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Ciências & Cognição

On-line version ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.4  Rio de Janeiro Mar. 2005

 

Resenha

 

Pesquisas sobre a ciência cognitiva

 

Researches over the cognitive science

 

 

Maycke Young de Lima

UFSCar, São Carlos, São Paulo, Brasil

 

 


Resumo

Este trabalho apresenta algumas considerações sobre o livro "Filosofia e Ciência Cognitiva" de João de Fernandes Teixeira, Petrópolis: Editora Vozes, ISBN 85.326.2956-3, 2004. 142 páginas.

Palavras-chave: ciência cognitiva; filosofia da mente; psicologia; neurociência.


Abstract

This work presents some considerations about the book "Filosofia e Ciência Cognitiva", by João de Fernandes Teixeira, Petrópolis: Editora Vozes, ISBN 85.326.2956-3, 2004. 142 pages.

Keywords: cognitive science; mind's philosophy; psychology; neuroscience.


 

 

 

O livro trata de uma coletânea de ensaios sobre pesquisas na área de filosofia da mente e ciência cognitiva escritos pelo filósofo João Fernandes de Teixeira, atualmente professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de São Carlos.

No capítulo 1, "O que é ciência cognitiva", são abordadas as contribuições e empecilhos proporcionados pela psicologia e pela neurociência na formação da ciência cognitiva, que é dita como a "ciência da simulação" (p. 19). São explicitadas também algumas dificuldades que esta ciência enfrentou e enfrenta ainda hoje em seu desenvolvimento; a questão dos autômatos e, por fim, algumas dúvidas relacionadas à existência do conceito de "mente".

No capítulo 2, "A ciência cognitiva para além da representação", é desenvolvida a relação do conceito de representação com a ciência cognitiva, além dos problemas que a utilização deste conceito traz. Verifica-se que o conceito de representação é um problema filosófico já antigo e discutido antes da origem da ciência cognitiva. Enfim, abordando tópicos como a autolocomoção, a vida artificial e a nova robótica, o autor conclui que, devido às várias pesquisas na área, novas perspectivas surgirão para o conceito da representação e para a ciência cognitiva, perspectivas estas que precisarão ser exploradas.

Em "O futuro da ciência cognitiva", capítulo 3, são discutidos os rumos que esta ciência, assim como a questão mente-cérebro, pode tomar de agora em diante. São apresentadas propostas de discussões, tais como: a inteligência artificial simbólica, o conexionismo, a nova robótica, a neurociência cognitiva, a neuropsicologia, a folk psychology, etc. Propõem-se etapas na construção de modelos possíveis de funcionamento mental e, neste ponto, é notável uma ênfase na "possibilidade de aprendizado em detrimento de uma pré-programação"(p. 67). Concluindo, é reconhecida a infância perpétua de uma parte da ciência da mente e cogitada a perdição da filosofia da mente no ponto em que esta parece ter atribuído uma importância excessiva à idéia de consciência dentro de nossa vida mental.

Uma discussão sobre a máquina de Turing é alvo principal no capítulo 4, "Algoritmicidade e intuição", o qual apresenta o conceito de algoritmo e discute o funcionamento da mente (comparada à máquina de Turing) através do cérebro. Com a inclusão da idéia de intuição matemática e o desenrolar das considerações, chega-se a ponto de concluir que se a mente funciona algoritmicamente, ela é demasiado rápida no processamento de informações (possuindo uma velocidade maior do que a da luz), sendo possível "sustentar que pelo menos parte das atividades mentais humanas não teria as características atribuíveis a sistemas físicos"(p. 101).

Entender o funcionamento de alguns modelos de atividade cerebral de robôs (proposta da neurociência) não significa esclarecer a natureza da cognição robótica e, muito menos, a humana. Disso trata, basicamente, o capítulo 5: "A ilusão da neurociência". Aqui, analisando a complexidade do cérebro e o materialismo eliminativo, chega-se à idéia de que a "ciência do cérebro deve ser uma ciência de como nós representamos nosso próprio cérebro"(p. 118); e também à questão da capacidade do cérebro em representar sua própria complexidade.

No último capítulo, "Bergsonismo, filosofia da mente e cognitivismo", escrito junto com Paulo de Tarso Gomes, os autores abordam alguns tópicos apresentados nos demais ensaios do livro, tais como a Inteligência Artificial (IA) simbólica, a autolocomoção, a noção de representação, entre outras, numa aproximação com os pensamentos de Bérgson. Nessa aproximação é discutida a idéia de mente como uma armadilha da linguagem (pseudoproblema). Afinal, é reconhecido que as discussões no âmbito da autolocomoção e da corporeidade para a explicação da percepção e da inteligência têm levado os programas de pesquisa em ciência cognitiva dos anos 1990 a um novo rumo: a busca de novas parcerias filosóficas e o afastamento progressivo da filosofia analítica.

Num âmbito geral, o livro é repleto de questões de extrema importância para a ciência da cognição e a filosofia da mente. Utilizando ensaios com uma linguagem de fácil compreensão e que abordam os temas de maneira a "fluir a leitura", em oposição a outros que parecem "se arrastar" no decorrer das páginas, este pode ser considerado uma fonte introdutória aos estudos na área, focando os iniciantes, e uma fonte informativa que reflete o percurso de 10 anos de pesquisa, como evidenciado na introdução do livro, para pesquisadores e demais profissionais desta "ciência das simulações".

 

 

Notas

M.Y. de Lima
E-mail para contato: mayckemaycke@yahoo.com.