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Ciências & Cognição

On-line version ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.9  Rio de Janeiro Nov. 2006

 

Artigo Científico

 

Cultura na/da rede: refletindo sobre os processos educativos sob a ótica bakhtiniana

 

Culture in/of the net: reflecting about the educational processes based on Bakhtin's perspective

 

 

Ângela Á. Correia Dias; Karina da Silva Moura

Faculdade de Educação, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Distrito Federal, Brasil

 

 


Resumo

Este artigo tem como objetivo refletir sobre o conceito de hipertexto como um espaço de interação, de trajetória das diferentes vozes culturais, buscando justapor diversos discursos, presentes nas diferentes linguagens, com a expectativa de contribuir para o estabelecimento de uma relação dialógica entre discursos e recursos, um possível encontro entre as manifestações culturais, estratégias pedagógicas e novas tecnologias de comunicação e informação para a promoção de novas formas de expressão e significação e para a constituição de diferentes identidades. O estudo é orientado pelo princípio dialógico proposto por Mikhail Bakhtin, o que amplia o conceito de hipertexto, instigando uma abordagem educacional dialógica dos meios tecnológicos. Assim, propomos desenvolver uma reflexão acerca dos meios de comunicação e informação na esfera cultural e educacional, buscando compreender a função social dos meios tecnológicos, promotores de uma prática educativa pautada na diversidade cultural, que vise diminuir a profunda separação entre cultura e educação. © Ciências & Cognição 2006; Vol. 09: xxx-xxx.

Palavras-chave: hipertexto; cultura; educação.


Abstract

This article has as objective contemplates on the hypertext concept as an interaction space, of path of the different cultural voices, looking for to juxtapose several speeches, presents in the different languages. The expectation is to contribute for the establishment of a dialogic relationship between speeches and resources, a possible encounter among the cultural manifestations, pedagogic strategies and communication technologies and information for the promotion in new expression ways and for the constitution of different identities. The study is guided by dialogical proposed by Mikhail Bakhtin, in which enlarges the hypertext concept, urging an approach dialog education of the technological ways. Thus, we intend to develop a reflection concerning the communication means and information in the cultural and education sphere, looking for to understand the social function of the technological ways, that seeks to reduce the deep separation between culture and education. © Ciências & Cognição 2006; Vol. 09: xxx-xxx.

Keywords: hypertext; culture; education.


 

 

Introdução

O mundo vem passando por constantes transformações, a dinâmica da cultura e os cenários da vida contemporânea têm sido apontados como um espaço em mutação, onde os estudos sobre os processos de comunicação tornam-se cada vez mais complexos com os avanços das tecnologias eletrônicas. Essas transformações são engendradas a partir das inúmeras possibilidades oferecidas pelos diferentes suportes tecnológicos que vêm mediatizando as relações sociais e modificando as formas de produção cultural. A expansão das tecnologias eletrônicas alterou nossa vida cotidiana, exigindo novas formas de percepção, marcadas pelas conexões tecnológicas que determinam diferentes formas de configuração do modo de comunicação humana, provocadas pelas novas linguagens proliferadas nesses novos espaços discursivos.

Os novos recursos tecnológicos de comunicação e informação são elementos importantes da organização da vida humana, pois já estão presentes em todas as suas esferas,

"esses meios de comunicação de massa fazem parte da paisagem social moderna. Eles penetram em todas as esferas da vida social, no meio urbano ou rural, na vida profissional, nas atividades religiosas, no lazer, na educação, na participação política. Tais meios de comunicação não só transmitem informações, não só apregoam mensagens. Eles também difundem maneiras de se comportar, propõem estilos de vida, modos de organizar a vida cotidiana, de arrumar a casa, de se vestir, maneiras de falar e de escrever, de sonhar, de sofrer, de pensar, de lutar, de amar." (Santos, 2005: 69)

Esses novos recursos eletrônicos modificam as maneiras de perceber e produzir o conhecimento, criando a necessidade de um novo leitor para o novo espaço discursivo que se apresenta promovido pelo hipertexto. Pensar sobre o hipertexto supõe contextualizá-lo no cenário da vida contemporânea, o discurso das novas formas de linguagens para ser compreendido reivindica um contexto que é composto por elementos culturais. Assim, se faz necessário refletir acerca das novas tecnologias como afirmação do humano, como uma possibilidade de expressão individual da subjetividade, como uma possibilidade de significação.

Nessa perspectiva, as novas tecnologias aplicadas à educação - como um instrumento cultural - visa contrapor o olhar unidimensional, marcado pela rigidez e hierarquia, sugerindo uma mudança de paradigma, uma transformação dos atuais modelos educacionais com a finalidade de favorecer a formação de cidadãos mais críticos e preparados para o mundo que se apresenta. Além disso, buscam promover uma educação mediatizada que surge com a articulação entre as instituições e os novos meios de comunicação, conforme as transformações que ocorrem incessantemente em nossa vida cotidiana, abrindo possibilidades para novos processos de aprendizagem em uma atitude de pensar a escola extra-muro.

O presente trabalho problematiza duas questões fundamentais para se discutir a promoção da concepção hipertextual no contexto educacional: a mútua influência entre as novas formas de comunicação e as representações culturais e; sua repercussão no processo ensino-aprendizagem. No desenvolvimento deste trabalho será adotado como referencial teórico-metodológico a teoria sobre dialogismo de Mikhail Bakhtin, na perspectiva de conceituar o hipertexto como um evento comunicacional calcado em conceitos como interatividade, intertextualidade, interdisciplinaridade, multilinearidade, heterogeneidade, dialogismo e polifonia e apontar a possibilidade de utilização do referencial bakhtiniano como subsídio para a elaboração e assunção de uma concepção pedagógica sócio-culturalista que contribua para a promoção de uma Educação Hipertextual - uma rede de experiências educacionais capaz de constituir salas de aula interativas e dinâmicas, propícias ao desenvolvimento de posturas e estratégias educativas pautadas na diversidade.

 

Diálogo das diferenças

É próprio do ser humano a capacidade de produzir a diferença, assim, todos os seres humanos possuem algo que os une e os torna comuns: a diferença. Respeitar e acolher a diversidade humana é uma atitude precípua para o estabelecimento de qualquer relação entre as pessoas. A diferença faz parte da unidade entre os homens e mulheres, de modo que as pessoas são diferentes umas das outras porque cada uma possui uma identidade distinta.

Ao se discutir a questão das diferentes identidades e seu reconhecimento, faz-se necessário estudar também as formas de linguagem, meio em que é traduzida toda a cultura e em que se dá a relação "eu" e o "outro", relação de sujeitos que se complementam, pois possuem como elemento articulador a linguagem. Todo ato de linguagem se traduz no drama constitutivo das identidades dos sujeitos (Brait, 1997). "É preciso pensar a linguagem humana como lugar de interação, de constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de sentidos." (Koch, 1992: 110) (grifo do autor) Para Bakhtin, a alteridade define o ser humano, é no diálogo das diferenças que a pessoa se descobre como sujeito (identidade) e descobre o outro com relação à raça, ao gênero, às deficiências, à idade, à cultura, etc.

Portanto, o discurso dos sujeitos vem do outro, é pronunciado em resposta ao outro e esse discurso é impregnado pelas múltiplas vozes, que tecem o discurso individual do sujeito, interpenetrando-se de maneira a fazer-se ouvir. Essa multiplicidade de vozes da vida social, cultural e ideológica que se entrechocam no discurso é caracterizada por Bakhtin como o fenômeno da polifonia1. As várias vozes dialogam em uma intertextualidade2 contínua, onde o discurso é perpassado por vozes de diferentes enunciados, com as quais o locutor se identifica ou não. "Polifonia é impasse. Ela é o reconhecimento do mistério do outro, o elogio radical da alteridade." (Pereira Neto, 1999: 48)

O sujeito é um ser eminentemente social, de forma que as manifestações culturais são elementos imprescindíveis para o seu processo de desenvolvimento, nesse sentido, a cultura integra o conjunto de ferramentas que mediam todas as nossas experiências relacionais. A dinâmica das identidades, que se desintegram e se reintegram, se tornam híbridas ou se mesclam umas nas outras, é construída por meio da convivência com as outras pessoas e do contexto em que esta convivência ocorre, de modo que o ser humano vai se conduzindo por entre as possibilidades e limitações oriundas dos contextos culturais em que vive (Luz, 2002). Portanto, as diversas identidades são construções que se fazem com atributos culturais, se caracterizam pelo conjunto de elementos culturais adquiridos pelo sujeito por meio das relações sociais que abarcam a herança cultural (sujeito histórico), a "pessoa é o próprio ser humano enquanto 'invenção da cultura'" (Sodré, 1996: 173) (grifos do autor).

Segundo Foucault (apud Ronchi Filho e Castro, 2002: 46), "as práticas sociais não somente fazem aparecer novos objetos, novos conceitos, novas técnicas, mas também fazem nascer formas totalmente novas de sujeito". A educação, enquanto prática social, deve contribuir significativamente para o processo de constituição dos sujeitos, promovendo processos dialógicos em que o sujeito conheça a si mesmo e ao mundo através de vivências sociais em que possam expressar-se e posicionar-se frente às situações que se apresentam. Para o sujeito, "falar é constituir sua identidade perante os demais, é tecer os fios de sua personalidade no diálogo com as outras personalidades" (Pereira Neto, 1999: 50).

As novas tecnologias de comunicação, em especial o computador conectado à Internet, facilitaram o estabelecimento de relações sociais com o surgimento de sites de bate-papo, relacionamentos, e-mails, groups, chats, compra/venda, blogs, páginas pessoais, etc. Essa nova forma de comunicação que se apresenta, essa nova rede de relações e interações é materializada no meio eletrônico em forma de hipertexto, um evento comunicacional que também permeia as diversas áreas da nossa cultura.

 

Rede hipertextual

A nova rede de relações e interações que emerge em meio à sociedade é carregada de inúmeras e diferentes "vozes sociais" e por diversos discursos que possibilitam o fluxo de informações, essa rede é materializada em forma de hipertexto, como um diálogo no qual todos os envolvidos se assumem como protagonistas. Deste modo, tomamos o hipertexto como um evento comunicacional e cultural que não se restringe apenas ao meio eletrônico, uma vez que, a hipertextualidade não se constitui em um mero produto da tecnologia, mas em um modelo estreitamente relacionado com as formas de produzir e organizar o conhecimento (Ramal, 2002). Para Pierre Lévy (1997) o hipertexto constitui-se em um conjunto de nós ligados por conexões e que desenha um percurso em uma rede, percurso que é desenhado à medida que o sujeito vai caminhando pela rede.

Ao passo que realizamos um exercício investigativo vamos adentrando a rede, atando alguns fios, desatando outros (que podem ser retomados posteriormente), criando novos nós, sempre em um constante movimento de produção cultural e intelectual. De acordo com o caminhar do sujeito/autor, o hipertexto se faz e se refaz, tecendo-se e se destecendo. "Ele se redobra e desdobra à vontade, muda de forma, se multiplica, se corta e se cola outra vez de outra forma." (Lévy, 1997: 41) A partir do conhecimento da lógica de construção hipertextual, podemos perceber as características necessárias à constituição de uma prática pedagógica emancipadora, que segue a mesma lógica de construção (Lévy, 1993).

A interatividade, uma das características primordiais do hipertexto, é um termo de largo espectro e de uso variado,

"onde podemos encontrar os seus sentidos oscilando de um significado mais amplo até um mais restrito: de um lado, interatividade baseada em termos não-computacionais, um espaço aberto à discussão e à negociação, que permite a participação de interlocutores. De outro, interatividade definida pela intervenção humana na máquina, por meio de um conjunto de recursos tecnológicos, em que a dimensão técnica e o papel do suporte ganham ênfase." (Chaves Filho e Correia Dias, 2003: 32)

O conceito de interatividade, ao nosso ver, é uma versão do dialogismo e da polifonia na perspectiva bakhtiniana, que enfatiza a possibilidade e a negociação para o diálogo entre as diversas vozes sociais buscando a construção plural e híbrida entre os diversos discursos (gêneros) sobre o mundo, contextualizando a situação em que foram ou são produzidos e a situação dos sujeitos que os re-significam. Nesse sentido, o eixo da comunicação no contexto hipertextual é a interlocução, o diálogo, a interação mútua; abrindo espaço para um jogo dramático de vozes que a torna multidimensional, criando uma tensão dialética que configura a arquitetura própria de todo discurso (Barros e Fiorin, 1994).

O hipertexto possibilita ao sujeito interagir e explorar as redes de conhecimento de forma que este, ao final de sua caminhada, terá construído sua rede pessoal de conhecimento, tornando-se co-autor dos conhecimentos compartilhados nesse suporte. Essa rede é capaz de produzir múltiplas hibridações, misturando e convocando regimes semióticos diversos. Dessa maneira, as características do hipertexto, que giram em torno da teoria dialógica bakhtiniana, são observadas como forma de produção de uma rede de experiências educativas, capazes de constituir salas de aula interativas e dinâmicas, mediatizadas ou não pelos meios tecnológicos. A estrutura do hipertexto é como uma teia, uma rede de múltiplas conexões, que torna mais democrática a relação sujeito-informação, colocando o sujeito em contato direto com o conhecimento na medida em que esse explora e adentra a rede. Então, o hipertexto é caracterizado como

"um evento que pode ser realizado em várias esferas da comunicação, como na arte, na educação, na política e em outras mídias, já que não é exclusivo do ambiente eletrônico em rede. Na condição de evento comunicacional, o hipertexto é interativo, não-linear, intertextual e heterogêneo" (Antony e Correia Dias, 2003: 51).

O hipertexto flexibiliza as barreiras entre os diferentes campos do conhecimento, possibilitando infinitas conexões entre as informações, de modo reticular, o que o caracteriza como um conjunto de nós ligados por conexões. Assim, o hipertexto se configura como um mundo de significação a ser explorado, de modo que o hipertexto "é talvez uma metáfora válida para todas as esferas da realidade em que significações estejam em jogo" (Lévy, 1997: 25) (grifo do autor). Todavia, para que essa multiplicidade de vozes que fazem parte do processo de significação possa emergir em sua plenitude, é necessário transformar os meios tecnológicos em um campo de luta, em uma arena discursiva onde seja possível discutir idéias e construir pontos de vista sobre o mundo. Os novos meios de comunicação, ao mediar a relação entre os sujeitos devem abrir possibilidades para a manifestação do hibridismo, da heteroglossia3 e da pluralidade de sistemas de signos que estão presentes na cultura e que compõem as relações entre os sujeitos.

 

Rede cultural

A cultura é construída, tecida por relações sociais, ou seja, é uma produção coletiva formada pelas interações entre os indivíduos e destes com a dinâmica do nosso cotidiano em que, como aponta Geertz (1978), uma "teia de significados que envolvem o homem" vai se integrando, se mesclando e se hibridizando como um processo, um fluxo contínuo de associações e dissociações, resultado de um processo de múltiplas interações e oposições no tempo e no espaço. Nesse sentido, o conceito de cultura é uma rede composta de elementos simbólicos que devem ser lidos e interpretados como algo que produz significação a partir de uma relação dialógica entre eles e a diversidade do meio social. Dessa maneira, o conceito de cultura envolve todas as possibilidades e complexidades de ação humana e se identifica como um processo adquirido por meio de um aprendizado, e não como uma aquisição inata que possa ser transmitida por mecanismos físicos e biológicos.

Explícito nessa colocação é que a cultura não é resultado de mecanismos cognitivos internos dos indivíduos mas das múltiplas tessituras dos diversos saberes e produções. Desloca-se, assim, a ênfase na lógica formal e abstrata dos símbolos - para um plano real e concreto constituído no mundo a partir da abertura para o diálogo entre diferentes significados. Portanto, a cultura está vinculada à constatação da diversidade das manifestações sociais nas diversas formas de atividades que se exprimem através da língua, das crenças, dos costumes, das artes e das outras habilidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma dada sociedade. Nessa ótica, como aponta Balogh (2002: 79):

"A cultura pode ser concebida como um vasto tecido de relações existentes entre os textos das diferentes séries culturais que a compõem: a literatura, as artes, a ciência, a filosofia, etc... As relações podem limitar-se a obras de uma única série cultural, como a literatura, por exemplo, ou envolver diversas simultaneamente, como cinema, pintura e arquitetura, por exemplo."

Desse modo, é como se a cultura se constituísse em uma série de textos em intersecção com outros textos, entrelaçando "o contexto como uma rede de textos da cultura que dialogam de modo contratual e conflitante." (Barros e Fiorin, 1994: 5)

Esses diferentes culturalismos formam um conjunto de elementos interligados que propiciam a constituição social das diferentes identidades. "'Cultura' e 'identidade' são conceitos que remetem a uma mesma realidade, vista por ângulos diferentes." (Cuche, 1999: 14) Nesse sentido, falar de diferentes culturalismos e identidades é falar de multiculturalismo, o manejo da diferença em nossa sociedade que visa assegurar a diversidade, a heterogeneidade e a pluralidade dos grupos e tradições. O multiculturalismo se apresenta como um diálogo entre as culturas, como uma proposta para enfrentarmos os grandes problemas do resgate de nossas identidades. Essa abordagem propicia o estabelecimento de uma relação mais inclusiva entre os sujeitos, em que não esteja presente nenhum tipo de discriminação, seja de raça, gênero, cultura, religião etc.

O multiculturalismo possui como tema central a problemática das diferentes identidades, ou seja, a localização do sujeito sob a égide da cultura, da tradição, da etnicidade, do nacionalismo, da religião, da questão do gênero etc. A identidade é o enraizamento do sujeito em uma dada realidade sociocultural e, no âmbito individual, como auto-conhecimento e auto-conceito. Portanto, neste trabalho, a questão da diversidade de identidades é trabalhada como o estabelecimento de um diálogo das diferenças entre o eu e o outro, possibilitado por ambientes multiculturais que potencializam essas interações. Para a promoção de um diálogo da diferença, faz-se necessário "entrelaçar as categorias de raça, nação, etnia, gênero e classe na trajetória do debate multicultural em diferentes contextos" (Cogo, 2001: 16).

"Desse modo, o ser humano não só é um produto de seu contexto social, mas também um agente ativo na criação desse contexto" (Rego, 1998: 56), pois, na medida em que o sujeito é influenciado pelos diferentes contextos, este também os influencia. Sem essas identidades culturais e sociais, o sujeito não possuiria identidade individual, seria como se o sujeito fosse:

"apenas um ser biológico, não pertencesse a um grupo social, não fizesse parte de um contexto cultural, fosse apenas um organismo, resultado da 'composição genética' herdada de seus pais ou de outros parentes." (Rego, 1998: 56)

Atualmente, nossa realidade sociocultural é permeada por diversos meios tecnológicos, que não podem ser exclusos do processo educativo. Esses meios tecnológicos, aqui representados pelo hipertexto, derrubam as barreiras físicas e espaciais da comunicação, no entanto, segundo Bakhtin (1981) as transformações proporcionadas pelos novos meios de comunicação não extinguirão as particularidades de cada cultura, pois:

"... no encontro dialógico duas culturas não se fundem nem se mesclam, mas cada uma conserva sua unidade e sua totalidade aberta, mas ambas se enriquecem mutuamente." (Bakhtin, 1981: 7)

A mútua influência entre as novas formas de comunicação e as representações culturais

Os meios de comunicação promovem a mediação cultural entre as pessoas por meio da construção de diversos espaços sociais mediatizados. A comunicação é o locus da cultura, é o local onde essa forma simbólica, que é o filtro, a tela de percepção com que cada pessoa apreende o mundo a sua volta, é produzido. A pessoa enxerga o mundo pela janela do seu conhecimento. Concomitantemente, a comunicação se torna o agente de reinvenção da cultura que é veiculada, as tecnologias de comunicação e informação, de um modo geral, vem moldando um novo padrão de comportamento cultural.

"As imagens e os sons eletrônicos apresentam-se hoje na paisagem urbana de uma forma múltipla, variável, instável, complexa e ocorrem numa variedade infinita de manifestações, invadindo todos os setores da produção cultural e comprometendo todas as especificidades. A eletrônica está presente, nas ruas, vitrines, estádios, outdoors, instalações multimídias, ambientes, performances, intervenções urbanas, até mesmo em peças de teatro, salas de concerto, shows musicais e cultos religiosos. .... A tela eletrônica representa hoje o local de convergência dos saberes e sensibilidades emergentes que perfazem o atual panorama da cultura." (Machado, 2002: 10)

Os estudos sobre cultura não envolvem apenas o ser humano e suas produções, mas também o seu contexto, o mundo construído pelas suas tecnologias. Esses recursos, suportes da rede hipertextual cultural, possibilitam a construção de uma nova cultura, múltipla, variada, multimodal, eletrônica, que sucede uma cultura unidimensional, linear, uniforme e mecânica. As novas tecnologias estenderam as formas de percepção dos sujeitos, como a capacidade de ver, ouvir e alteraram os modos de perceber, agir e fazer.

"Aprender, ensinar, informar-se, conceber, ler, escrever, comunicar através do som da imagem ou da linguagem: a maioria das atividades cognitivas são potencialmente redefinidas pela nova tecnologia intelectual que é a informática." (Lévy, 1998: 32)

Essas mudanças, observadas em todas as esferas da vida humana, revelam que as tecnologias transformaram as formas de trabalho, comunicação, produção de conhecimento, isto é, a própria cultura.

O hipertexto surge como forma de reorganização da cultura, pois sugere nova temporalidade e ritmo ao recodificar os antigos conteúdos culturais, transformando-os para que façam parte dos novos circuitos de comunicação. Nesse sentido, o hipertexto torna-se o ponto de articulação entre as culturas, formando uma rede cultural que se estende e engloba todas as manifestações. Todavia, a partir do momento que as pessoas começaram a estabelecer relações mediadas pelos aparatos tecnológicos, foram criadas novas formas de interação e processamento simbólico, ou seja, uma nova cultura contemporânea, reconfigurada pela emergência das novas tecnologias. Assim, o hipertexto constrói sua própria cultura, com abrangência mundial: a Cibercultura. Essa nova manifestação cultural parece utilizar elementos da nossa sociedade, re-apropriando e simulando o mundo, mas solta as amarras do mundo físico e desenvolve-se, expande-se de modo a envolver os usuários numa conexão infinita. Dessa forma, a cibercultura constitui o novo conjunto de técnicas, práticas, atitudes, modos de pensamentos e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço (Internet).

 

A repercussão da relação cultura/hipertexto para o processo educativo

Para compreendermos a relação Educação/Cultura devemos abrir possibilidade para novas leituras sobre o mundo e sobre nossa ação no mundo, à luz de nossas experiências. A própria educação acontece como parte da ação humana de transformar a natureza em cultura, de maneira a produzir novos sentidos culturais e a autocompreensão do sujeito ao possibilitar-lhe novas leituras do mundo e de si mesmo. Para que essa aprendizagem ocorra, o ato de educar deve tornar-se uma aventura pela qual o sujeito e os sentidos do mundo vivido se construam mutuamente na dialética da compreensão/interpretação. Nesse sentido, o sujeito-intérprete estaria diante de um mundo-texto, mergulhado na polissemia e na aventura de produzir sentidos, construindo sua compreensão através da fusão de seus universos compreensivos que se encontram.

Nessa perspectiva, a relação Educação/Cultura possibilita a ação de dar sentido, esclarecer (dar luz), significar o conhecimento. Quando significamos algo, atribuindo-lhe um sentido especial e particular, estamos estabelecendo relações com esse objeto que se torna familiar e comum a nós. O mesmo acontece com a educação, quando esta possui significado para nós, sentimo-nos motivados em estabelecer relações com o conhecimento que desencadeiam os processos de ensino-aprendizagem. Assim, quando os estudantes significam as práticas escolares (dar sentido), abrem espaço para o desvelar de significados, a negociação de sentidos e a mediação dos múltiplos saberes, incitando, assim, entre estudantes e professores, o difícil e provocativo convite ao exercício da liberdade na educação (Larrosa, 2003). Nesse processo de significação, os estudantes são incitados a "fazer sua própria escuta, ver com os próprios olhos, expressar-se com linguagem própria" (Severino, 2002: 36).

Desse modo, o educando realiza seu trabalho de significação a partir das escolhas que faz nesse ambiente, intervindo não apenas na seleção de caminhos mas também na construção de sentido, a partir das leituras já realizadas; das relações que estabelece entre estas leituras e o quê está lendo; e das produções que acrescenta ou das intervenções que realiza no texto que lhe é apresentado. Esta rede de sentidos/significações em que se baseia o conhecimento encontra-se em constante transformação, por isso a escola deve abrir possibilidade para o diálogo entre as diferentes vozes, para a negociação dos sentidos e para a construção coletiva do pensamento, uma vez que, em "condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo" (Freire, 1996: 26).

"A significação existe como capacidade potencial de construir sentido" (Brait, 2005: 202), é fruto do dialogismo4, pois o sentido é construído na interlocução, em um movimento de co-produção discursiva, onde "o sujeito deixa de ser o centro da interlocução que passa a estar não mais no eu nem no tu, mas no espaço criado entre ambos, ou seja, no texto" (Barros e Fiorin, 1994: 3). Para que o educando signifique um novo texto, quanto mais conexões o novo conhecimento possuir com os outros nós da rede melhor, pois maior será o número de caminhos possíveis para significá-lo. Para Lévy (1997: 72):

"Dar sentido a um texto é o mesmo que ligá-lo, conectá-lo a outros textos, e portanto, é o mesmo que construir um hipertexto. É sabido que pessoas diferentes irão atribuir sentidos por vezes opostos a uma mensagem idêntica. Isto porque, se por um lado o texto é o mesmo para cada um, por outro o hipertexto pode ser diferir completamente. O que conta é a rede de relações pela qual a mensagem será capturada, a rede semiótica que o interpretante usará para captá-la."

O processo de significação apresenta-se como o caminhar na rede de conhecimentos, na qual o sujeito faz a travessia geradora de conhecimento e sabedoria entre os diferentes nós da rede. Ao longo de seu percurso, este sujeito é "capaz de aprender, inventar e criar 'em' e 'durante' o seu caminho" (Morin et al., 2003: 18). O caminhar pela rede baseia-se na reflexividade.

Todavia, em muitas das nossas escolas, não há uma preocupação em se refletir:

"... sobre a possibilidade de contribuir de modo significativo para a aprendizagem de novas formas de pensar. O programa de ensino é o mesmo, a única diferença é o modo de transmitir informações." (Almeida, 2000: 25)

A escola de hoje, muitas vezes, privilegia a fragmentação do conhecimento, fazendo com que a "chama do desejo ardente de aprender, em vez de crescer e multiplicar-se ao longo da escolaridade, cada vez mais se apaga, junto com os sinais de curiosidade e entusiasmo" (Severino, 2002: 36). Quando o conhecimento é compartimentado e desconfigurado, as atividades trabalhadas nessas divisões estanques são desprovidas de significado para os educandos, pois são anuladas todas as possibilidades de atribuição de sentidos e a compreensão.

As instituições de ensino que possuem uma concepção reducionista do processo ensino-aprendizagem, que privilegiam a fragmentação do conhecimento, dando ênfase aos conteúdos disciplinares, cerceiam as diversas vozes sociais e culturais presentes nos meios de comunicação e informação, além de dar ênfase ao meio tecnológico, supondo resolvidas todas as mazelas da educação pela simples inserção de recursos informáticos no contexto educativo. No contexto dessa educação midiatizada, atribui-se aos meios de informação e comunicação a capacidade de redefinir e romper com as formas tradicionais de pensar, ler, agir e produzir o conhecimento, enfatizando-se os meios tecnológicos em detrimentos da diversidade cultural que compõe a vida contemporânea e permeia o contexto educativo, provocando uma profunda separação entre cultura e educação. Nesse sentido, nossa preocupação é não dar ênfase aos meios tecnológicos nem aos conteúdos disciplinares, considerando que estes por si sós, não determinam o processo de aprendizagem. Dessa forma, se a ênfase do processo ensino-aprendizagem não está nos meios tecnológicos e nem na forma de apresentar os conteúdos, para onde voltaremos o nosso olhar?

A comunicação mediatizada pelos meios tecnológicos deve ser compreendida como uma manifestação social, difundida na dinâmica e na pluralidade das ações cotidianas. Nesse sentido, o processo comunicacional é concebido e analisado dentro do contexto histórico, cultural e social em que se encontra, isto é, no embate de vozes que se encontram e se confrontam no alicerce das culturas, espaço onde os sujeitos, enquanto atores sociais, dialogam, se interagem e se conflituam, além de entrarem em conflito também com as múltiplas informações veiculadas nos meios de comunicação e de informação, re-significando as mensagens do discurso social de acordo com a trajetória da sua vida pessoal e do seu universo social e cultural.

Cabe ao professor articular as experiências realizadas durante esse processo, de modo a estimular a participação coletiva, a comunicação dialógica e a contextualização do saber construído, criando possibilidades de co-criação de significados e discussão de sentidos, nos espaços da escola e da sociedade. Nessa perspectiva, podemos desenvolver uma proposta de educação hipertextual em sala de aula lançando mão de elementos que são comuns em nossa vida cotidiana, que fazem parte das diversas manifestações culturais, e que trazem diferentes discursos que irão se confrontar procurando novas práticas e manifestações para (re)significar o mundo.

O hipertexto, como uma rede de informações e conhecimentos, visa produzir um conhecimento que não seja fragmentado, em que importa tanto o indivíduo quanto seu contexto sócio-cultural. Isso constitui a complexidade das redes que

"se tecem, destecem e retecem em cada situação concreta, articuladas a processos de confrontos de saberes que, por vezes sem saber, contribuem para desestabilizar práticas e potencializar outras opções que, além de idéias, carregam em si emoções, sentimentos e paixões também imprescindíveis neste projeto." (Manhães, 2001: 83)

Os educadores devem ter consciência da importância de sua disciplina, mas precisam perceber também que, com o reflexo de outros olhares, fica muito mais interessante a aprendizagem. A educação tem a função de trazer a compreensão e fazer as articulações necessárias a partir da heterogeneidade das diferentes formas de manifestação da linguagem que tecem a complexidade do mundo cotidiano.

Nesse sentido, o hipertexto traz, ao mesmo tempo, provocações e possibilidades à prática educativa. Essa nova maneira de produção e organização do conhecimento rompe com as práticas educativas baseadas na transmissão, linearidade e hierarquização, abrindo possibilidades para a estruturação de um currículo em rede, pautado nos ideais do dialogismo e da polifonia. O novo modelo educacional que se apresenta com o advento do hipertexto, a Educação Hipertextual, busca incitar outros tipos de relação com o conhecimento e a cultura. Propõe uma articulação entre os domínios disciplinares fraturados pelo pensamento desagregador, eliminando a organização de cunho estruturalista, hierárquica, que se tornou comum frente à visível segmentação da sociedade em busca de um conhecimento multidimensional. Nesse contexto, o hipertexto avança em relação á proposta interdisciplinar, que propõe a união de algumas disciplinas em torno de uma temática em comum. O hipertexto irá apontar para a relação dos diferentes gêneros discursivos no estudo de um determinado tema, de forma a abordar as múltiplas e diversas nuances e perspectivas.

A aprendizagem deve se constituir em uma dinâmica problematizadora, o objeto a ser estudado precisa representar um desafio aos educandos. A ênfase de uma abordagem integrante - dialógica e polifônica - deve estar no processo de aprendizagem, aprender é construir conhecimentos cada vez mais amplos, profundos e complexos. A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura, para a música, para as artes, ou seja, para as diferentes linguagens (enunciações), diferentes suportes pelos quais os conhecimentos veiculam. Essa educação integradora - que poderíamos chamar de polissemia aberta - também necessita abranger toda a diversidade cultural, sem discriminação de qualquer forma de conhecimento, sejam elas mitológicas, folclóricas, orais etc, no sentido de promover aos educandos experiência de aprendizado que vai permanecer com eles além dos muros da escola.

Assim, essa educação integradora, baseada na complexidade, não pode estar alheia à dinâmica dos cenários da vida contemporânea. O educador, nesse contexto, precisa ser capaz de transformar o pensamento fragmentador em um pensamento complexo, reflexivo e integrador, iniciando pela transformação do seu próprio pensamento.

No desenvolvimento de uma Educação Hipertextual, caracterizada pela abordagem sócio-culturalista, a aprendizagem ocorre por meio de uma situação de confronto e de conflito, ocasionada não pela falta de entendimento entre idéias antagônicas, mas por um conflitar de idéias que comportam múltiplos pontos de vistas, múltiplas vozes (polifonia). O conflito é um fator desencadeador de outros textos, é o que alimenta a produção dialética de conhecimentos e sua reformulação em um processo contínuo de (re)significação. Nesse contexto, durante a leitura o sujeito constrói o seu próprio texto, que é ao mesmo tempo inédito e comum, individual e coletivo, visto que nenhum discurso é original, são produtos de leitura crítica e reflexiva na qual os conhecimentos são construídos em um processo intertextual. Então, a Educação Hipertextual se configura em uma arena de conflitos onde a diferença é fundamental.

Na perspectiva sócio-culturalista, o trabalho hipertextual com as novas tecnologias em sala de aula parte de alguns pressupostos básicos que o caracterizam:

  • Não há sujeitos passivos, tanto o aluno como o professor são sujeitos ativos no processo ensino-aprendizagem, ambos ensinam e aprendem em conjunto;
  • O conhecimento é construído na interação entre os sujeitos, de forma que todos os participantes do processo educativo tornam-se co-autores e co-criadores de um conhecimento que está em constante transformação;
  • Não há hierarquia entre os conhecimentos, estes são dispostos de modo a eliminar a noção de começo, meio e fim. Do mesmo modo, não há uma relação verticalizada, hierarquizada entre educador e educando, ambos, um com mais experiência, outro com menos, engendram as relações educativas;
  • O processo ensino-aprendizagem emprega, além do quadro-negro e giz, uma gama diversa de fontes de informação e linguagens, características das manifestações da diversidade cultural, como imagens, sons, textos escritos, poemas, poesia, história em quadrinhos, vídeos, quadros, entre vários outros, que correspondem a todos os sentidos e percepções;
  • A aprendizagem não ocorre por meio de um discurso monológico onde é ouvida apenas a voz do professor ou do aluno, ambos são responsáveis por compor o processo ensino-aprendizagem;
  • Processo educativo baseado na lógica das redes, que resguarda a complexidade, a não-linearidade e a multiplicidade do conhecimento.

A proposta de adoção da abordagem sócio-culturalista subverte todas os ideais de uma educação tradicional ao seguir o viés da concepção hipertextual. Esse processo de transformação é necessário para a compreensão do mundo contemporâneo, uma vez que, os "modelos anteriores revelam-se insuficientes para dar sentido ao mundo" (Ribeiro, 1996: 2). Nesse contexto, a lógica hipertextual, caracterizada pela abordagem sócio-culturalista da aprendizagem, assume o pressuposto bakhtiniano de educar para a diversidade.

 

Considerações finais

Visando dinamizar as relações educativas, a Educação Hipertextual procura estabelecer uma relação marcada pelo discurso crítico dialético dentro da sala de aula, proporcionando aos educandos uma atitude exploratória no labirinto dos múltiplos saberes e possibilitando uma ação participante de quem caminha e aprende por meio do hipertexto. A ação, de acordo com Bakhtin:

"É o ato de criação dos valores culturais, ou, em outras palavras, o ato criativo de engendrar significados." (Boukharaeva, 1997: 21)

Assim, o sentido da educação é preparar os educandos para enfrentar os novos desafios apresentados pela cultura contemporânea e a emergência de um novo tipo de leitor/observador suscitado pelo avanço das tecnologias. Nessa perspectiva, pensar criticamente a educação mediatizada não significa apenas adaptar procedimentos computacionais à prática educativa, mas repensar suas bases epistemológicas e metodológicas, buscando reinventar o modo de construir a aprendizagem, em busca de uma forma de dar voz aos textos silenciados na escola que possibilitam a construção de novos conhecimentos. Promover uma transformação no contexto educativo por meio das vozes antes ignoradas ou relegadas, abre possibilidades para que, em meio a tantas vozes sociais, nós nos tornemos, na grande cadeia polifônica que se constitui a sociedade, elos que se interligam durante a comunicação entre sujeitos-consciência, capazes de dialogar entre si, construindo um pensamento, ao se traçarem os múltiplos fios que nos são apresentados cotidianamente, de modo a significar o mundo.

"Esse tecer junto implica aprender a tolerância diante do diferente, uma vez que significa ligar o que está separado; implica aprender a lidar com as múltiplas informações, o que significa não ser tragado por elas mas torná-las conhecimento." (Silva, 2001a: 23)

Nessa perspectiva, a rede hipertextual vem enriquecer a práxis pedagógica no momento em que suscita novas práticas de linguagens, promovendo uma aprendizagem contextualizada que mantêm estreitas relações entre o contexto educativo e o cotidiano dos educandos, de modo a revelar o caráter social e cultural da educação.

As reflexões tecidas neste trabalho, portanto, buscaram contribuir para um novo olhar acerca da relação cultura-tecnologias-educação, abordando a concepção de hipertexto que, independente do suporte é um espaço cultural privilegiado para os diálogos educativos, onde todas as vozes se inter-relacionam e ecoam livremente. Bakhtin sugere que a escola, como qualquer outro espaço social, seja transformada em uma "arena das contradições" dos múltiplos discursos que permeiam a complexidade do mundo cultural e social. Nessa perspectiva, o que se propõe é a busca por uma educação que promova a intertextualidade da vida contemporânea, onde possam interagir de modo não-linear os textos sociais, educacionais, culturais e os diversos outros textos presentes no dinâmico jogo da vida.

 

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Notas

Â.Á.C. Dias
E-mail para correspondência: angelacdias@bol.com.br;

K. da S. Moura
E-mail para correspondência: karinasmoura@gmail.com.

(1) Bakhtin caracteriza a polifonia como a "multiplicidade de vozes e consciências independentes e distintas que representam pontos de vista sobre o mundo" (Bakhtin, 1981: 32).

(2) "A intertextualidade é o processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja para transformá-lo." (Barros e Fiorin, 1994: 30) Essa categoria "envolve todos os objetos e processos culturais tomados como textos. ... Cada texto constitui uma proposta de significação que não está inteiramente construída. A significação se dá no jogo de olhares entre o texto e seu destinatário. Este último é o interlocutor ativo no processo de significação, na medida em que participa do jogo intertextual tanto quanto o autor" (Paulino, 1995: 15).

(3) Heteroglossia são os diferentes discursos voltados para uma mesma temática, mas conflitantes entre si.

(4) "O dialogismo é, para Bakhtin, um termo usado para designar a negociação de significados socialmente construídos pela interação de vozes múltiplas, caracteriza-se pelo agrupamento de pessoas, permeados por experiências compartilhadas ou interesses, onde a construção de significados de dá por um processo contínuo de comunicação, interpretação e negociação." (Chaves Filho, 2003: 44)