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Pensando familias

versão impressa ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.20 no.2 Porto Alegre dez. 2016

 

EDITORIAL

 

 

Helena Centeno Hintz*

 

 

A Pensando Famílias tem publicado artigos que apresentam os mais diversos temas sobre relacionamentos familiares e conjugais. Através dos artigos, a revista tem como um dos seus objetivos apontar situações difíceis e/ou não resolvidas, explorando fenômenos novos ou revisitando questões aparentemente resolvidas, mas usando dados ou métodos inovadores. Esses estudos integrados aos anteriores atualizam a compreensão sobre a vida familiar através de novas lentes ou respondem questões importantes sobre a família e seus relacionamentos. Nos artigos publicados nesta edição, temos um número significativo de pesquisas sobre diversos assuntos pertinentes a diversas etapas do ciclo vital familiar, sendo apresentados de forma a oferecer novas possibilidades de intervenções terapéuticas.

Os terapeutas de família mexicanos, R. Medina Centeno e E. Vargas Jiménez, trazem a questão da parentalidade, enfocando sobre as pessoas que, mais específicamente, atribuem um grande poder à narrativa da familia tradicional com vivências de maus-tratos ou ausência do pai biológico. Buscam através da Terapia Familiar Inclusiva instrumentos para reestruturar o bem estar emocional dessas pessoas. Continuando sobre o tema parentalidade, S. M. Macarini, M. A. Crepaldi e M. L. Vieira escrevem sobre o trabalho terapêutico na avaliação de práticas parentais de famílias com filhos pequenos. Os autores selecionaram o Modelo de Componentes da Parentalidade de Heidi Keller para utilizarem na avaliação dos cuidados dos pais dentro da abordagem sistêmica. Aliando as questões de parentalidade com a conjugalidade em recasamentos, D. Bernardi, M de V. Dias, R. N. Machado e T. Féres-Carneiro apresentam uma investigação clínico-qualitativa sobre as fronteiras entre essas duas funções no recasamento. Essas funções têm uma particularidade diferente do casamento uma vez que no recasamento pode haver filhos do casamento anterior e que interagem diretamente no recasamento dos pais, necessitando um diálogo eficiente para uma interação adequada.

O tema avós sempre é relevante no contexto familiar. As autoras M. D. de Deus e A. C. G. Dias investigaram produções científicas sobre o tema avós com o objetivo de entender quais são suas funções na família. Concluíram que os avós são figuras significativas, continuando na função de dar afeto, apoio e cuidado, tanto para com seus filhos como para seus netos. Agregam a isso, a necessidade de receberem um cuidado especial em questões referentes à saúde física e mental dos mesmos. M. H. Antunes, C. L. O. O. Moré e D. R. Schneider apresentam contribuições para a compreensão da aposentadoria no ciclo evolutivo da família, no relacionamento interpessoal e no contexto laboral. Os autores comentam aspectos sobre o desligamento do trabalho e suas repercussões, aliado ao entendimento sistêmico e ao aporte do ciclo de vida familiar para as intervenções terapêuticas no processo de aposentadoria.

A infidelidade é um tema relevante nos estudos sobre o relacionamento conjugal. L. R. Santos e E. Cerqueira-Santos analisam as publicações desse tema no cenário científico nacional. Concluem que ainda é pouco investigado, sendo que as publicações discorrem preferencialmente sobre as causas, repercussões e fenômenos relacionados às questões surgidas na atualidade, como sobre as novas configurações relacionais e conceito de liquidez descrito por Bauman. Dentro do tema relações de díades, Thiago de Almeida e Rafael Diniz de Lima escrevem sobre a dificuldade das pessoas que ao terminarem um relacionamento não conseguem se desligar dos parceiros, impedindo que novos relacionamentos sejam construídos de forma saudável. Os autores buscam entender no estudo realizado, como os relacionamentos vividos podem influenciar na construção de novos relacionamentos, constatando que o fato de o indivíduo permanecer envolvido ao relacionamento passado pode produzir mais ressentimentos e implicações negativas a ele mesmo. Os autores D. Waseda, L. Lofego, M. R. Feijó, U. H. Chaves e N. I. Valério realizaram um estudo qualitativo sobre as demandas relacionais de casais homoafetivos femininos referentes ao ciclo vital familiar. Constaram que esses casais, que possuem relacionamentos estáveis, têm experiências semelhantes aos casais heterossexuais, entretanto, é diferente a importância da rede social para o acolhimento e o pertencimento a um grupo acrescido do preconceito vivenciado pelos mesmos.

Como L. O. Blanc, L. M. de O. B. Silveira e S. P. Pinto escrevem, “o câncer é uma das principais causas de morte no mundo”. Dessa forma, o cuidado com o paciente e seu tratamento é relevante, mas, de igual forma, o cuidado com as pessoas que apoiam o paciente, os cuidadores, também merece ser estudada e qualificada. A partir da análise da produção científica, as autoras observam a falta de estudos sobre programas que visem a saúde dos cuidadores.

Novas tendências na Terapia Familiar Sistêmica são apresentadas no trabalho de Vladimir de Araújo Albuquerque Melo e Maria Alexina Ribeiro. Os autores discorrem sobre as principais características da Teoria Geral dos Sistemas e da Cibernética que compõem a abordagem sistêmica, assim como as contribuições teóricas de cada uma e suas implicações para a clínica com famílias. A partir da postura do terapeuta e da sua relação com a família, os autores discutem as mudanças de enfoque importantes ocorridas nessa abordagem e as novas tendências da Terapia Familiar.

L. J. C. de Azevedo, T. Féres-Carneiro, E. P. Brandão e S. L. B. Lins apresentam a formulação do conceito de transmissão psíquica sob a perspectiva de René Kaës. Este busca nas reflexões de Freud sobre a hereditariedade a base para o conceito de transmissão psíquica, que se mostra fundamental para a compreensão da família na abordagem psicanalítica de família. Também dentro da abordagem psicanalítica, R. da S. Franco e M. B. Sei analisam as relações familiares em “Dois Irmãos”, romance de Milton Hautoum. Examinam a construção da identidade de Nael através do aporte teórico da psicanálise de família, enfocando os aspectos relativos à transmissão psíquica geracional. Os autores entendem que a memória e as relações familiares funcionam como organizadores do psiquismo de cada indivíduo. Assim, Nael compreende sua história e a história familiar, podendo construir a sua identidade.

B. K. von Muhlen e M. Sattler escrevem sobre as relações de gênero nos casais, em como as mulheres ficam presas pela cultura em barreiras sexistas, sobre a questão do empoderamento das mulheres e a satisfação conjugal.

Nos trabalhos apresentados, percebe-se um olhar particular às mudanças que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo e, consequentemente, nas relações interpessoais, levando os profissionais a uma busca constante de conhecimentos, de técnicas e instrumentos adequados para atender às famílias de forma mais eficiente em suas necessidades nas diferentes fases do ciclo vital individual e familiar.

 

 

* Helena Centeno Hintz.

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