. Pediatria Moderna, XLVII (2), 58-62.         [ Links ]

Sampaio, I. T. A. (2007). Práticas educativas parentais, gênero e ordem de nascimento dos filhos: Atualização. Rev. Bras. Crescimento Desenvolv. Humano, 17(2), 144-152.         [ Links ]

Sampaio, I. T. A., Vieira, M. L. (2010). A influência do gênero e ordem de nascimento sobre as práticas educativas parentais. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(2), 198-207.         [ Links ]

Seben, G., Nunes, M. L. T., Falceto, O. G. (2012). As crianças e as transformações nas configurações familiares. Pensando Famílias, 15(2), 103-122.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues
E-mail: olgarolim@fc.unesp.br

Recebido em: 24/06/2013
Aceito em: 05/12/2013

 

 

1 Livre docente do Departamento de Psicologia da UNESP - Bauru e do Programa Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da UNESP - Bauru.
2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da UNESP - Bauru. Bolsista FAPESP.
3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina (Saúde Mental) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP-Ribeirão Preto, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da UNESP - Bauru.