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Vínculo

versão impressa ISSN 1806-2490

Vínculo vol.7 no.2 São Paulo  2010

 

ARTIGOS

 

O grupo psicanalítico de discussão como dispositivo de aprendizagem e compartilhamento

 

The psychoanalytic discussion group as a device for learning and sharing

 

El grupo psicoanalítico de discusión como una herramienta para aprender y compartir

 

 

Solange Aparecida Emíio,1

Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)

Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações - NESME

Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo - SPAGESP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Os Grupos Psicanalíticos de Discussão têm como fundamento os Grupos Operativos e como tarefa explícita o compartilhamento de ideias, de forma horizontal entre os participantes. Como a discussão em grupo não é de uso exclusivo desta abordagem, dentro da denominação "Grupo de Discussão" são encontradas as mais variadas práticas e fundamentações e até a concepção de que basta haver as pessoas reunidas mantendo uma discussão para existir um "Grupo de Discussão". Por outro lado, sabemos que mesmo quando há a vontade explícita de compartilhamento e aprendizagem com o outro e a proposta de horizontalização do saber, nem sempre os grupos que se propõem à discussão conseguem seu intuito. O denominado Grupo Psicanalítico de Discussão apresenta características que, se consideradas, podem potencializar os efeitos de seu uso como espaço de aprendizagem e troca. Este trabalho se propõe a explorar tais características a partir de alguns recortes do uso desta modalidade grupal em diferentes contextos institucionais, como escolas, instituições de saúde, comunidades, enfocando a importância do preparo do coordenador e apresentando algumas diferenças em relação a outras modalidades grupais, como os grupos de reflexão, os grupos focais e os grupos temáticos.

Palavras chave: grupo de discussão, grupo e aprendizagem, grupos operativos.


ABSTRACT

Psychoanalytic Discussion Groups are based on the Operative Groups and have as an explicit task the sharing of ideas among the participants on a democratic basis. As the discussion in a group is not exclusive of this approach, under the denomination "Discussion Group" one may find different foundations and practices and even the idea that it if there is a group and this group is holding a discussion, it may be called "Discussion Group ". On the other hand, we know that despite the explicit intention of learning from each other and the idea of sharing knowledge, not always the groups that intend to have a discussion, achieve their objective. The Psychoanalytic Discussion Group has characteristics which, if considered, may increase the effects of its use as a space for learning and exchanging. This paper aims to explore these features from a few scraps of the use of this group modality in different institutional settings such as schools, health institutions, communities, emphasizing the importance the coordinator's preparation and presenting some differences among other group modalities, such as the reflexion groups, the focus groups and thematic ones.

Keywords: discussion group, learning and group, operative group.


RESUMEN

Los Grupos Psicoanalíticos de discusión se basan en los Grupos Operativos y tienen como tarea explícita compartir ideas entre los participantes. Como la discusión em grupo no es de uso exclusivo de este enfoque, dentro de la denominación "Grupo de Discusión" se encuentran muchas teorias y prácticas diferentes e incluso la idea de que se hay gente en un grupo que mantiene una discusión, esto es un "Grupo de Discusión ". Por otra parte, sabemos que a pesar de la explícita intención de compartir y aprender unos con otros y el aplanamiento del conocimiento propuesto, no siempre los grupos alcanzan su objectivo. El Grupo Psicoanalítico de Discusión tiene características que, si consideradas, pueden aumentar los efectos de su uso como un espacio de aprendizaje e intercambio. Este trabajo se propone explorar estas características, partindo de ejemplos de la utilización de esta modalidad de grupo en diferentes escenarios institucionales, tales como escuelas, centros de salud, comunidades, destacando la importancia de la preparación del cordinator y presentando algunas diferencias con otras modalidades de grupos, como los grupos de reflexión, los grupos focales y los grupos temáticos.

Palabras clave: grupo de discusión, aprendizaje y grupo, grupo operativo.


 

 

1. Introdução

A discussão em grupo é algo que tem sido divulgado como estratégia para tomadas conjuntas de decisão, como oportunidade de trocas entre profissionais e como auxiliar nos processos de aprendizagem. Percebe-se, no entanto, uma popularização da expressão "grupo de discussão" que pode tornar o seu uso indiscriminado e pouco específico. Em uma rápida consulta pela internet, realizada com o uso da ferramenta Google, encontramos aproximadamente 198.000 páginas como resposta ao termo exato "Grupo de Discussão" . A partir de algumas visitas à primeiras páginas listadas, já foi possível perceber o uso da mesma terminologia para as mais variadas configurações de grupos e com distintos objetivos. O que aparece como eixo central em todos eles, como o próprio nome diz, é a concepção de discussão de forma coletiva, como nos grupos de discussão virtuais, que têm estado em bastante evidência nos últimos tempos.

A consulta redirecionada a artigos científicos aponta que a denominação "Grupo de Discussão" aparece muitas vezes associada a instrumentos de coleta de dados em pesquisas, como nos trabalhos de DAL'IGNA (2007), TRINDADE & FERREIRA (2009), MESSA e FIAMENGHI JR (2010). Pode também aparecer como parte do procedimento que antecedeu a coleta dos dados de uma pesquisa, como visto em ALMEIDA, FILASI, e ALMEIDA (2010). Nos artigos encontrados, porém, não há definição exata do que os autores consideram como "Grupo de discussão", havendo inclusive a utilização da terminologia como sinônimo de "Grupo de Cuidado", como o que é percebido no artigo de TRINDADE & FERREIRA (2009). Ainda no que se refere ao uso da terminologia como referência a dispositvo de coleta, pode aparecer como correlato de "grupo focal", como visto em GERSCHMAN e colaboradores (2007). Um artigo encontrado (CAVALCANTE & MINAYO, 2009) faz alusão à diferença entre grupo de discussão e grupo de reflexão, apesar de ambos estarem descritos como métodos de pesquisa. No entanto, não há esclarecimentos no referido artigo sobre quais seriam essas diferenças.

Sabemos, porém, que não basta a proposição de discussão e a organização em grupo para que os objetivos previstos sejam alcançados a contento e não raramente aquilo que parecia uma boa estratégia de construção conjunta e compartilhamento acaba se convertendo em espaço para disputas de poder, brigas, criação ou manutenção de problemas de relacionamento interpessoal ou até para a imposição de algum ponto de vista ou defesa inflamada de alguma ideia. A definição do termo "discussão" já contém, em si, esta contradição, pois refere-se tanto ao "exame minucioso (de um assunto, problema etc.), levantando-se os prós e os contras", como ao "debate, polêmica, em que cada participante defende pontos de vista opostos"; também, à "defesa apaixonada de pontos de vista contrários, desentendimento, briga, altercação" (HOUAISS, 2007).

O objetivo do presente artigo é discutir uma modalidade de grupo de discussão que tem sido bastante estudada e utilizada, tanto em pesquisas como em intervenções em diferentes instituições e que, por suas especificidades, tem sido denominada por alguns autores, como Fernandes (2003), como Grupo Psicanalítico de Discussão. A partir da experiência na participação, coordenação e co-coordenação desta modalidade grupal em diferentes contextos e do estudo sistemático realizado junto aos colegas do NESME (Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares) nos últimos doze anos, serão apresentadas algumas de suas aplicações e características e, em função dos motivos expostos acima, destacadas as diferenças em relação aos grupos de reflexão, grupos temáticos e grupos focais.

 

2. Definição, origem, características e possíveis usos dos grupos psicanalíticos de discussão

O Grupo Psicanalítico de Discussão é caracterizado por Fernandes (2000b) como uma modalidade de grupo operativo ou como um grupo com finalidades operativas cuja tarefa é a discussão entre os participantes e o objetivo, fazer circular, de forma horizontal, o saber e a prática de cada um. É realizado a partir de uma situação disparadora e coordenado de forma a proporcionar a compreensão dos fenômenos grupais, potencializar o efeito do grupo sobre os sujeitos e sobre as relações e servir como instrumento de transformação e ampliação do conhecimento inicial de cada um e de todos.

Há registros, já na década de 1980, da ocorrência de experiências rudimentares desta modalidade de grupo em congressos realizados pela ABPAG (Associação Brasileira de Psicoterapia Analítica de Grupo), com discussões em pequenos grupos após apresentações dos trabalhos mas, segundo Fernandes (2000b), somente a partir da década de 1990, essas experiências foram adquirindo um modo de funcionamento mais rico

Após três ou quatro apresentações em mesa redonda, passamos à discussão dos temas, em grupos menores, ou mesmo num único grupo por mesa, coordenados por especialistas em grupos, sempre que possível em duplas. Com isso, procuramos quebrar, pelo menos parcialmente, o nível de funcionamento grupal de dependência, tradicional nos congressos, partindo para uma discussão horizontal e criativa. (op. cit. p.65)

A ideia de compartilhamento e aprendizagem entre pessoas com diferentes experiências e níveis de reconhecimento profissional (como alunos e professores, jovens e maduros, profissionais em treinamento e supervisores), parecia, desde o início, bastante coerente com as concepções defendidas pelos participantes de tais atividades. No entanto, da teoria à prática a passagem não foi tão simples assim e houve palestrantes e profissionais mais experientes que não aceitavam sair do modelo de perguntas e respostas que tradicionalmente sucediam as falas e partir para a discussão conjunta e com a participação dos presentes, como lembra Fernandes (2003). Apesar das dificuldades enfrentadas para a sua assimilação, os referidos grupos têm se tornado uma importante marca nos eventos científicos realizados por instituições formadoras de coordenadores de grupos e grupoterapeutas, como o NESME e a SPAGESP (Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo). Além disso, também vêm sendo reconhecidos como dispositivos bastante úteis em intervenções realizadas em escolas, comunidades, instituições de saúde e empresas.

 

3. Especificidades dos Grupos Psicanalíticos de Discussão

Uma pergunta que já foi debatida em aulas e eventos científicos é a seguinte: se os Grupos de Discussão referem-se a modalidades de Grupos Operativos ou podem ser considerados como Grupos Operativos cuja tarefa é a discussão, por que nomeá-los dessa forma ao invés de utilizar o nome original? Sabemos que a técnica operativa é caracterizada por Pichon-Rivière (1994) como sendo centrada na tarefa grupal e que tem como finalidade que os integrantes do grupo aprendam a pensar de forma conjunta. No entanto, existem algumas especificidades nos Grupos Psicanalíticos de Discussão que, se conhecidas e respeitadas pelos seus coordenadores, podem contribuir para a sua realização e para a obtenção dos resultados desejados, não se apresentando em outras modalidades de grupos operativos. Abaixo, destaco algumas dessas especificidades:

3.1. Eles partem sempre de alguma atividade prévia, que variará conforme o contexto, os participantes e os objetivos ou temas para discussão. Como exemplos de atividades, temos uma apresentação de trabalho ou mesa em evento científico; uma aula; a exibição de um filme, de parte dele ou de uma música; a leitura de um texto; a realização de uma atividade lúdica, etc. A atividade que antecede o grupo pode ser compreendida como um recurso de mediação, pois além de apresentar a função de fornecer elementos para a discussão que a seguirá, também contribui para a diminuição das ansiedades básicas que são apontadas por Pichon-Rivière (1994) como presentes em toda a situação de aprendizagem: o medo da perda e do ataque, a ansiedade frente à mudança e a resistência à mudança. Assim, este dispositivo grupal contém ou aborda um tema específico e, ao mesmo tempo, desperta associações que estão vinculadas à história do sujeito e do grupo em questão. Apesar de permitir a emergência de conteúdos reprimidos, estes podem projetados nos conteúdos presentes na atividade inicial mobilizadora, o que é bastante recomendável dependendo do contexto e do momento institucional, pois permite que tais conteúdos sejam abordados sem que isso se torne muito ameaçador.

3.2. Cada grupo de discussão é único, pois inclusive nos casos em que o encontro é repetido com as mesmas pessoas, a atividade prévia sempre será diferente, o que o caracteriza como um grupo de tempo limitado, com começo, meio e fim.

3.3. A forma de constituição desta modalidade grupal pode variar muito também: alguns são constituídos por pessoas que não se conhecem ou que têm pouco contato; outros, por pessoas que apresentam rivalidades pessoais e profissionais; há os formados por subgrupos de amigos; o coordenador pode ser amigo ou conhecido de um ou mais participantes; e dentro de um mesmo grupo a coordenação pode ser rodiziada em cada encontro. As diferentes configurações e origens de seus membros mobilizam fantasias, que podem se manifestar na forma de silêncios prolongados, falas polarizadas entre dois ou mais participantes, ataques pessoais ou a alguma ideia e a solicitação ao(s) coordenador(es) de posicionamento ou de respostas a questões formuladas.

3.4. Não há um limite pré-estabelecido de participantes para a realização deste tipo de grupo e podem ocorrer grupos psicanalíticos de discussão com um grande número de pessoas, o que pode dificultar a comunicação e até a visualização de todos os participantes, mobilizar resistências e tornar bastante difícil o trabalho do coordenador.

 

4. Desafios à coordenação

O cuidado com o espaço e a garantia de que todos se vejam e se escutem é importante em qualquer grupo. Mas, nos grupos muito grandes, como apontado acima, também é importante o estabelecimento de uma co-coordenação, para facilitar a percepção do movimento do grupo. No entanto, a dupla de coordenadores precisa de sintonia e do estabelecimento prévio da forma de funcionamento, para evitar a disputa de espaço e exercício de poder entre os coordenadores e o consequente afastamento dos objetivos do grupo.

É fundamental a circulação das idéias no grupo. As contribuições de cada membro são importantes e a participação de todos deve ser autorizada, uma vez que os diferentes saberes têm a mesma importância e não é necessário que se chegue a um consenso ou uma única "verdade". No entanto, o(s) coordenador(es) tem o desafio de abrir espaço para a participação, sem que isso se transforme em exigência para que todos falem ou em convocações individuais que podem trazer constrangimento àqueles que optam por não falar. Apesar de sabermos que o silêncio excessivo pode mobilizar defesas e prejudicar o andamento do grupo, o silêncio precisa poder também ser compreendido como uma forma de comunicação. Cabe à coordenação o papel de tentar compreender e nomear a comunicação presente.

Por ser um grupo com tempo limitado, alguns cuidados precisam ser tomados, tais como o esclarecimento sobre as finalidades do grupo, o modo de funcionamento e sobre a hora do término, logo no início; a preparação do grupo para o encerramento, com a pontuação ao grupo sobre a proximidade do término (às vezes, a elaboração de uma pequena síntese do que foi discutido até aquele momento ajuda o grupo a se organizar para a finalização). Também, o cuidado com as tentativas não raras de negação do fim. É muito comum ocorrerem nos momentos finais do grupo, quando pontuado que há tempo somente para uma última fala ou que o grupo precisa se encerrar, tentativas de abertura de novos tópicos de discussão ou perguntas a algum membro, o que provocaria o não cumprimento do término. É claro que não é necessário e nem recomendável cortar a fala do participante ou encerrar deixando em aberto uma colocação ou pergunta feita. No entanto, cabe ao coordenador levar em conta o risco de se realizar tal postergação e se houver a clareza de que as discussões não precisam nunca se encerrar com o encerramento do grupo e podem ser retomadas pelas mesmas pessoas em outro contexto e momento, ele poderá se basear nisso para fazer a finalização.

Uma questão que é sempre apresentada diz respeito a emissão ou não, por parte do coordenador, das próprias opiniões sobre o que está sendo discutido. Não há consenso sobre o assunto, mas o que já se evidenciou é que a defesa de algum ponto de vista, por parte do coordenador ou a manifestação de sua concordância com a posição de algum membro do grupo pode transmitir a ideia de que ali estaria a verdade ou aquele deveria ser o caminho de discussão a ser seguido pelo grupo.

Alguns fenômenos que podem se manifestar nos diferentes grupos psicanalíticos de discussão são possíveis cisões entre os que sabem e os que estão para aprender; entre os que podem mais e os que podem menos; entre os que são mais antigos e os mais novos na instituição. É importante que o coordenador fique atento a isso e possa apontar ao grupo, quando ocorrerem. Algumas vezes, também, o tema a ser discutido ou algum aspecto dele aparece de forma dramatizada e implícita no momento do grupo. Cabe ao coordenador identificar esse fenômeno e poder pontuá-lo, relacionando-o ao tema ou ao estímulo disparador que antecedeu o grupo. Por exemplo, em um grupo que seguiu uma mesa que abordava a temática da violência em um congresso, o conteúdo trazido pelos participantes ressaltava a importância da escuta, do respeito ás diferenças, de se buscar saídas para a prevenção à violência que ocorria nas ruas e nos contextos profissionais de alguns deles e que não poderia ser tolerada ou negada. No entanto, a discussão se dava por meio de falas ríspidas e em tom alto, por interrupções das falas e pela dificuldade de escuta e de troca. O coordenador teve a sensação de que alguém iria partir para a agressão física e pontuou que estava sendo trazido para a experiência grupal o que não estava podendo ser dito, que a violência estava também ali e não somente fora do grupo. Então, puderam falar do incômodo de serem interrompidos, da estratégia de falarem mais alto por não se sentirem escutados e o quanto não percebiam quando também eram violentos. A discussão que seguiu parece ter adquirido um novo sentido para os participantes.

 

5. Diferenças entre os Grupos Psicanalíticos de Discussão e os Grupos Focais, os de Reflexão e os Temáticos

Os grupos temáticos são grupos que podem facilmente ser confundidos com os grupos psicanalíticos de discussão, já que em ambos os casos há um tema norteador. É importante ressaltar que o que caracteriza o grupo temático é a existência de um tema, como o próprio nome diz, mas não é necessário haver um acontecimento ou objeto mediador vinculado a ele antes do início da discussão, como no caso dos grupos psicanalíticos de discussão. Além disso, muitas vezes a denominação "grupo temático" está vinculada a espaços de discussão a partir dos quais algumas decisões deverão ser tomadas coletivamente e sínteses devem ser elaboradas para o compartilhamento entre as pessoas envolvidas com tais decisões. São comuns em entidades de classe profissional, grupos de pesquisa científica, grupos de trabalho, para citar alguns. Cabe lembrar que os grupos psicanalíticos de discussão, pelas suas próprias características, não comportam tomadas decisões e as posições contrárias entre os participantes podem levar a um maior aproveitamento da discussão do que o consenso ou a homogeneidade de ideias.

Os grupos focais também são semelhantes aos grupos psicanalíticos de discussão por pressupor a discussão entre os participantes e muitas vezes têm em comum com estes a característica de existir algum estímulo ou situação que os antecedem. No entanto, em geral os grupos focais estão vinculados à coleta de dados por meio da discussão, que está "focada em tópicos específicos e diretivos" (LERVOLINO & PELICIONI, 2001).

Os grupos de reflexão, por sua vez, têm como meta o conhecimento que se pode adquirir na vivência grupal (Fernandes, 2000a). Ocorrem de forma mais frequente entre os participantes de cursos ou eventos para formação de coordenadores de grupo e grupoterapeutas, de profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, psicólogos, ou para a reflexão entre os participantes de uma instituição. Uma diferença bastante importante em relação aos grupos psicanalíticos de discussão é o fato de não terem um tema ou estímulo norteador ou mediador, o que possibilita aproximações com as vivências em grupos psicoterápicos, facilitando projeções entre os membros e intensas mobilizações emocionais em seus participantes (FERNANDES, 2003; FERNANDES, 2000a; OSÓRIO, 2003).

Para finalizar, cabe pontuar que os diferentes nomes adotados para essas modalidades grupais estão vinculados aos objetivos específicos de cada uma delas e aos cuidados necessários ao coordenador, apesar de em todas elas existir a possibilidade de discussão, de reflexão, o surgimento ou o enfoque em um ou mais temas e, principalmente, a importância de que ocorra entre seus participantes a possibilidade de conviver, compartilhar e aprender junto.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência
Endereços eletrônicos : solange.emilio@terra.com.br

Recebido em: 19/09/2010
Aceito em: 20/10/2010

 

 

1 Psicóloga, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento (UPM) e Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (USP). Professora, Supervisora e responsável pelo Núcleo de Apoio Temático "Fundamentos Teóricos" do Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Membro efetivo e docente do NESME e da SPAGESP

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