SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.12 número2A desorganização dos vínculos familiares contemporâneos e as intervenções institucionais possíveis índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Vínculo

versão impressa ISSN 1806-2490

Vínculo vol.12 no.2 São Paulo dez. 2015

 

ARTIGOS

 

Memoria, desejo e espera. O grupo não é apenas uma galeria de espelhos

 

Memory, desire and waiting. The group is not only a mirror room

 

Memoria, deseo y espera. El grupo no es solamente una galería de espejos

 

 

Waldemar José Fernandes1

NESME – Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares
SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo

 

 


RESUMO

O autor reflete sobre a visão foulkiana do grupo como galeria de espelhos. A seguir, descreve a influência das personalidades no Encontro (Bion) e o conceito de Interferência entre dois ou mais outros (Puget). A proposta bioniana de que o analista deva estar na sessão sem desejo e sem memória, o que possibilita lidar com o presente, é enfatizada. É discutido um fragmento de sessão de grupoterapia, valorizando a necessidade de se lidar com o inesperado. É fundamental a necessidade de se respeitar a incerteza interna e externa, e de valorizar a intuição no trabalho vincular. Finaliza questionando o conceito de galeria de espelhos, que teria mais um valor analógico no contexto das relações de objeto do que propriamente como conceito analítico significativo. Valoriza a força do presente no encontro grupal, ressaltando a importância para pacientes e terapeutas de não se aprisionar à memória, ao desejo ou à compreensão intelectual.

Palavras-chave: espera, presentação, grupo real e projeções no grupo, sem desejo-memória-compreensão.


ABSTRACT

The author reflects about the foulkesian view of the group as a mirror room. Then he describes the influence of personalities in the Meeting (Bion) and the concept of Interference between two or more others (Puget). The bionian proposal of the therapist being in the session without desire, without memory, allowing him/her to deal with the present, is emphasized. This study discusses a fragment of the group therapy session, enhancing the need of dealing with the unexpected. The necessity of respecting the internal and external uncertainty and of enhancing intuition in the linking task is fundamental. It ends by questioning the concept of mirror room that would have a more analogical value in the context of the relations with the object than as the proper meaningful analytical concept. It values the strength of the present in the group meeting, highlighting the importance to patients and therapists of not imprisoning to the memory, to desire and to the intellectual understanding.

Keywords: waiting, presentation, real group and projection in the group, no desire-memory-understanding.


RESUMEN

El autor reflexiona sobre la visión foulkiana del grupo como galería de espejos. A continuación, describe la influencia de las personalidades en el Encuentro (Bion) y el concepto de Interferencia entre dos o más otros (Puget). Se hace hincapié en la propuesta bioniana, de que el analista debe estar en la sesión sin deseo y sin memoria, lo que le posibilita lidiar con el presente. Se discute un fragmento de sesión de grupo terapia, valorando la necesidad de que uno sea capaz de lidiar con lo inesperado. La necesidad de respetarse la incertidumbre interna y externa, así como la de valorizar la intuición en el trabajo vincular es fundamental. Finaliza cuestionando el concepto de galería de espejos, que tendría más bien un valor analógico en el contexto de las relaciones de objeto que propiamente como concepto analítico significativo. Valoriza la fuerza del presente en el encuentro grupal, resaltando la importancia para pacientes y terapeutas de no se aprisionar a la memoria, al deseo o a la comprensión intelectual.

Palabras-clave: presentación, grupo real y proyecciones en el grupo, sin deseo-memoria-comprensión.


 

 

"Atenção flutuante é a melhor expressão que conheço".
(Bion, 1978, p.16)

 

Introdução

À guisa de homenagem lembro logo de início do saudoso e ilustre psicanalista, David Epelbaum Zimerman, que escreveu importante capítulo no livro Grupos e configurações vinculares, intitulado "Repensando a prática da grupoterapia psicanalítica a partir da minha experiência de 40 anos".

Cito, então, um dos aspectos que ele enfatiza como vantajoso com relação à psicoterapia grupal comparando-a com a individual:

Partindo do princípio de que um grupo comporta-se como uma galeria de espelhos (conforme Foulkes), onde cada um se reflete e é refletido pelos demais, o campo grupal possibilita observar com mais acuidade e nitidez os fenômenos dessa especularidade, resultante dos fundamentais processos de identificações projetivas e introjetivas que ocorrem permanentemente nos grupos (ZIMERMAN, D. E., In FERNANDES, W. J.; SVARTMAN, B.; FERNANDES, B. S., 2003, p.299).

 

O grupo como galeria de espelhos

A Galeria dos Espelhos é uma das principais galerias do Palácio de Versalhes, na França. Sua construção data de 1678, no reinado de Luís XIV.

Uma das características da galeria é a existência de dezessete arcos revestidos com espelho, os quais refletem dezesete janelas em arco voltadas para o jardim. A galeria contém mais de trezentos e cinquenta espelhos em sua decoração.

Siegmund Heinrich Foulkes, nascido na Alemanha em 1898, foi o pioneiro na técnica que chamou de Psicoterapia grupo-analítica, já em 1948. São importantes no grupo, os fenômenos de espelho, estudados por ele, fazendo uma analogia com tal galeria.

Foulkes comparou a situação de grupo a uma sala de espelhos, onde um indivíduo entra em confronto com vários aspectos de sua imagem social, psicológica e corporal.

Por intermédio de uma cuidadosa determinação interna desses aspectos, ele é capaz de atingir, no devido tempo, uma imagem pessoal de si mesmo, não grosseiramente afastada da avaliação externa e objetiva. Tornasse-lhe possível descobrir sua identidade real e ligá-la às identidades passadas (FOULKES, S. H. 1967).

Para Malcolm Pines, provavelmente, o acontecimento mais específico de grupo é o espelhamento:

Os pacientes veem aspectos de si próprios refletidos em outras pessoas do grupo, confrontando assim, elementos rejeitados e excindidos de suas imagens sociais, psicológicas e corporais, como estados no longo processo de reintegração com o self (PINES, M., HEARST, L. E., in KAPLAN, 1996, p.128).

A experiência tem mostrado que a imagem especular retornada é surpreendentemente fiel à vida. Na experiência foulkiana, as distorções neuróticas tendem a anular-se reciprocamente e a reflexão composta se aproxima da imagem obtida em um grupo normal.

No grupo, estamos acostumados a observar que os participantes, quando descobrem que os outros também têm problemas, por vezes mais graves do que os seus, passam a encarar a vida de modo mais realista, pois a percepção da realidade é facilitada quando há menor sentimento de culpa e menor desvalia.

Vernos espelhados, não só através da percepção corporal do outro, mas, sobretudo, através da psicodinâmica da personalidade, significa descobrir aspectos escondidos da própria personalidade, que, normalmente, não temos coragem de enfrentar (RIBEIRO, J. P., 1981, p.105).

Consideramos, entretanto que a relação, o encontro, o vínculo intersubjetivo, tem papel predominante no trabalho grupal.

 

O encontro

Bion dizia que num vínculo intersubjetivo, quando duas personalidades se encontram, cria-se uma tempestade emocional, quer dizer, no contato, "um estado emocional se produz, ocorrendo uma perturbação, que produz um estado muito diferente daquele que ocorreria se nunca tivessem se encontrado" (BION, 1979, p,469).

Janine Puget chama de interferência aos efeitos, causados pela presença do outro (presentação): "O presente impõe seus próprios significados, seus próprios sinais - uma via de abordagem para o que não pode ser pensado como repetição do passado. A isto poderíamos chamar a imposição de um presente" (PUGET, 2006, p.05).

Nesse caso, além do vínculo transferencial, ocorre a inevitável repercussão da presença real de um sujeito no mundo interno do outro.

O futuro está em foco para a grande parte das pessoas que vemos no encontro grupal. Por outro lado, o passado induz - com as situações mal resolvidas ainda ativas - comportamentos e formas de pensar que trazem sofrimento, sendo trabalhados na rotina da psicanálise clássica.

Sendo assim, o desejo que o futuro ocorra desta ou daquela maneira, baseado na lembrança de situações em que a vida acusou algum tropeço, é esperado e corriqueiro, mas nem sempre útil, principalmente para nós, profissionais que lidamos com a psicanálise vincular. Frequentemente apelamos para lembranças de sessões antigas e compreendemos intelectualmente o que nos é informado, resultando no desejo de que a sessão ou a vida daquelas pessoas transcorra deste ou daquele jeito.

 

Memória e Desejo

Bion propõe que "o analista deve estar na sessão sem desejo e sem memória" (1967) frase que tem gerado certa polêmica, no sentido de que não é possível se perder a memória, simplesmente tomando essa decisão.

Quando escolhemos uma coisa em detrimento de outra, seja um caminho, um local ou a companhia de tal pessoa, ou mesmo de uma ideia, perdemos a possibilidade de, ao mesmo tempo, fazer algo diferente, estar com outra pessoa, ou pensar em assunto diferente, pois tais alternativas ficaram para trás.

A decisão sobre em que aspectos dos pensamentos que nos ocorrem é que iremos pensar deve-se a uma seleção que, em parte é direcionada pelo desejo.

Entretanto, mesmo ao falar de algo que já passou, podemos estar direcionados pelo desejo de que aquilo deveria ter ocorrido de outro jeito, da forma como gostaríamos.

Quando numa análise de um casal, um participante expõe determinada lembrança, é bastante provável que, naquele momento presente da sessão, esteja manifestando um desejo, seja no sentido de que o passado deveria ter ocorrido difentemente do que ocorreu ou mesmo reforçando o desejo de que nada mude, e que ele fique refém e vítima do que se passou - como vemos na clínica vincular diariamente.

O analista, quando decide por uma interpretação, pode, de certo modo, estar escolhendo algo para dizer, que manifeste seu desejo de mudança dos pacientes, segundo seus critérios. Pode - até mesmo influenciado por temas narcísicos quanto a sentir-se potente e valoroso, por compreender tão bem os seus pacientes - dirigir sua fala para determinado ponto.

Bion enfatiza que não se deve polemizar com o paciente e nem contrapor suas verdades com a do analista, mas procurar abrir novas alternativas para pensar sobre um fato em comum, porque através disso se possibilita ao paciente o refletir e o intuir (1967).

David Epelbaum Zimerman, infelizmente falecido em 2014, era um estudioso de Bion. Para ele, Bion queria dizer que a memória pode ser distorcida pela influência de forças inconscientes e que os desejos interferem na operação do julgar, pela ausência de um estado de mente em que o mais importante é a observação, tal qual a proposição de Freud, em 1912, sobre a necessidade de uma atenção flutuante. Melhor estar livre para deixar a intuição fluir (1995).

A memória sempre é equivoca como registro de fatos, porquanto ela está distorcida pela influência das forças inconscientes. Os desejos distorcem o juízo porque selecionam e suprimem o material a ser ajuizado... Cada uma das sessões deve carecer de historia e de futuro (BION, W. R.,1967, p. 679).

Para Zimerman, Bion propunha que a sessão de psicanálise não deveria ter historia nem futuro, tendo como única importância o desconhecido, e sugeria que o psicanalista não trouxesse a memória referente a questões abordadas nas sessões anteriores, priorizando melhor atenção sobre o presente da sessão. Da mesma forma, o desejo de cura ou de resultados X ou Y, ou mesmo de compreensão intelectual do conteúdo das falas, deveria ser evitado (1995).

Descarte-se da sua memória, descarte o tempo futuro do seu desejo; esqueça-se de ambos - seja daquilo que você sabe ou daquilo que você quer – para deixar espaço para uma nova ideia. Pode ser que um pensamento, uma ideia não reivindicada, esteja flutuando pela sala procurando por um lar. Entre estas, pode ser que haja uma que seja a sua, que parece brotar de seu interior; ou uma de fora de você, ou seja, do paciente (BION, W. R., 1978, 1980, p. 74).

Para que possamos lidar com o presente, sem tanta preocupação com o desejo relativo ao futuro ou sem valorizar tanto a memória, é necessário se tolerar a frustração com relação à espera, ao imediatismo, e à incerteza.

Fragmento de uma sessão de grupo (5 pacientes: Paula, Eduardo e Lourdes presentes; Roberto e Clovis ausentes, o que não costuma ocorrer).

Paula refere que tem inveja ou ciúmes da vizinha, que não trabalha, recebe tudo "de bandeja", e nenhum ato seu parece ter consequências. Eduardo conta sobre o gerente autoritário e injusto, que não valoriza o trabalho dele, e se beneficia por ser filho de um diretor. Lourdes relata sobre o amigo de infância, quase irmão, que adoeceu e ela emprestou um dinheiro, que agora não recebe de volta (mas, já conhecia a personalidade do amigo, que sempre agiu assim, ingrato, não devolvia objetos emprestados e já fizera outras dívidas).

Os participantes do grupo conversam sobre as queixas, com certa insistência, e vão dizendo que já sabiam que aconteceriam aquelas coisas, que tais pessoas são sempre daquele jeito, mas que esperavam mudanças, que eles melhorassem etc.

Ter.: {Fico pensando: por que estariam dizendo aquelas coisas no grupo? Noto que não respeitaram as consequências, nem a própria experiência...}

Paula diz estranhar a ausência de Roberto, que ela conhecia bem, e que não entende porque não veio hoje. A seguir, lembra-se do pai, que deveria visitar, no nordeste, mas que exigia que ela ficasse na casa da família e não em hotel: "se eu fosse para o hotel ele reclamaria; se ficasse na casa dele, Paula sabia que se sentiria mal devido a atritos antigos, e, se não fosse, sentiria culpa" Passou assim durante quase um mês.

Eduardo e Lourdes comentam sobre as faltas de Roberto e Clóvis: acham que não gostaram deles os criticarem na última sessão.

Ter.: {Na verdade não sabemos se eles ainda virão, e caso faltem, qual seria a razão; estão trabalhando sem dados suficientes. Por outro lado, quando existem dados suficientes, parece que não podem escolher o que pareça ser a melhor decisão e arcar com as consequências... e aqui, na sessão, seriam "vítimas" neste momento presente?}.

Eduardo, a seguir, pergunta a Paula, se foi ou não foi para o nordeste.

Paula diz que iria ver o pai na segunda-feira, mas, no final de semana teve enxaqueca intensa, e achou melhor não ir – e ficou mais tranquila. Prossegue, e conta que seu filho terá aumento de salário, mas não gosta do trabalho, e talvez não aceite a promoção, e passa a se lamentar: como fará se ficar desempregado? Poderá ter de parar de estudar.

Lourdes indaga se ela perguntou ao filho se ele pensou em como resolver essa situação, se está procurando outro trabalho ou se conversou sobre sua insatisfação lá, e ela responde que ainda não conversaram a respeito.

Eduardo acha que nada vai acontecer e que há inúmeras maneiras dele lidar com essa situação, e diz que o filho dela "dará um jeito".

Ter.: {Querem garantia, segurança de resultados, mas, não sabem do futuro, nem do que se passa na cabeça alheia, mas gastam tempo e energia com tais adivinhações, e aqui - por que será que a situação é colocada como sem solução? Com certezas tão sinistras? Por vezes, parece que desejam que tudo tenha um final infeliz}

Concluem que parecem incapazes de aprender com o que já passaram na vida, condenados a tirar conclusões desse tipo, catastróficas, e precipitadas.

Ter.: {Consideram como inesperado e ameaçador, aquilo que seria o mais provável, se aprendessem com a experiência; além disso, parece um processo sadomasoquista, em que já se sofre o quanto antes, mesmo sem saber o final da história, "para não perder tempo"}.

Parecem concordar, e ficam pensativos durante os poucos minutos que faltam para terminarmos a sessão.

Refletindo, noto nesses relatos que os participantes se atrapalham nos relacionamentos com diversos interlocutores, e na sessão, provocam reações uns nos outros, e também no terapeuta.

Vemos nesse fragmento de grupo, que uma participante fazia conjecturas, já com certeza sobre os resultados de sua viagem, enquanto outro participante assegurava que tudo iria dar certo quanto à questão do trabalho do filho. Difícil aceitar a incerteza. Difícil manter-se no objetivo: em primeiro lugar, procurar conhecer e entender a situação, e deixar para sofrer depois, se algo der errado.

Isso comumente ocorre na espera de resultados de exames médicos, e de resultados de concursos, juntando-se a certo imediatismo com respostas e definições de situações, sendo uma das queixas sobre a "demora da análise" em produzir os efeitos desejados.

Para Janine Puget, "o não esperado resulta intolerável. Defensivamente isso gera a ideia, por vezes a convicção, de que se espera o esperado" (2013, p. 01).

Como Janine lembra no mesmo trabalho, a expressão "Esperava que…", contém em geral uma censura, ou crítica, certa decepção com o outro e com a realidade: não esperava isso!). Vale como alerta para nós terapeutas não fazermos o mesmo!

"No que respeita ao nosso trabalho, é um obstáculo sustentar a hipótese de que o dispositivo analítico pensado como estável outorga o direito de crer-se possuidor de um conhecimento do outro" (PUGET, J., 2013, p. 02).

Concordamos com a autora, quando atribui um lugar específico ao espaço analítico, onde a espera do inesperado deveria estar sempre em atividade

Assim, voltamos a Bion: "Quanto mais uma pessoa ficar ocupada com aquilo que ela quer que aconteça e com aquilo que aconteceu, ou aquilo que ela sabe sobre o paciente ou sobre a psicanálise, menos espaço sobra para a incerteza" (BION, W. R., 1978, 1980, p. 108).

Isso vale para a incerteza interna e para a incerteza externa.

 

Finalizando

Ver aspectos de si, refletidos nos companheiros de grupo é útil, assim como perceber que não se é o único que tem problemas. Da mesma forma, descobrir aspectos escondidos da própria personalidade, que, normalmente, não se tem coragem de enfrentar, é um bom início para o autoconhecimento.

Entretanto, será que a galeria de espelhos que é o grupo, encerra sua utilidade?

Esse conceito (de Foulkes) de reação de espelho, porquanto tenha interesse para um entendimento fenomenológico, descritivo e explicativo, especialmente incidente na situação grupanalítica, reveste-se mais de um valor analógico no contexto das relações de objeto do que propriamente como conceito analítico significativo (CORTESÃO, L. E., 1989, p.109).

Valorizo, então, mais do que as projeções, e mais do que as reações de espelho, o encontro grupal em que ocorrem diferentes comunicações, mal-entendidos, e impactos causados pelas presenças dos participantes e do grupoterapeuta.

Da mesma forma, as teorias e o conhecimento anterior de cada paciente podem nos impedir de entrar em contato com o que acontece no momento. O mesmo pode ser dito com relação ao desejo de cura e qualquer outro desejo.

Entretanto, concordo em que tal proposta não é fácil, pois tendemos a nos repetir.

O ocaso surge graças ao movimento de rotação da Terra, no qual o Sol aparenta se mover em torno do nosso planeta atravessando o céu de leste a oeste, mas, como lembra Janine Puget (2007), seguimos dizendo que o sol se põe.

O peso do deve ser, do como ser e estar, da fidelidade ao passado, daquilo que vem de alguma outra parte, dificulta ou evita tomar contato com o presente, com o imprevisível dos encontros (PUGET, 2007, 2015).

Finalizo, enfatizando a força do presente no encontro grupal, ressaltando a importância para pacientes e terapeutas de não se aprisionar à memória, ao desejo ou à compreensão intelectual.

É fundamental a necessidade de se respeitar a incerteza interna e externa, e de valorizar a intuição no trabalho vincular.

Espero ter mostrado com fragmento clínico e considerações de minha experiência, que o grupo não é apenas uma galeria de espelhos, e como valorizo o desconhecido, o real e o inesperado.

Termino com Bion: "... será que poderemos apanhar o germe de uma ideia e plantá-lo onde possa começar a se desenvolver até que a ideia esteja suficientemente madura para nascer?" (1978 - 1980, p. 181).

 

REFERÊNCIAS

CORTESÃO, E. L. Grupanálise. Teoria e técnica (1989). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989, 379p.         [ Links ]

BION, W.R. (1967) Notas sobre la memoria y el deseo. Revista de psicoanálisis, vol 26. Buenos Aires:, pp 679-692, 1969.         [ Links ]

BION, W. R. (1978, 1980) Conversando com Bion, Quatro discussões com W. R. Bion. Bion em Nova Iorque e em São Paulo. Rio de janeiro: Imago, 1992.         [ Links ]

BION, W.R. (1979) Como tornar proveitoso um mau negócio. Rev. Bras. Psicanal. São Paulo: 13: 467-478, 1983.         [ Links ]

FERNANDES, W. J. O Narcisismo dos pacientes e terapeutas: uma Perspectiva vincular. Vínculo, v6 n.2 São Paulo, dez. 2009.         [ Links ]

FOULKES, S. H.; ANTHONY, E. J. Psicoterapia de grupo. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal popular, 1967, 380p.         [ Links ]

FREUD, S. (1912) Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. Edição Standard das Obras completas de Sigmund Freud, vol.12. Rio de janeiro: Imago, 1969. P. 50.         [ Links ]

PINES, M. e HEARST L.E. Grupanálise. In: KAPLAN, H.I. E SADOCK, B.J. (orgs). Compêndio de psicoterapia de grupo, 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.         [ Links ]

PUGET, J. (2006) El presente de la historia, la historia del presente. Tiempo, historia y estructura. Su impacto en el psicoanálisis contemporáneo. (Leticia Glocer Fiorini, compiladora) Buenos Aires: Lugar Editorial, APA Editorial, 2006, pp. 241-264.         [ Links ] Em: PUGET, J. (2007) Panel de Pareja de FEPAL "Perspectivas Psicoanalíticas sobre los vínculos de familia y pareja". Buenos Aires: APdebA, 2007.         [ Links ]

PUGET, J. (2013) Diversidad de inscripciones. Jornadas Marcas de Vida, Marcas de Muerte. Buenos Aires: 2013.         [ Links ]

PUGET, J. (2015) Subjetivación discontinua y psicoanálisis. Incertidumbre y certezas Buenos Aires: Lugar Editorial, 2015, 188p.         [ Links ]

RIBEIRO, J. P. (1981) Psicoterapia grupo-analítica. Abordagem foulkiana: teoria e técnica. Petrópolis: Editora Vozes Ltda, 1981, 173 p.         [ Links ]

ZIMERMAN, D. E. (2003) Repensando a prática da grupoterapia psicanalítica a partir da minha experiência de 40 anos. In FERNANDES, W. J.; SVARTMAN, B.; FERNANDES, B. S. Grupos e configurações vinculares. Porto Alegre: Artmed, 2003, 303p.         [ Links ]

 

 

1 Médico especialista em psiquiatria pela ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria, com certificação em psicoterapia. Membro fundador do NESME – Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares e da SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo. Endereço eletrônico: wjfernandes@hotmail.com.br

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons