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Pensando familias

versão impressa ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.24 no.2 Porto Alegre jul.dez. 2020

 

EDITORIAL

 

 

Helena Centeno Hintz1

 

 

Passamos um ano diferente, com muitas descobertas, muitas inovações, muitas aprendizagens em nossas vidas. Estamos muitos meses vivendo em um estado de pandemia, onde os cuidados com os outros e consigo mesmo devem ser prioritários. Os efeitos pós-pandemia ainda não podemos saber, mas muitas pesquisas têm sido realizadas sobre o estado da saúde mental atual das pessoas. Algumas destas pesquisas certamente muito bem fundamentadas. A necessidade de as pessoas considerarem o distanciamento social como algo necessário para o resguardo de sua saúde física, não garante que também estejam bem emocionalmente. Temos escutado pessoas se referirem a sentimentos de tédio e frustração ocasionados pela perda de suas rotinas e de contato físico com pessoas queridas. Assim, encontramos aqueles que sentem o distanciamento social como uma proteção e se mantém regularmente bem, há os que, mesmo sabendo desta proteção, sentem maior vulnerabilidade física, mas, especialmente, emocional. A sensação de perigo iminente que perdura por meses, sem a certeza de um término próximo, está gerando desânimo nas pessoas.

Fica a pergunta/reflexão de como os profissionais da saúde mental estão podendo lidar com estas questões tão significativas para cada indivíduo, casal ou família que está sendo atendido em acordo com sua própria saúde emocional. Neste número da Pensando Famílias, iniciamos com um trabalho que nos fala sobre solidão e solitude, sentimentos do mundo contemporâneo que as pessoas estão vivenciando em função da pandemia causada pela disseminação do coronavírus. Temos dois artigos sobre o conflito conjugal, sendo que um deles traz questões sobre a permeabilidade existente entre o conflito conjugal e a parentalidade, o que pode ocorrer quando o sistema conjugal passa a assumir as funções parentais. O outro trabalho apresenta a conjugalidade e parentalidade em casais do mesmo sexo e casais heterossexuais apontando como a sociedade, de modo geral, percebe os padrões familiares diferentes do tradicional.

A transgeracionalidade é abordada como integrando, com seus vários elementos, a formação da identidade materna nas mães primigestas. Em outro estudo é verificada a importância da educação parental uma vez que é dentro da família que as crianças desenvolvem a capacidade de estabelecer vínculos inicialmente com os pais e após com as demais pessoas. Ainda em uma perspectiva familiar, os autores de uma pesquisa apresentam o risco do desejo de aborto frente ao desenvolvimento da parentalidade e como ressoa no planejamento familiar. Há também um estudo sobre famílias monoparentais masculinas em que os participantes desejavam ser pais vistos como melhores do que haviam sido ou do que os próprios pais haviam sido.

O consumo abusivo de álcool, tema frequente nas famílias, é analisado através das relações familiares de mulheres rurais com um uso abusivo de álcool. O resultado alcançado foi que elas vivenciam as relações familiares de forma tanto fragilizadas como protetoras. Uma pesquisa qualitativa realizada com idosos tornou evidente a violência psicológica dirigida aos mesmos causando-lhes danos e trazendo à tona o que pode ser entendido como cuidado e o que deve ser visto como violência. Um estudo discute a experiência de pais que, após o divórcio, vivenciam questões sobre a guarda compartilhada e novas formas de exercer a parentalidade.

Um estudo sobre a conciliação entre família e trabalho aponta os desafios que mães enfrentam no exercício da maternidade. Entretanto, o apoio familiar e organizacional pode contribuir para um melhor desempenho nas funções maternas e laborais.

Um trabalho interessante é a apresentação de um protocolo para a elaboração de um diagnóstico sistêmico familiar. Este protocolo está dividido em quatro etapas: acolhimento e a apresentação; estrutura; dinâmica relacional e queixa apresentada, cujo objetivo é facilitar a elaboração de um diagnóstico sistêmico.

Temos neste número dois estudos sobre as relações conjugais. Um deles aborda a infidelidade virtual como um fenômeno contemporâneo que instiga um maior entendimento através de uma revisão integrativa da literatura nacional e internacional. Ainda dentro da construção das relações conjugais na vida contemporânea, outro estudo examina a intimidade por duas óticas teóricas construídas por autoras de referência na área da terapia de casal, através do relato de dois casos clínicos.

Um estudo apresenta a intervenção nas práticas parentais através do Programa de Qualidade e Interação Familiar (PQIF) realizado com pais cujos filhos se encontram em situação de acolhimento institucional. O objetivo deste estudo foi sensibilizar estes pais sobre adequar as práticas parentais à educação dos seus filhos.

Temos ainda uma pesquisa sobre o Mapa de Rede Social no atendimento social e psicológico em um Centro de Referência de Assistência Social. A construção deste Mapa permite ampliar as possibilidades da obtenção de informações úteis sobre os usuários, traçar um planejamento de intervenções e atuar de forma preventiva no fortalecimento de vínculos entre famílias e comunidade.

Desejo a todos uma boa leitura!

 

 

1 Psicóloga, Editora da Pensando Famílias, sócia fundadora, docente e supervisora do Domus – Centro de Terapia Individual, de Casa e Família.

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