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Vínculo

Print version ISSN 1806-2490

Vínculo vol.10 no.1 São Paulo May 2013

 

ARTIGOS

 

A mãe frente ao incesto: a condição de ausência, repetição e negação na história da família

 

The mother faces incest: the condition of absence, repetition and denial in family history

 

La madre enfrenta el incesto: la condición de ausencia, la repetición y la negación de la historia de la familia

 

 

Layla Raquel Silva Gomes1; Anamaria Silva Neves2

 

 


RESUMO

Este trabalho faz referência a uma pesquisada financiada pelo CNPq e visou conceder voz às mães de meninas violentadas pelo pai ou padrasto, buscando compreender, através de suas histórias - dinâmicas e arranjos familiares - e dos afetos constituídos em relação à violência sofrida pela filha, as funções que estabelecem ante a cena incestuosa. A contextualização teórica perpassou elementos constituintes do sujeito psíquico mediante um olhar psicanalítico, dentre os quais: a interdição do incesto, o Complexo de Édipo, o estranho-familiar, a herança psíquica, transgeracionalidade, defesas psíquicas, culpa e reparação. Foram realizadas duas entrevistas individuais com três mães. O método interpretativo psicanalítico amparou as análises das entrevistas com três mães e interessou estudar a estrutura do discurso, as nomeações produzidas, a investigação do desejo e da constituição do sujeito psíquico que se revelaram na fala capturada por meio da conversa investigativa. Concluiu-se que as mães ocupam diversos lugares – posições, funções, representações – na dinâmica familiar incestuosa. As mães, fragilizadas frente à questão incestuosa das filhas, posicionam-se como figuras instituídas, mas ainda obstaculizadas e desorganizadas frente às investidas familiares, institucionais e afetivas que o incesto faz irromper.

Palavras-chave: incesto; mãe; família; violência.


ABSTRACT

This paper refers to a study sponsored by CNPq and aimed to grant voice to mothers of girls that were raped by their father or stepfather, trying to understand, through their history - dynamic and family arrangements - and the affections resulted from the violence against the child, the functions they take facing the incestuous scene. The theoretical context considered constitutional elements of the psychic subject through a psychoanalytic view: the incest prohibition, the Oedipus complex, the uncanny-familiar, psychic inheritance, transgenerational, psychic defenses, guilt and reparation. Two individual interviews were conducted with three mothers. The interviews with three mothers were analysed based on the psychoanalytic interpretive method, that studied the discourse structure, the appointments produced, the investigation of desire and psychic constitution of the subject that were revealed by the speech that was captured through investigative conversation. It was concluded that mothers occupy different places - positions, functions, representations - in the incestuous family dynamics. The mothers, weakened for the incestuous issue of their daughters, place themselves as established figures, but still hampered and disorganized by family, institutional and emotional assaults that emerge from incest.

Keywords: incest, mother, family, violence.


RESUMEN

Este artículo se refiere a un estudio patrocinado por el CNPq y tuvo como objetivo otorgar voz a las madres de las niñas que fueron violadas por su padre o padrastro, tratando de entender, a través de su historia - dinámicas y arreglos familiares - y los afectos que resultaran de la violencia contra las niñas , las funciones que toman frente a la escena incestuosa. El contexto teórico consideró elementos constitucionales del sujeto psíquico a través de un punto de vista psicoanalítico: la prohibición del incesto, el complejo de Edipo, la herencia psíquica, el extraño- familiar, la transgeneracionalidad, las defensas psíquicas, la culpa y la reparación. Fueran realizadas dos entrevistas individuales con tres madres. El analyses de las entrevistas se basó en el método psicoanalítico de interpretación, que studio la estructura del discurso, los nombramientos producidos, la investigación del deseo y la constitución psíquica del sujeto que se revela en el discurso que fue capturado a través de la conversación de investigación. Se concluyó que las madres ocupan diferentes lugares - posiciones, funciones, representaciones - en la dinámica familiar incestuosa. Las madres, debilitadas por el tema incestuoso de sus hijas, colocan a sí mismas como figuras establecidas, pero todavía obstaculizadas y desorganizadas por la familia, los asaltos institucionales y emocionales que emergen de incesto.

Palabras clave: incesto, madre, familia, violencia.


 

 

Introdução

Este trabalho faz referência a uma pesquisada financiada pelo CNPq e visou conceder voz às mulheres mães de meninas violentadas pelo pai ou padrasto, buscando compreender, por meio de suas histórias - dinâmicas e arranjos familiares - as funções que estabelecem ante a cena incestuosa.

No contexto de violência, as mães são particularmente importantes porque representam a principal fonte de denúncias. Segundo Narvaz (2002), pesquisas revelam que 76% das denúncias de violência sexual são feitas pelas mães, sendo que a maioria desconhecia a violência. Lev-Wiesel (2006) complementa alegando que as mães, após a divulgação das denúncias sobre o incesto, são praticamente unânimes em tomar medidas de proteção às suas filhas.

Sendo assim, faz-se interessante abordar não só a função das mães na proteção às filhas violentadas sexualmente por pai ou padrasto, como também os sentimentos vivenciados pelas mães. Mães que, em sua maioria, são mulheres inseridas em um processo de isolamento emocional e sentem-se envergonhadas, traídas e sem saber como agir diante da cena incestuosa (MORGADO, 2010).

É fundamental que novos parâmetros de análise sejam estabelecidos e que a visão naturalista, que culpabiliza e nega as implicações sociais e subjetivas do processo de desenvolvimento das funções familiares, possa ser questionada.

 

Ordem de repetição, ausência e negação

Freud (1919), no texto Estranho, afirma que todo afeto, uma vez pertencendo a um impulso emocional, em sua impossibilidade de execução, se apresenta reprimido, e pode retornar a partir da experiência de algo que se apresenta como da ordem do estranho. Logo, supõe-se a existência de uma categoria em que, dentre os elementos estranhos, e que se apresenta como algo assustador, encontra-se algo reprimido que retorna. Segundo o autor, momentos, objetos, pessoas e impressões que despertam sentimentos de estranheza relevam essa ambiguidade.

A compreensão de casos onde a questão incestuosa apresenta-se em mais de uma geração de uma mesma família, do ponto de vista psicanalítico, parte da suposição de uma ordem de repetição da situação incestuosa para além da consciência do sujeito. Parece existir um componente afetivo familiar, e reprimido, ligado à repetição de situações que emergem como estranhas.

Visando aprofundar tal argumentação, o conceito de herança psíquica oferece amparo teórico importante. Silva (2003) define que o "indivíduo sempre se ancora em uma história familiar que o precede, da qual vai extrair a substância de suas fundações narcísicas e tomar um lugar de sujeito" (p.31), através de transmissões intergeracionais e transgeracionais, heranças familiares elaboradas e não-elaboradas, respectivamente, que incidem sobre o sujeito, influenciando o modo como este se orienta. A transmissão transgeracional envolve elementos da ordem do não-dito, isto é, material psíquico inconsciente que perpassa gerações sem ter sido transformado e simbolizado.

Mcqueen et al. (2008) descreve estudos onde mães que sofreram violência, mas que negavam suas experiências e idealizavam seus pais violentos, foram mais propensas a repetir o padrão dos pais violentos com seus próprios filhos, isto é, onde elementos transgeracionais foram transmitidos entre gerações e impediam uma integração psíquica.

A herança parental transgeracional pode criar obstáculos para a constituição psíquica do sujeito, ou seja, ele pode se tornar hospedeiro de uma história que não lhe pertence, advinda de gerações anteriores e que, o despersonaliza, o torna ausente de si e sujeito à repetição. Desse ponto de vista, o bebê se torna um "receptáculo de excessivas projeções de aspectos inconscientes dos objetos parentais, como se fosse um self 'sem berço'" (SILVA, 2003, p.29).

Lev-Wiesel (2006) postula que o que é internalizado sobre as representações individuais das figuras paternas e maternas, consciente e inconscientemente, afeta o sujeito por toda a sua a vida. Nesse sentido, Solis-Ponton et. al. (2004) afirmam que os mandatos transgeracionais que incidem sobre o sujeito, podem ser perpassados pelas memórias ligadas aos cuidados parentais, compostos por regras, obrigações e interditos, nomeados "superego parental" que orientam a parentalidade e o modo como o sujeito vivencia esses modelos parentais podem acompanhá-lo nas construções vinculativas ao longo de sua história.

Ao longo de gerações, a família se configura como cenário de uma série de conteúdos emocionais, muitas vezes controversos, e que legitimam as histórias de vida de seus personagens que, por sua vez, também encenam uma variabilidade de funções influenciadas pelo contexto em que estão inseridos (NEVES e ROMANELLI, 2006).

O incesto como sintoma abre a discussão de como a família, instância afetiva primária, está implicada em sua irrupção. Figaro-Garcia (2004) aponta que a dinâmica incestuosa pode se instaurar a partir de funções familiares desordenadas, onde os limites entre as funções estabelecidas pelos membros e os lugares que ocupam na dinâmica familiar são confusos. Neste cenário familiar as relações de interdição não ocorrem e as relações afetivas ficam sujeitas ao trânsito de heranças psíquicas.

Retomando a discussão sobre a ordem de repetição, em muitas ocasiões, a mãe apresenta em sua história a vivência incestuosa e, rememorá-la, tendo a filha como objeto incestuoso, pode levar ao sentimento de culpa, negação ou projeção da situação incestuosa atual. Frente ao "insuportável" evocado pelo incesto vivido, essas mães geralmente utilizam recursos defensivos inconscientes como a negação e a projeção, não conseguindo acreditar na possibilidade de reedição do incesto ou, ainda, atribuindo a responsabilidade da violência às próprias filhas, como resultado merecido de insinuações intencionais provocadas pela filha (FIGARO-GARCIA, 2004). A autora ressalta que, no atendimento às famílias incestuosas, percebe-se que, em muitas situações, a dúvida da mãe em relação à denúncia de violência sexual pode ser mais traumática que o ato sexual em si. E completa afirmando que

A figura materna, neste sentido, é de extrema importância quando o incesto é pai/padrasto e filha/enteada. Muitas pacientes, principalmente as adolescentes, verbalizam sua raiva ou tristeza pelo fato de suas mães não acreditarem em sua história e ficarem do lado dos parceiros, sendo este um dos motivos pela demora de sua revelação (pág. 04).

A repetição da cena incestuosa pode configurar ainda a "uma tentativa de elaboração de sua própria experiência de abuso sexual, uma tentativa de dominar novamente a cena (re) vivida para entender o que aconteceu" (FIGARO-GARCIA, 2004, p.70). Deste modo, a autora amplia a possibilidade analítica da mãe frente ao incesto ao inferir que há outras vias de análise possível, como a tentativa elaborativa de sua própria história de vida.

 

As mães e os romances familiares

Ao longo da pesquisa, foram realizadas duas entrevistas individuais com três mães. Tais entrevistas foram analisadas de acordo com o método interpretativo psicanalítico e interessou, a estrutura do discurso, as nomeações produzidas, a investigação do desejo e do sujeito psíquico que se revelam na fala captada por meio da conversa investigativa, como argumenta Hermann e Lowenkron (2004), "na maneira que a palavra afeta emocionalmente a recordação, possibilitando-a primeiro e impossibilitando-a às vezes, tornando-a novamente possível a seguir, mas sempre construindo" (p.50).

A seguir, as vinhetas das entrevistas retomam as três mães, Gisele, Letícia e Bárbara e suas histórias.

Gisele teve uma infância marcada pela ausência do pai, que mantinha duas famílias. Quase menina, Gisele começou um relacionamento com Guilherme, dos treze aos dezessete anos, e teve os filhos Lucas e Marina. Ela fala sobre um homem ausente, que não assumiu as funções de pai e marido, e se enveredou em bebedeiras e jogatinas. Logo após o nascimento da segunda filha, Marina, Gisele se separou. Gisele cuidou sozinha dos filhos por anos, até conhecer Roberto, um homem de muitas qualidades, que foi companheiro e pai. Após algum tempo, Gisele descobriu que Roberto tinha outra família. A decepção sobre a bigamia foi escamoteada por Gisele, que continuou com Roberto por mais oito anos, até a revelação da violência sexual sofrida por Marina (dos nove aos treze anos de idade), perpetrada pelo padrasto. Gisele contou que começou a desconfiar um ano antes da denúncia. Decepcionada, Gisele disse que denunciar foi muito difícil, era escolher entre a minha filha e o amor da minha vida, era como escolher entre a vida e a morte de uma pessoa só. Gisele-mãe escolheu denunciar, mas sentimentos de traição e decepção ainda imperavam em sua narrativa. Hoje, Gisele mora com seus filhos em outra casa e Roberto está preso, aguardando julgamento.

Letícia, a segunda mãe, tinha semblante marcado e corpo franzino. Na infância, morava na roça e era muito inocente. Aos seis anos, dois tios vieram morar em sua casa, e ela e sua irmã foram violentadas sexualmente por eles. Sua irmã mais velha contou para a mãe, que contou para o pai. Os tios negaram tudo e nada foi feito. Hoje Letícia mora em uma pequena casa com seus três filhos: Laura, de quinze anos, Ester, de doze, e Luis Fernando, de um ano e sete meses. Morou com os pais até os 20 anos, se casou com seu primeiro namorado e logo engravidou de Laura. Quando a menina estava com seis meses, Letícia separou-se do esposo que bebia muito. Algum tempo depois, conheceu André, com quem teve os dois filhos. No passado, André enfrentou problemas com alcoolismo, teve um primeiro casamento e de tal união, nasceram dois filhos, com os quais manteve pouco contato. Sobre a violência sexual contra Laura, foram realizadas duas denúncias anônimas, seguidas de visitas policiais sem efetivar flagrante. Entre a primeira e a segunda denúncia, Letícia em choque, conversou com Laura, na tentativa de fazê-la dizer. A mãe confiava muito na relação de diálogo que mantinha com a filha, e compartilhava até mesmo sua experiência de incesto da infância, tentando protegê-la de que o mesmo lhe acontecesse. Letícia confiava também em André, cuja idoneidade era indiscutível. A família frequentava regularmente a igreja, sendo participantes ativos no templo religioso. André e Letícia eram obreiros do templo e as crianças, por sua vez, cantavam no grupo do ministério de louvor. Mesmo com a segunda denúncia, Letícia precisou que Laura verbalizasse sobre a violência sexual. Ao ouvir da filha, a violência foi reconhecida. Letícia pensou em suicídio, mas contou que sua religião a fez resistir. Letícia contou que, após a denúncia, pessoas a procuraram para partilhar experiências de violência sexual, e que aprendeu que nunca diga que não acontecerá com você. Por outro lado, ela sofreu acusações que a responsabilizavam por ter sido responsável pelo acontecido com sua filha.

Bárbara é mãe de três meninas: Caren, Giovanna e Marcela, de quatorze, doze e dez anos, respectivamente. Uma mulher de trinta e poucos anos com aparência envelhecida, saias longas, cabelos presos e ausência de acessórios. Bárbara estabeleceu um discurso controvertido. Iniciou sua fala com introduções misteriosas e prolixas. Ela iniciou com a seguinte frase "a gente é crente, e crente é limitado" e complementou narrando as restrições impostas pela religião e de como sustenta tais limitações na relação com as filhas, impondo-lhes regras autoritariamente. Em seguida, Bárbara se posiciona sobre a denúncia de violência vivenciada pela filha mais velha, Caren, dizendo ter sido apenas uma reação às imposições oriundas da religião. Disse que embora tenha educado as filhas a não mentirem, não pôde garantir que seus aprendizados tenham sido assimilados e que, infelizmente a gente pensa que conhece as pessoas, mas não conhece, se referindo à Caren. Quando indagada sobre a queixa, ela disse que em cocô de galinha e cova de defunto a gente não mexe, porque fede mais. Em uma primeira versão, a mãe se refere à violência enquanto a vivência de um colapso, com sensações de mal estar físico e emocional. Em seguida, Bárbara ameniza alegando que a filha disse o que pai havia apenas mexido em seu abdômen. No prontuário do Conselho Tutelar, consta que a mãe se arrependeu de ter procurado o órgão e quis retirar a denúncia. Além disso, a queixa registrada se estendia às três filhas de Bárbara e as violências ocorriam há alguns meses, durante a ausência da mãe, ou quando ela estava dormindo à base de medicações. Para ela, o marido foi retirado de casa e isso acarretou prejuízos financeiros e desgaste psicológico, pois a família manteve as duas casas, visitando-o diariamente, ele se sentiu muito mal, e essa maldade vai ficar pra sempre com ele. Sobre a infância, Bárbara disse que é chato ficar falando de coisas que já passaram, mas revelou a versão de uma infância sofrida, com violências do pai. Resumiu a história de sua infância dizendo que era tudo "embaçado". Seu pai saía de casa por vezes sem dizer aonde iria ou quando retornaria e a mãe, na maioria das vezes, o acompanhava. Bárbara ficava com sua avó. Aos oito anos, a avó faleceu e a mãe se separou do pai, mudando-se com os filhos para outra cidade. Neste novo território, Bárbara contou momentos em que passou fome e frio, tendo que morar em casas de família, trabalhando como empregada doméstica. Bárbara tem adoecimentos frequentes, dores de cabeça e no estômago. Concluiu alegando que em sua família não há segredos e que eles conversam sobre tudo, comunicando às crianças as ordens e decisões. Aos filhos resta o lugar de obediência e gratidão pelas coisas que ela mesma não teve acesso na infância. Finalizou a entrevista dizendo que só pensa um dia de cada vez, nem passado, nem futuro, só hoje.

 

Caminhos interpretativos

Os caminhos interpretativos das entrevistas apontam para dificuldades sobre a definição do lugar da mãe ante a cena incestuosa. A cena incestuosa de repetição se instala na tentativa de elaboração do incesto vivido, mas provoca um espelhamento cruel. No texto A Negativa, Freud (1914-1916), aponta que o conteúdo recalcado, que retorna sob a forma de compulsão à repetição, também é fonte de desprazer para o eu, embora possa representar uma tentativa de elaboração de heranças psíquicas sem nomeação.

As mães ocupam diversos lugares – posições, funções, representações - na dinâmica familiar incestuosa. Fragilizadas frente à questão incestuosa das filhas, posicionam-se como figuras instituídas, mas ainda obstaculizadas e desorganizadas frente às investidas familiares, institucionais e afetivas que o incesto faz irromper. O processo analítico e interpretativo engendra à análise deste estudo caminhos discursivos sobre as trajetórias afetivas que as mães trilharam e que foram montados com base na dinâmica familiar incestuosa.

As mães, ao narrarem suas histórias, esclarecem sobre um percurso de organização subjetiva calcado e perpassado por sofrimentos intensos. Esses elementos enfatizam que o sujeito da intervenção psicanalítica se configura a própria família, em seus diversos arranjos e vinculações construídas entre os membros. A pesquisa aponta a necessidade de criação de novos espaços afetivos de intervenção junto à família, onde ampliar, revisar e repensar os modelos de construção vinculativa é essencial para compreender a dinâmica afetiva familiar, demandando dos profissionais e instituições um olhar integral sobre o arranjo familiar. O desenvolvimento de práticas interventivas melhores direcionadas está diretamente ligado às pesquisas sobre violência sexual contra a infância.

 

Referências

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1 Mestranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia – Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: layla_r@hotmail.com
2 Professora Doutora lotada no Instituto de Psicologia – Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: anamaria@umuarama.ufu.br