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Pensando familias

versão impressa ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.25 no.2 Porto Alegre dez. 2021

 

ARTIGOS

 

Adolescentes alvos de bullying e adversidade familiar: estudo caso-controle

 

Teenagens targets of bullying and family adversity: case-control study

 

 

Felipe Alckmin-Carvalho1, I, II ; Natália Sant’Anna da Silva2, III ; Renatha Rafihi-Ferreira3; Márcia Helena da Silva Melo4, IV

I Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
II
Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIT) – Minas Gerais, Brasil
III Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
IV Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Ser vítima de bullying na infância e adolescência é fator de risco para surgimento de transtornos mentais. As variáveis adversas do ambiente familiar contribuem para envolvimento em situações de bullying. Objetivou-se comparar o nível de adversidade familiar de adolescentes alvo de bullying (n = 21) e não-vítimas (n = 21), pareados por idade, sexo e sala de aula. Adolescentes alvo de bullying foram identificados pela Lista de Características dos Amigos de Sala de Aula e pela Escala de Violência Escolar. O nível de adversidade familiar foi avaliado pelo Índice de Adversidade Familiar de Rutter. Verificou-se maior adversidade familiar no grupo composto por alvos de bullying (p > 0,05). A frequência de discórdia conjugal foi mais elevada em famílias de alunos alvos de bullying (Z = -2,01, p = 0,04). Reitera-se a necessidade de desenvolvimento/implementação de programas voltados para diminuir fatores de risco e promover fatores de proteção junto às famílias.

Palavras-chave: Bullying, Família, Adversidade familiar, Adolescência, Violência.


ABSTRACT

Being a victim of bullying in childhood and adolescence is a risk factor for the emergence of mental disorders. Adverse family environment variables contribute to involvement in bullying situations. This study aimed to compare the level of family adversity of adolescents who were bullied (n = 21) and non-victims (n = 21), matched for age, sex and classroom. Adolescents bullied were identified by Lista de Características dos Amigos de Sala de Aula and Escala de Violência Escolar. The level of family adversity was assessed using the Rutter Family Adversity Index. There was greater family adversity in the group composed of bullied teenagers (p > 0.05). The frequency of marital discord was higher in families of students who were bullied (Z = -2.01, p = 0.04). The data reiterate the need to develop and implement programs aimed at reducing risk factors and promoting protective factors with families.

Keywords: Bullying, Family, Family adversity, Adolescence, Violence.


 

 

Introdução

Ao buscar compreender o comportamento agressivo de crianças e adolescentes, não se pode desconsiderar o papel da família; o ambiente familiar é fundamental na transmissão de valores, crenças, ideias e significados presentes na sociedade – por ser um dos primeiros entornos proximais/imediatos da criança (Dessen & Polônia, 2007). É na dinâmica familiar que a criança adquire repertórios comportamentais de base, uma vez que pais/cuidadores são, frequentemente, a primeira e principal fonte de estímulos e modelo aos filhos. Nesse contexto, desenvolvem-se repertórios comportamentais que serão requeridos na interação em outros ambientes, como nos relacionamentos entre colegas da escola (Assis, et al., 2009; Santos et al., 2008; Silva, et al., 2008).

O comportamento é indicador importante do ajustamento precoce dos adolescentes, relacionando-se a impactos potenciais a longo prazo (Dishion & Patterson, 2016). Autores (Bolsoni-Silva & Loureiro, 2011; Stasiak, et al., 2014) ressaltam que problemas comportamentais na infância, podem persistir na adolescência e vida adulta, e que os pais/cuidadores possuem grande participação neste processo. Interações sociais de qualidade e ambiente responsivo durante a infância, destacam-se enquanto fatores protetores do desenvolvimento; assim como relacionamentos disruptivos na família, comunidade e escola, se tornam fatores de risco para saúde mental das crianças e adolescentes (Zayat, et al., 2018). Fatores de risco abrangem indicadores que agravam os efeitos negativos da condição de risco; já os de proteção, modificam os efeitos do risco em um desfecho considerado positivo (Costa, 2019).

Fatores de risco e proteção podem ser divididos em características relacionadas/atribuídas ao indivíduo, como competências e habilidades; outros fatores protetivos externos ao indivíduo, incluem apoio parental, mentoria de um adulto, ou organizações comunitárias que promovam desenvolvimento positivo dos jovens (Costa, 2019). As relações familiares são consideradas como críticas na manutenção de uma boa adaptação frente às adversidades; as experiências adversas na infância, associam-se a desfechos negativos futuros, considerando o desenvolvimento biopsicossocial (Costa, 2019). Assim, a ausência de interações saudáveis entre pais e filhos podem afetar o desenvolvimento infanto-juvenil e a preparação para a vida social nos anos posteriores.

A associação entre características familiares e problemas de saúde mental em crianças foi objeto de uma pesquisa de grande repercussão, realizada pelo psiquiatra inglês Michael Rutter; no estudo conduzido em 1981, o autor circunscreveu, a partir de uma ampla investigação populacional com crianças da ilha de Wight e de Londres, fatores familiares específicos e sua associação com o desenvolvimento de alterações comportamentais na infância. Verificaram-se similaridades no funcionamento familiar das crianças que apresentavam histórico de alterações comportamentais, sendo entendidas como fatores de risco ao desenvolvimento de tais alterações; estes fatores passaram a compor um Índice de Adversidade Familiar (IAF), cuja investigação é realizada por meio de uma entrevista semiestruturada com os responsáveis (Rutter, 1981).

Embora a presença de um único fator de risco, na investigação de Rutter, não tenha demonstrado associação com alterações comportamentais na amostra, o acúmulo de dois fatores de risco aumentou em quatro vezes a probabilidade de algum comprometimento no desenvolvimento infantil (Rutter, 1981). Destaca-se que o IAF (Rutter, 1981) tem sido utilizado em estudos nacionais e internacionais (Kim-Cohen, 2007; Tavares da Silva, et al., 2008). Sofrer bullying associa-se a dificuldades de adaptação e bem-estar em crianças e adolescentes, reconhecendo-se o impacto da vitimização do bullying infantil no desenvolvimento de problemas de saúde mental (Arseneault, 2017).

Experiências adversas na infância, tem sido estudas para compreender as implicações na saúde pública; tais experiências referem-se a eventos traumáticos ou passíveis de causar estresse durante os primeiros 18 anos de vida, incluindo situações como abuso (emocional, físico, sexual), negligência (emocional, física), convívio com situações de violência doméstica, abuso de substâncias por parte do cuidador, pai/mãe com transtorno mental, divórcio/separação ou a prisão do pai ou mãe (Vega-Arce & Nuñez-Ulloa, 2017).

Conhecer a adversidade infantil como fator que ameaça o desenvolvimento normativo (Baglivio et al., 2014) dá relevância à sua detecção precoce (Nurius et al., 2016) como forma de implantar medidas oportunas que permitam mitigar o estresse associado e evitar seus efeitos a curto e longo prazo. Passar por essas experiências, indicam consequências desfavoráveis relacionadas ao acúmulo de múltiplos fatores de risco ao desenvolvimento; com consequências na vida adulta (Vega-Arce & Nuñez-Ulloa, 2017). A adolescência é um período de desenvolvimento, com transições (mudanças biológicas, psicológicas, cognitivas e sociais); dentre fatores que afetam as trajetórias de indivíduos em situação de risco, estão os maus-tratos pelos cuidadores primários (Costa, 2019); enquanto os maus-tratos impedem a adaptação positiva, relacionamentos familiares positivos são vitais para manter uma adaptação positiva diante das adversidades (Luthar, et al., 2014).

Especificamente em relação ao bullying, considerado como evento adverso e fator de risco, é um dos principais problemas a saúde e desenvolvimento de crianças e adolescentes em idade escolar, e pode ser caracterizado como um tipo específico de violência de natureza repetitiva, em que há intencionalidade e desequilíbrio de poder entre vítimas e agressores (Breivik & Olweus, 2015); ressalta-se a existência de relação de poder assimétrica, a pessoa exposta às ações negativas apresenta dificuldade em se defender e é vulnerável ao agressor/agressores (Costa, 2019). Esse tema é motivo de preocupação, devido à potenciais consequências e efeitos negativos aos jovens envolvidos; este comportamento tem sido identificado como “problemático” entre adolescentes, afetando o sucesso escolar, competências sociais e bem-estar psicológico, para as vítimas e agressores (Costa, 2019).

Especificamente sobre as características familiares que tornam o indivíduo mais vulnerável ao envolvimento em situações de bullying; em território nacional foram realizadas investigações sobre associações entre ambiente familiar violento e o engajamento em situações de bullying. No estudo de Pinheiro e Williams (2009), com 239 adolescentes, entre 11 e 15 anos, os resultados apontam que a exposição à violência interparental ou parental direta esteve associada com ser perpetrador e alvo de bullying na escola, com diferenças na forma de engajamento e no sexo, mas não para a vitimização. Os dados apresentados por Pinheiro e Williams (2009), apontam a importância da investigação de características familiares e possíveis associações entre estas e o surgimento de problemas de comportamento, incluindo o envolvimento em situações de bullying.

Partindo da hipótese que agressores e vítimas de bullying compartilham fatores de risco similares na família, o estudo de Chan e Wong (2015), com 1880 adolescentes de ensino médio, apontou correlação positiva entre perpetração e vitimização; em relação às variáveis familiares, o apego familiar fraco, apresentou-se como fator de risco para vitimização e perpetração do bullying.

Um estudo nacional (Serra-Negra et al., 2015) teve como objetivo analisar o perfil do agressor, da vítima, da vítima/agressor e das testemunhas; além de associar os seus perfis com características socioeconômicas/familiares. Ao avaliarem 366 adolescentes, de 13 a 15 anos, encontraram que o fator sociocultural está associado ao perfil do agressor e da vítima, de modo que os agressores eram, em sua maioria, provenientes de famílias de nível socioeconômico alto e as vítimas eram de famílias de nível socioeconômico baixo. Os autores sinalizam que o estudo avaliou o bullying no contexto de agressão verbal, apontando necessidade de investigações futuras em outras formas de bullying, como agressão física e isolamento.

Diante do exposto, pode-se afirmar que ser vítima de bullying traz desfechos negativos, gerando sofrimento e comprometendo a autoestima dos envolvidos, além de ser fator de risco ao desenvolvimento de problemas comportamentais, transtornos psiquiátricos (Alckmin-Carvalho, et al., 2014; Alckmin-Carvalho et al., 2017; Frank & Acle, 2014) e suicídio (Espelage & Holt, 2013; Rivers & Noret, 2013).

Estudos longitudinais indicam associação entre a vitimização na infância e adolescência e a busca por tratamento psiquiátrico em idade adulta (Sourander, et al., 2000; Sourander et al., 2009); este fator aponta a perpetuação dos prejuízos causados pelo bullying ao indivíduo e sociedade, uma vez que os custos dos tratamentos oferecidos para problemas associados ao envolvimento nessas situações, podem onerar os sistemas públicos de saúde; por outro lado, os custos são substancialmente menores quando se investe em políticas de prevenção. A perpetuação do bullying extrapola o domínio individual, uma vez que tem demonstrado colocar em risco a segurança pública, que foi demonstrado nos casos de School Shooting ocorridos em vários países (Clabaugh & Clabaugh, 2005; Lickel, et al., 2003; Muschert, 2007), incluindo o Brasil (Vieira, Mendes, et al., 2009); tais aspectos justificam a importância de intervir precocemente nestas situações.

Com os dados apresentados, ressalta-se a relevância de avaliar fatores/variáveis relacionadas a adversidade durante a infância, pela prevalência e impacto no desenvolvimento e saúde do indivíduo (Pedrosa, 2018). A má adaptação em relação as adversidades vividas, associam-se a consequências psicopatológicas e disfunções fisiológicas no decorrer da infância e idade adulta (Bethell, et al., 2014); que podem ter reflexo na aprendizagem, comportamento (respostas consideradas não adequadas e/ou que causam sofrimento a pessoa, frente a adversidades futuras) e a nível fisiológico (como uma “hiper-resposta” ou resposta cronicamente ativa ao estresse) (Pedrosa, 2018); há também impacto econômico significante (Pedrosa, 2018).

Salienta-se que fatores de risco são condições/variáveis associadas à possibilidade de ocorrência de resultados negativos a saúde, bem-estar e desempenho social (Zayat, et al., 2018). Fatores de proteção na infância tornam-se relevantes, pois nesta fase se adquire grande parte dos recursos físicos, cognitivos, emocionais e sociais para o alcance do bem-estar; da mesma forma que é um período de especial vulnerabilidade às adversidades (Vega-Arce & Nuñez-Ulloa, 2017).

Em resumo, a literatura aponta necessidade de investigações que avaliem à vitimização e sua relação com características familiares, uma vez que tais dados podem viabilizar o desenvolvimento de medidas preventivas eficazes que reduzam a ocorrência de situações de bullying. Assim, os objetivos deste estudo foram: (a) comparar o índice de adversidade familiar entre adolescentes alvos e não alvos de bullying; (b) avaliar a relação entre variáveis de adversidade familiar e engajamento em situações de bullying enquanto vítima.

 

Método

Trata-se de estudo transversal do tipo caso-controle.

Participantes

Fizeram parte do estudo 21 adolescentes identificados como vítimas de bullying (grupo caso - CA) e 21 adolescentes identificados como não sendo vítimas nem agressores de bullying (grupo controle - CO); regularmente matriculados no segundo ciclo do ensino fundamental, de uma escola pública da cidade de São Paulo; participaram também seus respectivos pais/responsáveis. Critério de exclusão: estar ausente (não ter comparecido à escola) nos dias em que as avaliações foram realizadas.

A faixa etária dos adolescentes variou de 12 a 14 anos, média de 12,6 (Desvio Padrão = 0,6). A renda familiar variou entre 1,4 e 5,1 salários-mínimos (média de 2,6); de acordo com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a média de 2,6 classifica as famílias no estrato socioeconômico médio-baixo. Não houve diferença estatisticamente significativa entre o CA e o CO em relação a idade e renda. O sexo masculino prevaleceu sobre o feminino na amostra (76% vs 24%; z = 3,37; p < 0,05).

Instrumentos

Escala de Violência Escolar (EVE) - Versão Estudante: escala autoaplicável, de autorrelato, destinada a alunos de sexto a nono ano do Ensino Fundamental II; contém 18 perguntas fechadas em relação à violência em que estiveram envolvidos. Objetiva investigar a frequência e gravidade da violência escolar, avaliando o quanto alunos são vítimas e autores da violência escolar; escala do tipo Likert de 5 pontos, que compreende: nenhuma vez, uma ou duas vezes, três ou quatro vezes, cinco ou seis vezes, sete vezes ou mais; nesse sentido, permite a análise da frequência dos tipos de violência escolar e a intensidade, aspecto que diretamente relacionado ao bullying. Evidências de validade de conteúdo e indicadores de consistência interna foram verificadas em uma amostra de 2.668 estudantes brasileiros, do sexto ao nono ano do ensino fundamental (Stelko-Pereira, et al., 2010). O Coeficiente Alfa de Cronbach para escala global e subescala, variando de 0,61 a 0,95; indicando que os itens de frequência do instrumento foram consistentes para avaliar diferentes aspectos da violência, fornecendo indicador de confiabilidade com base na homogeneidade dos itens. Os adolescentes são considerados vítimas de bullying quando as pontuações estão em dois desvios padrão acima da média da classe (Stelko-Pereira, 2012).

Lista de características dos amigos de sala de aula (LCASA): trata-se da versão traduzida do Peer Assessment (Rubin et al., 1998), um instrumento sociométrico com evidências de validade verificadas (Lisboa, 2005), composto por 30 afirmativas que descrevem características comportamentais de colegas da sala de aula. O respondente deve escrever o(s) nome(s) de seu(s) colega(s) ao lado das características que, em sua opinião, mas o(s) identifica(m). As afirmativas são agrupadas em três fatores: fator 1, relativo a características pró-sociais; fator 2, correspondente a características de comportamento agressivo; e fator 3, relativo a características comportamentais de vitimização. No presente estudo, foi realizada a avaliação do fator 3. Os adolescentes com número de citações acima de um desvio-padrão acima da média da classe são avaliados como vítima de bullying.

Entrevista semiestruturada para aferição do índice de adversidade familiar – IAF (Rutter, 1981): destinada aos pais dos adolescentes que constituíram a amostra, a qual versou sobre seis itens considerados adversos ao desenvolvimento infantil, segundo estudo de Rutter (1981): (1) discórdia conjugal; (2) baixa renda familiar; (3) histórico de transtorno psiquiátrico nos pais; (4) histórico de criminalidade nos pais; (5) número excessivo de filhos e (6) número excessivo de moradores na mesma casa. Para cada item de adversidade, atribuiu-se 0,2 ponto, totalizando escore máximo de 1,4 ponto, e mínimo de nenhum ponto.

Procedimentos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, sob o Processo CEP/IP 2010.822, C.A.A.E 04741913.3.0000.5561. Inicialmente, foi realizado contato com uma escola da Rede Pública de Ensino Fundamental, a escolha/seleção institucional foi realizada por critério de conveniência; na ocasião em que foi apresentado o projeto ao coordenador pedagógico, foram discutidas as implicações decorrentes da participação da instituição, de seus alunos e pais/responsáveis na pesquisa; após a aprovação da escola, os adolescentes e seus responsáveis foram convidados a participar.

As avaliações dos alunos foram realizadas nas dependências da escola (espaços disponibilizados pela coordenação e direção escolar), durante seu horário de funcionamento; os adolescentes que estavam presentes no dia de coleta, foram convidados a responder à EVE e à LCASA; identificaram-se as vítimas de bullying, que compuseram os CAs, as quais foram pareadas por idade, sexo e sala de aula, aos seus controles. Destaca-se que foram excluídos do CO, participantes identificados pelo LCASA como perpetradores de bullying. Garantiu-se sigilo absoluto sobre a identidade dos participantes e confidencialidade sobre os dados.

Avaliou-se a adversidade familiar do grupo de CAs e COs; foi enviado, por meio da secretaria da escola, uma carta destinada aos responsáveis dos participantes, explicando brevemente a pesquisa, juntamente com o formulário de avaliação do índice de adversidade familiar. Juntamente a esses materiais, havia uma nota com a indicação para que preenchessem o formulário e entregassem à escola, por meio de seus filhos; os envelopes deveriam ser lacrados, a fim de garantir o sigilo das informações fornecidas. Os responsáveis pelos alunos que participaram da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os alunos assinaram o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido. O estudo recebeu aprovação do Comitê̂ de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da universidade na qual o projeto foi inserido.

Análise dos Dados

Para caracterização amostral foram realizadas análises descritivas; comparações entre dois grupos foram realizadas por meio do Teste t de Student; diferenças entre proporções foram analisadas usando o teste Z. As vítimas de bullying foram analisadas a partir da utilização de dois instrumentos, LCASA (sociométrico) e EVE (questionário de autorrelato); em ambos, as vítimas de bullying foram identificadas a partir de um desvio-padrão acima da média da classe a que o adolescente pertencia.

Quanto à avaliação dos itens de adversidade familiar, primeiramente foi avaliado se a análise da distribuição desta variável poderia ser considerada normal, tanto graficamente quanto por meio dos testes de Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov. A partir dos resultados obtidos dos testes de normalidade, a distribuição amostral mostrou-se não-paramétrica (não normal); assim, foi utilizado o teste de Mann-Whitney a fim de buscar verificar as ordens médias entre o engajamento em bullying e nível de adversidade familiar.

 

Resultados

Os resultados foram divididos em: adversidade familiar e envolvimento em situações de bullying como vítima; e frequência das variáveis de adversidade familiar.

Adversidade Familiar e Envolvimento em Situações de Bullying Como Vítima

O escore médio do IAF nos adolescentes alvos de bullying foi maior do que naqueles que não estão envolvidos em situações de bullying (0,35 vs 0,22, p > 0,05). Contudo, como os dados não demonstraram uma distribuição normal, foi realizada a análise não paramétrica de Mann-Whitney. A Tabela 1 apresenta os escores do IAF para os dois grupos, em relação à média, desvio padrão, mínimo, mediana, máximo e os resultados da análise do teste de Mann-Whitney (ranking médio).

Observa-se que o ranking médio dos participantes identificados como vítimas de bullying foi maior quando comparado ao do grupo controle. Apesar de não ter sido possível identificar diferença entre os grupos ao nível de significância de 5% (Z = -1,82 e p = 0,06), o p-valor foi próximo a 0,05 (considerado significante); assim, tal resultado pode ser considerado com tendência a significância estatística. Considerando que a análise descritiva apontou que 15 dos participantes do grupo CO (71%) tiveram escore igual ou menor que 0,2, enquanto apenas nove dos participantes do grupo CA (43%) apresentaram esse escore e que este resultado (ou seja, maior nível de adversidade familiar no grupo CA) é coerente com o esperado, compreende-se a importância de avaliar individualmente os subitens que compõem o IAF.

 

 

Frequência das variáveis de adversidade familiar

A Tabela 2 demonstra as variáveis de adversidade familiar a partir dos subitens do IAF para os dois grupos. A distribuição das variáveis é bastante semelhante nos grupos de vítimas e de não vítimas de bullying, com exceção das variáveis Discórdia Conjugal, presente em nove famílias do grupo de alvos de bullying e apenas três do grupo de adolescentes não-alvos, apresentando resultados estatisticamente significante (Z = -2,04; p = 0,04). Esses resultados indicam que nas famílias dos adolescentes alvos de bullying eram mais frequentes a discórdia conjugal do que nas dos adolescentes não envolvidos nessas situações.

 

 

Discussão

Este trabalho demonstra uma particularidade ao utilizar uma metodologia para identificação de bullying, realizada por diferentes informantes, isto é, pelo próprio aluno como também pelos seus pares e responsáveis, apontando-se como diferencial. Objetivou-se investigar, de forma preliminar, se vítimas de bullying apresentam níveis de adversidade familiar mais elevados, comparando-os aos alunos não vitimizados e não agressores, e se houve associações entre altos níveis de adversidade familiar e o envolvimento em situações de bullying como vítima.

Embora, quando os itens de adversidade familiar avaliados em conjunto demonstraram diferença marginalmente significativa entre os grupos, ao comparar as variáveis de adversidade familiar individualmente a presença de discórdia conjugal e transtornos psiquiátricos, foram mais frequentes em famílias de alunos vítimas de bullying, com diferença detectável entre os grupos. Ao explorar as variáveis individuais do IAF em relação aos grupos, os resultados apontaram associação entre discórdia parental e crianças/adolescentes alvos de bullying; tais resultados podem ser articulados com estudos que demonstram que a família é uma variável relevante na compreensão do bullying (Patton & Hong, 2013; Bibou-Nakou, et al., 2013). Sobre este aspecto, os dados da presente pesquisa corroboram resultados apresentados na literatura. Por exemplo, uma pesquisa com 41 crianças, entre seis e 12 anos, encontrou correlação estatisticamente significativa entre nível de conflito entre os pais e a vulnerabilidade para ser vitimizado na escola (Baker, 2012).

Outra pesquisa utilizou modelagem de equações estruturais e examinamos o impacto de amizades adolescentes e/ou apoio familiar aos 14 anos sobre sintomas depressivos aos 17 anos, em adolescentes expostos a estresse na infância (contempla adversidades familiares da criança - experiências negativas dentro do ambiente familiar, e/ou bullying entre pares) antes dos 11 anos; a modelagem de equações estruturais foi realizada em 771 adolescentes (Van Harmelen et al., 2016). Os resultados indicaram que o apoio social na adolescência está negativamente associado a sintomas depressivos subsequentes em ambos os sexos expostos à estresse na infância; encontram-se evidencias para: a) o suporte familiar mediava a ligação entre adversidades familiares da criança e sintomas depressivos aos 17 anos, que foi negativamente associado ao apoio familiar do adolescente aos 14 anos; que associou-se negativamente à sintomas depressivos aos 17 anos; b) evidenciou-se que as amizades dos adolescentes mediam o caminho entre o bullying e sintomas depressivos, especificamente o bullying relacional foi negativamente associado a amizades de adolescentes aos 14 anos, que foram negativamente associadas a sintomas depressivos aos 17 anos (Van Harmelen et al., 2016).

Estudos revelaram que quando o grupo familiar apresenta maiores níveis de conflito, falta de supervisão parental, violência doméstica, pouco diálogo e relações mediadas pelo estresse ou violência, os filhos são mais propensos a se envolver em situações de bullying (Oliveira, et al., 2015; Oliveira et al., 2017; Santoyo & Mendoza, 2018). Além disso, famílias com padrões de relacionamento e clima familiar positivo são associadas a menores índices de vitimização ou agressão na escola (Bibou-Nakou et al., 2013; Shetgir et al., 2012).

Um estudo investigou o impacto do apoio social escolar e da vitimização por bullying no sofrimento psicológico entre adolescentes da Califórnia; examinando os efeitos principais e moderadores do apoio social de adultos nas escolas sobre sofrimento psicológico sério não especificado, relacionado à vitimização (Zhang et al., 2016). Contou-se com 2.799 adolescentes, de 12 a 17 anos; foram conduzidas análises de regressão logística modelando as chances de terem sofrimento psicológico sério não especificado em relação ao apoio social escolar e vitimização. Como resultados, adolescentes expostos ao bullying no ano anterior a coleta de dados, tiveram cerca de 1,9 (p <0,05) a 1,8 (p <0,10) vezes mais chance de ter sofrimento psicológico sério não especificado, comparando aos que não relataram ter sofrido bullying; níveis mais altos de apoio social adulto da escola, exibiram efeito geral de proteção contra o sofrimento psicológico sério não especificado (p <0,01). Adolescentes com altos escores de apoio adulto na escola, eram menos propensos a ter sofrimento psicológico sério não especificado (OR = 0,4, 3º vs 1º quintil, p <0,05; OR = 0,4, 4º vs 1º quintil, p < 0,05; OR = 0,5 5º vs 1º quintil, p <0,10) (Zhang et al., 2016).

Assim, os vitimizados apresentaram duas vezes mais probabilidade de ter sofrimento psicológico sério não especificado em comparação com os não vítimas; níveis mais altos de apoio social adulto nas escolas foi um fator protetivo, mas não amenizou o efeito da exposição ao bullying (Zhang et al., 2016). Sugere-se que o apoio de adultos nas escolas pode ajudar nos problemas psicológicos dos alunos, mas não parece prevenir as consequências psicológicas da vitimização; necessitando-se de intervenção adicional, além do apoio social, para prevenção da vitimização e suas consequências psicológicas (Zhang et al., 2016).

Autores se propuseram a estimar tendências de tempo linear por sexo na prevalência de vitimização escolar e cyberbullying entre estudantes do ensino médio nos Estados Unidos (N= 61.042); encontraram-se resultados sobre o aumento significativo na prevalência de bullying escolar entre mulheres de 2009 (21,2%) a 2015 (24,8%), tendência linear OR = 1,08 [1,04, 1,12], e diminuiu significativamente entre homens de 2009 (18,7%) a 2015 (15,8%), tendência linear OR = 0,93 [0,89, 0,98]. A prevalência de cyberbullying se manteve inalterada entre 2011 e 2015 entre ambos os sexos. A etnia asiática, em relação à branca, foi associada a taxas significativamente mais baixas de vitimização escolar e por cyberbullying entre mulheres, mas não entre homens; a incidência de vitimização escolar e de cyberbullying foi significativamente menor entre alunos negros e hispânicos, mas não entre os de diferentes etnias, independentemente do sexo (Pontes, et al., 2018). Segundo os autores, pesquisas futuras devem explorar fatores subjacentes relacionados a essas tendências divergentes e desenvolver estratégias eficazes para reverter o aumento da vitimização do bullying feminino nas escolas.

As associações encontradas nessas pesquisas, somadas aos resultados do presente estudo, fortalecem a hipótese de que a adversidade familiar, somada a outros fatores, pode contribuir para crianças/adolescentes serem alvos de bullying. As sucessivas falhas no que se refere às estratégias empregadas pelos responsáveis na resolução de problemas interpessoais, constituem um modelo negativo de resolução de problemas para os filhos, o qual pode ter como consequências para estes últimos déficits de habilidades sociais e para obter nível de convivência social satisfatório (Cummings et al., 2003). Os mesmos autores supõem que esses déficits tornam o jovem mais vulnerável a ser vitimizado na escola.

A identificação da relação entre bullying e adversidade familiar é importe para desenvolver práticas preventivas e tratamento que incluem a família. É importante enfatizar que o envolvimento em situações de bullying é multideterminado, selecionado e mantido na interação do indivíduo com diversos contextos (Skinner, 1978; Sampaio, 2005; Tourinho, 2003); desta forma, não apenas características da família contribuem para o desfecho de envolvimento em bullying; deve-se considerar as características individuais dos jovens, as contingências do ambiente escolar e os valores da comunidade.

As limitações do presente estudo envolvem o tamanho amostral reduzido; caracterização de escolha da amostra por conveniência (não aleatório); consideração de aspectos familiares adversos relacionados ao bullying, mas sem explorar, incluir como variáveis intervenientes (aspectos que podem estar relacionados a vitimização por bullying, como fatores socioeconômicos, culturais, tipo de escola, comparação entre pública e privada; etnia, região brasileira, entre outros). Como sugestão para estudos futuros, seria útil desenvolver uma forma de rastreio que possa ser realizada por aqueles que estão em contato com as crianças (médicos, enfermeiros, educadores e professores) com objetivo de identificar as que vivenciaram experiencias adversas e estão em risco, de modo a intervir com programas terapêuticos adequados e prevenir resultados indesejáveis (Pedrosa, 2018).

Identificar precocemente problemas psicossociais é importante para prevenir consequências futuras, além de melhorar o prognóstico (Croneet al., 2016). É por isso, que as adversidades na infância são consideradas foco central na prevenção de patologias e promoção do bem-estar (Vega-Arce & Nuñez-Ulloa, 2017). Também seria relevante pesquisar sobre variáveis que podem intervenientes na perpetuação e vitimização de bullying entre os jovens, como diferenças entre sexos, faixa etária, tipos de bullying (agressões psicológicas, físicas, isolamento e cyberbullying) e diferenças étnicas e culturais.

Devem ser desenvolvidas estratégias eficazes para enfrentar esta forma de abuso e suas consequências para as vítimas; enfrentar o bullying na infância pode não apenas reduzir sintomas de saúde mental infanto-juvenil, mas também prevenir dificuldades psiquiátricas e socioeconômicas até a idade adulta e reduzir custos consideráveis ​​a sociedade (Arseneault, 2017). Assim, melhorar as relações entre pares e ambientes familiares positivos, pode beneficiar a saúde mental de jovens vulneráveis ​​que sofreram adversidades familiares e/ou bullying na escola (Van Harmelen et al., 2016). Para conclusões gerais, são necessárias pesquisas que avaliem esta relação em larga escala e experimentos controlados para estabelecer os efeitos das variações da adversidade familiar sobre tipos específicos de vitimização por pares em crianças/adolescentes.

O presente estudo demonstrou que adversidade familiar é maior em vítimas de bullying em amostra proveniente de uma escola pública do estado de São Paulo, e que a discórdia conjugal pode estar associada à vitimização por pares. Espera-se que este trabalho preliminar possa estimular a produção de pesquisas nacionais sobre o tema, servindo como incentivo para desenvolver ações preventivas e interventivas junto à família e comunidade.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Felipe Alckmin-Carvalho
E-mail: felipealckminc@gmail.com

Enviado em: 30/03/2020
1ª revisão em: 24/02/2021
Aceito em: 30/04/2021

 

 

1 Psicólogo graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Mestre e Doutor em Ciências pelo Programa de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo – Brasil. Atualmente realiza estágio de pós-doutorado na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e é discente da graduação em Medicina da Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIT) – Minas Gerais, Brasil.
2 Psicóloga graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento pela UPM - São Paulo, Brasil.
3 Psicóloga graduada pela Universidade Paulista, Mestre em análise do comportamento pela Universidade Estadual de Londrina e Doutora em ciências pelo Programa de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - Brasil.
4 Psicóloga graduada pela Universidade Federal do Pará, Mestre e Doutora em Ciências pelo Programa de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - Brasil. Professora e Orientadora no Programa de Psicologia Clínica do IP-USP.

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