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Pensando familias

versão impressa ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.24 no.1 Porto Alegre jan./jun. 2020

 

ARTIGOS

 

A experiência do pai adolescente no primeiro ano de vida da criança1

 

The experience of adolescent father in the child’s first year

 

 

Meiridiane Domingues de Deus2, I ; Elenara Farias Lazzaroto da Costa3; Danielle da Costa Souto4, II ; Márcia Elisa Jager5, III, IV ; Ana Cristina Garcia Dias6, V

I Universidade Federal de Santa Catarina - PPGP/UFSC
II Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, Joinville/SC
III Universidade Federal de Santa Maria/RS
IV Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões
V Universidade Federal do Rio Grande do Sul/RS

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo busca compreender como adolescentes de classes populares percebem a experiência da paternidade durante o primeiro ano de vida da criança. Participaram do estudo três adolescentes, pais pela primeira vez de um bebê. Foi realizada entrevista semiestruturada. Utilizou-se o delineamento de estudo de caso coletivo, de caráter longitudinal, com atenção às particularidades e semelhanças entre os casos. Os principais resultados destacam a paternidade adolescente como algo inesperado neste momento de vida dos adolescentes, mas que possibilitou sentimentos positivos como realização, responsabilidade e orgulho. Após o nascimento do bebê, houve modificações nas prioridades e rotinas dos pais. E após um ano da criança, perceberam que os cuidados são diferentes dos que eram realizados no período de até 40 dias. Salienta-se a importância da elaboração e realização de ações de saúde como foco na transição e intervenção no contexto da paternidade adolescente para que seja possível acompanhar os pais durante a experiência de tornar-se pais.

Palavras-chave: Paternidade, Adolescência, Relações pai-criança.


ABSTRACT

This study aims to comprehend how does adolescents from lower classes perceive fatherhood during the first year of their children. Participants were three teenagers, first time parents of healthy babies. A semi-structured interview was conducted. We used the collective case study design of longitudinal character, giving attention to particularities and similarities among cases. Main findings highlight personal fulfillment of adolescents with parenting, even if they were not prepared to perform the experience of being a father. After babies were born, they had their routines changed due to the need to access the job market. When the child was one year old, they realized that the care was different from that performed in the period up to 40 days after birth. The importance of developing and carrying out health actions as a focus for transition and intervention in the context of adolescent fatherhood, so that it is possible to accompany fathers during the experience of becoming parents.

Keywords: Paternity, Adolescence, Father child relations.


 

 

Introdução

A experiência de ser pai na adolescência constitui-se como um período de mudanças significativas, como alterações na identidade, na maneira de agir e na forma de vivenciar as relações afetivas, sociais e profissionais (Souza, Silva, Mata & Amaral, 2016). Ser pai nesta fase do desenvolvimento humano pode ser uma possibilidade de mudança positiva, principalmente para adolescentes em contexto de vulnerabilidade social (Oliveira et al., 2015). A paternidade precoce favorece o surgimento de preocupações e responsabilidades na vida dos adolescentes (Paulino, Patias, & Dias, 2013), e com isso, demandas afetivas e financeiras que implicam no engajamento em diferentes papéis e novas atividades como auxiliar nos cuidados com o bebê e inserir-se no mercado de trabalho (Paulino et al., 2013).

A constatação da paternidade durante a adolescência favorece o surgimento de angústias e dúvidas. Neste contexto, os adolescentes vivenciam a ambivalência, pois devem se envolver com as reponsabilidades dos adultos, sendo que ainda são vistos como crianças, e por isso, não se encontram maduros para administrar as demandas advindas desse momento (Nogueira et al, 2011). O tema da paternidade na adolescência ainda é pouco estudado, e por vezes, silenciado (Nogueira et al., 2014), há uma dificuldade no reconhecimento da parentalidade neste período do desenvolvimento humano.

A adolescência, geralmente, implica em um período de abertura, novas experiências e busca de oportunidades de escolarização e de profissionalização. A sobreposição destes dois momentos do desenvolvimento humano pode gerar riscos para o indivíduo, uma vez que o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social está em processo de maturação e as responsabilidades “adultas” podem oferecer obstáculos ao desenvolvimento pleno do adolescente (especialmente no que se refere a inserção em atividades sócio educacionais e laborais) (Sipsma, Biello, Cole-Lewis & Kershaw, 2010). De fato, as diferentes transformações que a experiência da paternidade durante a adolescência traz para a vida dos indivíduos podem ser vivenciadas como momentos difíceis, uma vez que o jovem não tem conhecimentos necessários para a execução de atividades envolvidas no desempenho do papel paterno e/ou em outras vivências associadas ao fenômeno (exemplo: ingresso no mundo do trabalho) (Corrêa et al., 2016; Souza et al., 2016).

O estudo realizado por Sampaio, Villela e Oliveira (2014) problematiza e questiona o estereótipo de ser pai durante a adolescência e afirma que isso, implica, necessariamente, em um conflito de papéis sociais que causam prejuízos ao desenvolvimento do adolescente e do bebê. Esses autores afirmam que o adolescente pode desempenhar novos papéis, próprios da fase adulta como, por exemplo, inserir-se no mercado de trabalho, a fim de adquirir seu próprio sustento e/ou auxiliar a família. Os adolescentes podem ainda ter uma participação ativa nos cuidados com os filhos, algo que é uma característica do novo modelo de paternidade, que modifica as relações de cuidado, no qual os homens participam ativamente da tarefa de criar e educar os filhos (Souto, Silveira, Deus, Jager & Dias, 2015). Alguns pais adolescentes são estimulados a serem mais participativos quando são amparados pela família e pelo seu contexto à desenvolverem competências e habilidades para o exercício da paternidade (Parada-Rico & García-Suárez, 2017).

O modo como o pai adolescente vivencia a paternidade pode interferir e/ou beneficiar a sua capacidade de manter relações significativas com o bebê e com a sua companheira ao longo do tempo (Wilkes, Mannix & Jackson, 2012). O bebê necessita da presença e da disponibilidade dos pais para que possa ter suas necessidades atendidas e assim se desenvolver adequadamente. A paternidade adolescente participativa, em que o pai se envolve nas práticas de cuidado com o bebê, pode permitir o estabelecimento de uma relação de maior proximidade, de afeto e de participação integral do pai na vida de seu filho (Jager & Dias, 2014). Em contrapartida, o estudo realizado por Clementino e Santos (2016) com objetivo de investigar a atuação de pais adolescentes com filhos com idade entre três e sete anos desde o nascimento das crianças, evidenciou que a estabilidade da participação paterna na vida dos filhos é influenciada pela dinâmica relacional do casal adolescente. Os autores salientam que a separação conjugal e a distância geográfica do casal favorecem a diminuição da participação do pai e possibilitam a transferência da responsabilidade paterna para outros familiares como pais, avó, avôs, tios dos adolescentes, entre outros. Além disso, ressaltam que uma boa participação no período inicial de vida do bebê não garante o seu envolvimento nas fases posteriores do desenvolvimento da criança em função das mudanças de contexto e relações vivenciadas pelos pais adolescentes ao longo da sua vida. Este estudo busca descrever como três adolescentes de classes populares perceberam a paternidade durante o primeiro ano de vida da criança, enfocando suas responsabilidades e os cuidados realizados com o bebê e o apoio familiar neste período.

 

Método

Este estudo é um recorte do projeto de pesquisa: “Paternidade adolescente e a relação pai-bebê no primeiro ano de vida da criança”. A pesquisa foi concluída em 2014 e buscou compreender o envolvimento paterno de cinco adolescentes nas práticas de cuidados diretos e indiretos oferecidos ao bebê em três momentos: fase I (até 40 dias após o nascimento do bebê); fase II (sexto mês de vida do bebê); e fase III (um ano de vida da criança). Foram selecionados para participar deste estudo, três pais do grupo total de participantes da pesquisa. A escolha destes três adolescentes ocorreu após a leitura do material de pesquisa coletado pelo estudo, no qual se identificou os participantes que ofereceram informações completas e ricas em significados (ausência de respostas lacônicas, tais como: “bom”; “mais ou menos”; “não sei explicar”; “normal”). Esse critério de seleção, que excluiu dois pais, visou privilegiar os casos que possibilitassem um aprofundamento da compreensão sobre o fenômeno. Estes participantes tinham até 20 anos de idades, eram pertencentes a estratos populares, ou seja, à classe econômica d ou e, com renda familiar de até R&1.126,00 reais (Neri, 2010) e estavam sendo pais pela primeira vez de um bebê (critérios de inclusão do estudo).

O estudo longitudinal utilizou uma ficha de triagem para identificar os critérios de inclusão dos participantes, uma ficha de dados socioeconômicos e culturais para caracterizá-los e duas entrevistas semiestruturadas (paternidade e práticas de cuidados) para investigar as questões do estudo. O instrumento utilizado neste estudo foi a entrevista sobre paternidade, aplicada na fase I e III da pesquisa. Esse instrumento foi escolhido tendo em vista o objetivo central desta pesquisa que é investigar como o pai adolescente percebe a transição para a paternidade durante o primeiro ano de vida da criança. A entrevista foi construída a partir de uma revisão narrativa de literatura sobre ser pai na adolescência, seu envolvimento e a participação paterna nas práticas de cuidados ao bebê (Jager & Dias, 2014). Os resultados da revisão destacaram a importância do conhecimento da dinâmica familiar, projetos de vida, assim como os diferentes contextos sociais (como trabalho, rotina diária, rede de apoio) relacionados a vida dos pais adolescentes. Esses aspectos foram contemplados na elaboração das entrevistas.

Foi utilizado um delineamento de estudo de caso coletivo e longitudinal, dando atenção às particularidades e semelhanças entre os resultados encontrados. O estudo de caso coletivo consiste em analisar vários casos em conjunto para indagar sobre um fenômeno, população ou condição geral. Neste tipo de análise os casos podem ou não possuir características comuns. Nesse sentido, torna-se importante tanto a redundância quanto a variedade de informações (Stake, 1994).

A seleção dos participantes ocorreu durante o período de janeiro a março de 2013 em dois hospitais públicos de uma cidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul. O preenchimento das fichas ocorreu durante a realização do teste da orelhinha e através do levantamento de dados em fichas de parturientes em prontuários disponibilizados pelos hospitais que colaboraram com a pesquisa. Na realização do teste da orelhinha, antes de iniciar os exames, o responsável que estava com o bebê foi convidado e auxiliado pela pesquisadora responsável no preenchimento da ficha em uma sala reservada. No levantamento de dados realizado por intermédio da ficha da parturiente, a pesquisadora responsável identificou e registrou as informações solicitadas na ficha de triagem. Os casos que atendiam aos critérios de inclusão do estudo foram contatados e convidados para a participação na pesquisa.

As entrevistas aconteceram em local cedido pelos hospitais em dia e hora apropriados para o pai adolescente. Os participantes receberam duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e após a leitura, aceitação e assinatura, foram realizadas as entrevistas pela pesquisadora responsável pelo estudo. A duração foi, em média, de uma hora e trinta minutos e utilizou-se como recurso de apoio um gravador. Todas as entrevistas foram transcritas e, após análise de informações, apagadas na íntegra.

As informações foram analisadas de forma qualitativa. Realizou-se também uma análise longitudinal dos casos, uma vez que se procurou identificar a evolução na forma de pensar dos participantes em mais de um momento de coleta de informações (Anstey & Hofer, 2004).  A análise foi realizada pelo viés da análise de conteúdo temática. Esta técnica é uma sequência de atividades a serem desenvolvidas que se resume na leitura das informações coletadas na pesquisa, categorização e interpretação. O tema, enquanto unidade de registro é utilizado para estudar motivações, opiniões, atitudes, valores, crenças, tendências etc. As entrevistas individuais ou de grupo, abertas ou semiestruturadas podem ser analisadas tendo o tema como base (Bardin, 2016). Os temas de análises criados para este estudo foram: (1) Percepções de pais adolescentes no primeiro ano de vida da criança; (2) Responsabilidades e cuidados realizados com o bebê; e (3) Apoio familiar frente à paternidade adolescente. O primeiro tema discute questões relativas ao planejamento de ser pai nesta fase da vida, as mudanças na rotina após o nascimento do bebê e o sentimento dos adolescentes frente à experiência. O segundo tema discute as responsabilidades e os cuidados exercidos pelos pais em relação aos bebês. A responsabilidade e o cuidado com o bebê relacionam-se ao engajamento e atividades realizadas pelo pai com a criança. O terceiro tema aborda a influência do apoio familiar sobre o desempenho do papel paterno.

Em todos os temas de análise foram enfatizadas às semelhanças e particularidades encontradas entre os casos analisados. As semelhanças são compreendidas como as experiências e/ou percepções trazidas por dois ou três participantes do estudo. Já as particularidades são compreendidas como as opiniões de um participante que trouxe experiências e/ou percepções diferentes dos demais. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal no qual está vinculado, conforme parecer 148.671. Os nomes dos participantes e de familiares foram substituídos para manter o sigilo e confidencialidade de suas identidades.

 

Resultados

Caso 01 – Guilherme (20 anos), açougueiro, companheiro de Helena (18 anos). Pai de Cristiane. O casal mora com a família de Guilherme desde o nascimento de Cristiane.  Durante o período de até 40 dias após o Nascimento do Bebê, Guilherme contou que “não planejava ser pai agora [...] essa idade era de saí, fazê coisa de jovem mesmo”. Entretanto, ele reconheceu sua responsabilidade paterna e ressaltou que, naquele momento, ela era principalmente financeira. Ele relatou que ocorreram mudanças na rotina com o nascimento de Cristiane, pois “agora não dá mais pra fica saindo, tem que cuida dela” e ressaltou a possibilidade de (re) planejamento: “é outra coisa, sou outra pessoa, outro foco [...] minha rotina e prioridades mudaram [...] é quase só do trabalho pra casa”. A mãe de Guilherme (avó paterna) foi uma figura importante para o enfrentamento das mudanças decorrentes da paternidade, pois “sempre quando eu precisei ela tava junto”. A avó paterna serviu como um apoio e referência nos cuidados à criança: “a gente sempre apela pra ela quando a Cristiane tá chorando e a gente não sabe o que fazê”.

Um a após o nascimento do bebê, Guilherme descreveu que o primeiro ano de vida de Cristiane “foi uma evolução [...] por causa que no começo era mais fácil [...] cuidar dela, mas agora tá um pouco complicadinho. Agora ela já tá andando [...]”.  Quanto às diferenças na paternidade antes e agora ele ressaltou que no momento se sentia um pai “mais responsável”, pois “antigamente era tudo novo [...]. Agora já tô mais experiente”. Quanto às mudanças na rotina disse que “agora fica cuidando mais da Cristiane”, porque “a Helena tá estudando de noite”. Ressaltou que o dia-a-dia “tá bem diferente”, pois “agora tô mais por casa [...]. Antes eu não dava nem banho, agora dou bastante [banho] e já boto ela pra dormir”. A avó paterna continuou sendo uma figura importante no auxílio do cumprimento das responsabilidades paternas. Entretanto, ele disse se sentir “mais pai do que antigamente”, sendo que antes de ser pai, sempre “deixava tudo pra vó ou pra mãe” de Cristiane.

Caso 02 – Joaquim, militar, 19 anos, pai de Pedro. Joaquim não morava com a companheira, Juliana (16 anos), mas, no período de até 40 dias após o nascimento do bebê, o casal mantinha um relacionamento estável. Este relacionamento não se estendeu até o primeiro ano de vida do bebê. Juliana mora com Pedro na casa de sua família e Joaquim mora com os pais e a irmã mais nova. Durante o período de até 40 dias após o Nascimento do Bebê, Joaquim destacou que “não podia ser pai adolescente, minha criação não era pra isso”. Ele evidenciou que ofoco deveria ser no “futuro profissional e na estabilidade financeira”. Joaquim demorou a reconhecer a paternidade, pois “desconfiava dela, me traia”. Próximo ao nascimento do bebê, através de um exame de DNA, reconheceu a paternidade e admitiu a aquisição de crescimento e amadurecimento pessoal. Ele ainda acrescentou que “minhas prioridades mudaram, agora é tudo pensando nela [Juliana], meu dia é em função dela [...] antes não era assim, não tinha responsabilidade nenhuma, tinha muito mais liberdade pra fazê o que eu queria”. Sua principal responsabilidade era “não deixa falta nada pra eles dois. Tanto com remédio, alimentação, tudo”. Joaquim disse que sua rotina consistia em: “ir pro serviço, vou lá na casa dela, vejo o Pedro, volto pra casa e vô na igreja”. Os pais de Joaquim (avós paternos) desempenhavam um importante papel para que ele assumisse suas responsabilidades paternas:Joaquim contou que seus pais “são rígidos nas responsabilidades assumidas, o filho é meu e vou criar como tem que ser, não deixando falta nada, desde o dinheiro até o amor”.

Um ano após o nascimento do bebê, Joaquim não mantinha mais um relacionamento amoroso com Juliana. O casal procurou o recurso judicial de guarda compartilhada. No momento da entrevista, Pedro ficava com o pai “no final de semana e algumas vezes por semana”. Ele não pagava pensão para Pedro, pois Juliana “e a mãe dela conversaram e optaram que ao invés da pensão, eu dou as coisas, roupa, comida, fralda, leite...”. Joaquim descreveu que a experiência de ser pai durante o primeiro ano de vida de Pedro foi “complicado, bastante. Foi uma coisa que foi boa, mas ao mesmo tempo, no começo, eu não queria aceitar direito [...]”. Isso porque, nos cinco primeiros meses, Juliana escondeu a gravidez. No entanto, Joaquim ressaltou que se sentia “realizado como pai”, mas que “ainda falta muita coisa pra fazer com ele [Pedro]”. Ele percebeu diferenças na paternidade logo após o nascimento e depois de um ano, pois percebia que Pedro “aprende muito rápido [...] parece que agora ele entende mais o que eu falo”. Entretanto, se sentia culpado, pois relatou que “no início ali... eu não dava muita atenção. Agora já mudou, eu tento dar mais atenção pra ele”. Joaquim disse que suas responsabilidades de pai eram “prover o sustento pra ele, tanto calçado, comida, roupa, remédio, consulta no pediatra. Dá atenção, tá o máximo presente com ele”. A rotina de Joaquim mudou. Ele disse que agora “fico mais no quartel do que em casa [...] tento conciliar minha folga com o dia que ele [Pedro] vem aqui pra minha casa”. A família de origem desempenhava ainda um papel importante na vida de Joaquim. Ele disse que ainda tem “um pouco de receio de sair sozinho” com Pedro, pois pode “acontecer alguma coisa e não saber o que fazer, então sempre peço pra mãe ou o pai ir junto”. Ele ressaltou que “o pai e a mãe eu acho que eles viram que eu mudei bastante, que eu decidi por conta própria, assim, me envolver mais com o meu filho”.

Caso 03 – André (20 anos), eletricista, companheiro de Lilian (16 anos). Pai de Felipe. O casal morou com a família de Lilian nos primeiros meses de vida do bebê. No momento da primeira entrevista, André, Lilian e Felipe moravam sozinhos em uma residência própria.

Durante o período de até 40 dias após o nascimento do bebê, André destacou que a experiência da paternidade “não era pra ser agora, porque essa idade era de aproveitar a vida”. Entretanto, admitiu que ser pai trouxe responsabilidades (predominantemente financeira), amadurecimento e o fez “virar homem de verdade [...] não fico mais zoando por ai, sem compromisso”. As relações familiares (família de origem) de André não foram boas, uma vez que sofreu violência e viveu em más condições de vida. Sua história fez com que ele ficasse satisfeito com a notícia da paternidade, pois poderia “fazer com meu filho tudo diferente”. A principal preocupação de André foi não deixar faltar nada para Felipe e para Lilian, para que eles “não tenham a vida que eu tive”.A rotina de André consistia em ir para o serviço de manhã cedo e voltar à tardinha, porém quando chegava em casa fazia questão de dividir os cuidados do filho com Lilian. A família de André não representava apoio ou referência de modelo a ser seguido. Ele atribuiu “muito sofrimento” à relação com seus pais.

Um ano após o nascimento do bebê: André destacou que o primeiro ano de vida de Felipe “foi bem [...] é aprender a conviver com a evolução dele crescendo cada dia um pouco. [...] é mais puxado né porque ocupa bastante tempo da gente, mas é uma experiência boa”. André ressaltou que no momento se sentia “feliz” como pai, “orgulhoso de ter meu filho com saúde, que é o mais importante”. Ele disse não perceber diferença na paternidade aos 40 dias de vida de Felipe e um ano após o nascimento, pois “desde quando ele nasceu, eu já... se põe no papel de pai. Muda só a preocupação com o tempo, com a educação [...]. Mas papel de pai é desde o começo”. Ressaltou que suas responsabilidades com o filho neste momento eram as mesmas de logo após o nascimento, pois “desde quando nasceu, não deixa falta nada, educação, carinho pra ele senti a presença do pai [...]. O mais importante é a gente ter esse convívio com os filhos”. André disse que a rotina foi a mesma de antes, porém ressalta que, um ano após o nascimento “a gente trabalha com mais orgulho, por saber que tem um filho e tem mais responsabilidade”.  Um ano após o nascimento do bebê, a família de André ainda não representava apoio ou referência diante da paternidade. Ele apenas mantinha um contato esporádico e superficial com sua mãe.

 

Discussão

Os resultados obtidos serão discutidos a partir dos seguintes temas: Percepções de pais adolescentes no primeiro ano de vida da criança, Responsabilidades e cuidados realizados com o bebê e Apoio familiar frente à paternidade adolescente.

Percepções de pais adolescentes no primeiro ano de vida da criança

As principais semelhanças observadas foram que os 3 adolescentes entrevistados não planejavam ser pai neste momento de vida, uma vez que pretendiam “aproveitar” a vida, realizar planos futuros e se preparar para a busca uma estabilidade financeira e profissional. Os pais adolescentes afirmaram que no período de até 40 dias após o nascimento da criança, não planejavam ter um filho naquele momento de suas vidas, mas assumiram a responsabilidade de serem pais. As responsabilidades paternas significaram uma “perda da liberdade”.

As mudanças na rotina e prioridades após o nascimento do bebê foram relatadas por Guilherme (caso 01) e Joaquim (caso 02). Relatam que a prioridade que antes era ter liberdade e fazer o que desejassem sem ter responsabilidades passou a ser o provimento familiar, cuidar e dar mais atenção ao bebê e a companheira, e com isso ter mais atribuições e responsabilidades. A rotina que antes era sair com amigos, ir para o trabalho e igreja passou a ser diferente, pois após a paternidade, sua atenção ficou mais voltada a cuidar e dar atenção ao bebê. Os pais adolescentes relataram mudanças nas prioridades e na rotina após o nascimento da criança, o que permaneceu durante o primeiro ano de vida do bebê.

A gravidez na adolescência pode significar uma reformulação dos planos de vida, na qual o adolescente assume um novo papel, que talvez não esteja preparado para exercê-lo. Diante disso, muitos acabam se questionando “onde foi que errei?” (Fernandes, Santos Júnior & Gualda, 2012). A paternidade é um momento de grande responsabilidade, que possibilita ao adolescente assumir financeiramente e afetivamente a sua família, bem como, auxiliar nos cuidados com a criança (Sampaio et al., 2014). A demanda social sob o papel paterno faz com os adolescentes se preocupem com o futuro, pois deverão inserir-se no mercado de trabalho para prover o filho, como também, abdicar ou diminuir consideravelmente, aspectos característicos dessa fase como: ir a festas e sair com os amigos, uma vez que o trabalho e os cuidados ao bebê irão demandar tempo e disposição (Sampaio et al., 2014; Souza et al., 2016).

Outra semelhança encontrada entre os pais relaciona-se aos sentimentos experienciados frente a experiência da paternidade um ano após o nascimento do bebê. Os adolescentes referiram sentimentos como “se sentir responsável”, “realizado” e “orgulhoso”. Neste período, os pais adolescentes também podem experienciar sentimentos ambivalentes como: alegria e tristeza, felicidade e medo) (Figueroa, Cantor, Guerrero & Romero, 2017). Além disso, comportamentos de aproximação e afastamento em relação às mudanças existentes neste momento (exemplo: necessidade de auxílio nos cuidados com o bebê e inexperiência para a realização das atividades de cuidado). O entendimento dos deveres em relação ao novo papel, de ser pai, é algo construído ao longo das vivências junto com a criança, nem sempre ocorrendo de forma imediata (Fernandes et al., 2011). O nascimento do filho pode simbolizar para alguns pais adolescentes, a concretização das obrigações e responsabilidades de ser pai, e com isso, experienciar momentos de satisfação em relação a esse evento (Souza et al., 2016). No caso dos participantes da pesquisa, o fato da gravidez ter ocorrido de modo inesperado, inicialmente, suscitou reflexões sobre ser pai na adolescência e principalmente relacioná-los a perda da liberdade como relatado por Guilherme (caso 01).

A paternidade na adolescência é caracterizada por um período de mudanças significativas podendo ser uma experiência positiva que favorece tanto o pai quanto a criança. Esse momento propicia ao adolescente a oportunidade de construir uma relação baseada na afetividade, formação de uma família junto a companheira e participação no desenvolvimento da criança, de modo a possibilitar a eles, uma vida com conforto e qualidade (Souza et al., 2016). O discurso dos pais adolescentes deste estudo evidencia as mudanças (de rotinas e prioridades) ocorridas com a paternidade e também enfatizam esse momento de transição como uma experiência positiva quando avaliam sentirem-se responsáveis e orgulhosos em serem pais.

Responsabilidades e cuidados realizados com o bebê

As semelhanças encontradas referem-se à principal responsabilidade assumida com a paternidade foi “não deixar faltar nada”, isto é, ser o provedor da família. Mas não somente isso, há também uma preocupação com aspectos relacionados aos cuidados com o bebê (exemplo: a alimentação, higiene, lazer e educação) e em dar atenção à criança, ser um pai presente. A maternidade e a paternidade carregam fortemente significados sociais e históricos, o que ainda mantêm aspectos dos papéis tradicionais, na medida em que o pai é caracterizado como provedor (aquele que mantém financeiramente a família), condutor moral e também, ajudante da mãe, conferindo a ela a responsabilidade majoritária pela criação e desenvolvimento dos filhos (Sutter & Bucher-Maluschke, 2008; Vieira et al., 2014).

O trabalho que historicamente tornou-se um elemento importante na construção das identidades masculinas, parece continuar integrado a experiência desses pais adolescentes. Todos os pais adolescentes participantes tinham uma atividade profissional, pois se preocupavam com o provimento financeiro, material das crianças e das companheiras. A necessidade de trabalhar para prover a família é um aspecto positivo da paternidade adolescente, mas implica em outras questões como o abandono escolar para inserção no mercado de trabalho (Souza et al., 2016). Os indivíduos entrevistados expressam significados relacionados a outros estudos como o de Faustino, Almeida e Hardy (2007), os quais inserir-se no mercado de trabalho para prover a família é uma possibilidade de atender as expectativas sociais relativas à masculinidade (ser provedor e trabalhador) e garantir assim, sua passagem para a fase adulta. Além disso, observa-se uma adesão a ideia de paternidade participativa, que se caracteriza como aquela em que há maior interesse do pai em manter uma relação de cuidado e envolvimento constante no cotidiano dos filhos nos diversos domínios (higiene, lazer, alimentação e educação) (Sutter & Bucher-Maluschke, 2008).

Outra semelhança encontrada entre os casos pesquisados ocorreu um ano após o nascimento do bebê. Os pais percebem que os cuidados se apresentavam diferentes daqueles que eram realizados no período após o nascimento do bebê, já que neste período as crianças possuem diferentes demandas, sendo que algumas já estavam caminhando (Caso 01). O fortalecimento da relação pai-filho ocorre ao longo do desenvolvimento da criança, os pais adolescentes desenvolvem estratégias de enfrentamento para lidar com as dificuldades apresentadas em diferentes períodos da gestação e nascimento do (a) filho (a) (Santos, Santos, Mota, Galhardo & Medeiros, 2015).

Os pais adolescentes, embora sejam ainda inexperientes na função de ser pai e na execução das atividades ligadas ao lar e nos cuidados com a criança, podem considerar importante estar presente e acompanhar o desenvolvimento físico e sócio emocional das crianças. Eles assumem responsabilidades e buscam manter um envolvimento afetivo com os filhos (Faustino et al., 2007; Luz & Berni, 2010; Sampaio et al., 2014). Os pais pesquisados estão envolvidos com o desenvolvimento do filho de modo a prover financeiramente (Guilherme, caso 01; André, caso 03), remédios quando necessário, alimentação, amor (Joaquim, caso 02), carinho e educação (André, caso 03). Os pais adolescentes também desempenham algumas tarefas com os filhos, Guilherme (caso 01) afirmou que após um ano do nascimento da sua filha tinha como responsabilidade cuidá-la para que sua companheira estudasse a noite. Com isso, passou a dar banho e a colocá-la para dormir, algo que antes não realizava. André (caso 03) relatou que dividia os cuidados com o bebê com a sua companheira e avalia que o primeiro ano do bebê é desafiador por ter que aprender a conviver com a evolução da criança que está se desenvolvendo e também por que esse processo demanda tempo. Acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos filhos pode favorecer a construção de uma relação baseada na afetividade, o que pode contribuir para a construção da personalidade do filho e, também, de uma relação saudável entre eles (Gabriel & Dias, 2011). Os pais desse estudo destacaram que suas responsabilidades não estão somente ligadas com o provimento material da família, mas também implicam em afeto e cuidados com o bebê.

Uma das particularidades desse estudo referiu-se ao caso 2, Joaquim e Juliana, que não moravam juntos, ambos viviam com seus pais. Este caso possui uma particularidade bastante significativa em relação aos outros, pois Joaquim afirma ter reconhecido a paternidade do bebê tardiamente, pois desconfiava da fidelidade da mãe do seu filho. A vida conjugal dos adolescentes ocorre em decorrência da gravidez. O jovem casal busca assumir as responsabilidades e papéis que a gestação e a união implicam. Neste caso em específico, não foi possível identificar as causas do fim do relacionamento do casal. No entanto, alguns relacionamentos de casais adolescentes tornam-se difíceis de serem mantidos, visto que a gestação significa uma transição rápida da situação de filho/filha para a de mãe/ pai, e ainda as demandas e responsabilidades da vida adulta, isso pode gerar conflitos ou crises, e também, possibilidades de amadurecimento e crescimento pessoal (Almeida & Souza, 2011; Meincke, Trigueiro, Carraro, Brito & Collet, 2011).

Outra questão particular apresentada por esse pai, após um ano do nascimento do bebê foi à opção pela guarda compartilhada. Esse tipo de medida judicial oferece para ambos os pais a possibilidade de partilhar as responsabilidades pela vida e bem-estar da criança, de modo que os genitores possam criar de maneira coerente e evitar possibilidades de confusão e conflitos na educação dos filhos (Schneebeli & Menandro, 2014). Em contrapartida, o sistema dea guarda compartilhada pode refletir a concepção de que o papel de cuidado em relação as crianças é da mãe, de modo que existam entraves ao longo do processo, visto que os pais adolescentes podem ser vistos como incapazes para o exercício do cuidado parental tanto para as figuras maternas como para os operadores das leis (Clementino & Santos, 2016).

Apoio familiar frente à paternidade adolescente

Observou-se semelhanças nos pais dos adolescentes (avós) dos casos 1 e 2 pois eram presentes e apoiavam nos cuidados com o bebê. Destacam-se como importantes figuras no enfrentamento das mudanças ocorridas com a paternidade e como referências para a realização do cuidado com a criança. A família de Guilherme (caso 01) mora junto com seus pais desde o nascimento da sua filha e suas figuras parentais serviram de apoio e referência nos cuidados com a criança, principalmente a sua mãe, tanto no período até 40 dias após o nascimento do bebê quanto no primeiro ano de vida. Joaquim (caso 02) destaca seus pais como importantes de figuras referência, pois auxiliam no cuidado com a criança, principalmente nos passeios com o filho, pois teme sair sozinho com a criança, por medo de não saber o que fazer e por isso sempre convida um dos seus pais para ir juntamente com ele.

Estudos mostram que vivenciar a paternidade proporciona aos pais adolescentes a oportunidade de adquirir experiências a partir do suporte recebido de pessoas do seu convívio social (família, amigos e conhecidos) (Sampaio et al., 2014). A pesquisa realizada por Bueno, Meincke, Schwartz, Soares e Corrêa (2012) com 23 pais adolescentes com idade inferior a 20 anos afirmou que os pais adolescentes podem contar com uma rede de apoio social diversificada que pode ser composta pela comunidade, amigos, serviços de saúde e a família. Esses autores concluíram que a família configura-se como uma importante rede social de apoio para o exercício da paternidade adolescente, pois pode contribuir para a minimização das dificuldades e necessidades que o pai adolescente possa vivenciar neste período, sendo assim, uma base de sustentação para que o pai possa cumprir o seu papel frente à criança, à família e a sociedade. Esses dados vão encontro do relatado pelos pais Guilherme (caso 01) e Joaquim (caso 02) que ressaltam que a ajuda das figuras parentais lhes auxilia nas atividades e responsabilidades vivenciadas neste momento da paternidade.

Os pais participantes da pesquisa não relataram necessidade de ajuda dos seus pais nas atividades domésticas e financeiras relacionadas à paternidade. Dado que se contrapõe ao estudo de Sampaio et al (2014) que destaca a importância do apoio familiar no auxílio das atividades domésticas e suporte financeiro são como fundamentais para o enfrentamento das dificuldades vivenciadas pelos pais adolescentes. Mas, se assemelha ao relato dos pais participantes quanto ao apoio dos pais dos adolescentes, nos cuidados com as crianças.  Os pais dos adolescentes (avós), e principalmente, suas mães (avós) são figuras importantes que podem exercer funções relacionadas ao apoio moral, financeiro e suporte afetivo tanto para os filhos como para os netos. Eles podem auxiliar no cuidado dos netos na medida em que proporcionam segurança e estabilidade diante das mudanças enfrentadas pelos novos pais (Cardoso, 2011). Esse auxílio torna-se especialmente importante em situações como separação dos pais, como a descrita no Caso 02. A família então pode ser a mediadora nesta fase de transição para a vida adulta. Além disso, apoiadora frente às situações em que o adolescente vivencia em razão da paternidade, o uso de conselhos e do diálogo são importantes ferramentas de auxílio, assim como, uma possibilidade de estabelecer um vínculo forte com adolescente (Bueno et al., 2012).

Particularidades

André (caso 03) não percebe a sua família como fonte de apoio e referência nos cuidados com o bebê, uma vez que vivenciou situação de violência familiar. Na época da realização do estudo, André mantinha apenas um contato esporádico com a mãe. Dentre os modelos de paternidade disponíveis ao sujeito que se torna pai, estão os próprios modelos parentais em que foram criados. Os modelos de paternidade se constituem por meio das relações estabelecidas com outras pessoas que podem representar uma referência de modo a ser seguida ou evitada (Bernardi, 2017; Gabriel & Dias, 2011). Quando estes modelos parentais foram significados pelo sujeito de forma positivo, frequentemente ocorre a reprodução do modelo parental que serve como referência. No entanto, quando isso ocorre de forma negativa, alguns pais adolescentes perceberam repetir com seus filhos, as experiências de ausência e irresponsabilidade vividas ao longo do seu desenvolvimento junto a suas figuras parentais (Corrêa et al, 2016).  Mas, é muito comum a busca pela ressignificação do papel paterno no contexto familiar, no qual práticas parentais contrárias são percebidas como alternativa para “fazer diferente”. Pode-se notar essa questão no caso 3 desse estudo, em que este pai deseja ter um bom vínculo com o filho, em oposição a sua própria experiência de vida junto as figuras parentais.

 

Considerações finais

Este estudo buscou compreendercomo adolescentes de classes populares de um município do interior do Rio Grande do Sul percebem a experiência da paternidade durante o primeiro ano de vida da criança.Os resultados evidenciam que os pais adolescentes não esperavam ser pais neste momento de vida, mas que possuem sentimentos positivos de realização, responsabilidade e orgulho em relação a paternidade. Após o nascimento do bebê, os pais adolescentes relataram que ocorreram mudanças nas suas prioridades e rotinas. Posteriormente, após um ano da criança, os adolescentes perceberam que os cuidados são diferentes dos que eram realizados no período de até 40 dias.Salienta-se a importância do apoio da família dos adolescentes no enfrentamento das mudanças na paternidade e apoio nos cuidados com o bebê.  Destaca-se o envolvimento dos pais adolescentes (avós) ao longo do desenvolvimento da criança, o que favorece a construção de uma identidade paterna. Os resultados do estudo contribuem para o conhecimento das experiências, expectativas e perspectivas dos pais adolescentes em relação à transição para paternidade.

Destaca-se como limitações do estudo, o número reduzido de participantes, o que inviabilizou a comparação entre adolescentes em contextos e características variadas. Sugere-se a realização de estudos comparativos em diferentes contextos (exemplo, pais adolescentes separados e pais adolescentes em situação de coabitação; pais adolescentes em diferentes contextos sociais e níveis de escolaridade, renda, raça, etnia e culturas; paternidade adolescente em contexto de privação de liberdade). Sugere-se também, realização de estudos sobre parentalidade, conjugalidade e coparentalidade na adolescência. Além disso, estudos intergeracionais relativos à experiência da paternidade. Salienta-se a importância da elaboração e realização de ações de saúde como foco na transição e intervenção no contexto da paternidade adolescente para que seja possível acompanhar os pais durante a experiência de tornar-se pais.

 

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Endereço para correspondência
Meiridiane Domingues de Deus
E-mail: meiridianeddeus@gmail.com

Enviado em: 10/04/2019
1ª revisão em: 14/04/2020
2ª revisão em: 20/04/2020
Aceito em: 22/05/2020

 

 

1 "O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) Código de Financiamento 001".
2 Doutoranda em Psicologia pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina- PPGP/UFSC. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria/RS.
3 Psicóloga, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria/RS.
4 Psicóloga Clínica no Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria em Joinville/SC. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria/RS.
5 Doutoranda em Psicologia pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Uni/ersidade Federal de Santa Maria - PPGP/UFSM. Docente do curso de Psicologia da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões.
6 Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/RS. Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo/USP-SP.

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