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Vínculo

Print version ISSN 1806-2490

Vínculo vol.18 no.2 São Paulo May/Aug. 2021

http://dx.doi.org/10.32467/issn.19982-1492v18nesp.p106-119 

ARTIGO

 

Violência social e migração: o surgimento de traços traumáticos em um grupo photolangage

 

Social violence and migration: the emergence of traumatic traces in a photolangage group

 

Violencia social y migración: la aparición de rasgos traumáticos en un grupo de photolangage

 

 

Giuseppe Lo Piccolo

Doutor em psicologia clínica e psicopatologia (PhD), psicoterapeuta e analista de grupo e pesquisador no laboratório LARPSYDIS da Universidade de Lausanne, Suíça. Email: giuseppe.lopiccolo@unil.ch

 

 


RESUMO

Em um contexto de violência e grande precariedade social, os fluxos migratórios contemporâneos questionam nossos dispositivos de cuidado e, em particular, o dispositivo individual. A potencialidade traumática da migração forçada nos coloca face à complexidade da clínica em um contexto transcultural. Por meio de um dispositivo original, baseado no uso da mediação pela imagem em um grupo de requerentes de asilo, tentaremos mostrar como o uso da terapia de grupo, por um lado, e da mediação pela fotografia, por outro, podem contribuir para promoção dos processos associativos e de representação dos afetos e de traços traumáticos subjacentes.

Palavras-chave: grupo; trauma; migração; mediação; Fotolinguagem.


ABSTRACT

In a context of social violence and great precariousness, contemporary migratory flows call into question our care devices and the individual setting in particular. The issue regarding potential traumas due to forced migration put us in front of the complexity of the clinical picture in a transcultural context. Through an original device based on the use of image mediation in a group of asylum seekers, we will try to show how the use of group therapy, on the one hand, and photographic mediation, on the other, can give a crucial contribution to foster the associative and representation processes of the affections and the underlying traumatic traces.

Key words: group, trauma, migration, mediation, Photolangage.


RÉSUMEN

En un contexto de violencia y gran precariedad social, los flujos migratorios contemporáneos cuestionan nuestros dispositivos de atención y, en particular, el dispositivo individual. La potencialidad traumática de la migración forzada nos coloca frente a la complejidad clínica en un contexto transcultural. A través de un dispositivo original basado en el uso de la mediación de imágenes en un grupo de solicitantes de asilo, intentaremos mostrar cómo el uso de la terapia grupal, por un lado, y la mediación fotográfica, por otro, pueden contribuir a la promoción de procesos asociativos y representación de afectos y rasgos traumáticos subyacentes.

Palabras clave: grupo, trauma, migración, mediación, Fotolenguaje ®


 

 

Em um contexto de violência e grande precariedade social, os fluxos migratórios contemporâneos questionam nossos dispositivos de cuidado, em particular, os dispositivos de atendimento individual. A questão dos possíveis traumas ligados à migração forçada também nos confronta com a complexidade do quadro clínico em um contexto transcultural. Por meio de um dispositivo original que prevê o uso da mediação pela imagem em um grupo de solicitantes de asilo, tentarei mostrar como o uso da terapia de grupo, por um lado, e da mediação pela fotografia, por outro, pode constituir uma contribuição fundamental para relançar os processos associativos e de representação dos afetos e para acompanhar o surgimento dos traços traumáticos subjacentes.

A situação geopolítica internacional contemporânea evidência que nos últimos anos enfrentamos uma crescente migração de pessoas que deixam ou fogem de seus países devido à pobreza, às guerras, a perseguições políticas, étnicas ou religiosas. Esses fluxos migratórios têm aspectos e repercussões sociais, políticas e psicológicas muito complexas, tanto individuais quanto coletivas. É a partir dessa complexidade que, assim como o sistema de acolhimento e atendimento a refugiados, merecem ser tratados. A mídia nos tem apresentado esse fluxo como uma verdadeira crise sem precedentes na Europa, e sua gestão, em diferentes níveis, tem se mostrado cada vez mais complexa e urgente. A questão do atendimento à essas pessoas, em particular em termos de cuidados e de saúde mental, é um aspecto central nessa emergência. É nessa perspectiva que, nos últimos anos, temos trabalhado no desenvolvimento de dispositivos terapêuticos que possam levar em conta os diferentes níveis de complexidade com os quais somos confrontados: linguagem e cultura diferentes, efeitos e transmissão de traumas coletivos, exílio e migração forçada...

 

Trauma e migração

A literatura a respeito desta clínica mostra-nos que a "migração forçada", em um contexto de violência social e coletiva, deixa traços potencialmente traumáticos nos sujeitos (Bean et al., 2007; De Micco, 2014; Baubet & Moro, 2013; Rochel, 2016; Beneduce, 2016). Alguns autores, como Grinberg (1987), consideram a migração em si uma experiência de "crise" potencialmente traumática. A palavra "crise", no entanto, deve ser entendida em seu sentido de mudança radical e importante na vida de um sujeito; uma mudança catastrófica, para retomar a terminologia Bioniana. Os traços deixados por essa experiência de mudança requerem uma escuta cuidadosa e um modelo de atendimento adequado. A pesquisa que realizo em colaboração com a Unidade de Saúde Mental para Migrantes de Lausanne visa pensar sobre esses novos modelos de atenção que colocam em movimento os processos de representação de traços traumáticos, sua elaboração, simbolização e transformação. Assim, trabalhando com pessoas que tiveram que fugir e deixar seu país de origem devido à violência social e coletiva, recorremos ao método da Fotolinguagem®.

Este "trabalho de mediação" refere-se, de um ponto de vista teórico e metodológico, à articulação e interação dos três espaços psíquicos distintos a que se refere Kaës (1976; 1993; 2007; 2012): o espaço intrapsíquico do sujeito singular, o espaço intersubjetivo do vínculo e o espaço trans subjetivo do grupo como tal. A esses três espaços, o autor acrescenta um quarto, ao qual permanecemos muito atentos e sensíveis nesse contexto particular (Kaës, 2012; 2015): o espaço institucional e social, verdadeiros pano-de-fundo dos três espaços anteriores, considerados o meta-enquadre em que operamos e que cauciona um bom funcionamento da vida em grupo e em sociedade. Nesse sentido, podemos distinguir quatro garantes fundamentais, que Kaës define em termos de "metapsíquicos e metassociais": a Lei, a Religião, a Cultura e a Ciência, que nos protegem respectiva e simbolicamente da Violência, da Morte, do Isolamento e da ignorância.

O que acontece quando esses "fiadores" falham? O que acontece quando as instituições em que depositamos nossa confiança e nossa esperança entram em colapso ou, pior, se voltam contra nós mesmos e contra as pessoas que deveriam ter protegido? O que acontece quando o Estado, em vez de proteger os cidadãos da violência, a exerce contra eles? Parece-nos claro que o fracasso ou a disfunção desses fiadores abre as portas à vulnerabilidade psíquica e à precariedade social, ao "trabalho do negativo" (Green, 1993), à violência. Em outras palavras, as portas se abrem para uma crise do indivíduo, bem como do grupo ao qual ele pertence.

Graças ao desenvolvimento da psicanálise de grupo, hoje sabemos que é necessário articular a questão da "violência estatal" (Pujet et al., 1989), suas manifestações e seu possível entendimento à complexidade dos diferentes espaços psíquicos envolvidos. Pois o impacto desse tipo de violência é revelado, clínica e precisamente, nesses três níveis de funcionamento psíquico: intra, inter e transsubjetivo. A perspectiva do traumático e da violência de estado devem ainda ser evocadas no contexto das heranças psíquicas do processo de colonização (Castanho, 2016; Yu et. al 2018), dimensão especialmente relevante quando consideramos a importância dos fluxos migratórios oriundos de ex-colônias no momento atual. Podemos ainda compreender efeitos psíquicos do processo de colonização como A articulação entre o trauma e seu registro em um espaço pluripsíquico permite, em nossa opinião, questionar a relação entre sujeito e grupo, entre o indivíduo e seu ambiente de pertencimento, social, cultural e relacional. A questão do trauma é, portanto, central para o estudo da migração, especialmente da migração forçada (Baubet & Moro, 2013; Beneduce, 2016).

Cada fase do percurso migratório envolve riscos de exposição a traumas de naturezas diferentes. Os fatores de risco são múltiplos e podem surgir antes da partida, durante a viagem ou após a chegada e a instalação no país receptor, portanto, no pós-imigração. Essas expressões plurais do trauma põem à prova nossos dispositivos de cura e, em particular, os de enquadre individual. Questionam e desafiam também nossos critérios de diagnóstico e, consequentemente, a compreensão dos sintomas observados. O que eu gostaria de enfatizar, no entanto, é: por um lado, a insuficiência e os limites do atendimento "clássico", individual, ao sofrimento psíquico; por outro lado, a complexidade das manifestações clínicas observadas, que geralmente resistem, em certo sentido, às nossas categorizações habituais ou ad hoc construídas (pense no abuso de psicose ou nos diagnósticos de TEPT, etc. no contexto clínico da migração).

 

Grupo e mediação: um modelo de cuidado

A partir dessas reflexões, avançamos a hipótese de que o trauma individual associado a esse tipo particular de violência ecoa e se articula em uma crise mais importante e mais ampla que afeta tanto o indivíduo quanto a sociedade e as instituições. É possível, então, pensar nessa crise como uma crise do grupo (as instituições, o Estado) e em grupo (um povo, uma comunidade ...). Por isso, é por meio do grupo que podemos imaginar como compreendê-la e tratá-la.

Nesse sentido, penso que o modelo de grupo como dispositivo terapêutico - e em particular a introdução do uso da mediação no grupo - pode oferecer uma contribuição fundamental não apenas para o tratamento e, portanto, o tratamento desse sofrimento, mas também para a compreensão desta clínica. Primeiramente, porque a situação do grupo é em si uma situação que favorece importantes movimentos regressivos. Permite, pois, observar o surgimento de mecanismos de defesa mais primitivos e modelos primários da relação do objeto. Em segundo lugar, há o aspecto cultural da dimensão do grupo, que no contexto transcultural não pode ser esquecido (Lo Piccolo, 2015; 2017). Por fim, a introdução no grupo de um objeto mediador - como a fotografia - nos permite acionar outra forma de associatividade: uma associatividade multissensorial e não verbal, que nos permite acolher e incentivar os movimentos regressivos evocados, garantindo sua continência e transformação.

A problemática com que nos confrontamos concerne a como promover, em um contexto transcultural, um encontro intersubjetivo - potencialmente reparador - com e entre sujeitos traumatizados. O contexto específico da migração forçada, mas também os efeitos da globalização e da (des) colonização, as restrições econômicas, as condições de vida precárias, por um lado; e o colapso dos garantes metasociais e metapsíquicos mencionados, por outro lado, constituem um pano de fundo bastante complexo. Nesse cenário instável e complexo, encontramos identidades e configurações psíquicas vulneráveis, sujeitas a um risco constante de exposição a traumas.

É nessa perspectiva que a mediação pela imagem fotográfica, que facilita uma narrativa de si sem o sentimento de exposição direta, parece-nos uma escolha pertinente, pois nos permite acompanhar o processamento do trauma em sujeitos para os quais o acesso à palavra se revela insuficientemente disponível. A introdução da mediação parece, portanto, favorecer o uso de diferentes modos de expressão que passam pelo corpo, gestos e diferentes modalidades associativas (multi) sensoriais, para finalmente retornar à palavra (Alfano et al., 2018).

 

O exemplo da fotolinguagem®

O método da Fotolinguagem® deriva da ideia (intuitiva) de usar a fotografia para apoiar a verbalização em grupos de adolescentes com dificuldades em se expressar e comunicar suas emoções. Devemos a C. Vacheret o desenvolvimento do método em um ambiente clínico, como o conhecemos hoje.

Uma sessão de Fotolinguagem® ocorre em duas etapas: uma primeira que diz respeito à escolha das fotografias para responder à "questão do dia" (o tema proposto pelos terapeutas para trabalhar na sessão); e o momento de compartilhamento em grupo das fotos escolhidas. Durante essa fase, os participantes são convidados a compartilhar suas escolhas em grupo e com o grupo, por meio da instrução: "Cada um de nós apresentará sua própria foto quando desejar, eventualmente associando ao que já foi dito. Ouviremos atentamente a pessoa que apresenta sua foto e não faremos nenhuma interpretação, mas somos convidados a expressar o que vemos de semelhante ou diferente na foto apresentada". Os terapeutas, por sua vez, também escolhem suas fotos e participam do grupo. Nenhuma interpretação é feita, uma vez que as intervenções dos participantes às fotografias apresentadas têm um valor interpretativo.

A especificidade do método permite estabelecer uma área de jogo (Winnicott, 1971) que acompanha a mobilização do pensamento por imagens (Freud, 1922): a imagem (representação de coisa) é identificada como um elemento perceptivo e mobiliza um contexto afetivo referente aos processos primários. O pensamento por ideias (representação de palavras), organizado e secundarizado, é mobilizado pela "questão do dia" proposta no início de cada sessão. Diferentemente de um grupo verbal, no qual a expressão não é "mediada", a presença do "objeto foto" orientará e organizará as interações e vetorizará as trocas do grupo.

Com a ajuda de um exemplo clínico, tentarei apresentar como isso se passa na prática. Trata-se de um pequeno grupo (6 participantes, incluindo terapeutas) com requerentes de asilo. O grupo é homogêneo em relação à língua falada pelos participantes (o farsi), é co-coordenado por um psicoterapeuta (eu) e um psiquiatra e conta com a presença de um intérprete.

Após uma sessão particularmente difícil, na qual emergiram sentimentos de impotência, solidão e tristeza, pedimos ao grupo que "evocasse uma lembrança boa" com a ajuda de uma foto. Os participantes parecem inicialmente surpresos com a questão, mas se prestam ao jogo e evocam momentos agradáveis de seu passado e de sua vida cotidiana. Um dos participantes escolheu uma foto de um grupo de amigos sentados assistindo ao pôr do sol:

 

 

Ele fala sobre o prazer de estar no meio da natureza, com os amigos, "para trocar ideias, como fazemos aqui no grupo, mesmo que o cotidiano às vezes seja difícil".

Outro, mediante a foto de uma cena de semeadura, evoca uma memória de infância, quando os camponeses lhe ofereceram um saco de trigo: "foi um verdadeiro prazer receber este presente inesperado e gratuito".

 

 

Um terceiro, apresenta a foto de um riacho, que evoca a lembrança de uma festa com colegas de escola, nas montanhas, para comemorar o fim das atividades letivas.

 

 

A cadeia associativa de imagens e palavras é fluida, as trocas são ricas, a atmosfera é agradável, leve, quase onírica. Os terapeutas apresentam suas fotos para compartilhar suas "boas lembranças": escolhi a foto de uma praia, com pequenos barcos ao fundo; o colega, a de uma canoa ao pôr do sol.

 

 

 

 

Eu evoco uma lembrança sobre o tempo da infância ou, melhor, a temporalidade desse período da vida: os dias passados no mar, quando eu era criança, sem contar as horas, nem os dias da semana ... como se estivesse em um "sem tempo". Um longo silêncio se instala após a minha apresentação. Um participante quebra o silêncio e diz, surpreso, que não viu a foto na mesa no momento da escolha. Depois, ele associa à foto, dizendo, com um tom mais sério, que o lembra da travessia que o levou da Turquia para a Itália: "estava escuro, não havia nada por perto, a paisagem era um pouco feia e havia somente água ao redor ". Ele nunca tinha visto o mar. Quando finalmente o viu e tentou beber: a água era salgada. Ele estava com medo. Após o compartilhamento dessa memória, o silêncio se instala novamente. O outro coordenador aproveita a oportunidade para apresentar sua foto, que evoca uma lembrança da juventude: a coleta de conchas na praia, quando a maré está baixa. Os participantes não sabem o que são as conchas ou os frutos do mar que são evocados em associação com a história. É aberta uma discussão sobre diferenças culturais na cozinha, e os participantes desfrutam disso. Em seguida, retomamos as associações à foto. Outro participante lembra, então, o momento do embarque no Marrocos para a travessia do Mediterrâneo. Também nesse caso à noite, também para ele, a primeira vez que via o mar. Acreditava que atravessariam o Mediterrâneo com um barco grande e que todos teriam um lugar. Quando viu o pequeno bote, foi tomado pelo medo e pensou: "estamos ferrados". Havia cerca de cem pessoas com ele, o barco nem se aproximou da costa e eles tinham que nadar até ele. Várias pessoas permaneceram em terra: não sabiam nadar. O clima emocional da sessão é tingido de tristeza e angústia. As associações que seguem essas memórias enfatizam a importância da possibilidade de compartilhá-las: memórias "importantes", como dizem os participantes.

Para encerrar, compartilho com o grupo a ideia de que talvez não fosse por coincidência que as fotos não tenham sido vistas no momento da escolha. Afinal, tínhamos pedido uma foto que evocasse uma lembrança boa, por isso penso que aquele "ato falho visual" não seria ao acaso.

Neste exemplo, podemos ver como as imagens, com sua capacidade de continência, formam um "envelope psíquico individual" (cada um apresenta "sua" foto), mas também um envelope psíquico de grupo que tece os pensamentos coletivos, através das trocas do grupo, oferecendo aos sujeitos uma forma em que todos possam se reconhecer e para cuja criação todos contribuem (Anzieu, 1985). Por meio da "representação fotográfica" de uma cena, de um retrato, de uma paisagem, é convocada uma atmosfera afetiva mobilizada pelas imagens internas. O intermediário da fotografia permite tecer, em grupo, por meio da articulação entre a realidade psíquica dos sujeitos singulares e a dinâmica associativa do grupo, um imaginário comum.

O fato de os participantes usarem as fotografias dos terapeutas para evocar lembranças traumáticas e descrever sua angústia parece-nos um aspecto particularmente importante. Nesse uso do objeto mediador, observamos o processo de sinergia e "dupla continência" do traço traumático emergente - por parte da foto e dos terapeutas (Lo Piccolo, 2015). Uma vez depositado transferencialmente na imagem, esse traço pode ser evocado sem que o sujeito se sinta exposto em primeira pessoa, e pode ser compartilhado com o outro e com mais de um outro. A polifonia da história, graças à cadeia associativa, possibilita acionar os processos de identificação que, por sua vez, permitem a reapropriação do discurso e da experiência afetiva que o acompanha. A área de brincar oferecida pela Fotolinguagem®, portanto, favorece as conexões e os vínculos entre os processos primários e os secundários, por um lado; e facilita a articulação entre o espaço intrapsíquico e o intersubjetivo. Nesse sentido, a imagem se torna um meio maleável (Milner, 1952; Roussillon, 2013), indefinidamente deformável e resistente, que suporta os movimentos de ataque contra o pensamento e contra os laços. Contudo, a possibilidade de relançar os processos de simbolização e pensamento também depende, acima de tudo, da capacidade do terapeuta de identificar, conter, processar e transformar esses movimentos e processos psíquicos específicos.

O trabalho psíquico do grupo e o apoio da mediação garantem um efeito de polifonia e transmissão, por meio da construção da cadeia associativa grupal: uma narrativa a múltiplas vozes que mobiliza uma pluralidade de imaginários e a produção de diversificadas modalidades de figuração de uma trama que se reconhece ao mesmo tempo singular e plural.

 

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