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Vínculo

versão impressa ISSN 1806-2490

Vínculo v.4 n.4 São Paulo dez. 2007

 

ARTIGOS

 

Grupos - a perspectiva psicanalítica

 

Groups - the psychoanalytical perspective

 

Grupos - la perspectiva psicoanalítica

 

 

Lazslo Antonio Ávila1

Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho consiste em uma série de passos, com o suporte em autores da Psicanálise e da Grupo-análise (principalmente W.R. Bion e R. Kaës), para construirmos um modelo conceitual que nos permita descrever os grupos como objeto próprio de investigação, diferente e ao mesmo tempo atravessado pelas representações do Indivíduo. Colocado em uma fórmula, diríamos: - o grupo não é a soma de indivíduos: o indivíduo é que é, em si mesmo, um Grupo, ou a expressão de grupos. É o grupo que é o verdadeiro sujeito da realidade humana. O indivíduo é apenas uma criação sua.

Palavras-chave: Grupo, Indivíduo, Psicanálise, Grupanálise.


ABSTRACT

This work consists in a series of steps, based on psychoanalytic and group analytic authors (mainly W. R. Bion and R. Kaës), to construct a conceptual model apt to describe groups as an object of investigation in their own right, both separated from and intertwined with the representations of the individual. In a formula, we might say: the group is not the sum of individuals – it is the individual who is, within himself, a group, or an expression of groups. It is the group that is the real subject of human reality. The individual is merely a creation.

Keywords: Group, Individual, Psychoanalysis, Group analysis.


RESUMEN

Ese articulo se constituye en una serie de pasos, con el apoyo de los autores del Psicoanálisis y el Grupo-análisis (principalmente W. R. Bion y R. Kaës), para la construcción de un modelo conceptual que permita describir a los grupos como un objeto propio de investigación, distinto y al mismo tiempo atravesado por las representaciones del Individuo. Puesto en una formula, podríamos decir – el grupo no es la suma de individuos: es el individuo que es, en si mismo, un Grupo, o la expresión de grupos. Es el grupo el verdadero sujeto de la realidad humana. El individuo es tan solo una creación suya.

Palabras clave: Grupo, Individuo, Psicoanálisis, Grupo-análisis.


 

 

A nossa única e mais completa certeza é a de que nós existimos. Essa é a evidência mais declarada, óbvia e necessária. A nossa existência e a nossa consciência coincidem, e desse modo, dizer: “O Indivíduo não existe” equivale a duvidar de nossa própria existência. Mas o desenvolvimento que traremos pretende sustentar exatamente este paradoxo: o indivíduo é uma ilusão. Inclusive este indivíduo que sustenta o meu, e o teu, Eu.

Então: O Eu não existe. E o que é isto: minha experiência, meus pensamentos, meus sentimentos, meu corpo? Isso é o suporte dessa ilusão. Isso é o veículo, a tela, o meio através do qual se processam experiências, que se reúnem, se compõem e tramam uma teia de representações, no centro da qual se forma a miragem do Eu.

Nosso trabalho sobre os grupos se inicia com uma necessária ruptura: é preciso dissolver o indivíduo, se quisermos perceber o que está além do indivíduo. Para a construção teórica do objeto Grupo, é preciso iniciar uma operação de desconstrução daquilo que parece formar os grupos, ou seja, é preciso questionar o Indivíduo como unidade da realidade grupo.

O olhar do senso comum vê o mundo, e reconhece nele objetos e pessoas. Ingenuamente apreendemos a realidade que nos cerca vendo um mundo natural e um mundo humano e destacamos como elementos fundamentais desse mundo humano aos Indivíduos. Eles parecem ser a unidade básica. Contudo, a verdadeira unidade é o conjunto, e não seus membros.

É o grupo o verdadeiro sujeito da realidade humana. O indivíduo é apenas uma criação sua. Uma criação originalíssima, tão dotado que chega a ponto de proclamar sua própria autonomia. Mas o indivíduo não existe por si mesmo, ou em si mesmo. O indivíduo existe por sua necessária e obrigatória participação nos grupos. É com os recursos e os atributos da grupalidade que cada indivíduo vem a se constituir enquanto indivíduo. É no grupo e para o grupo, que o indivíduo se torna o que é. Sua existência individual é tributária de sua existência grupal.

Para iniciarmos a desconstrução da idéia do Indivíduo, enquanto unidade última e indissolúvel, um bom começo é recorrermos a Freud, que em um magnífico texto em 1917, chamou a atenção para as barreiras narcísicas no progresso de nosso auto-conhecimento. Freud caracterizou como uma dificuldade intrínseca da psicanálise a sua própria descoberta fundamental: o Inconsciente. Temos, como indivíduos e membros da humanidade, uma determinada representação do que é ser um ser humano. Prezamos em alto grau nossa humanidade, um ser dotado dos atributos supremos da Inteligência, da Razão, da capacidade de produzir cultura, de dominar a natureza, de submeter os elementos, etc.; um ser acima de todos os demais, potente e naturalmente voltado para o domínio do mundo. Porém, exatamente de uma de suas armas mais poderosas, a Ciência, emergiram três fortes ataques a essa suposta superioridade. Freud os denominou de “feridas narcísicas”. Este vasto conjunto de conhecimentos e técnicas que denominamos Ciência causou três grandes transformações no narcisismo humano: a primeira foi causada por Copérnico, a segunda por Darwin, e a terceira pelo próprio Freud, com a descoberta do inconsciente. Extrapolando o texto freudiano, acrescentaríamos que os grupos são a quarta ferida narcísica.

Freud aponta como o homem sempre concebeu a si próprio enquanto centro do universo. Durante muitas centenas de anos prevaleceu a concepção ptolomeica (Ptolomeu, século II d.C.) que suponha a Terra como o centro, com o sol e as estrelas circulando em torno. Copérnico, em 1600, ao elaborar a teoria heliocêntrica, retirou o homem do centro do universo e o deslocou para a periferia do sistema solar. Depois disso, o progresso da Astronomia afastou o homem cada vez para mais longe e para um papel cada vez mais insignificante no Cosmos.

No século XX aprendemos que a luz viaja pelo espaço a uma velocidade de 300.000 km/segundos, e a partir dessa velocidade absoluta, pudemos medir as extensões astronômicas, inclusive o suposto tamanho do Universo. A estrela que nos fornece vida e calor, o sol, encontra-se a apenas 8 minutos-luz da Terra. Nosso mais próximo vizinho, a estrela Alfa-Centaury encontra-se a 4,3 anos-luz, ou seja, 41 trilhões de km de nós. Nossa galáxia, a Via-Láctea, comporta um número de mais de 100 bilhões de estrelas, que são classificadas de acordo com a sua massa em estrelas de primeira, segunda, terceira, quarta, quinta e sexta grandezas. O sol é uma estrela de quinta grandeza, e tem uma idade estimada em 6 trilhões de anos, o que corresponde à metade de sua vida útil. Já foram investigadas astronomicamente alguns milhares de galáxias, e calcula-se que haja várias centenas de bilhões de galáxias. Usando rádio-telescópios, e medindo as radiações de um quasar (quasi-estelar object), o mais distante já detectado, chegou-se à seguinte medida, que é por ora, o tamanho presumível do Universo: 4,5 trilhões de anos-luz. Ou em termos numéricos: 4.500.000.000 X 300.000 (velocidade da luz) X 60 (segundos) X 60 (minutos) X 24 (horas) X 365 (dias do ano) quilômetros. (SAGAN, 1990).

A revolução copernicanica veio nos mostrar o quanto somos periféricos no vasto universo. Aceitamos a visão de Copérnico, mas não a realizamos, ou seja, não mantemos a consciência de seu significado. A nossa experiência sensorial nos leva a abstrair da realidade em que estamos imersos. Daí Freud concluiu que isso foi assimilado como uma ferida narcísica. Os nossos dotes intelectuais e culturais não podiam tolerar que o homem fosse destituído de todo seu prestígio, e só cedemos nossa posição, abdicando do papel de centro de universo, mantendo a idéia de que seriamos o centro da criação.

Então vem a 2ª ferida narcísica, infringida à humanidade por Darwin, de quem Freud era grande admirador. Charles Darwin descreveu a evolução dos seres vivos e nos colocou em um dos seus muitos ramos, junto aos primatas superiores. Em sua magistral descrição da seleção natural, demonstrou como a natureza faz operar um mecanismo de eliminação dos menos aptos e multiplicação dos mais adaptados, que fornece um modelo consistente para a evolução da vida em toda a Terra. Mas esse pensador foi ironizado até a morte. Os jornais ingleses da época faziam charges onde ele era representado como um bebê peludo sendo amamentado por chipanzés. Foi ridicularizado, pois nos defenestrou do centro da criação. A segunda ferida narcísica fez reconhecer nosso próximo parentesco com todas as formas de vida da Terra. Nosso narcisismo reagiu, e levantou contra a teoria darwiniana todo tipo de argumento, desde os religiosos-fundamentalistas (como o criacionismo, amplamente defendido em determinadas regiões dos Estados Unidos e mesmo no Brasil), até os culturais e artísticos, que sustentavam a grande diferença nas nossas produções simbólicas comparadas às de qualquer outro animal. Mas, modernamente os estudos genéticos, e em particular o grande estudo genômico internacional que mapeou o DNA, demonstrou a grande semelhança genética entre nós e os nossos “primos”: as bases nitrogenadas de nosso DNA comparado ao do chimpanzé apresentam apenas entre um e meio a três por cento de diferença.

Com Freud vem a 3ª ferida narcísica, o homem não é mais o centro do universo ou o “rei” da criação e nem mesmo o centro de si mesmo. Pois o inconsciente nos põe habitantes de nós mesmos junto com um desconhecido. Já não somos senhores de nossa própria casa. Como Freud previu em 1917, a sua descoberta não foi bem incorporada. Esforços revisionistas são permanentes, e não passa ano em que a mídia não prepare um grande “furo” de reportagem, com títulos como: “Freud morreu!”, ou “A psicanálise é uma farsa”. As concepções freudianas são permanentemente submetidas a ataques que questionam a teoria da sexualidade, a pulsão de morte, e a própria eficácia do método. Isso tudo não impediu da psicanálise se difundir tão amplamente que passou a fazer parte do vocabulário cotidiano. Porém, a divulgação excessiva não é reconhecimento e sim vulgarização e descaracterização. A ferida aberta pela psicanálise continua a doer.

A 4ª ferida narcísica é a grupalidade, a teoria dos grupos e a compreensão do que é a psique humana, quando a dimensão intersubjetiva é seriamente considerada. O grupo afeta profundamente o nosso narcisismo, mais além das feridas copernicana, darwiniana e freudiana, porque retira a base de sustentação de nosso Eu. Posso talvez aceitar que não sou senhor do universo, ou de que faço parte da grande família dos seres vivos da Terra, e mesmo de que tenho um inconsciente que me determina, mas ninguém me tira a convicção de mim mesmo, pois eu SOU. A minha vivência enquanto eu é totalmente convincente. Posso aceitar algo como inconsciente, mas ainda considero que é meu. Acontece que esse algo não é próprio, não é um produto de minha subjetividade. É algo que me vem da ordem do inter, ou do trans-subjetivo. Considerado o enraizamento do sujeito em suas vivencias grupais o EU se demonstra ilusório, e a auto-referência não é mais uma certeza. A teoria dos grupos na sua radicalidade diz que o EU não existe, é uma ilusão. O eu é um subproduto da experiência que o grupo promove em seus membros. (BION, 1975, KAËS, 1997).

Para sair dessa vertigem, vamos empregar uma conhecida metáfora: cada um dos dedos da mão é distinto dos demais, e dotado de uma relativa autonomia de movimentos. Se um dedo adquirisse consciência, poderíamos imaginar sua extranheza e ao mesmo tempo sua familiaridade ao interagir com os demais dedos. Decerto ele se consideraria um “indivíduo”. Poderíamos também imaginar o que vivenciaria uma formiga se de repente adquirisse autoconsciência. Decerto cada formiga é um indivíduo. Mas o que é se considerar um indivíduo? Como entender a sua essência enquanto formiga, sem uma necessária compreensão do que significam os demais “indivíduos-formiga”, ou seja, sem uma referência direta à espécie das formigas?

Na espécie humana temos uma infinidade de outras variáveis para considerar. A linguagem, sistema simbólico por excelência, e o desenvolvimento do processo civilizatório, trouxeram tantas características que consideramos inerentes à nossa humanidade, que já não conseguimos falar em uma “natureza” humana. Decerto ela é distinta da natureza instintiva de nossos parentes animais. Desde nosso nascimento somos seres únicos, porque recebemos o selo da intersubjetividade. O bebê é humanizado no seio de relações inter-humanas.

A psicanálise demonstrou isso claramente. Winnicott (1993) em uma de suas célebres fórmulas, disse que o bebê não existe. Sua idéia é de que o bebê é parte da relação mãe-bebê, não existe por si mesmo. Isso acontece simultaneamente nos planos biológico e psíquico. Você não se humaniza sem o outro que te humanize. Para a perspectiva psicanalítica aquilo que é um bebê não nasce só ao nascer uma criança, é preciso o contexto das relações intersubjetivas, da mãe com o bebê, da mãe com o pai do bebê, destes entre si, da família como contexto e suporte, e de outros grupos envolventes.

Existe uma biologia em qualquer bebê, mas este bebê foi antecipado não só durante nove meses. Quando a menina brinca com boneca já está se relacionando com o bebê que um dia será seu filho. Ela vai construindo a sua maternidade futura, antecipando-a pelo desejo, pela fantasia. Esse bebê é a mãe também. A criança fantasia a mulher que ela será e o filho que ela terá em uma espécie de trilha que o desejo cria para o ser futuro. Quando a mulher engravida, engravida do neném que ainda não veio, assim como daquele que vem vindo há muito tempo. O corpo biológico do bebê é um mosaico dos pais, avós, etc. Ele é totalmente bombardeado pelas antecipações dos pais e da corrente de gerações que o antecede. Psiquicamente somos compostos dos desejos, repressões, representações, mitos e sintomatizações da rede intersubjetiva que nos precedeu. Essa trama é formada de projeções que não determinam obrigatoriamente o que vai acontecer, mas podem conduzir a uma rede muito compacta de determinações. Assim, por exemplo, dizer que o neném é inteligente coloca nele certas expectativas que preparam e modelam sua resposta. Qualquer manifestação de curiosidade, e os pais, predispostos pelo julgamento pré-formado, vão considerar como uma “demonstração” da imaginária inteligência do filho, e vão assegurar o contexto propício para esta criança ousar mais, estimulada e retro-alimentada. Ganhando autoconfiança e apoio do ambiente psicológico dos pais e da família, esta criança possivelmente, de fato, desenvolva mais suas capacidades e em pouco tempo “realize” a fantasia antecipatória de que ela fosse mais inteligente que qualquer outra criança.

Os estudos de psicologia do desenvolvimento se encontram aqui com as pesquisas psicanalíticas. Observando as diferentes dinâmicas familiares é possível reconhecer padrões que favorecem ou inversamente dificultam o desenvolvimento infantil. Uma família com severas dificuldades de relacionamento emocional pode afetar as expressões de seus membros, e com isso levar a que um bebê não consiga se desenvolver tanto no plano físico quanto emocional. Por exemplo: um estudo do Hospital John Hopkins demonstrou que famílias desestruturadas têm crianças com uma sensível diferença em peso e altura, comparadas aos filhos de famílias de mesmo nível sociocultural, mas mais harmônicas. Os estudos atuais sobre interação mãe-bebê vêm demonstrando como a natureza do vínculo primário exerce influencia sobre todos os aspectos da vida futura de um ser humano, marcando-o com um destino tão coercitivo como o da própria anatomia com a qual se nasce (BRAZELTON & CRAMER, 1991).

Retomando nosso argumento: O eu não existe por si mesmo, em si mesmo. Estruturalmente, o eu só existe na relação EU-OUTRO. Esta é a idéia a que a teoria dos grupos nos conduz. Temos que reformular nossa concepção do indivíduo como uma unidade, completo em si mesmo. O ser humano é um ser que realiza a sua humanidade na sua relação com os demais seres humanos, no mínimo na relação dual. Observe-se que isso muda a postura e a representação da psicoterapia individual. Essa dupla, analista e analisando, é terapia de grupo.

A teoria psicanalítica dos grupos está inteiramente coerente com os desenvolvimentos conceituais da psicanálise. Pensar os grupos é uma forma radical do pensar psicanalítico. Nós naturalmente tendemos à relação. Nossas estruturas psíquicas são relacionais. No “O Ego e o Id” (1923), Freud diz que o id é um precipitado de experiências anteriores, ou seja, experiências de egos.

Mas a psicanálise tem sido associada fundamentalmente ao estudo da mente individual, seu método vinculado aos desdobramentos da vida subjetiva. Como conciliar esta perspectiva ao modelo proposto pela teoria dos grupos? Defenderemos aqui que toda a descrição do psiquismo apresentada por Freud, e desenvolvida pelos autores posteriores, se sustenta em representações do psiquismo, que não devem ser entendidas como de “um” psiquismo enquanto realidade própria, mas sim como “processo psíquico”, ou melhor, ainda “processos psíquicos”, múltiplos, multidimensionais.

Desse ponto de vista, a idéia-provocação O EU NÃO EXISTE, remete para uma re-significação do Indivíduo, e daquilo que em cada pessoa se refere ao si mesmo, ao Eu. Propomos, e essa seqüência de idéias busca suportes conceituais que, à semelhança de andaimes, nos permitam erguer esta construção, que o Eu seja analisado como uma matriz de relações intersubjetivas. No fundo de cada indivíduo não existe um “núcleo”, um fundo, onde repouse a pura individualidade.

Junto com Freud, pensamos que o Eu poderia ser comparado, em elegante metáfora culinária, a uma cebola. Este curioso vegetal é formado só por cascas. Não existe um caroço. Se formos em busca de seu núcleo nada encontramos, pois o núcleo é a própria cebola, suas camadas mais interiores. O EU é em tudo semelhante. As nossas cascas são os vínculos eu-outro, se for descascando tudo que sou na minha relação com o outro, nada sobra. O que me compõe é o meu “eu com o outro”, o que sou ao longo da minha história. Essa é a história dos meus vínculos com os demais. Gostaríamos de ter algo só nosso, íntimo e pessoal, essa é a 4ª ferida narcísica.

Sou formado pelas outras pessoas, que compõem as muitas capas, as camadas vinculares dos outros em relação comigo, do que fui vivendo ao me relacionar com eles. Se existe um Eu, ele nada mais é do que a consciência do que aconteceu ao longo de uma história de relações intersubjetivas com um dos pólos da relação. Esta consciência particular ganha foros de autonomia, e então pensamos que o Eu deu início à historia das inter-relações, quando o Eu só se constitui porque relações humanas lhe antecederam e o propiciaram. O que me é próprio existe, e é reconfortante, mas o que me é mais essencialmente próprio, aquilo que de fato me constitui, isso é a Relação.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BION, W. R. Experiências com grupos. Rio de Janeiro: Imago, 1975, 185 p.        [ Links ]

KAËS, R. O Grupo e o Sujeito do Grupo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997, 225 p.         [ Links ]

FREUD, S. Uma dificuldade no caminho da psicanálise (1917). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de S. Freud. Rio de Janeiro, Imago, 1995, Volume XVII.         [ Links ]

_______ O Ego e o Id (1923). Op. Cit. Volume XIX.        [ Links ]

SAGAN, C. Cosmos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986, 386 p.        [ Links ]

WINNICOTT, D.W. Textos selecionados: da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993.         [ Links ]

BRAZELTON, T.B & CRAMER, B.G. As primeiras relações. São Paulo: Martins Fontes, 1997, 287 p.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
E-mail: lazslo@terra.com.br

Recebido em:18/12/2006
Aceito em:06/02/2007

 

 

1 Psicólogo, grupo-analista, mestre e doutor, pós-doutorado pela University of Cambridge, professor adjunto da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, membro do NESME e da SPAGESP.

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