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Pensando familias

versão impressa ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.25 no.2 Porto Alegre dez. 2021

 

EDITORIAL

 

 

Helena Centeno Hintz1

 

 

Ao encerrar 2021, segundo ano de pandemia da Covid-19 que acarretou tantos desafios assim como muito sofrimento e superação de momentos de dor, apresentamos um novo número da Pensando Famílias, trazendo, através de seus artigos, questões que entrelaçam o relacionamento familiar, conjugal e desenvolvimento pessoal.

Neste número há artigos que abordam uma série de dificuldades que casais e famílias podem vivenciar e que, certamente, irão ampliar nossos conhecimentos..

A dinâmica conjugal é estudada sob diferentes perspectivas, tais como quando um dos cônjuges adquire uma deficiência física provocando mudanças na sua vida individual e conjugal e, consequentemente, a reconstrução que o parceiro deve fazer para enfrentar esta condição adversa. Relevante pensar, também, sobre as repercussões emocionais que acompanham uma pessoa com câncer e que atingem seu parceiro com intensidade semelhante. A capacidade dos cônjuges em ressignificar este sofrimento, aproxima-os do que se entende por resiliência. Outro tema pertinente é o entendimento sobre as relações entre habilidades sociais, esquemas iniciais desadaptativos e satisfação conjugal.Foi constatado que as habilidades sociais são fundamentais no desenvolvimento de relações conjugais satisfatórias. Família multiespécie, atualmente, é uma configuração familiar bastante encontrada na sociedade. O artigo que trata sobre esta configuração, enfoca sobre casais que optam por não ter filhos ou adiam a maternidade e paternidade, sendo que os animais de estimação são cuidados como membros da família.

Entrando no sistema familiar, um estudo apresenta a importância das práticas esportivas no relacionamento familiar, influenciando o processo de socialização de crianças e adultos. Estas práticas incentivam a integração dos diversos membros da família através das conquistas, desafios e momentos de lazer. Por outro lado, o estudo verificou que se há expectativas e cobranças sobre a performance do atleta, isso prejudicará seu desenvolvimento pessoal. A maternagem é entendida como um processo de aprendizagem comportamental que as mulheres exercem ao cuidarem de seus filhos, sendo aqui investigada para determinar se mães multíparas teriam melhores respostas positivas na interação com seus filhos do que as mães primíparas.

 Um tema sempre muito estudado é a violência contra as mulheres e um estudo teve como objetivo avaliar, através de uma bibliometria, como vem acontecendo as pesquisas sobre este tema que afeta de forma dolorosa as vítimas e suas famílias. Um trabalho busca entender através da trajetória de vida de homens adultos que exerceram a violência sexual contra crianças e adolescentes, as possíveis violências que possam ter sofrido em seu ambiente familiar e social. A finalidade é entender o porquê destas violências exercidas por esses homens, para assim, poder interromper o seu circuito. Uma pesquisa sobre violência intrafamiliar tem como objetivo compreender a intergeracionalidade em famílias que apresentam esta situação. Os dados revelados, uma vez mais, mostram a presença de questões intergeracionais existentes nestas famílias. Em uma análise familiar de agentes penitenciários de uma cadeia pública feminina foi constatado que há uma estrutura familiar mais frágil, com dificuldades em seus relacionamentos interpessoais. Os agentes apresentam estas dificuldades tanto no contexto familiar como laboral com estresse ocupacional que pode estar vinculado ao conflito família-trabalho.

As famílias, muitas vezes, apresentam dificuldades com seus filhos, o que é motivo de grande preocupação e sofrimento aos pais. A família que tem um membro com diagnóstico de câncer sofre física, emocional e socialmente junto com o paciente. Mães de crianças com câncer vivem situações estressantes e necessitam buscar estratégias que ajudem no enfrentamento do tratamento do seu filho. Uma pesquisa avaliou o desenvolvimento de bebês aos três meses e a influência da prematuridade e de aspectos da saúde emocional materna. Foi constatado que tanto a saúde emocional das mães quanto a prematuridade têm impacto sobre o desenvolvimento dos bebês, sendo recomendável que as mãessejam acompanhadas durante o primeiro ano do seu bebê. Através de uma pesquisa foi estudadaa percepção do irmão neurotípico em sua relação fraterna com o irmão com autismo. Ficou evidente que as características de cada família interferem nas condições das relações entre os irmãos, havendo diferençasentre os cuidados dos pais para com os dois irmãos.Um estudo nos leva a adentrar no complexo processo de uma mulher que, ao tornar-se mãe, deseja doar seu filho à adoção e desiste. O caso apresentado foi de uma mulher que desistiu de entregar seu filho para adoção, procurando reparar e reconstruir os vínculos familiares para poder exercer a maternidade de forma mais efetiva. Como são as vivências dos filhos quando seus pais se separam? Este tema foi abordado em um estudo com crianças entre seis e onze anos que mostraram não ter acesso às informações sobre o divórcio e sobre a guarda compartilhada.

Há dois estudos sobre famílias com filhos adolescentes. Um deles traz as contribuições relevantes do modelo bioecológico de Brofenbrenner que foram utilizadas em uma experiênciade devolutiva de pesquisa com mães de filhos adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Outro tema trazido foi sobre bullying. Adolescentes que são vítimas de bullying durante a infância e adolescência podem apresentar transtornos mentais, sendo que aspectos adversos dentro do ambiente familiar podem conduzir mais facilmente a envolvimentos em situações de bullying, ressaltando os conflitos conjugais como favorecedores destas situações.

Dois outros trabalhos abordam temas diferentes, mas de grande interesse e importância. Um versa sobre o perfil clínico e sociodemográfico da clientela de uma clínica-escola do Sul do Brasil. Conhecido o perfil, a instituição tem a possibilidade de melhor adequar suas ações conforme as necessidades de seus clientes, oportunizando um atendimento mais efetivo. Outro artigo discorre sobre como a terapia narrativa pode facilitar a plasticidade neuronal com o objetivo de promover mudanças psicológicas e comportamentais. Este foi o objetivo do estudo ao analisar as relações entre histórias alternativas e neuroplasticida.

Boa leitura!

 

 

1 Psicóloga, psicoterapeuta individual, de casal e família. Editora da Pensando Famílias. Sócia fundadora, docente, supervisora e membro da coordenação do Domus. Presidente da ABRATEF, 2014-2016. Membro e co-coordenadora do CDC da ABRATEF, 2018-2022. Presidente da AGATEF, 2018-2022.

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