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Pensando familias

versión impresa ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.24 no.1 Porto Alegre ene./jun. 2020

 

EDITORIAL

 

 

Helena Centeno Hintz*

 

 

Ano de 2020. Ano que ficará marcado pela pandemia instaurada em muitos países ao redor do mundo. Pandemia causada pela disseminação do coronavírus, provocando nas pessoas o COVID-19, ceifando um número imenso de vidas. O COVID-19 trouxe muitos desafios sociais, econômicos, de desenvolvimento pessoal, na saúde física e mental. Após estes meses da necessidade de conviver com o COVID-19, já se percebe um aumento de problemas de ordem psicológica. Em decorrência disso, cria-se a necessidade de adequação a uma nova maneira de intervir na saúde mental, com uma revisão sobre possíveis soluções na forma de atender aos clientes em sofrimento. A terapia on-line tornou-se uma ferramenta fundamental para muitos profissionais que nunca a haviam usado ou usado em casos mais específicos. Passou-se a buscar formas de enriquecer os atendimentos e ter cuidados em como exercer este tipo de atendimento. Muito teve que ser modificado nas crenças das pessoas, na forma de expressar afeto e dor pelas perdas sofridas. Rituais familiares tiveram que ser alterados, principalmente o de despedida de entes amados, porque não conseguiram vencer a COVID-19.

A rotina familiar sofreu uma drástica quebra em suas atividades, necessitando enfrentar desafios durante e, provavelmente, após o término da pandemia. As pessoas não se prepararam para vivenciar uma pandemia, mas podem se preparar para a pós-pandemia. Uma convivência intensa de vida familiar, com as fronteiras, muitas vezes, disfuncionais entre pais e filhos pode conduzir a manifestações de maior agressividade e violência entre os familiares. Torna-se necessário que os familiares invistam em um relacionamento mais cuidadoso, com valores positivos e saudáveis, a fim de poder usufruir um fortalecimento nas trocas afetivas e expressões de amor.

Neste número da Pensando Famílias temos dois artigos que versam sobre a pandemia do COVID19, apontando para as mudanças drásticas causadas aos indivíduos, no contexto familiar e na sociedade, implicando no aumento de casos de violência doméstica contra mulheres acrescido do consumo de substâncias. Um deles aborda o papel dos terapeutas de casal e família junto às famílias no sentido de promover uma melhor comunicação, união e flexibilidade das mesmas no intuito de investir em processos protetivos das relações familiares.

A revisão integrativa sobre a análise das representações sociais da família mostra sua relevância categorizando minha família e a família do outro, possibilitando aos profissionais exercer uma melhor compreensão e utilizar intervenções mais adequadas. Outro tema bastante interessante discorre sobre a transgeracionalidade através da transmissão de modelos familiares em diversas gerações. Trata-se de uma análise dos padrões transgeracionais ocorridos na conjugalidade de um casal em uma primeira relação conjugal. Um assunto que sempre prende a atenção dos profissionais é a infidelidade nos relacionamentos conjugais e as situações decorrentes dela. O estudo debate questões relacionadas às experiências de pessoas que vivenciaram a infidelidade.

O ensaio teórico sobre as contribuições de Murray Bowen são relevantes para os profissionais da área de Família uma vez que os autores discutem alguns aspectos teóricos e práticos da Escola Boweniana. Apresentam os oito conceitos de Bowen destacando a diferenciação de self e sua importância no processo terapêutico. Em outro artigo, a abordagem de Bowen é utilizada para compreender o funcionamento de uma família com crianças que têm problemas emocionais e/ou comportamentais.

Esta edição apresenta um artigo que avalia a associação entre problemas emocionais e comportamentais pertencentes às mães e que as mesmas percebem em seus filhos e a inter-relação destes problemas com o desempenho escolar infantil. Em outro artigo há uma investigação sobre as dificuldades e possibilidades no processo de reinserção na família de crianças de zero a sete anos na cidade de Belém, PA. Ela aponta a necessidade de estudos sobre este tema com a finalidade de aprofundar na reflexão da prática das instituições de acolhimento e no aprimoramento das políticas públicas. Um estudo sobre a fratria trata sobre o nascimento do segundo filho, iniciando a relação fraterna e o conflito intrageracional. Neste estudo é investigado os impactos que o primogênito pode sentir com o nascimento do(a) irmão(ã) e como pode ocorrer a relação fraterna na perspectiva do irmão mais velho.

Pensando sobre as relações adolescentes, o estudo sobre as representações sociais dos adolescentes sobre a violência exercida no namoro possibilita revisar conceitos teóricos acerca deste tema. O objetivo é auxiliar no planejamento de intervenções práticas com estes adolescentes. Em um artigo que traz conteúdo sobre adolescentes versa sobre a compreensão de como os adolescentes de classes populares percebem suas experiências de paternidade durante o primeiro ano de vida da criança. Outro estudo tem como objetivo compreender o desenvolvimento da paternidade na adolescência e as possíveis relações familiares advindas nesse processo. Fica evidente a importância das relações familiares no momento da gravidez e a relação com o próprio pai no desenvolvimento do sentido de paternidade no adolescente. Um artigo aborda como a Terapia Familiar Sistêmica pode contribuir para a prevenção em comportamentos de risco durante a adolescência, possibilitando o uso de intervenções familiares preventivas aos familiares e profissionais. Uma investigação avaliou as relações entre as práticas parentais com autoestima e sintomas de depressão em adolescentes. Os resultados enfatizam que os comportamentos dos pais para com seus filhos podem resultar tanto com desenlaces negativos como a depressão quanto com resultados positivos como a autoestima.

Um dos artigos publicados foca sobre a terapia familiar afirmativa como um modelo adequado para trabalhar famílias com membros LGB no intuito de usar intervenções empáticas e respeitosas observando a diversidade sexual. Este trabalho busca possibilitar que terapeutas se apropriem de mais instrumentos em sua prática clínica.

Este número da Pensando Famílias novamente apresenta uma ampla gama de temas com estudos interessantes e relevantes que levam a reflexões adentrando mais no entendimento das relações humanas.

 

 

* Helena Centeno Hintz.

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