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Vínculo

versão impressa ISSN 1806-2490

Vínculo vol.15 no.2 São Paulo jul./dez. 2018

 

EDITORIAL

 

 

Caros leitores:

Estamos nos despedindo de 2018 e, para o último volume do ano, apresentamos trabalhos que apontam a preocupação dos psicoterapeutas em função dos novos paradigmas de famílias e suas atuais configuações, como as novas tecnologias influenciam no desenvolvimento e trabalho nos dias de hoje, como os grupos auxiliam e estão sendo utilizados em diferentes contextos e os caminhos experenciados pelos indígenas.

Podemos observar que o reconhecimento tardio da paternidade, segundo seus autores, promovem mudanças significativas no desenvolvimento dos filhos, destacando a valorização da figura materna e da tentativa de reescrever o conceito de paternidade a partir da própria experiência de parentalidade, sobretudo nos homens. Esse reconhecimento legal, não contribuiu necessariamente para um desenvolvimento psicológico considerado mais positivo, pois vínculos familiares exigem empenho e sustentação de cada uma das partes envolvidas.

Paralelamente outro artigo analisa a percepção da paternidade na perspectiva de homens que cuidam de seus filhos enquanto suas mulheres possuem funções exercidas fora de seus lares. Seus autores constataram que, diante de tais modificações que a sociedade vivencia, o desafio de ser pai é ainda mais acentuado, originando novas reflexões a cerca do quanto às mulheres, ao londo de sua vida, são preparadas para a maternidade e os homens, não. Atualmente, uma parcela cada vez mais significativa de pais não ocupa o lugar de apenas provedor/autoridade, como antes, mas também de educador.

A necessidade de ofercer suporte emocional a mães de bebês prematuros de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) de um hospital filantrópico, gerou o estudo sobre um grupo de apoio psicológico, em que os aconselhamentos provinham, tanto de intervenções verbais do coordenador quanto de relatos das próprias participantes. Os resultados apresentados sugerem que as mães que frequentavam o grupo de apoio, valorizavam a troca de experiências, o que potencializava os processos de mudança.

No artigo em que se destacam as práticas grupais na atuação do profissional psicólogo, é verificado como essa ferramenta pode ser fundamental para a intervenção psicológica nas áreas da psicologia, tanto clínica como institucional, e o quanto seus benefícios são notórios aos usuários, pelo caráter terapêutico que o grupo pode apresentar e aos estagiários, pela experiência grupal em sua formação.

De Portugal recebemos uma contribuição sobre grupo de adolescentes. Destaca a autora, que vivemos numa sociedade cada vez mais informatizada, sobrecarregada de estímulos e de exigências tecnológicas onde, praticamente desde o nascimento, o ser humano tem contato com estas interfaces. Perante esta realidade é questionado o lugar do brincar, do simbólico, da criatividade e da intersubjetividade no desenvolvimento das crianças/adolescentes. Qual é o impacto que a tecnologia tem na criação da identidade das nossas crianças? De que forma se reflete na interação com os outros e nas suas escolhas? Qual o papel da Grupanálise e do Grupanalista nesta realidade?

Do México recebemos uma reflexão sobre a maneira de como as comunidades originarias do país, utilizam os sonhos de maneira grupal e comunitária, com experiências de séculos. São enfocados seus conhecimentos com xamãs e músicos, oriunda dos antepassados, em contra posição a invasão das novas tecnologias.

De Goiás segue um artigo que visa conhecer os discursos de alunos indígenas, para debater os caminhos e experiências que vivenciam dentro do espaço acadêmico. Nesse estudo, foi realizado um grupo operativo com estudantes indígenas em que puderam constatar uma série de dificuldades que os mesmos vivenciam. Há uma produção de um estereótipo sobre o indígena, que pode relacionar-se com processos de preconceito e exclusão. As dificuldades na aprendizagem são vividas no âmbito individual e não institucional, produzindo assim uma situação de culpa e ansiedade. Por fim, enunciam um duplo lugar ocupado, no sonho de transmitir os conteúdos adquiridos na Universidade à sua própria comunidade.

Artigos interessantes e provocantes que estimulam nossa leitura e pensamento sobre os novos tempos, sem deixar de lado nossa herança.

Boa leitura a todos.

Ana Claudia Neves Unger Lamas
Beatriz S. Fernandes

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