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Vínculo

versão impressa ISSN 1806-2490

Vínculo vol.18 no.1 São Paulo jan./abr. 2021

http://dx.doi.org/10.32467/issn.19982-1492v18nesp.p407-413 

ARTIGO

 

Os desafios do trabalho de grupo no núcleo de prevenção à violência na UBS Vila Maggi

 

The challenges of group work at the violence prevention core in UBS Vila Maggi

 

Los desafíos del trabajo grupal en el centro de prevención de violencia UBS Vila Maggi

 

 

Vanessa Faro Chaves

Núcleo Ampliado de Saúde da Família - NASF, SP, Brasil

 

 


RESUMO

A violência é um fenômeno complexo e multifatorial, que se configura como problema social com forte impacto na saúde. No território de abrangência da UBS Vila Maggi, acolhemos cotidianamente diversos tipos de violências relacionados ao contexto familiar. Entendendo que todos os grupos populacionais são vulneráveis à violência, e que a violência guarda relações profundas com a estrutura social, econômica e política, compreende-se que a esta se dá de forma mais impactante em regiões socioeconômicas mais vulneráveis e com condições inadequadas de habitabilidade.

Palavras chave: trabalho de grupo, prevenção, violência, saúde pública, vulnerabilidade.


ABSTRACT

Violence is a multifatorial and complex phenomenon that configurates as a social problem with heavy impact in our health. In the territory of the UBS Vila Maggi, we routinely recieve several types of family related violence. In understanding that all populational groups are subjected to violence and that violence itself holds deeps relations with political, economic and social structure, one can understands that it will impact more heavily in vulnerable regions with poor housing and poor social-economic conditions.

Keywords: group work, prevention, violence, public health, vulnerable.


RESUMEN

La violencia es un fenómeno multifatorial y complejo que se configura como un problema social con gran impacto en nuestra salud. En el territorio de la UBS Vila Maggi, habitualmente recibimos varios tipos de violencia familiar. Al comprender que todos los grupos poblacionales están sujetos a la violencia y que la violencia en sí misma mantiene profundas relaciones con la estructura política, económica y social, uno puede entender que tendrá un mayor impacto en las regiones vulnerables con viviendas y condiciones socioeconómicas pobres.

Palabras clave: trabajo grupal, prevención, violência, salud pública, vulnerables.


 

 

Introdução

A violência é um fenômeno complexo e multifatorial (BRASIL, 2017), que se configura como problema social com forte impacto na saúde (SANTOS, SILVA E BRANDO, 2017). No território de abrangência da UBS Vila Maggi no município de São Paulo/SP - Bairros: Jd. Maggi; Jd. Sidney; Jd. dos Cunhas; Jd. Líder; Jd. José Maria; Sítio Morro Grande; Jd. Nossa Sra. Aparecida - acolhemos cotidianamente diversos tipos de violências relacionados ao contexto familiar.

"Entende-se que todos os grupos populacionais são vulneráveis à violência, ainda que a exposição se diferencie segundo gênero, faixa etária, condições socioeconómicas e tipos de violência a que cada grupo está mais, ou menos, exposto" (MENDONÇA, 2018). "Ressalta-se que a violência guarda relações profundas com a estrutura social, econômica e política" (SANTOS, SILVA E BRANDO, 2017), dessa forma, compreende-se que a violência se dá de forma mais impactante em regiões socioeconómicas mais vulneráveis e com condições inadequadas de habitabilidade. Assim, faz-se necessária atenção à alguns indicadores colhidos nos últimos anos segundo Distrito Administrativo (DA), 2010:

- População total na área de abrangência da UBS: 13.458.

- Número de comunidades: 36

- Densidade Demográfica: 7.017,93 (Hab./km2)

- Taxa Analfabetismo: 5,4%

- Domicílios com esgotamento sanitário adequado: 86,83%

- Estimativa da população exclusivamente usuária do SUS: 62,1%

- Indicadores Epidemiológicos da UBS, 2013:

- Mortalidade por causas externas: 8,8%

- Mortes precoces: 46,8%

Ainda, como uma das principais causas de morte em 2013 da Coordenadoria Regional de Saúde Norte, temos 284 homicídios (1,8% do distrito).

Em 1993, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan Americana de Saúde (OPS) reconheceram a violência como um problema de saúde pública.

Como as práticas grupais constituem importante recurso no cuidado aos usuários da Atenção Básica, a estratégia de enfrentamento das questões acerca das violências são realizadas pelo grupo de trabalhadores no Núcleo de Prevenção a Violência (NPV) na UBS Vila Maggi.

O NPV é definido na Portaria 1.300 da Secretaria Municipal de Saúde de 15 de julho de 2015 que institui a forma do seu funcionamento nos estabelecimentos de saúde do Município de São Paulo. Na prática corresponde à equipe de referência do Serviço de Saúde ser responsável pela disposição do cuidado e articulação das ações a serem desenvolvidas para diminuição da violência e promoção da cultura de paz. Neste sentido, o NPV é composto por distintas categorias profissionais para inclusão de diversos saberes no processo de trabalho, considerando a complexidade do fenômeno da violência.

 

Objetivos

Articular ações de assistência, prevenção e promoção de saúde no território, no sentido de estabelecer o cuidado integral às pessoas em situação de violência.

Organizar o atendimento com a democratização dos fluxos aos profissionais da unidade e criar estratégias para fortalecer o cuidado ampliado e integral das pessoas em risco ou situação de violência.

Manter o dispositivo do Projeto Terapêutico Singular (PTS), como parte fundamental do planejamento e cuidado.

Disponibilizar espaços para discussão, reflexão e aperfeiçoamento entre os profissionais da UBS e assim, contribuir para o processo de educação permanente.

Ampliar o número de notificações de os casos suspeitos ou confirmados de violência, incluindo todos os profissionais da unidade.

Identificar as necessidades locais para formação de grupos e ações a partir das demandas trazidas nas discussões do NPV.

 

Métodos

Na UBS Vila Maggi, há profissionais da "Estratégia de Saúde da Família", implantada inicialmente como "Programa de Saúde da família" no Brasil pelo Ministério da Saúde em 1994, como política nacional de atenção básica. Há ainda profissionais dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), criados pelo também Ministério da Saúde, em 2008, e regulamentado pela Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Os núcleos são compostos por especialistas multiprofissionais que atuam de forma integrada com as equipes de Saúde da Família (ESF). O objeto de atenção de ambos, ESF e NASF, são a família e o ambiente em que esta vive. As ações são pautadas na promoção da saúde, prevenção, recuperação, e reabilitação de doenças e seus agravos recorrentes; o NPV é uma das linhas de cuidados que permeiam estas ações.

O NPV acontece em forma de encontros e é composto por representantes das equipes do Núcleo de Apoio de Saúde da Família, da Estratégia de Saúde da Família (ESF), e dos demais setores, como recepção, regulação, segurança e administrativos. Entres os profissionais da ESF, incluem-se médico enfermeiros e agentes comunitários de saúde (ACS). O grupo é coordenado por Enfermeira da ESF, Assistente Social e Psicóloga - ambas NASF.

São encontros mensais para execução de atividades, com duração de aproximadamente duas horas, faz-se uso de projeções, vídeos, materiais impressos e treinamentos de aproximação-acolhimento e notificações. Os temas são escolhidos a partir de decisões do grupo a partir das demandas trazidas no acolhimento da UBS ou reuniões de equipe (ESF + NASF).

Discussão dos temas sobre violência junto às escolas, instituições públicas, privadas, organizações da sociedade civil.

Atenção especial no acolhimento, atendimento, vigilância e seguimento na rede de cuidado e proteção social.

Ações do NPV

Uma das atividades realizadas pelos profissionais do NPV, assistente social e psicóloga, ocorreram paralelamente aos encontros da unidade, como o Grupo de Adolescentes na Escola EMEF Prof. Renato Antônio Checchia, vizinho à UBS, que se somaram a demanda do Programa Saúde na Escola (PSE) para desenvolver ações que seguissem as linhas temáticas propostas com avaliação psicossocial, redução da morbimortalidade por acidentes e violência.

As outras atividades estenderam-se para outros profissionais, além da assistente social e psicóloga NASF, que estavam no NPV, a nutricionista compôs junto as profissionais para criação do Grupo de Mulheres, na UBS, denominado "Café com Elas" e para o fortalecimento e divulgação no acesso no Grupo Intersetorial, na Biblioteca Brito e Broca, chamado "Mulheres por si mesmas", provenientes das reflexões de violência contra as mulheres e das questões que permeiam o feminino e repercutem no processo dinâmico de saúde e doença, direitos e deveres, cultura e economia com relatos e compartilhamentos, onde elas possam expressar suas demandas, anseios, sofrimentos e visualizar interseções entre cotidiano e as políticas públicas vigentes.

Foram observados pela equipe do NPV questões recorrentes relativas a negligência e evasão escolar de crianças e adolescentes, para isso recebemos o Conselho Tutelar de Pirituba, na Reunião Técnica da UBS, na ocasião, composta por médicos, enfermeiros, assistente social e terapeuta ocupacional para esclarecimentos de dúvidas e alinhamentos de condutas, compreendido como um tema transversal no campo da saúde pública e de fundamental importância na articulação dos diversos setores.

Além disso os encontros do NPV desencadearam numa passeata do "Setembro Amarelo" com todos os profissionais envolvidos para mobilização da comunidade local para prevenção do suicídio, com distribuição aos moradores de flores confeccionadas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), com nomes dos locais de apoio, como CAPS, hospitais e outros serviços.

 

Resultados

Por tratar-se de uma ação em pleno acontecimento, os resultados estão, também, em acontecimento.

Percebemos discussão ampliada do tema, apuração da percepção para as violências, abordagens específicas às vítimas de violência, um maior número das notificações de violência, melhor apropriação dos profissionais para o documento de notificação, evolução qualitativa da interface com a rede e maior aproximação com a comunidade.

Aperfeiçoamento nos atendimentos e na disseminação das informações sobre os fluxos para o cuidado, ampliação do conhecimento das ações ofertadas no território, aumento do vínculo com UBS e melhora do protagonismo no cuidado em saúde da população jovem e feminina.

 

Referencias

Secretaria de Vigilancia em Saúde. (2017). Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Notificação de violências interpessoais e autoprovocadas. Brasília: Ministério da Saúde.         [ Links ]

Mendonça, C. S. et al. (2018). Violência na Atenção Primária em Saúde no Brasil: Uma revisão integrativa da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, 25(6),2247-2257. Recuperado de: <http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/violencia-na-atencao-primaria-em-saude-no-brasil-uma-revisao-integrativa-da-literatura/16977>         [ Links ]

Santos, M. S., Silva, J. G., & Branco, J. G. de O. (2017). O Enfrentamento à Violência no Âmbito da Estratégia Saúde da Família: Desafios para a Atenção em Saúde. Revista Brasileira em Promoção da Saúde. Fortaleza-Ceará, 30(2),229-238.         [ Links ]

 

 

Vanessa Faro Chaves: Bacharel em Serviço Social pela PUC-SP em 2009, Aprimoranda em Serviço Social na Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial pela Faculdade de Medicina da USP - 2010; Assistente Social do NASF, desde 2016.
E-mail: vanessaffaro@yahoo.com.br

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