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Vínculo

versão impressa ISSN 1806-2490

Vínculo vol.16 no.2 São Paulo jul./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.32467/issn.19982-1492v16n2p110-132 

Artigos

 

 

Gênero, adolescência e psicanálise: o impacto das relações de gênero na saúde mental de adolescentes na cidade de São Paulo

 

Gender, adolescence and psychoanalysis: the impact of gender relations on the mental health of adolescents in the city of São Paulo

 

Género, adolescencia y psicoanálisis: el impacto de las relaciones de género sobre la salud mental de adolescentes en la ciudad de São Paulo

 

 

Danielly Passos de Oliveira1, Isabel Cristina Gomes2

Endereço para correspondência

 

 


Resumo

Este artigo resulta de uma pesquisa qualitativa com dez adolescentes do sexo feminino, estudantes de escolas particulares, residentes na capital, com idades entre 14 a 17 anos; cujo objetivo foi investigar como percebiam e definiam gênero - masculinidades e feminilidades - e compreender como as vivências dessas relações repercutiam nos processos de subjetivação. Foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas, em média com uma hora de duração, sendo estas gravadas e transcritas. A partir da análise dos discursos e do referencial psicanalítico, verificou-se que, para a maioria delas, perceber-se como mulher era se dar conta de um estado de alienação ou de desapropriação subjetiva, o qual se expressava num corpo passível de pertencer ao outro (de ser violado) e numa força sempre sujeita a se converter em fraqueza (nos embates contra o machismo). A percepção do gênero apareceu de dois modos: a) como um fardo, pois temiam sofrer violência sexual; afirmavam que precisariam lutar mais do que os meninos para conquistar uma carreira; sofriam com o machismo e chegavam a se culpar pela violência da qual eram vítimas. b) pela transgressão como uma postura de enfrentamento.

Palavras-chave: Gênero. Psicanálise. Mulheres. Adolescência. Saúde Mental.


Abstract

This article results from a qualitative research with ten female adolescents, students from private schools, living in the capital, aged between 14 and 17 years; whose objective was to investigate how they perceived and defined gender - masculinities and femininities - and to understand how the experiences of these relationships resonate in the processes of subjectivation. Semi-structured individual interviews were conducted, on average with 1 hour of duration, being recorded and transcribed. From the analysis of the discourses and psychoanalytic referential, it was found that, for most of them,  perceiving themselves as a woman was to realize a state of alienation or subjective disappropriation, which was expressed in a body that could belong to other (to be violated) and in a force always subject to becoming weak (in the struggles against machismo). The perception of the genre appeared in two ways: a) as a burden, because they feared to suffer sexual violence; claimed they would need to fight more than boys to win a career; suffered from machismo and even were blamed for the violence they were victims. b) by transgression as a posture of coping.

Palavras-chave: Gender. Psychoanalysis. Women. Adolescence. Mental Health.


Resumen

Este artículo es el resultado de una investigación cualitativa con diez mujeres adolescentes, alumnas de colegios privados, residentes en la capital, de 14 a 17 años. El objetivo de este estudio fue investigar cómo percibían y definían el género (masculinidades y feminidades) y comprender cómo las experiencias de estas relaciones tuvieran repercusiones en los procesos de subjetivación. Se realizaron entrevistas individuales semiestructuradas, con una duración promedio de una hora, que se grabaron y transcribieron. A partir del análisis de los discursos y el marco psicoanalítico, se descubrió que, para la mayoría de ellos, percibir como mujer era darse cuenta de un estado de alienación o expropiación subjetiva, que se expresaba en un cuerpo que podía pertenecer al otro (para ser violado) y una fuerza que siempre está sujeta a convertirse en debilidad (en los enfrentamientos contra el machismo). La percepción de género apareció de dos maneras: a) como una carga, ya temían sufrir violencia sexual; dijeron que tenían que pelear más que los niños para obtener una carrera; sufrían de machismo e incluso se culpaban de la violencia de la que eran víctimas. b) la transgresión como uma postura de afrontamiento.

Palabras clave: Género. Psicoanálisis. Mujeres. Adolescencia. Salud Mental.


 

 

1 Introdução

Este trabalho é fruto de uma pesquisa realizada no ano de 2018 no Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). A partir de entrevistas individuais semiestruturadas buscamos compreender como meninas adolescentes, com idades que variaram entre 14 a 17 anos, percebiam e definiam gênero.

Arango (2007) menciona que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de saúde mental não se restringe à ausência de doença mental. A saúde consiste num estado de bem-estar físico, mental e social. Nesse sentido, para que haja saúde mental, é necessária uma articulação de múltiplos elementos: psicológicos, biológicos, sociais, familiares. Diante da diversidade de fatores que afetam a saúde mental, procuramos compreender como as relações de gênero repercutem sobre a saúde mental de jovens adolescentes pertencentes às camadas médias.

De acordo com Bollas (2015), os sujeitos se encontram constantemente envolvidos em atos de manejo de si mesmos (do self). Tais atos são as formas pelas quais os sujeitos se colocam no espaço e no tempo. Desse modo, as adolescentes, em seus processos de apropriação subjetiva, precisam manejar seus selfs. Esse manejo abrange a escolha das roupas, o modo de se portar em público, o reconhecimento dos próprios potenciais e limitações e o enfrentamento da realidade. Podemos considerar que as relações de gênero afetam diretamente o manejo do self das adolescentes, incidindo sobre seus processos de subjetivação e, consequentemente, sobre sua saúde mental.

Segundo Gilberto Safra (2005), o self pode ser compreendido como uma organização dinâmica decorrente de um processo maturacional estruturado pela interação humana. O self é o que permite a um indivíduo ser uma pessoa e se perceber como uma continuidade. Tal percepção, no entanto, é uma criação contínua e intersubjetiva. Abordando as relações de gênero, consideramos que os lugares tradicionalmente reservados às mulheres (de responsáveis pelo cuidado da família e da casa e de objeto sexual) podem repercutir negativamente sobre os processos de subjetivação femininos.

 

1.1 O Conceito de Gênero

Connel (2002) - retomando a célebre afirmação de Beauvoir (1967) de que ninguém nasce mulher, mas se torna uma - enfatiza que ser um homem ou ser uma mulher não consistem em estados fixos, mas uma condição ativamente construída e socialmente engendrada.

De acordo com Connel (2002), o termo “gênero” significa o conjunto das diferenças culturais existentes entre homens e mulheres. Tais diferenças se sustentam pela divisão biológica dos corpos. No entanto, objeta a autora, as definições de gênero baseadas na dicotomia entre os sexos ocultam profundas diferenças que existem entre os diversos grupos de mulheres e de homens.

Para Butler (2003), é preciso examinar os tipos de relações de poder que sustentam a crença numa relação binária e estável entre homens e mulheres. A autora faz uma crítica à teoria feminista, afirmando que tal teoria se ancora no pressuposto de que a categoria “mulheres” possui uma identidade definida passível de ser atribuída a todas aquelas que possuem um sexo feminino. Apoiando-se em Foucault, Butler afirma que o sujeito feminista é constituído discursivamente e, para fazer sentido, exclui do seu campo todos aqueles que possam vir a perturbar sua frágil coerência. Em suas palavras:

Se alguém “é” uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é; o termo não logra ser exaustivo, não porque os traços predefinidos de gênero da pessoa “transcendam” a parafernália especifica de seu gênero, mas porque o gênero nem sempre se constituiu de maneira coerente ou consistente nos diferentes contextos históricos, e porque o gênero estabelece intersecções com modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais de identidades discursivamente constituídas. (Butler, 2003, p. 20).

Butler (2003) afirma que não existem “traços” especificamente femininos partilhados por todas as mulheres, independente dos contextos em que vivem, de suas classes sociais, raças e etnias. Enfatizando que não existe “a mulher”, a autora insiste na necessidade de se renovar o feminismo, libertando-o da necessidade do movimento se sustentar numa identidade estável e permanente.

Butler, em Problemas de gênero, se opõe à definição do gênero como uma interpretação cultural de uma diferença natural entre os sexos. Para a filósofa (2003), o gênero consiste num meio discursivo e cultural a partir do qual são construídas e legitimadas as ideias sobre a natureza sexuada. Segundo Butler, gênero é uma norma: “gênero é o mecanismo pelo qual as noções de masculino e de feminino são produzidas e naturalizadas, mas pode ser, ao mesmo tempo, o veículo através do qual esses mesmos termos são desconstruídos e desnaturalizados” (Butler, 2004, p. 42 tradução nossa).

Butler (2003, 2004) critica a concepção binária dos gêneros, enfatizando que ela faz parte de um “projeto” social de produção de gêneros inteligíveis, a saber: “[...] daqueles que instituem e mantêm uma relação de coerência e de continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo” (Butler, 2003, p. 38). Segunda a autora, a manutenção dos gêneros inteligíveis tem por objetivo assegurar a heterossexualização do desejo: “[...] a regulação binária da sexualidade suprime a multiplicidade subversiva de uma sexualidade que rompe as hegemonias heterossexual, reprodutiva e médico jurídica” (Butler, 2003, p. 41).

Para Butler (2003), o gênero só articula uma unidade entre experiência, sexo, gênero e desejo, se existe o pressuposto de que o sexo exige um gênero para si (seja esse gênero uma designação psíquica, cultural ou ambas), assim como requer um determinado desejo. Nesse sentido, só existiria coerência entre os gêneros numa lógica da heterossexualidade compulsória. Ou seja: “[...] essa heterossexualidade institucional exige e produz, a um só tempo, a univocidade de cada um dos termos marcados pelo gênero que constituem o limite das possibilidades de gênero no interior do sistema de gênero binário oposicional” (Butler, 2003, p. 45).

Pensar que a categoria “mulher” é instável e se ancora numa divisão binária dos gêneros é importante para não corrermos o risco de fazer generalizações descuidadas e de pender para os essencialismos.

 

1.2 Gênero: uma construçãointersubjetiva

Assim como a saúde mental é um processo que envolve diferentes dimensões, o gênero e o self também são processos multifacetados.

Para Chodorow (1990), o fato das mulheres maternarem é um dos elementos universais e duráveis da divisão de trabalho entre os sexos. Segundo a autora, a partir do século XIX, “[...] lar e local de trabalho, antigamente a mesma coisa, acham-se agora separados” (Chodorow, 1990, p. 19). Com a separação entre o público e o privado, surgem o pai provedor e a mãe dona-de-casa. Tal divisão, essencialmente burguesa (Foucault, 1988; Costa, 2004), se perpetua apesar das mudanças econômicas e culturais pois, “[...] as mulheres aprenderam que mudanças fundamentais nas relações sociais de produção não garantem concomitantes mudanças nas relações domésticas de reprodução” (Chodorow, 1990, p. 21).

Chodorow (1990) afirma que a reprodução da maternação constitui um elemento central para a reprodução social do gênero. A autora se refere à solidão das mulheres que vivem nas grandes cidades: “[...] na família, tal como hoje constituída, ninguém apoia e reconstitui as mulheres afetiva e emocionalmente – sejam mulheres trabalhando no lar ou mulheres integrando a força de trabalho pago” (Chodorow, 1990, p. 57).

Segundo Chodorow, o gênero seria uma construção individual engendrada a partir de elementos culturais, anatômicos e dos encontros provenientes das relações objetais, tanto internas quanto externas. Nesse sentido, para entender como se constrói o gênero, “[...] as preocupações podem ser formuladas nos termos das relações entre dentro e fora, individual e social, a psiquê e a cultura, o lugar onde o psicológico encontra o cultural ou o self encontra o mundo” (Chodorow, 1999, p. 6 tradução nossa).

Chodorow (1999) enfatiza que as experiências humanas e o senso do self são elaborados interpessoalmente, e que são as relações intersubjetivas que constroem as histórias particulares. A autora considera que as pessoas compõem suas identidades de gênero a partir de uma articulação entre sentidos pessoais e culturais. Assim, o gênero seria, inevitavelmente, pessoal e cultural. Cada sujeito cria e reage à sua cultura, mas responde ao gênero no qual se reconhece de uma maneira singular. É importante considerar que os significados culturais não “precedem” os significados individuais: ambos se interpenetram (Chodorow, 1999).

 

1.3 Adolescências na cidade

A Antropologia, desde suas pesquisas mais clássicas (Mead, 1993), tem demonstrado que a adolescência não constitui uma fase da vida engendrada pelas transformações pubertárias, mas uma complexa construção histórico-cultural. O historiador Philippe Ariès (1978), por sua vez, enfatizou que a adolescência teria emergido com o advento das sociedades industriais. Segundo o autor, a característica da adolescência como um intervalo entre a infância e a vida adulta estaria vinculada à expansão dos anos escolares nas sociedades ocidentais.

Segundo Fernandes (2016), além de situar a adolescência historicamente, é fundamental levar em consideração as diferenças socioculturais. Quando mencionamos a dependência em relação à família, decorrente dos anos de formação escolar, estamos nos referindo à adolescência das camadas médias e altas. Esta não é similar à adolescência vivida pelos jovens das camadas populares. É possível considerar que os jovens das camadas sociais desfavorecidas experimentam uma adolescência diferente daquela vivida pelos jovens das camadas médias e altas.

Portanto, tendo em vista que a adolescência se constitui numa relação estreita com o contexto sociocultural, seria mais adequado se falar de “adolescências”, tal como defende Carreteiro (2012), ao afirmar que, apesar de existirem características transversais, a adolescência tende a variar de acordo com cada realidade vivida e com as diferentes expectativas que a sociedade deposita sobre os diferentes grupos sociais.

Segundo Levisky (1998), os adolescentes das classes abastadas são protegidos porque podem prolongar um estado tanto de dependência econômica quanto afetiva. Isso não é permitido aos adolescentes das camadas populares, os quais devem rapidamente dar conta das responsabilidades da vida.

Além das diversas adolescências que existem de acordo com cada classe social, é fundamental observar que a adolescência vivida nos grandes centros urbanos é profundamente diferente das experiências adolescentes vividas nas pequenas cidades. De acordo com Preteceille (2015), as grandes cidades, as chamadas cidades globais, como São Paulo, têm como característica mais marcante os contrastes sociais espetaculares.

Abordando a cidade de São Paulo, Miorim (2018) destacou que no ano de 2012, 29,6% dos habitantes da cidade tinham apresentado algum tipo de transtorno mental. Dentre os transtornos relatados, os mais comuns foram os de humor, o descontrole dos impulsos e a dependência química. São Paulo obteve destaque em relação à incidência de transtornos mentais dentre todas capitais pesquisadas.

Segundo Miorim (2018), a maioria dos habitantes de São Paulo seria capaz de afirmar que o sofrimento emocional é tão vasto quanto a própria cidade. Em suas palavras: “a vida na cidade apresenta elementos particulares de uma síndrome psíquica que extrapola qualquer concepção de problemas meramente individuais” (Miorim, 2018, p. 17).

Nesse sentido, pensando sobre o recorte específico desta pesquisa, precisamos nos ater à particularidade da vivência da adolescência pesquisada. São jovens que se encontram protegidas de importantes vulnerabilidades: a socioeconômica e a racial (nenhuma das entrevistadas era negra).

 

1.4 Adolescência, demarcações

Segundo Outeiral (2008), a adolescência compreende três fases. A primeira delas ocorre dos 10 aos 14 anos e é marcada pelas transformações da puberdade. A segunda fase se desenvolve entre as idades de 14 e 17 anos, tendo como foco as questões relacionadas à sexualidade e à escolha de objeto. Já a terceira acontece dos 17 aos 20 anos, é caracterizada pelo estabelecimento de novos vínculos com os pais e pelas questões profissionais. Considerando a adolescência um fenômeno psicossocial, a demarcação cronológica de fases tem um caráter arbitrário.

Durante a adolescência, o sujeito se empenha num árduo trabalho de se apropriar dos seus desejos e pensamentos, da sua identidade e de suas escolhas. No entanto, nada no adolescente se encontra definitivamente acabado. A adolescência consiste num momento de passagem do ambiente familiar para um espaço sociocultural aberto e complexo (Tassel, 2014).

 

2 Justificativa

Embora estudos que relacionem mulheres e saúde mental sejam abundantes, tanto no Brasil quanto internacionalmente, observamos uma escassez de pesquisas que investigam gênero, adolescência e psicanálise no cenário brasileiro contemporâneo. Nesse sentido, este artigo pode contribuir para o campo de estudos que articula psicanálise e gênero.

A relevância desta pesquisa se justifica pelo fato de examinar conceitos importantes referentes à construção singular do gênero, possibilitando uma compreensão do conceito vinculada aos processos de subjetivação, e não somente situada no campo das ciências sociais, onde nasceram e se situam muitos dos estudos de gênero (Scott, 1990). Outro aspecto interessante deste artigo é que ele examina os discursos das adolescentes acerca do tema investigado. Nesse sentido, este estudo permite uma apreensão das formas pelas quais as mudanças nas relações de gênero se desenham e se entrelaçam - num cenário brasileiro contemporâneo - com as normas e roteiros tradicionais (expressos por uma lógica binária que separa o masculino e o feminino enquanto dois territórios distintos, mas complementares).

 

3 Método

Este artigo é o resultado de uma pesquisa qualitativa que tem por objetivo compreender os processos subjetivos e sociais de construção dos significados. Para tanto, utilizamos como instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada. Para Duarte (2005, p. 215), entrevistassão fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados, em que os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados”.

Como método de análise, utilizamos a análise de discursos. Cientes de que o termo abriga uma diversidade de procedimentos (Iniguez, 2004), partimos da concepção foucaultiana de que o discurso constitui uma prática que institui o sujeito que o enuncia. Os discursos são práticas sociais regidas por regras anônimas. Nesse sentido, o discurso de um sujeito torna visíveis as práticas discursivas que o sustentam. Assim, as transformações nos discursos são compreendidas como transformações nas práticas sociais (Iniguez, 2004).

Considerando os discursos como práticas, analisamos as entrevistas atentos aos enunciados comuns e aos pontos de transformação. Buscamos compreender como o gênero repercute sobre a saúde mental das entrevistadas. Para tanto, dividimos a análise em três categorias: 1) homens e mulheres nos espaços públicos e privados; 2) o corpo feminino como espaço de desapropriação subjetiva; e 3) o reconhecimento subjetivo e a categoria “mulher”. Tais categorias decorrem tanto dos temas que se repetem no conjunto do material analisado quanto daqueles enfatizados pela relevância que têm para a pesquisa.

A escolha das entrevistadas se deu a partir da metodologia do “efeito bola de neve”. De acordo com Vinuto (2016), esse tipo de amostragem consiste numa forma de amostra não probabilística, a qual procura utilizar as redes sociais dos entrevistados, com o intuito de fornecer ao pesquisador outros contatos potenciais. Ela é usada quando o estudo em questão tem por objetivo compreender melhor o tema investigado. Uma das suas limitações é restringir a variabilidade.

 

3.1 Participantes

Participaram deste estudo dez adolescentes do sexo feminino, estudantes de escolas particulares, residentes na zona sul da capital, com idades entre 14 a 17 anos e pertencentes às camadas média e alta da população. Para evitar qualquer identificação todos os nomes mencionados são fictícios.

 

3.2 Procedimentos

As entrevistas aconteceram, predominantemente, na casa das participantes. Apenas uma delas preferiu ser entrevistada no consultório da pesquisadora. A opção por espaços íntimos se converteu num instrumento prolífico pela capacidade de valorizar o contato pessoal e o ambiente natural das adolescentes.

Do total de entrevistadas, cinco frequentavam escolas que abrem um espaço para debate com os alunos sobre as questões de gênero. Pode-se considerar um viés significativo o fato de metade delas pertencer (ou ter pertencido) a um coletivo feminista e destaca-se que as escolas possuíam filosofias de ensino distintas. Sete moravam com o casal parental, quatro eram filhas únicas. Uma delas era filha de um segundo casamento da mãe. Os pais e as mães de todas as entrevistadas possuíam no mínimo graduação e exerciam profissões (ou exerceram, já que um deles estava desempregado há três anos) que os permitiam ter uma condição financeira privilegiada. As mães de todas trabalham fora de casa. No entanto, três das entrevistadas já viveram períodos em que só as mães trabalhavam fora enquanto os pais se encontravam desempregados. Uma delas estava vivendo essa situação na ocasião da entrevista, sendo o pai o cuidador, e a mãe a provedora financeira. É relevante reiterar também que nenhuma das adolescentes entrevistadas era negra. Mencionar o lugar social a partir do qual as entrevistadas falam é fundamental para que se possa ter uma melhor compreensão dos dados encontrados nesta pesquisa.

Abaixo serão apresentadas as análises dos dados por meio das categorias criadas.

 

Quadro 1 – Caracterização das participantes da pesquisa

Nome

Idade
(em anos)

Características

1) Laura

14

Mora com os pais e o irmão. A escola não discute gênero.

2) Lia

17

Pai cuida da casa e mãe trabalha em tempo integral. Mora com os pais e o irmão.

3) Ana

16

Mora com os pais e o irmão mais novo. A escola discute gênero em algumas ocasiões.

4) Vanessa

17

Mora com a mãe, o padrasto e o irmão. Participou de um coletivo feminista.

5) Julia

16

Mora com os pais e os irmãos. Pertence a um coletivo feminista.

6) Cláudia

17

Filha única. Mora com os pais. Pertenceu a um coletivo feminista.

7) Michelle

17

Filha única. Mora com a mãe. Participa de um coletivo feminista.

8) Carla

14

Mora com os pais e o irmão.

9) Bella

16

Mora com os pais. Filha única.

10) Tereza

17

Filha única. Mora com a mãe. Participou de um coletivo feminista.

 

4 Resultados

 

4.1 Homens e mulheres nos espaços públicos e privados

Sobre as diferenças entre homens e mulheres, Lia declarou: “na minha casa as coisas são meio invertidas. Minha mãe trabalha em tempo integral, meu pai está desempregado. Então, ele cuida da casa, me leva pros lugares”. Já Ana disse: “no começo, minha mãe não trabalhava, então cuidava das coisas da casa. Agora que ela voltou a trabalhar, a gente se divide”. Apenas uma entrevistada afirmou perceber em casa uma divisão de papéis: “em casa a gente janta e ficamos eu e minha mãe lavando a louça na cozinha!” (Claudia).

Sobre a escola, Laura, disse: “o que eu vejo é que na educação física os meninos são sempre escolhidos primeiro”. Ana afirmou: “eu vejo diferença na escola. Os meninos jogam futebol e a gente fica sentada olhando”. Para Julia, “os meninos sentem liberdade de falar do corpo das meninas. Por exemplo, tinha uma menina, e ela tava com um vestido curto. Daí um menino falou “essa aí já tem dono!”.

Para Michele, “a escola trata os meninos diferente porque ela é um reflexo da nossa sociedade e tem sempre a divisão de humanas e exatas, né?”. Bella afirmou: “na escola, na educação física, os meninos podem ficar sem blusa. Só reclamam das roupas das meninas, acham que são curtas, que mostram demais”.

Julia afirmou: “eu ouço comentários machistas até dos professores. Um professor falou em sala que a mulher tinha pés mais curtos para ficar mais perto da pia de lavar louça”. Já Michele disse: “eu comecei a perceber a diferença quando mudou o professor de matemática e apareceu uma professora. O professor falava baixo, dominava pouco a sala, mas quando a professora chegou era claro que os alunos não a consideravam. Eles a desrespeitavam porque era uma mulher e era bem claro isso”.

 

4.2 O corpo feminino como espaço de desapropriação subjetiva

Carla, que declarou não perceber nenhuma diferença entre homens e mulheres, disse:

Sinto raiva porque mexem comigo na rua. Isso acontece frequentemente e eu acho ridículo. São homens mais velhos e isso me incomoda de verdade. Minha mãe diz pra eu ignorar, mas é difícil né? Desde que eu comecei a andar na rua isso acontece. Se eu fosse parar para cada pessoa que fizesse isso... Não adianta. Eu não saio de roupa curta, eu amarro uma blusa na cintura, eu nunca saí de shortinho. Mas eu posso ir de cobertor que vão olhar! É muito chato, de verdade! Eu fico me perguntando por que as mulheres passam por isso? De verdade, eu não sei”.

No discurso de Carla há uma falta de recursos para compreender os motivos pelos quais os corpos femininos são alvos de uma manifestação agressiva do interesse sexual masculino. Quando indagada se ela achava que isso poderia mudar, alegou que não.  Em suas palavras: “é uma coisa que os homens fazem. Ficar olhando a gente de cima a baixo e ficar gritando coisas, é uma coisa que os homens fazem, mas eu acho ridículo”.

Para Júlia: “na rua, tem sempre os assédios. Um dia eu vi uma publicidade machista de uma universidade. Eram dois cartazes de dois estudantes: um de menino e outro de menina. O menino é super sério, está numa universidade. A menina está numa posição impossível, super sexy, e é uma propaganda de uma universidade!”.

O último aspecto a ser destacado da relação entre homens e mulheres se refere às expectativas sociais. Para Vanessa: “na faculdade, a gente tem nota de participação, eu percebo que os professores chamam mais os meninos e que eles têm mais facilidade para falar. As mulheres são criadas para serem retraídas”.

 

4.3 O reconhecimento subjetivo e a categoria “mulher”

Ao serem perguntadas sobre como se percebiam, as entrevistadas responderam que se viam como mulheres. Sobre o momento em que deixaram de se perceber como meninas para se ver como mulheres, as respostas variaram.

Para Lia: “Ligar a genitália com o que a pessoa é ... Eu acho que é como a pessoa se vê. Eu me vejo como mulher”. Laura afirmou: “eu acho que eu já me sinto como uma mulher. Acho que foi a partir do ano passado [quando menstruou], fiquei mais responsável, pensando em melhorar, mas os meninos ainda não chegaram”. Julia declarou: “a primeira vez que me vi como mulher foi quando eu menstruei. Eu tinha 14 anos. Foi uma coisa que eu tava no banheiro e eu comecei a chorar. Foi um momento muito chocante, de perder o que tinha, de não poder fazer mais algumas coisas porque era mulher. Talvez eu não quisesse crescer”.

Sobre a dificuldade de ser mulher, Lia falou: “é difícil... Acho que o pior é a segurança. É muito difícil. As mulheres são abusadas na rua diariamente e ainda não se vê as mulheres como iguais aos homens”. Michele afirmou: “eu comecei a notar que eu era mulher quando começaram a me cobrar disso. Tinha uma festa de quinze anos, eu queria ir de calça social e a minha mãe queria que eu usasse um vestido. Daí ela me disse: ‘eu sempre quis ter uma menina e agora que eu tive, é isso!’. Michele falou: “eu me via no espelho cobrindo meus seios e me perguntando . . . Como eu me via mais masculina, eu tive crises”.

Nas palavras de Cláudia: “. . . eu penso bastante nisso. Você nasce mulher e já tá submetida a tanta coisa! Desde a primeira vez que eu comecei a ser assediada na rua. Eu tinha treze anos e um cara falou alguma coisa e eu fiquei chocada. Aí eu comecei a pensar que isso só acontece com mulher . . . você, quando é mulher, tem um amadurecimento bruto, tem que colocar absorvente, se torna um objeto sexual”. Na fala de Claudia, encontramos a diferença de “peso” entre os corpos do homem e da mulher. O corpo das mulheres pesa, por ser imoral: como ainda é comum escutarmos em comentários que tentam culpabilizar as vítimas de violência sexual.

Na visão de Vanessa: “os meninos se esforçam menos para chegar a lugares que as meninas [para chegar] se esforçam mais. Mas as meninas vão mais longe”. A percepção de Vanessa de que as mulheres – mesmo precisando se esforçar mais do que os homens – conseguem ir além deles é uma consequência do avanço da condição das mulheres nas sociedades ocidentais pós-industrializadas. Embora as mulheres beneficiadas sejam brancas, de classe média e escolarizadas, essa ressalva não invalida a afirmação de que as jovens mulheres brasileiras têm encontrado um caminho mais aberto para criar seus destinos.

Sobre o que é bom em ser mulher, Lia ponderou: “uma coisa que deve ser muito boa em ser mulher, deve ser carregar seu filho, sentir ele dentro de você”. O desejo de maternidade foi manifestado por quase todas as entrevistadas: algumas querem gestar seus bebês, já outras preferem adotar seus filhos. Apenas uma definiu a maternidade como um problema na vida de uma mulher: “querendo, ou não querendo ser mãe, você vai ter um problema: ou não cria o filho direito, ou vão perguntar: ‘então, já vai ter filho? Já passou da hora’” (Vanessa).

Para Tereza: “eu prefiro ser mulher, apesar de todas as restrições. Nossa, não sei. Só sei que gosto muito de ser mulher apesar de todo o combo que vem junto. E é importante estar junto, porque quando você tem uma união das mulheres, quando você está junto, você tem mais força. É muito mais fácil mostrar um descontentamento quando se está junto”

 

4 Discussão

Ao analisar os discursos das adolescentes entrevistadas, começamos a refletir sobre o conceito psicanalítico de trauma. O trauma consiste numa crise que se instaura no sujeito quando este se confronta com sua própria instabilidade: quando, por diferentes razões, sua organização subjetiva vacila (Tanis, 2017). Partindo do conceito de trauma, consideramos que, para as adolescentes entrevistadas, seus processos de subjetivação enquanto mulheres têm uma característica traumática.

Para Felicia Knobloch (1998), um trauma rompe com os sistemas de representação e, por isso, é considerado enquanto tal a partir de seus efeitos. Nos discursos das adolescentes, encontramos evidência de mal-estar, de desapontamento e de perturbação que decorrem de suas percepções das relações de gênero. Foi recorrente, nos discursos das entrevistadas, o medo de circular pelas ruas, um temor relativo ao que podem suscitar com seus corpos, uma desconfiança em relação à forma como a sociedade julga as habilidades dos homens e das mulheres.

Deslocando-se do traumático e se convertendo num aparato de desconstrução, existe uma concepção de gênero como um movimento de transgressão, o qual se vincula a uma ideia de luta coletiva. Algumas das entrevistadas já se engajam em lutas pelos direitos das mulheres pela existência e pela dignidade de outras minorias. Pensar o gênero como um ato transgressivo é a proposta de Butler (1993, 2014) e, para algumas das entrevistadas, parecer ter sido o caminho em direção à saúde.

 

5 Considerações Finais

Este trabalho, apesar de restrito, trouxe elementos relevantes para uma reflexão sobre gênero e saúde mental.

As adolescentes entrevistadas pertenciam a um privilegiado da sociedade brasileira. Elas não representam a população brasileira, mas a camada urbana, altamente escolarizada e branca.

Cientes do lugar no qual nos situamos, colocamos duas questões trazidas pela análise das entrevistas. A primeira é se assistimos a uma flexibilização das fronteiras de gênero. Para as entrevistadas, é possível transgredir o binarismo. Porém, no que se refere às vulnerabilidades sociais das mulheres, observamos mais permanências do que transformações.

Os resultados desta pesquisa são limitados por se tratar de um estudo qualitativo com uma amostra pequena. Não temos a pretensão de generalizar os resultados obtidos, mas de fornecer uma compreensão mais aprofundada acerca do impacto das relações de gênero sobre a saúde mental de adolescentes. Pretendemos ampliar este estudo entrevistando adolescentes das camadas populares e adolescentes negras.

 

 

Referências

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Endereço para correspondência

Danielly Passos de Oliveira
Alameda dos Arapanés 881. Sala 121. CEP. 04524001. Moema. SP. (11)98222-2878
E-mail: daniellypassos@yahoo.com.br

 

 

1 Danielly Passos de Oliveira: Psicóloga pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Literatura Brasileira pela UFC. Doutora em Sociologia pela UFC e pela Université Paris VII. Pós-Doutora em Psicologia Clínica pela USP.

2 Isabel Cristina Gomes: Professora Titular IPUSP - Universidade de São Paulo.

 

Errata: O nome de Isabel Cristina Gomes como coautora e sua afiliação institucional, foi inserido posteriormente a publicação do artigo não havendo alteração de conteúdo.

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