SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.7 issue1Language evolution: consensus, controversies and something elseThe "teacher burnout" as a phenomenon of the modernity: the teachers in the wonderland author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Ciências & Cognição

On-line version ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.7 no.1 Rio de Janeiro Mar. 2006

 

Artigo Científico

 

Personalidade, estilos de atribuição e habilidades sociais em adolescentes

 

Personality, attribution styles and social abilities in adolecents.

 

 

Ana Cristina Gonçalves Dantas

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Programa de Pós-graduação em Psicologia Social, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

 

 


RESUMO

Os traços de personalidade e estilos de atribuição foram aqui examinados para detectar uma possível interação entre eles e as habilidades sociais em adolescentes. A amostra foi restrita a adolescentes que recebem assistência de uma Obra Social que atende a uma comunidade constituída de aproximadamente 800 famílias no Estado do Rio de Janeiro. Participaram da pesquisa 20 adolescentes do sexo masculino e 40 adolescentes do sexo feminino, cuja idade variava de 16 a 19 anos e a educação formal do ensino fundamental ao fim do ensino médio. Quatro instrumentos foram usados: Escala de Personalidade Comrey, Teste de Atribuição Causal, Escala do Lócus de Controle e o Inventário de Habilidades Sociais. Resultados Preliminares mostraram um equilíbrio entre introversão e extroversão quando comparados por sexo. © Ciências & Cognição 2006; Vol. 07: 14-26.

Palavras-chave: introversão; extroversão; estilos de atribuição; habilidades sociais; adolescência.


ABSTRACT

Personality traits and attribution styles were examined to detect their possible interactions with adolescent's social abilities. The sample was restricted to adolescents receiving assistance from a Private Institution dedicated to Social Care that took care of a 800 families community in Rio de Janeiro State. There were 20 male adolescents and 40 female adolescents, whose age varied from 16 to 19 and formal education from elementary to high school level. Four instruments were used: the Comrey Personality Scale, the Causal Attribution Test, the Control Scale and the Social Abilities Inventory. Preliminary results show an equilibrium on intraversion and extroversion when compared by sex. © Ciências & Cognição 2006; Vol. 07: 14-26.

Keywords: introversion; extroversion; attribution styles; social abilities; adolescence.


 

 

Introdução

Este artigo se propõe a discutir possíveis relações entre características psicológicas em adolescentes e suas repercussões em condutas e comportamentos sociais, mais diretamente relacionados aos fatores que são atribuídos às habilidades sociais. Nesta oportunidade será enfatizada, sobretudo a parte teórica da pesquisa já que seus resultados ainda estão em fase de análise. No próximo texto a ser divulgado apresentaremos a análise e discussão dos resultados obtidos em sua aplicação empírica.

A instituição escolhida funciona desde os anos 60 assistindo a famílias menos favorecidas no bairro de Mallet, na cidade do Rio de Janeiro. O público alvo desta pesquisa foi estabelecido a partir de minha experiência profissional e pessoal que remonta aproximadamente dezoito anos de trabalho como psicóloga junto aos adolescentes dessa comunidade. Partindo-se da crença de que o profissional que lida com a saúde mental e as populações ora referidas buscam de forma conjunta o desenvolvimento sustentado, é necessário que se deva reconhecer seus limites e suas forças para o enfrentamento dos desafios do cotidiano.

As pesquisas e a literatura revelam uma reiterada preocupação na busca da compreensão e solução de impasses, conflitos, situações adversas, estressores diários, entre outros os quais comprometem o bem-estar de pessoas, famílias e coletividades humanas. Quando na prática nos deparamos com uma realidade tão diversa de nossa experiência pessoal e profissional tida na academia, percebemos que algo havia a ser explorado e que ao saber obtido na universidade e nos estágios, enfim na vida acadêmica, deveriam fazer parte outros saberes que se fazem na convivência com populações de realidades tão diversas e tão próximas que vez por outra nos propomos a auxiliar.

Quando iniciei meu trabalho na Obra Social em questão estava repleta de crenças que em acordo com todo o meu aprendizado deveriam de algum modo auxiliar as pessoas ali inscritas. E, em realidade, o objetivo foi cumprido mutuamente. Lembro-me de uma ocasião quando já exercia a função de professora universitária, houve um projeto interdisciplinar que envolveu as disciplinas de testes psicológicos e pesquisa (a qual lecionava). Em um dos grupos de alunos houve o intento de fazer uma comparação entre possíveis respostas agressivas em crianças utilizando-se na época de testes projetivos adaptados a clientela infantil com objetivo de investigar algum tipo de diferença entre grupos de crianças desfavorecias financeiramente (dependentes de assistidos da Obra Social) e de um colégio que atendia a crianças de classe média alta, em um bairro da Zona Sul do Estado do Rio de Janeiro. Os resultados indicaram uma tendência menor a reações agressivas e violentas por parte das crianças atendidas pela Obra Social. Mas como? Partindo-se da crença de que vivências cotidianas podem levar a uma banalização de situações por mais dramáticas que estas se apresentem, pude observar a experiência de uma série de pessoas que com vivências tão dramáticas de vida aprenderam a lidar com a dor e estabelecer uma ordem interna que lhes confere um saber não estabelecido nas convenções por nós utilizadas e que de algum modo estabelece uma forma diferenciada de observar os fenômenos da vida comum.

Objetivando desenvolver ações voltadas para uma população de adolescentes que possam estar associados a algum tipo de projeto ou atendimento social, nos propomos a investigar a influência de características psicológicas sobre habilidades sociais. A temática ora referida visa compreender de modo mais específico como a personalidade, o estilo atribucional e o lócus de controle interfeririam nas habilidades sociais dos adolescentes. Este é um recorte inicial, mas que julgo poder nos oferecer instrumentos iniciais para o trabalho junto a comunidades que partilhem deste perfil.

 

Metodologia

Amostra

O grupo foi constituído por 60 adolescentes assistidos ou vinculados a algum dos projetos da Obra Social. Dentre estes, 20 são do sexo masculino e 40 do sexo feminino, com idade variando entre 16 e 19 anos e nível de escolaridade variando entre o ensino elementar e o ensino médio.

A Obra Social fundada oficialmente em 1961, é uma entidade filantrópica e tem como objetivo a promoção social, educacional e a saúde. Esse núcleo de apoio coordena uma série de serviços de ordem religiosa, direcionados ao auxílio ao próximo. Seu público alvo é o de pessoas pertencentes à população de rua nas imediações de suas instalações, a pessoas que residem no bairro Mallet ou proximidades e possuam renda de até três salários mínimos. Alguns são portadores de deficiência física ou mental. Todos, porém, devem possuir interesse no crescimento educacional ou na melhoria de sua qualificação seja ao nível profissional ou técnico ou ao nível pessoal.

Instrumentos

Os instrumentos que estão sendo utilizados são quatro, os quais serão apresentados a seguir:

  1. O primeiro instrumento utilizado foi a Escala de Personalidade Comrey. Este instrumento foi adaptado à realidade brasileira por Aroldo Rodrigues (1973, citado por Costa) e revisado por Flávio Rodrigues Costa (2003). O teste consta de 100 itens de perguntas; as respostas por item variam em 7 pontos, do nunca (1) ao Sempre (7) e é constituído por dez escalas.
    1. Escala V- Validade: um escore de 8 é o bruto esperado, os escores acima de 32 devem ser depurados.
    2. Escala R- Tendenciosidade: tem Alpha de Cronbach igual a 0,708, quanto mais elevado o escore, maior foi a tendência do sujeito em responder as afirmações de forma socialmente desejável, com distorções sistemáticas, buscando a descrição de uma personalidade utópica.
    3. Escala T- Confiança X Atitude defensiva: tem Alpha de Cronbach igual a 0,589, escores altos indicam crença na honestidade e boas intenções de outras pessoas.
    4. Escala O- Ordem X Falta de compulsão: tem Alpha de Cronbach igual a 0,604, escores altos são característicos de pessoas cuidadosas e organizadas.
    5. Escala C- Conformidade social X Rebeldia: tem Alpha de Cronbach igual a 0,327, pessoas com escores altos aceitam a sociedade como ela é.
    6. Escala A- Atividade X Falta de energia: tem Alpha de Cronbach igual a 0,685, pessoas com escores altos têm muita energia e resistência, são perfeccionistas na realização de suas tarefas.
    7. Escala S- Estabilidade X Instabilidade emocional: tem Alpha de Cronbach igual a 0,755, escores elevados implicam em uma atitude otimista, tranqüila, confiante e bem humorada.
    8. Escala E- Extroversão X Introversão: tem Alpha de Cronbach igual a 0,839, escores elevados são característicos de pessoas que interagem facilmente com as outras, buscam novas amizades, não se intimidam com o aparecimento público e sentem-se a vontade diante de pessoas estranhas.
    9. Escala M- Masculinidade x Femini-lidade: tem Alpha de Cronbach igual a 0,685, pessoas com escores altos apresentam estereótipo social de masculi-nidade.
    10. Escala P- Empatia X Egocentrismo: tem Alpha de Cronbach igual a 0,735, escores elevados são típicos de pessoas que orientam sua vida com interesse de devoção na ajuda do outro.
    A estrutura de investigação deste inventário pressupõe que por medir características subjacentes ao comporta-mento, poderia identificar distinções entre pessoas extrovertidas e introvertidas, o que atende à verificação de nossa primeira variável investigada.
  2. O segundo instrumento foi testado e traduzido por Rodrigues (1995), da escala original de Weiner (1971), para verificar sua clareza e adaptabilidade à cultura brasileira. Uma relação entre o médico e uma enfermeira foi usada nas seis bases de poder (situações de poder). O médico influencia, com sucesso a enfermeira a ministrar a um paciente um remédio ainda em avaliação, com conseqüências boas (ele fica curado), e em conseqüências ruins (ele tem de ir para a UTI e acaba falecendo). Em cada uma das seis descrições será utilizada uma das seis bases de poder: ameaça de perda de emprego, auxílio para a promoção, o companheirismo no trabalho, o direito à obediência, o maior conhecimento do assunto e explicações detalhadas sobre o remédio. Para cada uma das bases foram feitas três perguntas. A primeira se refere à controlabilidade, a segunda à responsabilidade pessoal e a terceira à internalidade. Estas foram respondidas numa escala de 5 pontos, com os valores mais altos representando maior influência da dimensão estudada.
  3. O terceiro instrumento é a escala de Hanna Levenson (1974). Este instrumento foi adaptado à realidade brasileira por Dela Coleta (1979). A escala contém 24 itens, que avaliam três dimensões do lócus de controle. Existem cinco níveis de resposta que variam do concordo total-mente ao discordo totalmente; portanto, o participante pode obter em cada escala um escore variando entre 8 e 40. Cada participante, então, obterá três escores: um em cada subescala. Quanto mais alto o escore na escala C (itens 2,6,7,10,12,14,16,24), maior a indicação de que o participante explica os acontecimentos devido ao acaso, azar ou sorte. Esta escala oteve o Alpha de Cronbach igual a 0,50. Quanto mais alto o escore na escala P (itens 3,8,11,13,17, 20,22), maior a indicação de que o participante supõe que pessoas poderosas têm o controle de sua vida, esta escala teve Alpha de Cronbach igual a 0,62. E quanto mais alto o escore na escala I ( itens 1,4,5,9,18,19,21,23), mais os partici-pantes supõem que eles próprios têm o controle de sua vida, esta escala obteve Alpha de Cronbach igual a 0,63. Portanto, altos escores em cada uma das escalas são interpretados como indicativos de alta expectativa de controle pela fonte correspondente, porém, escores baixos refletem a tendência em não acreditar naquela fonte controladora e não indicam que os participantes percebem o controle vindo de outra fonte. Isto é, se o participante obtém 8 na escala I (interna-lidade), este é interpretado como que não se acreditasse como controlador dos acontecimentos, por outro lado, seria errôneo afirmar, que ele percebe este controle externamente a ele.
  4. O quarto e último instrumento é o Inventário de Habilidades Sociais. Este é um instrumento de auto-relato para avalia-ção das dimensões situacional e comporta-mental molar das habilidades sociais. O IHS compõe-se de 38 itens, cada um destes descrevendo uma relação inter-pessoal e uma possível reação àquela situação. Nas instruções, solicita-se que o respondente estime a freqüência com que reage da forma sugerida em cada um dos itens, considerando um total de vezes em que se encontrou na situação e anotando sua resposta numa escala tipo Likert, com cinco pontos, variando de nunca ou raramente a sempre ou quase sempre. Parte dos itens é redigida de modo que uma freqüência mais elevada na reação indica défict na habilidade social pertinente àquela situação. Nestes itens (2,8,9,13,17,18,19,22,23,24,26,34,36 e 37), a pontuação é posteriormente invertida para a obtenção do escore. A segunda parte do IHS contém um cabeçalho para a caracterização do respondente e um quadro para a anotação das respostas. Na análise fatorial alfa do IHS foram retidos seis fatores, embora o sexto não inclua itens com carga fatorial relevante. O IHS obteve Alpha de Cronbach total de 0,75. O fator 1 (itens 7,12,11,16,5,20,15,14,21,1 e 29) denomi-nado enfrentamento com o risco se refere ao conceito de assertividade, obteve Alpha de Cronbach igual a 0,9650; o fator 2 (itens 28,35,6,3,10,30 e 8) é denomi-nado auto-afirmação na expressão do afeto positivo, retratam demandas de expressão de afeto positivo e de afirmação da auto-estima, obteve Alpha de Cronbach igual a 0,8673; o fator 3 (itens 36,17,24,19,13,37 e 22) é denominado conversação e desenvoltura social, retra-tam situações sociais neutras de aproxi-mação com risco mínimo de reação indesejável, obteve Alpha de Cronbach igual a 0,8187; o fator 4 (itens 9,26 e 23) é a auto-exposição a desconhecidos ou a situações novas, inclui itens que envolvem a abordagem de pessoas desconhecidas, obteve Alpha de Cronbach igual a 0,7525; e, finalmente, o fator 5 (itens 18,31 e 38) é denominado autocontrole da agressividade a situações aversivas, reúne itens que supõem reação a estimulação aversiva do interlocutor, demandando controle da raiva e da agressividade, obteve Alpha de Cronbach igual a 0,7413. Os itens 2,4,25,27,32,33 e 34 não entraram nos fatores.

Procedimentos

Os testes estão sendo aplicados na seqüência da descrição, de acordo com suas normas específicas. Estão sendo anotados os dados pessoais dos participantes que funcionarão como variáveis de seleção (sexo, idade e escolaridade). Também está sendo assinado o termo de consentimento livre e esclarecido pelos adolescentes e por seus responsáveis. Os locais de aplicação estão sendo as salas disponíveis pertencentes às instalações da Obra Social.

 

Reflexão teórica

Eysenck (1971) definiu personalidade como sendo um somatório do que o individuo se mostra diante do outro (não necessariamente o que é), além de ser um somatório de qualidades pessoais. Dentro desta perspectiva então estão combinados fatores pessoais internos e externos que, somados, implicariam em modos de conduta observáveis. Por outro lado, atos e disposições da personalidade estariam organizados conforme uma hierarquia quanto à abrangência e nível de importância, onde no ápice da hierarquia estariam dispostos os tipos, que seriam definidos como um conjunto de traços que estariam de algum modo sistematizados em torno de uma estrutura. O traço por sua vez, abarcaria as tendências individuais para a execução de ações.

Desse modo, é possível afirmar que, ser extrovertido ou introvertido são características estáveis da personalidade, que podem apontar para dimensões individuais quanto à sociabilidade, atividade e tempera-mento. Eysenck (1971) afirma, em sua descrição teórica, que os extrovertidos e os introvertidos têm os mesmos traços, sendo que estes irão variar em relação à sua intensidade. Quanto às características os extrovertidos são descritos como ativos, sociáveis e expansivos; enquanto que os introvertidos são reservados e pensativos.

Em suma, esta teoria desenvolve a concepção de que através de um processo organizado de coleta de dados seria possível identificar dimensões da personalidade. Estes processos seriam oriundos de uma base genética determinada por diferenças no funcionamento do sistema nervoso. Entre-tanto, esta teoria não é exclusivamente biológica, desde que intenta demonstrar como estruturas psicológicas diferentes, influenciam no processo de socialização dos indivíduos.

Partindo-se da premissa que introvertidos e extrovertidos possuem os mesmos traços, porém possuem escores diferenciados em cada componente, pressu-põe-se que esta diferença se desdobraria em diferentes formas no agir das pessoas, tendo em conseqüência disto formas diferenciadas de vivências intra e interpessoais. Tais desdobramentos se refletem em pesquisas que buscam relacionar a dimensão extroversão - introversão por suas características básicas através de fatores de personalidade.

Entendendo que a dimensão extro-versão-introversão nos orientará na investigação da influência de fatores da personalidade sobre os estilos de atribuir, o lócus de controle e as habilidades sociais, torna-se necessário então maiores esclareci-mentos sobre os fatores de personalidade de Hans Eysenck (1991), quando este descreve a importância dada às categorias gerais de descrição do tipo. Para Eysenck (idem), os fatores de personalidade mais importantes são: extroversão x introversão: caracterizado por fatores, tais como autoconsciência, auto-afirmação, espontaneidade social, impulsivi-dade x problemática de inferioridade e escrúpulo, sensibilidade e impedimento social; neuroticismo; que é caracterizado pelos fatores: estabilidade emocional, perse-verança e orientação; e psicotismo, diferen-ciado clinicamente pelo diagnóstico, da normalidade na base desta dimensão, avalia-se o indivíduo quanto à sua capacidade de concentração e adequação à realidade em suas pretensões, entre outras.

O estudo teórico, conjugado à possibilidade de análise de medidas e comportamentos observáveis incrementa a importância da investigação sobre disposições mais estáveis da personalidade estudadas ao nível consciente do indivíduo, que definem como este se ajustaria às demandas externas, principalmente no que tange à tomada de decisões. Na Escandinávia, Silvera, Moe e Iversen (2000), desenvolveram uma pesquisa empírica buscando uma conexão entre as teorias implícitas da personalidade e o processo atribucional, conseguindo desenvol-ver correspondências significativas entre estes argumentos teóricos. Nesta última, o referencial teórico principal é Heider (1970), o que servirá de suporte para que também concentremos neste autor um dos eixos principais da análise do binômio extroversão x introversão e atribuição de causalidade, implicando, portanto na avaliação do lócus de controle e no estudo das habilidades sociais. Ainda segundo esta pesquisa, verificou-se a influência de certos aspectos da personalidade e estilo atribucional de diferentes especialistas quanto à sua reação frente à avaliação de diferentes dissertações sobre a questão do aborto (direito de decisão x defesa pró-vida).

No Brasil, houve algumas tentativas de relacionar a dimensão da personalidade extroversão x introversão, ao estudo das cognições sociais e conseqüências comporta-mentais correlatas, tais como hierarquia de valores, dogmatismo e vulnerabilidade ao estresse desenvolvido por Thomas (1985) e Farias (1984). As duas pesquisas citadas, foram base para a manutenção da variável extroversão-introversão como uma de nossas variáveis independentes, por indicar uma busca entre esta e comportamentos sociais.

Tanto em sua argumentação quanto em seus estudos empíricos, a teoria de Eysenck atende a nossas expectativas no que tange ao estudo da dimensão extroversão-introversão. O teste a ser empregado, levan-do-se em conta os fatores de personalidade ora estudados, será o Inventário de Personalidade Comrey (Costa 2003), instru-mento mais apropriado e disponível, tanto por sua aprovação pelo Conselho Federal de Psicologia, quanto por sua análise da dimensão E-I. Em última análise, fatores de personalidade nos auxiliarão como ferramenta metodológica de investigação para o aprofun-damento das relações entre características da dimensão extroversão-introversão e compor-tamentos e atitudes sociais.

Quanto à cognição social, como citamos anteriormente, passaremos ao estudo dos estilos atribucionais destacando sua significação para o entendimento das relações aqui ponderadas. A análise das atribuições sociais iniciou-se com os estudos de Fritz Heider (1970), em seu livro sobre relações interpessoais. Mesmo tendo como tema à análise ingênua da ação, o autor não se furta a oferecer bases sólidas para pesquisas científicas posteriormente realizadas.

A vida social reflete em impacto cotidiano à vida pessoal pelo simples fato de desenvolver a interação do homem com seus pares, com o ambiente que o cerca e consigo mesmo. Estas interações necessariamente devem ser dotadas de sentido para que a nossa interpretação do mundo se realize de modo coerente.

Na pesquisa sobre a atribuição de causalidade dá-se ênfase à linguagem, que é utilizada como meio para a análise das relações interpessoais. Os estudos do sentido da palavra influiriam na interpretação dos fenômenos psicológicos. Há, deste modo, uma diferenciação entre os verbos como pontos iniciais da inferência do sentido enquanto transitivo ou qualitativo iniciando deste modo a análise da causalidade pessoal e impessoal. Nossa tarefa se constituirá, portanto, em estudar as idéias as idéias deste autor, com prioridade para os tópicos refe-rentes à causalidade pessoal e impessoal, destacando, por conseguinte as intenções. Em seqüência, apresentaremos as idéias de Rotter (1966) sobre o lócus de controle, revendo algumas argumentações deste autor quanto à percepção dos eventos no estudo da distinção de suas origens. Recorrer a estes autores viabilizará a vinculação de temas, como por exemplo, a responsabilidade pessoal.

Segundo Heider (1970: 93), ocorre uma diferenciação da fonte das causas, enquanto pessoais ou impessoais. A distinção das fontes determinaria nosso entendimento de mundo e de ser no mundo, bem como nossas reações a este. Esta compreensão é necessária, devendo ser dotada de sentido e de algumas condições estáveis de manutenção. Na análise dos níveis de consciência, pode-se afirmar que a consciência varia de acordo com a interpretação do fato e de sua avaliação.

Assim, como o autor supracitado, temos grande interesse no estudo da intenção como fator determinante das ações empreendidas pelas pessoas; pode-se afirmar, por exemplo, que na avaliação da causalidade pessoal o esforço em alcançar uma meta é mais importante que uma habilidade ou capacidade do indivíduo. Devido aos argu-mentos apresentados, é possível supor que o modo de atribuir e a responsabilidade pessoal sofrem variações de acordo com seis fatores principais; a influência exercida pelo ambiente; a dificuldade da tarefa; o acaso; a capacidade do indivíduo; a intenção e o esforço, que poderíamos considerar como mediadores entre a atribuição de causalidade e a responsabilidade pessoal.

Jones e colaboradores (1972), distin-guem diferenças entre as atribuições causais, diferenciando entre aqueles que denominam observadores (sujeitos apenas presentes nos eventos) e atores (aqueles que realizam as ações). Segundo os autores, os atores tendem a fazer atribuições situacionais ou externas, enquanto que os observadores tendem a fazer atribuições disposicionais ou internas. Neste viés, a Teoria da Atribuição de Causalidade se assemelha com a do Lócus de Controle (Rotter), que traduz a idéia do controle da causa do evento como interno ou externo. Weiner e colaboradores (1972), propõem um esquema das causas determinantes dos comportamentos, combi-nando variáveis de lócus de controle (I-E) e o grau de estabilidade da causa (instável-estável).

Pesquisas relacionam variáveis como a cultura e a diferença de atribuição de um desempenho a habilidade ou esforço (Rodrigues et al., 1994) e atribuição e influência social (D'Amorim e Assmar, 1997). Neste caso, há uma busca de indicações de diferenciação do tipo de causalidade interna em diferentes culturas, assim como da internalidade e da contro-labilidade.

Os adolescentes funcionam como grupo corporativo, que se destaca pela solidariedade intra-grupo e pela fantasia de onipotência. A busca de identidade e autonomia reforçam o sentimento de busca de liberdade e poder. Nos trabalhos desenvol-vidos em nossos grupos é comum perceber que para eles não existe perigo, eles estariam acima de qualquer contingência. Embora vivenciando a violência, as chacinas e a aproximação do tráfico de drogas, é difícil abster-se da ida aos bailes ou voltar sozinho para casa durante a madrugada. O sexo não é seguro, embora haja distribuição e esclare-cimento do uso de preservativos e métodos anticonceptivos.

Com o objetivo de desenvolver conjeturas acerca de atribuições causais em adolescentes, torna-se necessário estudar a causalidade pessoal e impessoal e suas possíveis correlações com a internalidade e a controlabilidade. Além destes, estaremos também estudando questões sobre o poder e influências exercidas sobre os adolescentes. Esta investigação, relativa a habilidades sociais deve proporcionar explicações importantes para a compreensão da profun-didade do efeito de persuasão, de recompensas e punições, bem como o que o adolescente pode, deve ou é obrigado a realizar (explicação de atos assertivos ou agressivos, por exemplo).

O conceito do Locus de Controle, desenvolvido por Rotter (1966), se refere a um aprofundamento do estudo da causalidade pessoal e impessoal. Tem como orientação original o estudo das percepções acerca das fontes de origem e controle das conseqüências dos fatos que são experimentados pelos indivíduos (Dela Coleta, 2004). A percepção de eventos como controlados por nós ou por fatores externos, se subdividem no estudo metodológico. Hana Levenson (1974) cons-truiu uma escala relacionando três dimensões deste conceito (uma interna e duas externas). A dimensão externa se refere à percepção do controle exercido por pessoas poderosas (externo - outros poderosos) e pelo acaso, sorte ou azar, destino (externo - acaso ou autênticos).

No caso de adolescentes interessa-nos relacionar possíveis avaliações destas percepções, identificando o locus de controle, principalmente o externo, em suas possíveis reações comportamentais. Estas descrições podem ser comparadas à literatura já existente, principalmente às questões relacionadas às figuras de poder, tão destacadas nesta fase do desenvolvimento humano. Segundo Rotter e Hochreich (1980: 71), uma das hipóteses da teoria da aprendizagem social é a de que "a unidade de investigação no estudo da personalidade é a interação do indivíduo e seu meio significativo". Portanto, segundo os autores, a personalidade não pode ser identificada segundo fatores, traços ou características estanques, que o indivíduo traria em si de situação em situação, mas sim consistiria na potencialidade para responder aos eventos. Embora Rotter não concorde com teorias que classificam a personalidade, este autor mostra-se propenso a relacionar a perso-nalidade com os eventos e sua significação. Logo, é viável inferir que o estudo da origem e o controle dos eventos possam ter uma significativa relação com o modo pelo qual nos relacionamos com estes últimos. Neste sentido, pretendemos contri-buir para uma possível relação entre o estudo e pesquisa sobre o lócus de controle e as habilidades e competências sociais.

O convívio social satisfatório e que promova relações interpessoais produtivas, são desejáveis em todas as oportunidades e situações. Este objetivo é buscado nas relações familiares, de trabalho e na escola, entre outros. As situações com as quais o indivíduo se depara, nos diferentes contextos sociais podem significar desafios cotidianos em sua vida. O conforto de conhecer suas reais possibilidades em relacionamentos, bem como saber da viabilidade em ser treinado para um melhor nível de convivência interpessoal, tem sido um alento para um grande número de pessoas.

Caballo (1993) realizou pesquisas no âmbito dos componentes das habilidades sociais. Segundo o autor existem compo-nentes de condutas que podem ser identificados e mensurados. Poderíamos citar três divisões dos componentes, que são:

  1. de conduta que se subdividem em não verbais, como os gestos e expressões faciais; componentes paralingüísticos, no volume e no tom da voz; componentes verbais, como o conteúdo geral de uma verbalização e componentes mistos mais gerais, como o afeto ou o saber escutar;
  2. componentes cognitivos, que consideram as percepções e avaliações do indivíduo sobre os acontecimentos, situações e os estímulos que envolvem sua concepção de mundo e de si mesmo, neste caso seriam considerados fatores importantes à idade, o sexo e a cultura dos indivíduos;
  3. e os componentes fisiológicos, que se referem aos batimentos cardíacos, fluxo sangüíneo e pressão arterial entre outros. Estes seriam repertórios que, aglutinados e investigados de acordo com as situações relacionais específicas, poderiam identi-ficar inabilidade ou habilidade para este ou aquele tipo de situação.

Temos então que o comportamento social é uma conjugação de dados inatos e processos de socialização, que ocorrem a partir do conjunto de pensamentos, afetos, ações e atitudes em direção a um grupo social, outro indivíduo ou ao próprio sujeito. É relevante mencionar que cada vez mais os autores que pesquisam o tema discutem a existência de diversos problemas de investigação. De outro lado, há dificuldade em definir este conceito, principalmente pela diversidade dos componentes a serem tratados.

A pesquisa sobre inabilidades e suas possíveis modificações através de treinos específicos, implica em estudos que descrevam os comportamentos socialmente inadequados e suas repercussões na vida de relação dos indivíduos. No intuito de verificar esquemas de ação identificados como hábeis ou inábeis, bem como comportamentos sociais competentes e/ou incompetentes, nós os referiremos em suas partes constituintes. A utilidade de tal discriminação se dará pela possibilidade de compreender estes constituintes e propor modificações acei-táveis.

Um dos componentes das habilidades sociais, que também é considerado por alguns autores como competência social, é a assertividade. A pessoa assertiva é aquela que apresenta os componentes necessários e suficientes para um comportamento social adequado e conseqüentemente competente. Segundo Del Prette e Del Prette (2001: 75):

"a assertividade é usualmente aplicada às situações que envolvem algum risco de conseqüências negativas, caracteriza um tipo de enfrentamento que requer o autocontrole dos sentimentos negativos despertados pela ação do outro ou a expressão apropriada desses sentimentos."

Portanto, a assertividade estaria sub-dividida em subclasses de habilidades que podem ser avaliadas mediante teste específico e treinadas em acordo com o participante da avaliação.

A aprendizagem é um componente importante para o desenvolvimento de comportamentos assertivos.Se não observados ou reforçados os comportamentos desta ordem ocorrerá menor probabilidade de evocação deste tipo de comportamento. Portanto, o comportamento agressivo envolve inadequação da expressão emocional, no relacionamento entre indivíduos ou grupos. A pré-disposição a este comportamento seria resultante de fatores sociais, emocionais e cognitivos. O comportamento agressivo pode ser ou não intencional, este pode ocorrer quando há um ataque externo como uma resposta. Tal reação é fruto da aprendizagem e ainda se o indivíduo não tem a percepção da importância de suas ações ou ainda se este não aprendeu as conseqüências das mesmas.

Estas considerações estão sendo importantes, pois nossa amostra se constituiu de adolescentes que têm uma aprendizagem social baseada em experiências culturalmente limitadas e frustrantes. Além disso, o fato de estar na adolescência já implica em situações de conflito nas relações interpessoais e no isolamento social. As habilidades empáticas seriam úteis, no que diz respeito ao colocar-se no lugar do outro, função esta que deveria estar se desenvolvendo mesmo durante este período. As comunicações empáticas se refletiriam na validação do sentimento do outro, no alívio das tensões e ansiedades, na criação e manutenção dos vínculos, no fomento da auto-estima, bem como na iniciação e estreitamento da rede de comunicações e na viabilidade da busca e solução compartilhada de conflitos e problemas.

A adolescência é tida como período específico de ratificação de características individuais, considerando inclusive os traços de personalidade, traços estes que terão função importante para o delineamento e compreensão da dimensão extroversão - introversão, como critério de avaliação e classificação de indivíduos. O período de latência como é nomeado por psicanalistas, refere-se a uma fase intermediária entre a infância e a fase adulta, onde se definiria a identidade, mas que é em verdade, um ajuste entre características internas e externas das relações intra e interpessoais, capacitando o indivíduo a exercer a liberdade e a responsabilidade, inerentes ao crescimento físico, psíquico e social.

Fase descrita por alguns como de conflito, é uma das mais ricas e complexas a serem estudadas, desde a influência das crenças, das relações parentais, da apren-dizagem social, até o processo efetivo de socialização e seus desvios, como no caso da delinqüência e do abuso do uso do álcool e das drogas. Nesta etapa do crescimento humano, o indivíduo confirma sua identidade no seu processo de individuação e no estabelecimento de regras internas de conduta.

O adolescente muitas vezes é chamado à responsabilidade, mas deve-se considerar que a despeito de dispor de um corpo desenvolvido o seu psiquismo encontra-se em desenvolvimento. Informações teóricas sobre o assunto, que relacionam o romantismo e a auto-estima em jovens adolescentes grávidas, foram apresentados por Medora e colabora-dores (1995). Além disso, Jorge e colabora-dores (2002), em seu capítulo sobre crianças e adolescentes do Brasil no final do século XX, afirmam que a gravidez na adolescência se agravou a ponto de gerar preocupações e pesquisas mais aprofundadas a partir da década de 80. A AIDS também é atualmente uma grande preocupação entre os jovens. Segundo os autores (Jorge et al., 2002: 66):

"A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) teve seu primeiro caso diagnosticado em 1982 no Brasil, tendo sido notificado, até 2000, um total de 203.353 casos. Destes, 32.849 (16,1%) referem-se às crianças, aos adolescentes e aos jovens, respectivamente, 3,3%, 2,4% e 12,5% do total."

Portanto, o crescimento físico e o desenvolvimento do psiquismo podem não ocorrer simultaneamente, nem tampouco são garantias de maturidade e responsabilidade.

Marques e Van Horn (2002), estudam sobre as relações interpessoais em pré-adolescentes, adolescentes e universitários brasileiros dentro de uma perspectiva trans-cultural. Os resultados pretendem avaliar os tipos de relações específicas relativas ao apoio, conflito, poder relativo e punição, comparando uma população brasileira com a de americanos. Estes partiram da premissa da existência de aspectos fundamentais destes relacionamentos que seriam semelhantes nas duas culturas. Em suas conclusões, dentre as duas culturas estudadas a relação que oferece maior apoio para os adolescentes são as existentes entre o adolescente ou pré-adoles-cente e seus pais, irmãos e amigos. Apesar disto, o relacionamento entre irmãos, é tido como fonte de conflito e os pais são vistos como fonte de castigo e punição. Também foram encontradas diferenças entre brasileiros e americanos, por exemplo, no que diz respeito ao suporte de amigos e família de acordo com a variação do aumento da idade.

Nosso interesse envolveu jovens que pertencem a uma Obra Social localizada no Estado do Rio de Janeiro, para os quais pretende-se desenvolver intervenções mais dirigidas e adequadas. Os adolescentes da Obra Social são excluídos? A que tipo de exclusão estaríamos nos reportando? Aceitando que estes jovens estejam inseridos em uma sociedade que acirra as diferenças de oportunidades relativas as necessidades básicas de todo ser humano, concebe-se um contexto de intricadas questões relativas as políticas públicas e a sociedade civil que relativiza o binômio exclusão - inclusão. Entretanto, pertencer a uma população desfavorecida não é um fator determinante, mas tão somente um favorecimento para a vulnerabilidade a situações de marginalização e conflito com a lei. Em sua pesquisa sobre a delinqüência infanto-juvenil como uma das formas de solução da privação emocional, Sá (2001), apresenta questionamentos que se referem a três tipos de privação: a privação emocional por relações insuficientes, a privação emocional por relações distorcidas e a privação emocional por relações descon-tínuas.

O autor relata a partir de suas experiências com detentos (adultos), as conseqüências destes tipos de privação, levando-se em conta a maturação da vida psíquica, o desenvolvimento e a idade que ocorreu a privação. Segundo Sá (2001: 15):

"O desenvolvimento e a maturação da vida psíquica se dão na medida da capacidade do indivíduo se desprender do manancial imediato de sensações, passando a representá-las e a elaborá-las internamente, bem como a elaborar as respostas perante elas."

Logo, a delinqüência pode vir a se tornar uma via de solução para o que se determina como privação emocional.

Este estudo e outras pesquisas sobre adolescentes tratam de experiências e de suas conseqüências para o futuro de suas relações intra e interpessoais. O impacto de diferentes tipos de privação, experiências traumáticas, o abuso e a violência dentro da família, atuam como fatores relacionados a um ciclo de dor que ocorre em nossas células sociais. Crianças e adolescentes, em estágios importantes de seu desenvolvimento, tornam-se vítimas muitas vezes de adultos também vitimizados no passado.

Deste modo, quando nos referirmos aos adolescentes da Obra Social, como adolescentes em situação de risco social, estaremos associando a fase do desenvolvi-mento da vida psíquica à fragilidade de lares social e afetivamente fragilizados,em virtude sobretudo da violência. Estes fatores instauram relações cada vez mais difíceis entre pais e filhos, educandos e educadores, estado e sociedade.

 

Conclusões

O desenvolvimento de uma pesquisa científica pressupõe a construção de um objeto possível de ser investigado e relevante o suficiente para que se despenda o investimento necessário para a resolução de questionamentos. Tais soluções devem implicar em contribuições para a comunidade científica, bem como para a vida prática.

Seguindo estas orientações, procurou-se em nossa pesquisa a relação entre uma característica estável da personalidade (extroversão-introversão), os estilos cogni-tivos em atribuir (atribuição de causalidade) e lócus de controle, em suas influências sobre as habilidades sociais, no caso específico dos adolescentes da Obra Social. Delineado o que se desejou conhecer, torna-se necessária à continuidade da identificação metodológica, da medida, dos procedimentos e da delimitação do grupo usado na pesquisa, a fim de que os resultados possam atender aos critérios supracitados.

Com os dados apurados estão sendo desenvolvidas as seguintes análises:

  1. Análise descritiva: verificada através do cálculo das medidas de tendência central: média, moda, mediana e desvio padrão. Neste caso, estaríamos verificando a média de adolescentes extrovertidos e a média de adolescentes introvertidos. Na atribuição de causalidade, a dispersão dos subgrupos:
    1. Recompensa/ referência/ informação/ coerção/ legitimidade e conhecimento;
    2. Controle, internalidade e responsabilidade. No lócus de controle as médias dos adolescentes que são internos, os que acreditam em outros poderosos ou na sorte. E nas habilidades sociais as médias dos fatores atribuídos a repertórios necessários a um comportamento social competente.
  2. Análise diferencial: verificada através do teste t student, com os grupos estabelecidos nas variáveis: sexo, idade e nível de escolaridade, que serão compara-das às variáveis independentes e a variável dependente.
  3. A análise correlacional está sendo verificada através da correlação linear de Pearson. Neste caso as variáveis independentes e a dependente serão comparadas nos seus valores totais e seus fatores:
    1. Dimensão de personalidade extro-versão/introversão (2);
    2. Atribuição de causalidade (2);
    3. Lócus de controle (3);
    4. Habilidades sociais (5).
  4. A análise das regressões está sendo feita através da regressão múltipla. Neste caso, a variável dependente é relacionada em seu valor total e por seus fatores, com as variáveis independentes, tendo como variáveis de seleção os dados pessoa.

Em suma, a partir da análise e de uma cuidadosa interpretação dos resultados, considerando os apontamentos teóricos e pesquisas já realizadas, nossa investigação versará sobre as questões que se seguem:

  1. Características pessoais podem influenciar nas habilidades sociais em adolescentes?
  2. Haveria distinção relevante entre o tipo extrovertido / introvertido e o tipo de habilidade social (fator mais freqüente) em adolescentes?
  3. O estilo de atribuir influenciaria nas habilidades sociais em adolescente? E finalmente,
  4. O lócus de controle (interno ou externo) implicaria em diferentes habilidades sociais.

Com estes e outros aspectos, como a cultura e o tipo de condição social vivida pela amostra da pesquisa será possível abordar questões importantes para o estudo da personalidade, cognições e habilidades sociais.

 

Referências Bibliográficas

Caballo, V. (1993). Manual de evalución y entrenamento de las habilidades sociales. Madrid: Siglo Veritimo.         [ Links ]

Costa, F.R. (2003). Escala de Personalidade Comrey: manual. São Paulo: Vetor Editora Psicopedagógica.         [ Links ]

D'Amorim, M.A. e Assmar, E. (1997). Atribuição e influência social em estudantes brasileiros. Psicologia: teoria e pesquisa, 13 (1), 137-141.         [ Links ]

Dela Coleta, J.A. (1982). Atribuição de causalidade. Rio de Janeiro: FGV.         [ Links ]

Dela Coleta, M. (2004). Lócus de Controle e Saúde. Em: M. Dela Coleta (Org.). (pp. 199-239). Modelos para a pesquisa e modificação de comportamentos de saúde. São Paulo: Cabral Editora Universitária.         [ Links ]

Del Prette,Z. e Del Prette, A. (2001). Psicologia nas relações interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Eysenk, H. (1971). Estúdio científico de la personalidad. Buenos Aires: Paidós.         [ Links ]

Eysenk. H. (1991). Dimentions of personality: 16, 5 or 3 ? Criteria for a tanomic paradigm. Personality Individual Diffrerences, 12 (8), 773-790.         [ Links ]

Farias, F.R. (1984). Uma contribuição ao estudo do stress : introversão - extroversão, dogmatismo e vulnerabilidade ao stress. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e personalidade. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.         [ Links ]

Heider, F. (1970). A psicologia das relações interpessoais. São Paulo: Pioneira.         [ Links ]

Jorge, M.H., Gotlieb, S. e Laurenti, R. (2002). Crianças, adolescentes e jovens no Brasil no fim do século. In: M. Wepstal (Org.). (pp 47-70). Violência e criança. São Paulo: Edusp.

Jones, E.E. ; Kanause, D.E. ; Nisbett, R.E.; Valins, S. e Weiner, B. (1972). Attribution : perceiving the causes of behavior. Morristown, N. J.: General Learning Press.         [ Links ]

Levenson, H. (1974). Activism and Powerful others : distinctions within the concept of internal - external control. J. Personal. Assess., 38, 377-383.         [ Links ]

Marques, J.C. e van Horn, K.R. (2002). Relações interpessoais em pré-adolescentes, adolescentes e universitários brasileiros: um estudo transcultural. Psico, 33 (2), 245-272.         [ Links ]

Medora, N.; Goldstein, A. e von der Helen, C. (1995). Romanticism and self-esteem among pregnant adolescents, adolescent mothers and non pregnant teens. J. Soc. Psychol., 134 (5), 581-591.         [ Links ]

Rodrigues, A.; D'Amorim, M.A.; Jablonski, P. e Martins, J. (1994). Atribuição de habilidade ou esforço a sucesso e a fracasso em duas culturas. Arq. Brás. Psicol., 46, 138-147.         [ Links ]

Rotter, J. (1966). Generalized expectancies for internal versus external control of reinforcement. Psychological Monographs: General and Applied. Washington, 80.         [ Links ]

Rotter, J. e Hochreich, D. (1980). Personalidade: Temas Psicológicos. (45). Rio de Janeiro: Interamericana.         [ Links ]

Sá, A. (2001). A delinqüência infanto-juvenil como uma das formas de solução da privação emocional. Psicologia: Teoria e Prática, 3, 13-21.         [ Links ]

Silvera, D.H.; Moe, S.K. e Iversen, P. (2000). The association between implicit theories of personality and attributional process. Scand. J. Psychol., 41, 107-111.         [ Links ]

Thomas, C.A. (1985). Dimensão introversão - extroversão e a hierarquia de valores: um estudo empírico baseado na escala de valores. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Psicologia Social, Universidade Gama Filho. Rio de Janeiro.         [ Links ]

Weiner, B. (1986). Attribucuinal Theory of Motivation and Emotion. New York : Springer-Verlag.         [ Links ]

Weiner, B.; Frieze, I.; Kukla, A.; Reed, L.; Rest, S. e Rosenbaum, R.M. (1972). Perceiving the causes of successes and failure. Em: E.E. Jones et al. (Eds). (pp. 146-198). Attribuition: perceiving the causes of behavior. Morristow: General Learning Press.         [ Links ]

 

 

Notas

A.C.G. Dantas. Endereço para Correspondência: Rua das Rosas, número 1118, Vila Valqueire, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail para correspondência: anacrisgda@uol.com.br.