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Vínculo

Print version ISSN 1806-2490

Vínculo vol.18 no.2 São Paulo May/Aug. 2021

http://dx.doi.org/10.32467/issn.19982-1492v18nesp.p246-257 

ARTIGO

 

A terceira tópica. Onde está o inconsciente?

 

The third topic. Where is the unconscious?

 

El tercer topico. Donde esta el inconsciente?

 

 

Gislaine Varela Mayo De Dominicis

Psicanalista e Professora de cursos no Sedes Sapientiae desde 1998, membro da Associação Internacional Psicanálise Casal e Família (AIPCF), membro fundador da Associação Brasileira de Psicanálise Casal e Família (ABPCF). Email: gmvdominicis@gmail.com

 

 


RESUMO

Esse artigo se propõe a apresentar as ideias de Brusset (2006) sobre a terceira tópica no campo da psicanálise. Essas ideias foram formalmente apresentadas no 66º Congresso de Psicanálise de Língua Francesa (Lisboa, 2006) e gerou o Relatório Brusset. Em seguida, apresentarei a proposta de Kaës (2015) sobre a necessidade da ampliação de conceitos epistemológicos, como o Inconsciente e a sua "politopia". Ideia essa regatada de Pichon-Rivière em 1965. Kaës esclarece que se faz necessária não apenas uma terceira tópica, mas sim uma metapsicologia do terceiro tipo que nos permita trabalhar em outros espaços da realidade psíquica inconsciente com sua complexidade de interferências mútuas. Os psicanalistas têm utilizado outros dispositivos de prática clínica como grupos, casais e famílias. Esses novos dispositivos nos permitem acessar o inconsciente de outra maneira e em outros lugares.

Palavras-chaves: Terceira tópica; Inconsciente; Metapsicologia.


ABSTRACT

This paper aims to present Brusset's (2006) ideas on the third topic in the field of psychoanalysis. These ideas were formally presented at the 66th French Language Psychoanalysis Congress (Lisbon, 2006) and generated the Brusset's Papers. Next, I will present Kaës's (2015) proposal on the need for the expansion of epistemological concepts such as the unconscious and its "polytopia". This idea was rescued from Pichon-Rivière in 1965. Kaës clarifies that it is necessary not only a third topic, but a metapsychology of the third kind that allows us to work in other spaces of unconscious psychic reality with its complexity of mutual interference. Psychoanalysts have used other devices of clinical practice such as groups, couples and families. These new devices allow us to access the unconscious in another way and elsewhere.

Keywords: Third topic; Unconscious; Metapsychology.


RESUMEN

Ese artículo si propone a presentar las ideas de Brusse (2006), a respecto de la tercera tópica en el campo de la Psicoanálisis. Esas ideas han sido formalmente presentadas en el 66º Congreso de Psicoanálisis de la Lengua Francesa (Lisboa 2006) y ha generado el Relatorio Brusset. Luego hare la presentación de la propuesta de Kaës (2015) que trata de la necesidad de ampliación de los conceptos epistemológicos tales como el Inconsciente y su "politopia". Idea esa rescatada de Pichon-Rivière en 1965. Kaës ha aclarado que si hace necesaria no solamente una tercera tópica si no, una metapsicología del tercero tipo que nos permita trabajar en otros espacios de la realidad psíquica inconsciente con su complejidad de interferencias mutuales. Los psicoanalistas están utilizando diferentes dispositivos de práctica clínica como: grupos, parejas y familias. Eses nuevos dispositivos nos permiten tener acceso al inconsciente de una manera distinta y en diferentes ubicaciones.

Palabras llave: Tercera tópica; Inconsciente; Metapsicología.


 

 

Introdução

Bernard Brusset, no 66º Congresso de Psicanalistas de Língua Francesa, em Lisboa em 2006, apresentou um escrito: Metapsicologia e Terceira Tópica.

Essa tópica apresentada seria mais primitiva e anterior às duas tópicas freudianas. Isso permitiria aos analistas atender de forma mais adequada casos clínicos de patologias não neuróticas e típicas de fragilidades narcísicas, incluindo na clínica a área do jogo, o vínculo entre o terapeuta e o paciente.

Para Brusset (2006) não seria possível dar conta teoricamente e tecnicamente dos estados limites, patologias narcísicas, depressões gravíssimas, psicossomatizações e adições levando-se em conta apenas a primeira e segunda tópica freudiana.

Na sua idealização, a terceira tópica proporia um aspecto mais abrangente dos vínculos e dos limites do self e se deteria no estudo do espaço "entre" gerado no encontro do self com os seus objetos. Deixa claro que o espaço entre não é só espacial, mas sim possibilidade de processos de transformação e simbolização.

Ele leva em conta a dinâmica do par analítico, transferência e contratransferência. Reassegura que a transferência é o lugar para a atualização e elaboração das representações infantis, mas também de produção de experiências novas. Seria a área do jogo e de apropriação de sentidos, bem próximo das ideias de espaços transicionais winnicottianos.

 

O Relatório Brusset

Brusset apresentou em 2006 o relatório chamado "Metapsicologia e terceira tópica" onde coloca a questão da ampliação do espaço psíquico e a importância sobre conceitos como intrapsíquico, intersubjetivo, objeto analítico e representatividade.

Cabe aqui definir Metapsicologia. Trata-se de um termo criado por Freud que possui dois sentidos. O primeiro, mais explícito, é um conjunto de modelos conceituais que constituem a estrutura teórica da psicanálise. Nela cabem constructos teóricos como o de pulsão, a ficção de um aparelho psíquico dividido em instâncias, etc.

É também uma tentativa de científica para restaurar as explicações metafísicas. Seria uma explicação científica para os mitos, crenças e religiões como se fosse um espelhamento de fatores psíquicos internos na realidade sobrenatural.

Freud usou esse termo em 1896 em uma carta a Fliess para caracterizar a sua abordagem e diferenciá-la da psicologia.

No Dicionário de Psicanálise de Roudnesco e Plon (1998), a metapsicologia é definida na elaboração de modelos teóricos que não estão ligados a uma experiência prática ou uma observação clínica pela consideração simultânea dos pontos de vista dinâmico, tópico e econômico.

Esses conceitos\ficções não descrevem o real, porém, eles produzem o real, ou seja, eles permitem uma descrição do real segundo um tipo de articulação teórica.

A 1ª tópica freudiana, (modelo topográfico) apresenta a noção de inconsciente/pré-consciente/consciente em uma visão exclusiva intrapsíquica e localiza no conflito dessas instâncias a origem do sofrimento neurótico. A satisfação dos desejos e a descarga das tensões predominam nessa dinâmica. Nesse registro, utilizam-se os conceitos metapsicológicos como inconsciente, pulsão, investimento psíquico etc.

Na 2ª tópica freudiana, modelo estrutural, a noção do espaço psíquico se amplia, passando a incluir áreas externas. Aqui outros conceitos estão sendo postos em jogo.

As instâncias ego, id e superego já caminham para o intersubjetivo O Complexo de Édipo internaliza a representação paterna, que pela identificação de externa passa a ser internalizada. O próprio ego é constituído através dos laços afetivos da primeira infância.

Os conceitos de relação de objeto e as questões de projeção e introjeção contribuíram muito para uma visão espacial do mundo mental. A introdução do conceito de pulsão de morte, por Freud também modifica a concepção econômica do aparelho psíquico e provoca uma mudança na percepção das instâncias e de suas relações.

Klein (1970) quando se refere a um mundo interno e um mundo externo, objetos internos e objetos externos e o conceito da identificação introjetiva, já estava com o entendimento da constituição do sujeito intersubjetiva.

Para Brusset, a possibilidade de reconhecer a existência de um interior e um exterior e de um espaço intermediário (onde o mundo imaginário se constrói) é que tornará possível a intersubjetividade. Brusset se interessa por uma metapsicologia dos vínculos externos e internos.

A necessidade de pensar uma terceira tópica já havia sido apresentada por outros autores, Green (1983 e 1990), Racamier (1980), Dejours (1986) e outros. Os autores que contribuíram para que a noção do espaço psíquico fosse enfatizada foram além de Freud, Winnicott, Bion, Green, Marty e Botela. Toda essa retrospectiva se encontra no âmbito dos psicanalistas e teóricos que trabalham e estudam os fenômenos decorrentes da cura individual.

 

Dispositivos grupais- a extensão da psicanálise

Kaës (2015) coloca que a partir das práticas clínicas, diferentes da cura individual, necessitamos de uma expansão do corpo teórico da psicanálise.

Considerando o dispositivo grupal de atendimento, podemos observar o inconsciente em lugares antes inacessíveis anteriormente, ectópicos. Essa leitura se torna acessível nas configurações de vínculos, grupos, casais e famílias.

O dispositivo tem um caráter ativo e segundo Foucault (1977), dispositivos "são máquinas que fazem ver e falar".

Deleuze, G. (1999) define dispositivo como um conjunto multilinear, composto de linhas de natureza diferentes: a de visibilidade, a de enunciação, a da força e a da subjetivação.

Quando aparece algo novo na observação dos fatos, a naturalização é questionada. O dispositivo é uma novidade que permite ver outras coisas que já estavam lá, escutar outras coisas que já estavam lá, mas o recorte anterior não permitia de ser visto.

Dependendo de qual extrato da realidade o dispositivo nos permite ver, alcançaremos saberes distintos.

O saber é uma combinação dos visíveis e dos dizíveis de um extrato da realidade. Com outro dispositivo entramos em contato com o que estava fora do saber e achamos outras formas de visibilidade e dizibilidade.

O dispositivo grupal traz como consequência questionamentos sobre a metapsicologia da psicanálise. Nesse artigo vamos nos deter nas características da localização do inconsciente.

A primeira extensão da psicanálise aconteceu quando foram incluídos tratamentos com as crianças (Freud, A., Klein, M.) que exigiu uma ampliação da possibilidade de expressão com outras linguagens. Com o tempo os adolescentes e até pacientes psicóticos e borderlines, foram incluídos. As modificações técnicas e de postura do terapeuta, foram se apresentando, mas o tratamento era sempre individual.

Com os dispositivos grupais, temos um segundo ato de extensão da psicanálise e aí ela pode ser vivenciada por sujeitos, casais, grupos, famílias etc.

O grupo construiu um conjunto de práticas clínicas para tratar de sofrimentos psicológicos que se originam dos conjuntos plurissubjetivos e aí se estabelece um campo de conhecimento dos lugares do inconsciente, um espaço específico de realidade psíquica e um espaço de estruturação do sujeito.

[...]cada dispositivo instala modalidades ao tratamento de problemas psicológicos que não seriam alcançados de outra maneira. Podemos trabalhar com grupos não familiares, familiares etc. Alguns mobilizando apenas a palavra, outros utilizando o jogo psicodramático, mas em todos, as regras fundamentais de livre-associação e de abstinência são mantidas[...] (Kaës, R. L`extension de la psychanalyse, 2015).

 

Outros espaços da realidade psíquica

Apresentarei as ideias de Kaës (2015) sobre as extensões do campo psicanalítico que atingem também o conceito de inconsciente. Kaës enfatiza que a partir desses novos lugares do inconsciente, temos que ampliar a metapsicologia como um todo e não só a tópica do inconsciente.

A noção tradicional de aparelho psíquico individual não consegue alcançar essa pluralidade de lugares do inconsciente.

A partir do modelo de um aparelho psíquico grupal, temos que conceber uma tópica, ou melhor, uma metapsicologia que possa dar espaço de realidades psíquicas que se manifestam e se constroem em grupo.

Kaës conceitualizou uma descoberta já realizada por Pichon-Rivière (1965) quando este introduziu o conceito de politopia e ectopia do inconsciente. Essas ideias são fundamentadas nos conceitos de grupalidade psíquica, alianças inconscientes e funções fóricas.

A noção de extraterritorialidade do inconsciente ou ectopia significa que o inconsciente não habita apenas o espaço psíquico individual e que também o inconsciente individual pode ser habitado por outros inconscientes.

Abraham e Torok (1987) foram os pioneiros em dar atenção a esses fenômenos com os conceitos de cripta e fantasma. O sujeito poderia abrigar no seu inconsciente, por transmissão transgeracional, uma parte do inconsciente de outro em situações traumáticas familiares e sociais.

As contribuições de Pichon-Rivière e Bleger(1982) foram fundamentais como as funções fóricas, as alianças inconscientes, as noções de depositário, depositante e depósito. Na teoria do emergente grupal, Pichon-Revière chega a esclarecer que o delírio de um elemento da família corresponde a um conflito triplo: intrapsíquico, intersubjetivo e trans-subjetivo. (psico-social e institucional). Isso esclarece a politopia do inconsciente.

Para Kaës, o lugar ectópico nos coloca em uma relação paradoxal, pois o dentro e o fora se relacionam em um jogo, com uma troca incessante, como na fita de Moëbus. Não há uma separação estanque e sim uma relação contínua de formação e de interferências mútuas entre os três espaços psíquicos.

Jaitin(2018) ao falar dos sofrimentos familiares coloca também a ectopia do inconsciente, baseada nas ideias de Pichón -Rivière, ao apresentar a dinâmica dos segredos familiares.

Cabe aqui colocar que o material a ser estudado por uma terceira tópica seria constituído por manifestações daquilo que não está sendo representável, nem positivado e nem significado. Encontra-se condenado a exterioridade, as transformações em alucinose de Bion e as projeções em tela branca de Green.

A vivência em exterioridade se caracteriza por violência, intolerância à realidade e insistência na posição narcísica, onipotente e grandiosa. Aqui vemos o mecanismo de forclusão, bastante utilizado nas psicoses e nos casos borderlines, que corresponde a negatividade radical, que é colocar esse conteúdo em um espaço ectópico. O conteúdo e o afeto ficam fora do psiquismo como se nunca tivesse existido.

As experiências traumáticas impossíveis de serem elaboradas e integradas, devido a sua violência, acabam criando tipos de sofrimentos como doenças psicossomáticas, delírios e violências atuadas. Nos atendimentos familiares, com um enquadre protetor, podem-se acolher os resíduos traumáticos transgeracionais.

 

Metapsicologia do 3º tipo

Kaës recupera e ideia de inconsciente politópico buscando o lugar dele nas duas tópicas freudianas, mas também nos escritos sociais de Freud.

Relendo o texto de Freud (1921/1973) "Psicologia das massas e análise do ego", vemos que o autor aponta para um novo campo de pesquisa psicanalítica onde o sujeito seria constituído pelo outro nos grupos sociais, mas ao mesmo tempo coloca o grupo/ instituição como fonte de regressão e patologia, ressaltando a influência negativa das massas.

Kaës acolhe a 3ª tópica de Brusset, mas também reconhece outras terceiras tópicas no campo da psicanálise como a de Winnicott (1971) com o seu espaço transicional, de ilusão e o lugar da cultura na formação das subjetividades.

Tópica aqui é uma designação abrangente e metonímica cujo objetivo é construir uma noção de aparelho psíquico. São lugares distintos, ou melhor, instâncias com um modo de funcionamento e logicas diferentes.

Para ele, cada um desses espaços (intra, inter e transpsíquico) é regido por lógicas próprias e também tem seus próprios processos.

Na figura abaixo vemos o lugar do sonho e do fantasma nas três instâncias, na concepção de Kaës. Essa figura foi retirada do livro L' Extension de la psychanálise (Kaës, 2015, p.198).

 

 

O próprio inconsciente individual tem uma pluralidade de lógicas: arcaica e primária.

A lógica primária (dos processos primários) foi bem apresentada por Freud como representações, sonhos, sintomas e mitos. Ausência de contradição, apreciação do tempo não linear, satisfação alucinatória etc.

As lógicas arcaicas do Inconsciente individual são aquelas de inclusão\ exclusão, fusão ou ruptura, ataque ou fuga, união ou rejeição. Klein (1970) a descreve como Pena de Talião, e a organização dessa lógica possibilita a destruição do objeto (ódio) pelo processo de identificação projetiva.

Essas lógicas arcaicas foram descobertas com o atendimento de crianças e de psicóticos no tratamento individual.

Pela ampliação da psicanálise, porém com a manutenção do método psicanalítico, nos atendimentos grupais foram ouvidas as lógicas do inconsciente nos grupos. Essas lógicas são do vínculo. O vínculo não é apenas a ligação entre dois sujeitos, é um espaço dotado de uma realidade psíquica específica.

Existem muitas manifestações do inconsciente que só aparecem nos atendimentos familiares e grupais, por exemplo, as alianças inconscientes, o espaço onírico compartilhado e as construções ideológicas, utópicas e mitopoéticas.

As alianças inconscientes organizam a consistência dos vínculos que se estabelecem nas modalidades casais, famílias grupos e instituições. Cada sujeito tem uma necessidade do outro para realizar os seus desejos inconscientes e manter reprimido, rejeitado o que em cada um pode colocar em perigo o próprio vínculo ou seu espaço interno.

As alianças inconscientes atestam a pluralidade dos vínculos e são a matéria prima e a realidade inconsciente de todo laço. As alianças têm um status diferente também com relação à temporalidade. Algumas são feitas de forma sincrônicas entre os contemporâneos e outras são feitas de forma diacrônicas, elas são contratadas por nós e também sem nós, antes do nosso nascimento e nós as herdamos.

Há quatro de alianças inconscientes: as estruturantes, as defensivas (pacto denegativo), as ofensivas e as alienantes.

As alienantes são patogênicas e patológicas tendo como consequências: o pensamento interditado, congelamento de afetos, angústias catastróficas, confusão de pensamentos e passagem ao ato. Situações que encontramos na clínica como grandes desafios.

Quando acontece uma quebra de contrato ou pacto que fundamentava a realidade psíquica daquela família/grupo isso provoca mudanças no inconsciente individual de cada sujeito.

O inverso também é verdade: toda a modificação na estrutura econômica e dinâmica do sujeito provoca um choque nas forças que sustentam as alianças que o sujeito participa como, por exemplo, na adolescência de um dos filhos em uma família.

As identificações, as alianças inconscientes, os fantasmas, a matriz onírica comum e as representações compartilhadas são os pontos de passagem do entre o espaço psíquico intrapsíquico e o espaço intersubjetivo. Desse espaço comum surgem: o porta-sintoma, porta-sonhos e porta-palavra, alguns portadores de ideais e outros portadores de morte.

 

Conclusão

Vimos que dentro do campo teórico psicanalítico, até os psicanalistas que resistiram à expansão da psicanálise para além do atendimento individual do neurótico, chegaram à conclusão a algum tempo, da necessidade da ampliação teórica do campo (Terceira Tópica).

A clínica atual com seus casos mais complexos e sofrimentos humanos impactantes, como psicoses, adições, somatizações, borderlines e outras patologias narcísicas têm exigido outras formas de atendimento e de entendimento.

Os psicanalistas grupais contam com os dispositivos de atendimento que permitem verificar e pesquisar mais claramente que a localização do inconsciente não apenas intrapsíquica, mas também inter e transpsíquica.

Os pioneiros Pichon-Rivière e Bleger já trabalhavam com o inconsciente ectópico e aspectos inter e trans psíquicos nas relações e nas formações das subjetividades (grupal e social).

Kaës aponta, agora de maneira clara, a necessidade de uma metapsicologia do terceiro tipo e não apenas uma terceira tópica como Brusset indicou.

A teoria dos três espaços de realidade psíquica forma uma metapsicologia e um enquadre metodológico específico dos processos transferenciais, de escuta e de interpretação.

A metapsicologia do terceiro tipo e o conceito de inconsciente politópico modificam a própria ideia da constituição do sujeito.

O inconsciente não está inteiramente contido dentro dos limites do espaço individual e não é constituído apenas por repressão das pulsões e nem só das forclusões das representações intoleráveis. O inconsciente individual pode abrigar inconscientes ou partes de inconscientes de outros através das alianças e do processo de transmissão pela introjeção.

O inconsciente é intrapsíquico e extra tópico, ele está no sujeito, entre os sujeitos e fora do sujeito, nos vínculos, no casal, nas famílias, nos grupos e na sociedade.

 

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