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Pensando familias

versão impressa ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.19 no.2 Porto Alegre dez. 2015

 

EDITORIAL

 

 

Helena Centeno Hintz*

 

 

Os padrões familiares nas diversas partes do mundo se estruturam em modos diferentes, de variadas formas. É com esta realidade que nos deparamos no século XXI, onde pela facilidade das comunicações, percebemos como essa diversidade envolve várias questões presentes na formação das famílias. A possibilidade de ampliar a compreensão sobre essa realidade leva-nos a refletir, pesquisar, estudar as diferentes perspectivas que temos no presente, já pensando em como encontraremos as famílias daqui a alguns anos. Torna-se cada vez mais visível a necessidade da transição para o pensamento pós-moderno como o marco final de uma visão linear e homogênea, e, consequentemente o surgimento de uma consciência da não linearidade, da diferença e da necessidade de pensamento e diálogo sem hierarquia em prol da construção de uma realidade saudável dentro do mundo atual em que vivemos.

Pensando Famílias acompanhando essa evolução, tem pautado por apresentar uma ampla gama de artigos com temas que retratam a presente realidade.

As relações conjugais apresentam diversas facetas que ora se movimentam harmoniosamente, ora com dificuldades, gerando situações de conflito, onde duas ou mais pessoas sofrem. A formação de um casal sugere sentimentos amorosos que a grande maioria das pessoas deseja viver, entretanto essas relações envolvem uma série de vínculos que vão além das relações e sentimentos entre os cônjuges, tornando dessa forma, uma relação bastante complexa. Muitos terapeutas têm aprofundado estudos com o objetivo de possibilitar que casais insatisfeitos com seus relacionamentos possam melhorar e conviver de forma mais agradável e feliz. Roberto Pereira escreve sobre casais que estabelecem uma dinâmica de brigas constantes sem violência física e sem fim. O autor propõe que este conflito tem como base a traição da confiança do casal em relação à sua família de origem e utiliza um fragmento da ópera Aida, de Verdi, para exemplificar suas ideias.

Em outro artigo sobre conjugalidade encontra-se o tema “o que é ser feliz a dois”. Essa questão tem sido bastante questionada, gerando estudos na busca por um maior entendimento de como esse fenômeno pode ocorrer na vida conjugal. As autoras Juliana Rosado e Adriana Wagner realizaram uma revisão sistemática da literatura científica destacando satisfação, ajustamento e qualidade conjugal, encontrando muitos estudos sobre os conflitos da vida conjugal e pouca ênfase sobre a saúde da vida a dois.

Os desafios da atualidade são muitos, entre eles, encontra-se a coexistência entre pais e filhos adolescentes, vivendo em um mundo com inovações ambientais constantes que interferem positivamente ou não no modus vivendi dos indivíduos. Maria J. Barreto e Aline Rabelo têm o objetivo de refletir sobre o relacionamento de pais e filhos adolescentes na família contemporânea. Em conclusão, consideram a relevância do diálogo afetivo e respeitoso entre pais e filhos para que haja um significativo sucesso em seu relacionamento, e efetividade na ação parental de educar.

Andressa Botton, Sabrina Cúnico, Mariana Barcinski e Marlene Strey discorrem sobre os aspectos transgeracionais e de gênero nas famílias contemporâneas. Após realizarem uma revisão de literatura, concluem que as famílias apoiam as relações que rompem com os padrões tradicionais de gendramento, entretanto, os valores tradicionais para os papéis sociais que se referem aos homens e mulheres persistem, o que leva a retrocessos quanto à educação não-sexista, prejudicando o estabelecimento de uma sociedade igualitária nas questões de gênero.

Um interessante estudo sobre emigrantes retornados mostra a dificuldade de reinserção dos mesmos em suas famílias, dificultando que os laços familiares possam ser retomados, muitas vezes depois de anos de distância. Os autores, Odacyr R. da Silva, Lucas dos Santos e Carlos Alberto Dias concluem o estudo com a ideia de que o restabelecimento das relações acontece com reformulações dos vínculos, dos papéis e funções, ditadas, em grande parte pelo crescimento dos filhos sem a presença da pessoa que emigrou.

Veronica Pereira, Carla Silva-Marinho, Olga Rodrigues, Taís Chiodelli e Millena Donatto realizaram pesquisa sobre o desenvolvimento motor de lactentes do primeiro até o terceiro mês de vida correlacionando com as variáveis idade materna, idade gestacional, escolaridade dos pais, condições de saúde materna durante a gestação e condições de nascimento, utilizando o instrumento Inventário Portage Operacionalizado. Um dado interessante observado foi a constatação de maior percentual de partos prematuros entre as parturientes adolescentes ou com mais de 35 anos de idade.

Em outro estudo, é apontada a repercussão da ausência paterna na percepção dos filhos em sua vida como adultos. A investigação realizada por Camila Damiani e Patrícia Colossi destaca a dificuldade que os filhos desde a infância enfrentam com essa ausência, desenvolvendo sentimentos de abandono, insegurança, baixa autoestima entre outros, sendo que, mesmo adultos, os filhos sofrem estas repercussões em suas vidas atuais.

Há atualmente grande preocupação com a violência doméstica de pais contra seus filhos. O grande prejuízo que estas crianças e adolescentes têm é imenso, atingindo o seu desenvolvimento e causando nas pessoas de modo geral fortes sentimentos contra estes pais que não respeitam seus filhos. O que fazer? Como ajudar? Uma das estratégias encontradas é o trabalho com grupos de pais, possibilitando-lhes um entendimento melhor sobre suas responsabilidades referentes aos cuidados com seus filhos. Amailson de Barros e Maria de Fátima de Freitas apresentam uma revisão bibliográfica sobre este tema.

Vania Bustamante e Isabela Santos realizam um estudo sobre a inclusão da família na assistência à saúde mental infantil, realizado em um serviço de atendimento a crianças acompanhadas de suas famílias. As autoras consideraram importante conhecer os arranjos familiares e refletir sobre as suas demandas. Identificaram algumas situações comuns entre as famílias e destacam a necessidade dos serviços estarem cientes para poderem acolher as diversas configurações familiares e ajudarem em suas necessidades de ajustamento familiar.

Izabel Cronemberger e Solange Teixeira fazem uma revisão de literatura, bibliográfica e normativa, sobre a Política de Assistência Social e a atenção dada à família no conjunto de políticas, enfatizando os avanços e os entraves no modo de proteção à mesma.

Boa leitura!

 

 

* Helena Centeno Hintz.

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