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Vínculo

versão impressa ISSN 1806-2490

Vínculo vol.13 no.2 São Paulo  2016

 

ARTIGO

 

A noção de libertação em Paulo Freire e o trabalho psicanalítico de grupo

 

Paulo Freire's notion of liberation and psychoanalytical group work

 

La noción de liberación en Paulo Freire y el trabajo psicoanalítico de grupo

 

 

Pablo Castanho*

Universidade de São Paulo
International Association for Group Psychotherapy and Group Processes (IAGP)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Coordenar grupos com populações oprimidas no Brasil questiona nossos modos de pensar e operar com as teorias psicanalíticas de grupo. Os impasses desse encontro demandam diálogos com autores que refletiram sobre as especificidades da realidade brasileira. Neste artigo, abordaremos o pensamento de Paulo Freire sobre a problemática da opressão e sua superação em dois de seus textos. Nosso objetivo é o de avançar na inclusão da problemática dos efeitos subjetivos da opressão e seu manejo no repertório conceitual das teorias psicanalíticas de grupo. Para tanto, cotejamos a literatura com os desafios que se apresentam em nossa prática com grupos. Partimos da visão freiriana sobre o papel de nosso passado colonial nas estruturas atuais de opressão e em suas ramificações subjetivas. Seguimos apresentando vinhetas de grupo sobre o retorno dessas questões na transferência. Em seguida, buscamos uma caracterização metapsicológica da libertação como modalidade de vínculo. Nesse percurso, dialogamos com questões sobre o mal-estar em nosso mundo globalizado. Encerramos formulando a hipótese de um vínculo de libertação em termos psicanalíticos de grupo e discutindo seu potencial.

Palavras-chave: Psicanálise de Grupo; FREIRE, PAULO, 1921-1997; Processos Grupais; Mal-estar (Psicanálise); Cultura.


ABSTRACT

Coordinating groups with oppressed people in Brazil questions how we understand and operate with group psychanalytic theories. The challenges in such work demand dialog with authors who had thought about the specificities of Brazilian reality. In this article, we shall approach Paulo Freire's thought on oppression and its overcome in two of his books. Our objective is to advance in including the question of the subjective effects of oppression in how to handle it in the repertoire of the psychoanalytic group theories. In order to do so, we relate the literature with the challenges we face in our group practice. We start with Freire's view of the role our colonial past has had in nowadays structures of oppression and its subjective ramifications. We then present group vignettes on how such questions retour in transference. Next, we aim at a metapsychological characterization of liberations as a bounding modality. Along the way, we dialog with the malaise in our contemporary society. We finish formulating the hypothesis of a liberation bound in psychoanalytical group terms and discussing its potential.

Keywords: Group psychanalyses; FREIRE, PAULO, 1921-1997; Group Processes; Malaise (psychoanalysis); Culture.


RESUMEN

Coordinar grupos con poblaciones oprimidas en Brasil cuestiona nuestra manera de pensar y haceroperar las teorías psicoanalíticas de grupo. Callejones sin salida que demandan diálogos con los autores que reflexionaron sobre los aspectos específicos de la realidad brasileña. En este artículo, abordaremos la problemática de la opresión y de su superación apoyando-nos en dos textos de Paulo Freire. Nuestro objetivo es avanzar en la inclusión de la cuestión de los efectos subjetivos de la opresión y de su gestión en el repertorio conceptual de las teorías psicoanalíticas de grupo. Por lo tanto, cotejamos la literatura con los retos que se plantean en nuestra práctica con grupos. Partimos de la visión de Freire del role de nuestro pasado colonial en las estructuras actuales de la opresión y sus ramificaciones subjetivas. Seguimos presentando viñetas de grupo sobre el regreso de estos problemas en la transferencia. Luego buscamos una caracterización metasicológica de la liberación como modo de vínculo. En el camino, dialogamos con el malestar en nuestro mundo globalizado. Terminamos con la formulación de la hipótesis de un vínculo de liberación en términos psicoanalíticos de grupo y discutimos su potencial.

Palabras clave: Psicoanálisis de grupo; FREIRE, PAULO, 1921-1997; Procesos de Grupo; Malestar (psicoanálisis); Cultura.


 

 

I) INTRODUÇÃO

Coordenar grupos com populações oprimidas no Brasil vem, há muitos anos, trazendo questões para os meus modos de pensar e operar com as teorias psicanalíticas de grupo. Lembro-me dos grupos operativos diários que conduzia com diferentes públicos e tarefas em saúde pública em uma região periférica de São Paulo. Surpreendia-me o mutismo de alguns participantes, o distanciamento afetivo e a resignação com que narravam episódios traumáticos de suas vidas, a aparente falta de protagonismo e responsabilidade sobre o que faziam, entre outras expressões subjetivas tão frequentes na prática quanto raras na literatura. Coerente com meu papel de coordenador , eu falava pouquíssimo nos grupos sob minha responsabilidade, mas era comum que eles fossem chamados de "palestras" pela população e que eu e meus colegas fôssemos nomeados como "doutores", mesmo na ausência formal do título. Tudo isso gerava e ainda gera um estranhamento, que motiva a escrita deste texto como tentativa de compreender tais fenômenos.

É bem verdade que encontrei autores de fora do campo das teorias psicanalíticas de grupo que lançaram significativa luz sobre esses fenômenos. Os textos de Paulo Freire estão entre aqueles que mais diretamente descreveram os fenômenos comentados acima. Junto com a Psicologia da Libertação, de Martín-Baró (1998), eles abriram o horizonte de todo um campo de pensadores que relacionaram, cada um a seu modo, estas expressões subjetivas às condições históricas de opressão. No Brasil, podemos citar ainda Gilberto Freyre (1933/2006) e Alfredo Bosi (1992); no cenário mundial, o martinicano Frantz Fanon (1952/2001) merece destaque. Em todos esses autores, vemos compreensões de como o sistema de hiperexploração colonial ramifica-se e sustenta-se por lógicas muito diferentes, incluindo o campo psíquico de modo marcante.

Este artigo dialoga com a dimensão dessa questão capturada pelas categorias de opressão e libertação no pensamento de Paulo Freire. Recorre-se a dois textos do autor para apresentá-las e discuti-las, a saber: A pedagogia do oprimido (1970/2005) e Educação como prática da liberdade (1967/2009). Em conjunto, esses textos apresentam um panorama dessas questões suficientemente amplo e fundamentado para o nosso propósito.

A relação entre as teorias psicanalíticas de grupo, a psicanálise e o pensamento de Paulo Freire tem sido objeto de um número reduzido de estudos. Em pesquisa realizada em 7 de novembro de 2016 na base de dados on-line PePSIC (http://pepsic.bvsalud.org/), mesmo sem nenhuma restrição de datas, encontramos apenas dois artigos com referência ao tema. Realizamos três pesquisas. A primeira, com os termos "Freire" e "psicanálise" em todos os campos disponíveis,retornou 24 resultados, mas em apenas um deles (RUSSO, 2015) Paulo Freire comparecia nas referências bibliográficas e, ainda assim, era evocado em uma breve referência genérica indicando apenas a convergência entre sua obra e um olhar psicanalítico sobre a docência, compreendendo-se que em ambas vertentes trata-se de uma "uma experiência na qual se lida com gente, e não com coisas" (p. 295). Em uma segunda pesquisa, com os termos "Freud" e "Freire" em todos os indicadores, encontramos apenas o texto "Freud e Freire: uma interlocução possível", de Victor Hugo Lima Barreto, publicado em julho de 2015. Esse texto percorre alguns temas semelhantes aos abordados no presente artigo e será oportunamente retomado. A última pesquisa, que representa uma variação da primeira, substituindo o termo "psicanálise" por "psicanalítico" ou "psicanalítica", não trouxe novos resultados.

É bem verdade que no campo grupalista existe uma conexão entre Paulo Freire e Pichon-Rivière que precisa ser apontada. Em 1995 é publicado Interrogantes y propuestas en educación: ideales, mitos y utopía a fines del siglo XX, transcrição de palestras e diálogos em Buenos Aires ocorridos em 1993 entre Paulo Freire e Ana Quiroga, viúva de Enrique Pichon-Rivière, encarregada da Primera Escuela Privada de Psicología Social. O livro explicita bem a convergência resultante do contexto comum latino americano, da influência marxista e da importância dada aos autores para a dimensão subjetiva. Não é proposta do livro, entretanto, dialogar com a presença do pensamento psicanalítico em Pichon-Rivière. Este trabalho, e outros (cf. Afonso, 2006/2013) que aproximam Paulo Freire e Pichon-Rivière sem passar por um aprofundamento da herança psicanalítica do pensamento do autor, conquanto de grande interesse, fogem do recorte que propomos neste artigo..

De fato, nosso objetivo é o de avançar na inclusão da problemática dos efeitos subjetivos da opressão e seu manejo no repertório conceitual das teorias psicanalíticas de grupo. Trata-se de, inspirando-se no pensamento de Paulo Freire, fertilizar um entendimento psicanalítico grupal capaz de auxiliar os enfrentamentos do cotidiano do trabalho com grupos com populações oprimidas e, eventualmente, estender esse conhecimento para o trabalho com grupos com outras populações.

Para tanto, cotejaremos a literatura com os desafios que se apresentam em nossa prática com grupos. Ainda como referência ao método utilizado na construção deste texto, cabe observar que o recorte da literatura será operado dentro de um campo específico: o da problemática do poder e de seus limites no contexto vincular, de onde nossa ênfase na problemática opressão-libertação em Freire e da pulsão de domínio (Bemächtigungstrieb) e sua renúncia, em psicanálise.

O percurso do texto se inicia com a apresentação do que Paulo Freire denomina como "exacerbação do poder" como fruto de nosso sistema colonial, característica central do Brasil e originária de efeitos subjetivos importantes. Em seguida, apresentam-se duas vinhetas de grupo que ilustram como a exacerbação do poder, indicada por Paulo Freire, pode fazer retorno na transferência com o coordenador de grupo. Após isso, busca-se uma caracterização metapsicológica da libertação, indicando a problemática da pulsão de domínio em psicanálise (Bemächtigungstrieb) e sua presença na problemática sadomasoquista; ainda nessa seção, introduz-se a hipótese de um vínculo de libertação. Na seção seguinte, a busca pela formulação de tal hipótese levará a questionar os efeitos psíquicos da primazia da lógica utilitarista na formação de vínculos no mundo globalizado. Finalmente, o artigo conclui com a retomada dos achados do percurso e a proposta de uma formulação da hipótese do vínculo de libertação.

 

II) ORIGEM HISTÓRICA DA EXACERBAÇÃO DO PODER E SEU RETORNO NA TRANSFERÊNCIA COM O COORDENADOR DO GRUPO.

Paulo Freire (1967/2009) diagnostica a origem de problemas brasileiros de seu tempo, e certamente do nosso, na persistência de características iniciadas em nossa experiência colonial. Dentre elas, uma é fortemente destacada pelo autor: a falta de uma experiência realmente democrática entre nós. Freire fala de um país sem "povo" desde os tempos coloniais, quando a imensa maioria, sem posse de terra, era mero objeto na vida pública, e nunca agente em qualquer tipo de procedimento democrático. Mais do que isso, a partir dessa organização política, Freire desenvolve argumentos sobre como a maioria das pessoas, desde o início de nosso país, não é vista como sujeito e, sobretudo, não se percebe e não se realiza como tal. Assim, para Freire, a libertação significa a superação do homem de seu estatuto de objeto em direção a sua "[...] vocação histórica e ontológica de ser mais" (FREIRE, 1970/2005, p. 59).

Notemos que Paulo Freire concebe a origem histórica do que denomina como "exacerbação do poder" na estratégia portuguesa de operar a colonização do Brasil pela atribuição de vastíssimas extensões de terra para poucos senhores. Para aqueles que habitavam tais terras, "[...] não havia mesmo outra maneira de vida que não fosse a de se fazerem os 'moradores' desses domínios, 'protegidos' dos senhores. Tinham de se fazerem protegidos por eles, senhores todo-poderosos, das incursões predatórias dos nativos. Da violência arrogante dos trópicos" (FREIRE, 1967/2009, p. 77).

É importante ressaltar que esta incursão histórica de Paulo Freire busca compreender como se estabeleceram estruturas de superexploração que continuam atuais em nosso país. De fato, não se tratam (somente) de traços culturais ou psíquicos transmitidos entre as gerações, mas de correlatos subjetivos da opressão que segue atual. De todo modo, no escopo do trabalho com pequenos grupos referenciado na psicanálise, surge a necessidade de identificar e discernir os caminhos específicos desta dimensão subjetiva. Conquanto este texto aprofunde este caminho, deve ficar claro que se trata apenas de um recorte de investigação que não ignora a complexidade do fenômeno, em especial a permanência de seus determinantes sociais.

Essa trama, que enreda os papéis de poder, se faz certamente presente em meu trabalho de coordenador de grupo, seja com grupos terapêutico ou não, assumindo formas tanto mais caricatas quanto mais oprimidas as populações com que trabalho. Duas vinhetas de trabalho com populações oprimidas podem ilustrar a atualização na transferência desta questão

A primeira vinheta diz respeito a um grupo psicoterapêutico que realizo na clínica psicológica da universidade: Linda é uma empregada doméstica que chegou até nós buscando terapia para seu filho. Durante a entrevista, a psicóloga encarregada sugeriu que Linda poderia se beneficiar de terapia também; ela aceitou de modo hesitante. Eu telefonei para Linda bastante cético de seu engajamento. No primeiro telefonema, ela falou com voz baixa e confirmou que participaria do grupo, mas tive a impressão de que ela estava apenas me "obedecendo". Depois de duas faltas consecutivas, ela chegou com 40 minutos de atraso em sua primeira sessão. Surpreendi-me com a mulher bonita e altiva que entrava e se manifestava somente com algumas poucas risadas durante o grupo. Linda faltou nas duas semanas seguintes e fiz novo contato telefônico. Ela disse que não poderia continuar no grupo por problemas de horário. Não soube informar nenhum horário disponível para que eu pudesse encaminhá-la, mas insistiu que eu fizesse o encaminhamento. Nesse momento, no nível contratransferencial, eu estava desapontado por sua saída do grupo e me preocupava em encontrar um novo paciente para substituí-la. Talvez ela tenha captado meu desapontamento, pois disse: "Não se preocupe, eu conseguirei outra pessoa para você".

Se no nível manifesto ela propunha encontrar outra paciente para substituí-la no grupo, devemos nos perguntar do que se tratava no nível da transferência. Sabemos como essa frase é comum, endereçada por uma empregada doméstica ao seu patrão (ou patroa) quando quer se demitir. Penso que, no plano transferencial, eu era colocado no lugar de um patrão, um patrão do qual ela queria se libertar. Se ela tivesse dito que não gostaria de participar do grupo, em qualquer momento do processo, não haveria tido nenhum problema. Sua atitude subserviente quando falava comigo contrastou com sua postura altiva quando a encontrei pessoalmente. Ambas as observaçõesindicam que era da transferência comigo que se tratava (e/ou com aqueles que havia lhe indicado e/ou endossado a psicoterapia). Se supormos que eu ocupasse neste momento uma posição transferencial de "poder exacerbado", compreende-se a adequação da evitação de discordar diretamente e preservar para si, ao mesmo tempo, um campo de escolha. Por outro lado, se é disto que se trata, vemos claramente como nem sequer pudemos tocar na questão de se ela teria ou não demanda para um processo psicoterápico, o que interroga nossa forma de trabalho nesses casos.

Outro exemplo: uma organização não governamental desenvolvia um projeto de geração de renda para moradores de rua. Os moradores de rua que quisessem se juntar ao programa passavam algumas horas diariamente em atividades nomeadas educacionais. Meus estagiários tinham uma hora e meia, uma vez por semana, nesse programa educacional com um grupo de não mais do que 15 pessoas. Cada encontro iniciava com a leitura de um conto, um poema ou um extrato de uma história; no momento seguinte, propúnhamos que o texto lido fosse discutido em um grupo operativo de aprendizagem pelo restante do tempo. Os textos eram selecionados a partir de material que de algum modo julgássemos que pusesse em palavras as experiências de vida de oprimidos no Brasil. Um dia, lemos o conto popular intitulado "Sopa de pedra". Lembremos que, nessa história, um homem pobre e esperto consegue enganar um fazendeiro rico e ganancioso, obtendo dele uma refeição gratuita. O grupo operativo se inicia com os participantes contando sua experiência de mendigar e como era psicologicamente difícil para eles fazê-lo. No processo associativo do grupo, nós estávamos logo ouvindo sobre tribos que supostamente comiam areia. Surgiu no grupo a história sobre a pessoas nos Andes que, após a queda do seu avião e muitas dificuldades, só sobreviveram porque comeram a carne dos companheiros mortos. Alguns buscavam um tom leve nos relatos, mas sentia-se a densidade da experiência. Um participante do grupo, José, cortou o rumo da conversa ao inquirir os estagiários sobre seus estudos e logrou explicitar a diferença de classe social entre os moradores de rua e os estagiários. José falou de como o Brasil é violento e afirmou saber tudo sobre sequestro, de um modo que fez os estagiários acreditarem que ele teria conexões com o mundo do crime. José afirmou que os criminosos têm evitado sequestrar pessoas ricas, pois elas atrairiam muita atenção da polícia; o foco seria pessoas de classe média, como os estagiários, disse ele, que explicou em detalhes como os estagiários poderiam ser sequestrados e quão desamparados eles estariam nas mãos dos criminosos. Após esse episódio, os estagiários não queriam voltar nunca mais àquela instituição! Em supervisão, tentei mostrar como a tensão se estabeleceu, cresceu e culminou no ataque de José aos estagiários no grupo. Buscamos identificar como a história apresentada e a memória da situação de mendicância gerou intenso sofrimento, que foi sendo deslocado para as imagens de comer areia e carne humana até eclodir no ataque aos estagiários. Contextualizados desse modo, e acrescidos de algumas dicas e medidas práticas de segurança, eles retornaram ao local de trabalho na semana seguinte. Daniel, o estagiário que se sentiu mais diretamente ameaçado e que mais relutou em voltar, curiosamente foi tratado como o "melhor amigo" por José nos encontros seguintes. Esta passagem ressoa o exposto no texto "Uma 'cultura da violência' em uma região periférica de São Paulo" (CASTANHO, 2011), no qual o movimento violento em direção ao outro é teorizado como caminho para criação de vínculos fortes. Neste caso, creio que os coordenadores do grupo (estagiários) novamente ocuparam, na transferência, a posição de detentores de um "poder exacerbado". Não eram os estagiários que submeteram os moradores de rua a condições de mendicância ou que o travam como não humanos naquele momento, mas receberam a agressividade resultante de serem colocados neste lugar transferencial. Esta vinheta avança em relação a anterior sugerindo que houve uma transformação do vínculo com os coordenadores de grupo. Para tal, a violência expressa e atuada verbalmente no grupo, seu acolhimento e não retaliação aprecem ter tido papel fundamental.

Lembremos que a violência contra o coordenador é uma constante na vida de todos os grupos. O caráter central do mito científico de "Totem e Tabu" na vida dos grupos, tal comoBéjarano (1973) propôs, figura bem esse dado que a prática apresenta. Entretanto, o tipo de violência vista nesta última vinheta está longe de ser corriqueira. Poderíamos juntar a hipótese de que, quanto mais forte for a opressão à qual os membros do grupo estão submetidos em seus vínculos cotidianos, mais forte será a intensidade potencial da violência transferencial - e mais forte a urgência de acolhê-la. Isso demanda reflexão sobre o manejo dos enquadres e metaenquadres institucionais, a fim de favorecer o acolhimento e as transformações desses movimentos agressivos e ao mesmo tempo preservar o que Figueiredo nomeou "reservas do analista" (2008a, 2008b, 2009). Em relação a esse debate, as questões do trabalho em equipe e da utilização de mediações seriam certamente indispensáveis, mas elas fogem aos objetivos deste texto. Seguiremos rumo a uma apreensão metapsicológica da noção de libertação, o que trará a vantagem de abrir o debate sobre nosso mundo globalizado.

 

III) APONTAMENTOS METAPSICOLÓGICOS E A HIPÓTESE DE UM VÍNCULO DE LIBERTAÇÃO.

Dentro da teoria psicanalítica há algumas trilhas distintas - e de certo modo complementares - para pensarmos a questão da exacerbação do poder mencionada por Freire. Dentro do caráter introdutório deste texto, evocaremos brevemente a problemática da pulsão de domínio e do trabalho de sublimação sobre ela como horizonte da libertação.

Paul Denis (1992) destaca que, no texto "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" (1905), Freud propõe a existência da pulsão de domínio (Bemächtigungstrieb) como oposta à pulsão sexual. Para Denis, a noção de pulsão de domínio é tão importante e pregnante na organização do pensamento freudiano posterior que o autor propõe que vejamos de fato três teorias pulsionais em Freud, e não duas, como tradicionalmente se entende. Seria possível identificar a pulsão de domínio em textos e problemáticas posteriores relacionadas ao poder, como no caso das reflexões freudianas sobre o masoquismo e o sadismo. Interessante notar como, a partir desse entendimento, pode-se reunir aquilo que Barreto (2015) apresenta por vias distintas: o sadomasoquismo e o que denomina como sublimação da pulsão de domínio na forma de busca pelo saber (p. 164). De fato, em seu já referido texto sobre a interlocução entre Freud e Freire, a visão do autor converge com a deste texto, privilegiando a problemática opressão-libertação, relendo-a psicanaliticamente pela perspectiva da pulsão de domínio e do sadomasoquismo. Barreto sublinha que o próprio Paulo Freire compara a relação opressor-oprimido à relação sadomasoquista (p. 162) e nos lembra que a psicanálise não era influência totalmente estranha ao pedagogo, ao comentar sobre as citações ao psicanalista alemão Erich Fromm em Pedagogia do oprimido (p. 166).

Barreto retoma e desenvolve o tema do sadomasoquismo em Freud. Também julgo valiosíssima essa aproximação, mas remeto o leitor interessado em uma recapitulação teórica ao texto de Barreto. Proponho, aqui, percorrermos a problemática do sadismo através de uma referência cultural atual que permita ilustrar um entrelaçamento entre sexualidade e poder no contexto de um sistema escravocrata. Para isso, usaremos a versão cinematográfica do livro biográfico de Solomon Northup (1853/1855), o filme 12 anos de escravidão (12 years a slave), em que a relação entre o cruel senhor de escravos Edwin Epps e seu objeto de desejo, a escrava Patsey, é uma imagem assustadora e esclarecedora. A cena em que Epps chicoteia Patsey é certamente o momento em que o prazer sexual se apresenta mais explicitamente: sintetiza-se ali parte desse enredo, em que Epps se inebria constantemente da exacerbação de poder que o sistema escravocrata lhe permite sobre o corpo e psiquismo de Patsey. A cena sublinha também o encarceramento de Patsey como mero objeto, reduzida assim ao corpo que nem ao menos lhe pertence. A fantasia de um poder total sobre o corpo de outro pode ser facilmente telescopada em um sistema escravocrata.As noções freirianas de "exagero de poder" e da pessoa como "objeto" ganham uma de suas figurações mais terríveis.

Se a realização da pulsão de domínio, como qualquer outra realização pulsional, é fonte de prazer, o filme 12 anos de escravidão também propõe, como contraponto à angustia feroz, transbordante e mortífera que atormenta Patsey, levando-a ao suicídio, um certo mal-estar do lado de seu algoz Edwin Epps, presa de sua própria desmedida pulsional. Nesse olhar, o opressor também é apanhado pelo próprio jogo de hiperexploração que encabeça. Seu sofrimento é de outra natureza e intensidade, mas cremos que, por isso mesmo, Paulo Freire proponha a libertação como horizonte desejável também pelo opressor.

Se em Freud a realização pulsional traz prazer, a sempre sofrida e desprazerosa renúncia pulsional também se impõe para que certos processos e formações psíquicas intra, inter e transubjetivas necessárias possam ser formadas e sustentadas. Os destinos pulsionais são plurais, e a sublimação é um desses destinos. Como pulsão parcial, é evidente que a pulsão de domínio esteja sujeita à sublimação. Recusar submeter o outro aos seus prazeres mais imediatos abriria um caminho para algo mais. O processo de libertação seria formado por esses movimentos sublimatórios da pulsão de domínio e, como uma sublimação definitiva ou plenamente satisfatória da pulsão é impossível, retornamos ao caráter sempre precário, incompleto e doloroso do processo de libertação.

Se o sistema escravocrata, de modo especialmente gráfico, e todo o sistema de colonização no Brasil favorecem o exagero do poder e a redução do homem ao estatuto de objeto, o trabalho de cultura claramente se impõe como condição de possibilidade ao processo de libertação. Graus de exigência de renúncia à satisfação direta da pulsão de domínio certamente se colocam nessa questão, bem como a possibilidade de contrapartidas suficientemente boas para que se mantenham o laço e o equilíbrio psíquico do sujeito.

Vamos assim nos aproximando de uma lógica vincular implicada no processo de libertação. Em sua própria linguagem, Paulo Freire tem clareza da dimensão relacional da libertação, como fica claro em seu aforismo: "Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão" (FREIRE, 1970/2005). Mas como pensar esse vínculo associado à libertação em termos psicanalíticos?

Dentro das possibilidades que Freud nos oferece para pensar os vínculos em sua dimensão psíquica, a noção de contrato, que opera em seus textos, seria a mais rigorosa e estruturante (CASTANHO, 2015). Essa tradição de pensamento de Freud, embora retomada por diversos autores, teve que aguardar o trabalho de René Kaës (2009) sobre as alianças inconscientes para chegar a nós com sua ampla potência. Com este olhar, retomemos a elaboração do contrato civilizatório em "O mal-estar na civilização", quando Freud afirma: "O homem civilizado trocou um tanto de felicidade por um tanto de segurança" (FREUD, 1930/2010, p. 82). Essa troca implica uma renúncia e uma contrapartida, ambas elementos constitutivos das alianças inconscientes, para Kaës (2009).

Pensar psicanaliticamente um vínculo de libertação significa pensar uma aliança inconsciente que o sustente, o que por sua vez nos leva a indagar sobre o que se renuncia e sobre o que se obtém como contrapartida. Ora, seguindo nossas investigações sobre a pulsão de domínio, em um vínculo de liberação se renunciaria a uma parte da realização direta dessa pulsão. Mas qual a contrapartida que permitiria, psiquicamente, sustentar essa renúncia sem recair em um desajuste pulsional? Certamente a própria sublimação poderia ser citada como ganho, mas qual seu caráter, nesse caso? Temos em Paulo Freire a proposta de compreender a libertação como algo dirigido à vocação ontológica do homem para ser mais. Qual poderia ser o correlato psicanalítico dessa formulação? Se falamos de ontologia, falamos de ser. Vejamos o que Gilberto Safra diz:

O analista, na atualidade, recebe em seu consultório um paciente com características peculiares [...] O mundo atual apresenta problemas e situações que levam o ser humano a adoecer em sua possibilidade de ser: ele vive hoje fragmentado, descentrado de si mesmo [...] As queixas mais frequentes referem-se à vivência de futilidade, de falta de sentido na vida, de vazio existencial, de morte em vida... estamos lidando com indivíduos que nem mesmo se constituíram: buscam existir para que então possam, quem sabe, vir a ter algum desejo. (SAFRA, 1999, p. 13-14. Destaque nosso.)

 

IV) SOCIEDADE GLOBALIZADA: RELAÇÕES INSTRUMENTAIS E O MAL-ESTAR NA ATUALIDADE

Gilberto Safra não está só ao identificar a especificidade do adoecimento na contemporaneidade. Patologias narcísicas e problemas identitários são evocados com frequência (por exemplo: Kaës, 2012, Figueiredo, 2003). Nesse contexto, como a citação de Gilberto Safra indica, "ser" apresenta-se como uma preocupação psicanalítica central, tanto em países que foram colônias no passado quanto naqueles que foram suas metrópoles. Assim, se através de Paulo Freire podemos pensar o sofrimento ontológico derivado de algum modo da nossa condição de colônia, o questionamento sobre as patologias contemporâneas nos sugere inquirir sobre a existência de algo comparável em um movimento global.

O esforço de avançar na compreensão desta questão nos leva, novamente, a recorrer a autores fora do campo da psicanálise em busca de inspiração. Ainda no campo dos estudos sobre grupo, uma primeira aproximação pode se dar pelo livro de Moscovici e Willem, intitulado "Conflito e Consenso: Uma teoria geral das decisões coletivas."(1991). Nele, os autores descrevem e analisam a orientação humana em participar de decisões coletivas. Eles apontam que dependendo de como o processo de tomada de decisões coletivas ocorre, participar deste processo está ligado a percepção da própria existência para os participantes. Nesse sentido, concluem "É, portanto, verdade que para nós 'ser é participar'"(p.65). Este efeito seria evidente em estudos antropológicos de sociedades ditas primitivas, mas parecem se dissipar ou desaparecer quando o processo de decisão ocorre dentro de uma lógica utilitarista, de cálculo de ganhos e perdas individuais feito por cada indivíduo.

Nesse sentido, o "adoecimento em sua possibilidade de ser", do qual nos fala Gilberto Safra, poderia ser pensado como efeito da prevalência, quiçá excusividade, desta lógica utilitarista nos espaços de decisão coletiva. Cabe esclarecer que por "lógica utilitarista" estamos nos referindo a um modo de pensar as trocas característico, mas não exclusivo, do liberalismo econômico. Ao falar de barganha, Adam Smith, pai do liberalismo econômico, explica sua lógica do seguinte modo: "dê-me o que eu quero e você terá aquilo que quer [...]"1. Nossa sociedade mercantil e globalizada tem tomado esse princípio como regra de ouro de todas as relações, inclusive amorosas. Em uma formulação de lógica comparável, que evidencia a presença pulsional nessas trocas, encontraremos Sade dizendo: "Empreste-me a parte de seu corpo que pode me satisfazer um instante, e você gozará, se quiser, da parte do meu que lhe seja agradável" (SADE, 1779/1948, p. 77. Tradução nossa).2, 3

Deixada sozinha como a única lógica intersubjetiva a governar todas as nossas relações, tal visão utilitarista e egocentrada da intersubjetividade tem seus custos. Uma consequência maior parece ser a de objetificar as pessoas como produtos, como bravamente explorado por Zygmunt Bauman (2003). Desse modo, a economia mercantil globalizada que vivemos parece, em seu próprio estilo, também condenar o homem a uma posição de objeto. Nesse contexto, a libertação freiriana dialoga com as demandas de sofrimento do homem globalizado.

Seria natural que essas considerações tivessem incidência sobre os grupos psicoterapêuticos da atualidade, por isso interessa ilustrar com uma referência recente neste campo. Há cerca de dois anos, reinaugurou-se o atendimento regular em grupo psicoterapêutico referenciado na psicanálise na clínica-escola do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O atendimento é feito por alunos do quarto e quinto ano do curso de psicologia, supervisionados por mim. Os pacientes variam bastante conforme classe social, não podendo ser identificados, de modo geral, ao que foi chamado neste texto de populações oprimidas. A experiência é bem recente, mas algo tem saltado aos olhos: os pacientes que realmente aderem comentam repetidamente sobre o caráter único das interações que encontram ali. A tecnologia de comunicação on-line, sobretudo via celular, é normalmente evocada como contraponto ao que experimentam no grupo. Outras imagens surgem para falar das relações humanas na maioria das vezes, até o momento, oscilando entre a intrusão e o abandono. Suspeitamos que seja a experiência ou talvez a esperança de um vínculo não regido pela exclusividade de uma lógica utilitarista o maior ganho vivenciado ou esperado por aqueles que permanecem. Parece-nos que a hipótese de um vínculo de libertação poderia ser evocada para pensarmos não só o vínculo demandado de modo premente no trabalho com os oprimidos, mas também no trabalho terapêutico com o mal-estar das relações da contemporaneidade.

 

V) CONCLUSÃO

Primeiramente, espera-se ter evidenciado o potencial do pensamento de Paulo Freire para oferecer um modelo de inteligibilidade a uma parcela dos fenômenos subjetivos que encontramos em grupos com população oprimida. A perspectiva de que haja um retorno dessa opressão na transferência com o coordenador do grupo parece um primeiro fruto dessa proposta, representando um entendimento útil ao trabalho do coordenador de grupo referenciado na psicanálise. A colocação em palavras da hipótese de um vínculo de libertação segue desafiadora. Dentro do escopo dos objetivos deste trabalho, e de modo provisório, poderíamos dizer que um vínculo de libertação é aquele sustentado em uma aliança inconsciente que exige de cada sujeito a renúncia a uma parcela da satisfação direta da pulsão de domínio, em troca de um incremento de sua possibilidade de ser (parafraseando o trecho de Gilberto Safra citado acima). Tal hipótese parece ser útil para compreendermos e trabalharmos com grupos de populações variadas, não só com aquelas classicamente compreendidas como oprimidas. No contexto dos grupos psicoterapêuticos, a hipótese de um vínculo de libertação pode ajudar a compreender a fantasia de cura envolvendo o encontro de vínculos não regidos exclusivamente pela lógica utilitarista. Além disso, a hipótese do vínculo de libertação poderia indicar um fator terapêutico importante nos grupos. Seria interessante que trabalhos posteriores atentassem para uma possível correlação entre o estabelecimento de vínculos que ultrapassam a lógica utilitarista e se aproximam da lógica do vínculo de libertação, com melhoras clínicas dos pacientes. Tais perspectivas e potenciais desse caminho de pesquisa devem ser contrabalanceados não só com o caráter exploratório inicial do presente trabalho, mas também com a ciência dos riscos de diálogo entre referenciais teóricos tão diferentes quanto o pensamento de Paulo Freire e a psicanálise . Riscos de mal-entendidos e equívocos na comunicação, que poderão aparecer e ser superados em trabalhos posteriores. Risco de não articularmos suficientemente a dimensão subjetiva apresentada neste artigo com seus determinantes sociais, o que poderia incorrer em perigoso reducionismo psicológico. Risco, ainda, de uma leitura equivocada que tome esta linha de investigação como uma investigação sobre Paulo Freire, pois alertamos que aqui não almejamos nem dispomos dos meios para propor uma interpretação do trabalho de Paulo Freire; buscamos, apenas, a ajuda desse autor para, dentro do campo das teorias psicanalíticas de grupos, procurarmos saídas para os impasses com os quais a prática tem nos confrontado.

 

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Endereço para correspondência
Pablo Castanho
E-mail: Pablo.castanho@usp.br

 

 

* Professor Doutor do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo. Membro do NESME. Membro da International Association for Group Psychotherapy and Group Processes (IAGP).
1 Give me that which I want, and you shall have this which you want […] (SMITH, 1976, p. 16)
2 «Prêtez-moi la partie de votre corps qui peut me satisfaire un instant, et jouissez, si cela vous plaît, de celle du mien qui peut vous être agréable » (SADE, 1779/1948, p. 77).
3 Agradeço a Georges Gaillard por me apresentar ambas as citações deste parágrafo.

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