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Ciências & Cognição

On-line version ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.11  Rio de Janeiro July 2007

 

Artigo Científico

 

A importância do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro para o ensino não-formal em ciências

 

The significance of the National Museum of the Federal University of Rio de Janeiro for the non-formal science education

 

 

Valéria Vieira; M. Lucia Bianconi

Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

 

 


Resumo

O ensino não-formal é bem estruturado e tem objetivos bem definidos, mas realizado fora do ambiente escolar. Neste trabalho, analisamos como ocorrem as visitações escolares de grupos de alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental (antigas 5ª a 8ª séries) ao Museu Nacional da UFRJ, um local que permite o desenvolvimento de aulas não-formais de Ciências. Apesar de os professores reconhecerem o Museu Nacional como uma importante instituição de ensino, a maioria não se apropria do local como um espaço de educação não-formal já que não desenvolvem as visitações de forma organizada e estruturada. Os alunos sentem dificuldade em entender os objetivos da visita e temem que sejam feitas cobranças posteriores que afetem suas notas e não aproveitam o que a instituição poderia oferecer como, por exemplo, um aprendizado em um ambiente diferenciado de ensino que proporciona a assimilação de informações científicas de forma agradável

Palavras-chave: educação não-formal; educação em museus; educação em ciências; Museu Nacional.


Abstract

Non-formal education is a well-organized activity outside the formal educational system with well defined learning objectives. In this work, we analyzed how the school visitation of groups of students from the second portion of the Elementary School (5th to 8th grades) occurs on the National Museum of Rio de Janeiro, Brazil, where the development of non-formal classes of Sciences is possible. Although the teachers recognize the National Museum as an important educational center, most of them do not exploit the place in a proper way since they do not develop well organized visits with their students. The students, on the other way, do not understand the purposes of the visitation and are always very anxious with the possibility of being graded through reports or exams. . Therefore, the students do not interact with the place that should allow a pleasant way of gathering scientific information.

Keywords: non-formal education; education in museums; science education; Museu Nacional.


 

 

Introdução

A Educação é um bem comum adquirido ao longo da vida dos cidadãos em diferentes níveis e formas, dependendo do nível sócio-cultural do indivíduo. As diferentes formas de ensino-aprendizagem têm sido classificadas como educação formal, informal e não-formal (Colley e colaboradores, 2002; Gohm, 1999; Valente, 1995). Enquanto a educação formal é aquela a qual todo cidadão tem direito garantido pelo estado e ocorre em instituições formais de ensino, a educação informal ocorre "ao acaso", decorrente de processos espontâneos, ou seja, é aquela transmitida pelos pais, adquirida no convívio com amigos ou mesmo através de leituras, em clubes, teatros, enfim, locais e em circunstâncias não planejadas. Não há como sistematizar/uniformizar esse tipo de educação, pois depende de fatores inerentes da vida de cada cidadão e de suas experiências pessoais. Por outro lado, a chamada educação não-formal tem características de ambas, formal e informal, pois é sistemática e organizada, mas ocorre fora do ambiente formal de ensino. Esta é a forma de educação que pode ser desenvolvida em museus e centros de ciências.

A educação não-formal proporciona a aprendizagem de conteúdos da escolarização formal em novos espaços fora da escola, no qual as atividades possam ser desenvolvidas de forma direcionada, com um objetivo definido (Gohm, 1999). De acordo com Padilla (2001), os museus e centros de ciências podem promover a compreensão pública da ciência através de experiências educativas informais ou não-formais. As primeiras, em relação ao visitante ocasional. No caso de uma visitação escolar, na qual conteúdos curriculares são envolvidos, a interação do visitante com o centro ocorre de forma diferenciada e estará ocorrendo como educação não-formal (Padilla, 2001). Porém, para o sucesso da educação não-formal no espaço fora da escola, é necessário que seja adotado um planejamento bem definido, que envolva algum tipo de trabalho prévio e/ou posterior à visitação escolar ao museu ou centro de ciência.

Considerando o rápido avanço atual das ciências e tecnologias, a sua compreensão pelo público leigo ocorre em diferentes formas e níveis. Novas tecnologias fazem parte do cotidiano de todos, mas é importante que sejam criados ambientes apropriados para promover o melhor entendimento destas tecnologias. De acordo com Padilla (2001), existem três grandes grupos responsáveis por promover tal entendimento: (i) as Universidades e Centros de Investigação, (ii) os meios de comunicação genéricos, como rádio, televisão, revistas, ou especializados, como revistas e vídeos científicos, e (iii) os Museus e Centros de Ciências, interativos ou não. Esses grupos não se excluem, mas realizam intercessões, estando todos no mesmo plano de importância quando consideramos seu papel na divulgação científica (Padilla, 2001)

O perfil dos museus foi se modificando ao longo da história. O caráter enciclopedista dos mesmos prevaleceu até o século XVIII, quando começam a abrir espaço para um fim educativo, passando a enfatizar a importância do uso do objeto na aprendizagem (Valente e Marandino, 2003). Porém, os museus mantiveram um caráter elitista até o século XIX, quando deixam de ser vistos apenas como um local onde "se guardam objetos" ou um "laboratório para o ensino superior", pois passam a desenvolver ações voltadas para o ensino básico através do empréstimo de peças para os museus escolares, visitas guiadas e conferências (Köptcke, 2003). Atualmente, os museus realizam suas funções em espaços físicos permanentes com o objetivo de pesquisar, difundir, expor, colecionar e, principalmente, educar.

Segundo a American Association of Museums, um museu é uma instituição sem fins lucrativos, organizada e com objetivo essencialmente educacional ou artístico, que conta com profissionais qualificados para a manutenção do acervo e para a exposição do mesmo para o público (Falk e colaboradores, 1986). A educação em museus tem particularidades interessantes e elementos como espaço, tempo e objetos são fatores que irão constituir o diferencial da educação nesses locais. (Cazelli e colaboradores, 1999; Marandino, 2002). Ao refletimos sobre a aprendizagem em museus, espaços não-formais de ensino, e sua relação com as escolas, percebemos que esses locais permitem a assimilação de informações de uma forma agradável. Pode-se dizer que os museus oferecem, ao mesmo tempo, entretenimento e educação. (Marandino, 2002)

De acordo com Falk e Dierking (1992), a visita escolar a museus torna-se educativa quando a experiência ali vivida é relacionada a eventos anteriores e posteriores à visita. Segundo esses autores, após uma visita a um museu, o que ficou gravado em nossa memória tem o poder da transformação, o que constitui-se em uma forma de aprendizagem (Falk e Dierking, 1992). As recordações são integradas a categorias mentais que nem sempre correspondem a conceitos científicos, mas que dispõem de amplo significado pessoal (Falk e Dierking, 1992).

Os museus podem ser classificados como demonstrativos, quando as exposições estão apresentadas somente para a observação, ou como interativos, quando permite que o público tenha algum tipo de contato físico com o que está exposto (Cazelli, 1992). Os centros de Ciências, geralmente com objetivos muito semelhantes aos museus interativos, são espaços propícios à aprendizagem em grupo, pois estimulam a curiosidade. Esses centros e museus apresentam a peculiaridade de proporcionar o aprendizado a uma grande gama de visitantes, de diversas idades e condições sociais, inseridos ou não no contexto escolar. Desta forma, os museus podem ser considerados como ambientes de aprendizado contínuo.

No Brasil, os Museus e Centros de Ciências têm servido como um dos meios para a popularização da Ciência no Brasil. Segundo Hamburger (2001), aproximadamente 60% dos os Museus e Centros de Ciências pertencem a Universidades, o que não acontece em outros países. Recentemente, a Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências (ABCMC) disponibilizou um guia de museus e centros de ciências, onde procurou-se mapear as distintas iniciativas no país, tendo 109 instituições listadas como centros e museus de ciência, parques de ciência e jardins botânicos (ABCMC e FIOCRUZ, 2005). Nesse guia, porém, não foram contemplados os zoológicos. (ABCMC e FIOCRUZ, 2005).

No Brasil, existem poucos estudos a respeito do movimento da criação de museus de ciências, bem como da repercussão dos mesmos no ensino de maneira geral. A primeira instituição dedicada à História Natural foi o Museu Nacional do Rio de Janeiro, criado em 1818. Além deste, também o Museu Paraense Emílio Goeldi (Belém, PA; criado em 1866) e o Museu Paulista ou antigo Museu Ipiranga (São Paulo, SP; criado em 1894) são exemplos de instituições ligadas às ciências naturais. (Cazelli e colaboradores, 2003)

O Museu Nacional foi criado por D. João VI e inicialmente localizava-se no Campo de Sant'Anna. A partir de 1892 passa a ser sediado no Paço de São Cristóvão, atualmente tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sendo o maior museu de Hstória Natural e Atropológica da América Latina.

Através de exposições públicas permanentes ou temporárias e do trabalho desenvolvido pelo Seção de Assistência ao Ensino (SAE), exerce um papel importante como instrumento de capacitação e divulgação das transformações e desenvolvimento que vem se sucedendo na natureza e no saber humano. O Museu Nacional abriga as coleções científicas que constituem a maior parte da memória nacional no campo da História Natural, continuando a prestar serviços como um centro de atividades culturais, científicas e de formação de pessoal.

O Museu Nacional não oferece serviço de guia aos visitantes e, portanto, é proposto ao professor com intenção de levar seus alunos ao museu, a realização de treinamento realizado pelo SAE, o "Treinamento para os professores nas exposições permanentes do Museu Nacional". Este treinamento tem o objetivo de estabelecer uma parceria com os professores de ensino básico, a fim de capacitá-los a guiar suas turmas quando em visita à Instituição. Consiste de duas etapas: (i) Treinamento de História Natural, no qual são fornecidas as informações sobre o acervo de Biologia, Geologia e Paleontologia, e (ii) Treinamento de Ciências Sociais, que engloba toda a parte de Antropologia. Durante o treinamento, o professor percorre as exposições permanentes, enquanto recebe informações sobre o tema exposto e orientação de sua melhor abordagem em sala de aula. Esses treinamentos ocorrem, em média, quatro vezes ao ano e são divulgados no início do ano letivo, sendo permitida a inscrição de até 20 professores que, ao final, recebem um certificado, além de um material de apoio.

Devido à importância sócio-cultural do Museu Nacional da UFRJ, neste trabalho procuramos avaliar a opinião de professores e alunos sobre tal instituição como um ambiente de educação não-formal. O Museu Nacional oferece um amplo acervo em Biologia, História e Antropologia, e um levantamento do acervo mostrou que várias exposições podem ser aproveitadas pelos professores de Ciências do Ensino Fundamental, em particular, àqueles dedicados ao segundo segmento. Esse levantamento foi baseado no cronograma do curso de "Treinamento de História Natural". Dessa forma, estabelecemos nossa amostra dentre professores e alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental que participavam de visitas escolares ao Museu. As turmas escolares analisadas eram de 5ª a 8ª séries, o que corresponde, atualmente, da 6ª à 9ª série devido à recente ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, como previsto na LDB 9.394/96, além de se constituir em uma das metas do Plano Nacional de Educação. Essa mudança ocorrei pela publicação da Lei 11.274/06 que modifica o artigo 32 da LDB.

Este trabalho foi realizado através de entrevistas semi-estruturadas, quando procuramos avaliar a Instituição como um espaço de ensino não formal, bem como as estratégias de ensino realizadas por professores em um ambiente fora da esfera escolar.

 

Metodologia

Acompanhamento das escolas

A fim de avaliar a opinião de professores e alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental durante a visitação ao Museu Nacional da UFRJ, foram acompanhadas 30 escolas do Estado do Rio de Janeiro, no período de outubro de 2002 a novembro de 2003. As escolas eram contactadas com antecedência, pois era necessário averiguar se os responsáveis pela visitação dariam permissão para o acompanhamento das turmas. Além disso, estabelecemos como um critério essencial o fato de que pelo menos um dos responsáveis pela visita fosse professor de Ciências, área de interesse deste estudo. O contato com as escolas foi possível devido à colaboração da equipe do SAE que gentilmente cedia cópias da agenda das visitas escolares. Apenas parte das escolas contatadas permitiram a presença de nossa equipe durante as visitas ao Museu Nacional, restringindo a análise a 30 escolas.

Das escolas acompanhadas durante a visitação, 13 eram do município do Rio de Janeiro, sendo oito Municipais, quatro Particulares e uma Estadual. Escolas de municípios adjacentes como Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Mesquita, São João de Meriti e Duque de Caxias também fazem parte da amostra, com seis escolas Estaduais, três Municipais, duas Particulares e uma Comunitária. Um total de cinco escolas de municípios mais distantes também fizeram parte de nossa amostra, sendo três Estaduais pertencentes aos municípios de Valença, Volta Redonda e Paty de Alferes, uma Particular de Paracambi, e uma Municipal de Volta Redonda.

No dia da visita escolar, o contato com o responsável ocorria antes da entrada dos alunos no museu. Os alunos não eram contactados nesse momento a fim de não interferirmos no primeiro impacto que teriam o ambiente a ser visitado. Durante o contato com o responsável, os objetivos da pesquisa eram novamente expostos, salientando que o professor não seria identificado no trabalho final ao qual a pesquisa se propunha. Além disso, o professor era informado que as entrevistas ocorreriam no final da visitação e que nenhum contato seria feito durante toda a visita. Além disso, ressaltávamos que a observação durante a visita, dentro do Museu, seria apenas para avaliarmos o grau de interesse dos alunos. Esse relato inicial era importante pois não era nosso objetivo causar qualquer tipo de constrangimento aos professores por se sentirem avaliados, além de garantir que estes não interferissem no comportamento natural de seus alunos, já que a observação da reação espontânea dos mesmos era essencial para nossa pesquisa.

Durante a visita ao museu, foi realizada uma observação do comportamento do professor. O professor não era informado de que faríamos essa observação para não influenciar no seu comportamento, pois era essencial que seu comportamento fosse o mais natural possível em uma situação fora da instituição escolar. A atuação dos professores em relação aos seus alunos foi classificada em: observador, mediador ou transmissor da exposição. Os professores foram classificados como observadores quando demonstravam uma atuação apenas comtemplativa da exposição. Os mediadores foram aqueles que procuravam instigar seus alunos, fazendo-os participar ativamente das possíveis descobertas a serem realizadas no museu. Professores transmissores foram aqueles que tentavam traduzir a exposição, sem que fosse permitido algum tempo ao aluno para que ele pudesse refletir sobre a mesma.

O comportamento dos alunos em relação ao espaço ou à postura do professor neste espaço era, também, observado mas não utilizamos uma classificação para descrever esse comportamento.

Entrevistas com professores e alunos

As entrevistas com os professores das 30 escolas acompanhadas foram conduzidas de forma semi-estruturada, de acordo com Bogdan e Biklen (1994), contendo algumas questões previamente formuladas, mas permitindo que tanto professores quanto alunos estivessem livres para fazer comentários adicionais. As entrevistas eram realizadas com o professor responsável pela visita e, portanto, não necessariamente com professores de Ciências.

A fim de que pontos importantes sobre a visita ao museu ou mesmo questões gerais sobre o ensino não-formal fossem respondidos, definimos algumas questões consideradas essenciais para o nosso trabalho, que eram apresentadas caso o(s) tema(s) não fosse(m) comentado(s) espontaneamente:

  • De quem foi o interesse em visitar o Museu?
  • Você conhece o Treinamento para professores que auxilia a visitação do Museu? Você o realizou?
  • Você prefere que as aulas em outros espaços aconteçam com ou sem a presença de monitores?
  • A sua escola sempre realiza essas visitas?
  • Qual é o seu objetivo, hoje, aqui?
  • Você realizou algum tipo de preparação prévia com seus alunos?
  • Você realizará algum tipo de trabalho posterior como seus alunos?
  • Muitos alunos faltaram à visita? Qual o principal motivo da falta? Como você pretende trabalhar com eles esta visita?
  • A escola apóia essas aulas não-formais? Existe algum projeto na escola relacionado com essas aulas?
  • Você quer comentar algo sobre esta instituição?
  • Você acha importante a realização de aulas não-formais? Por quê?

A entrevista com os alunos era mais sucinta, pois, em geral, os alunos estavam dispersos ou cansados ao final da visita. Foi utilizada a mesma metodologia de entrevistas semi-estruturadas com os alunos e estes, quando dispunham de tempo, também estavam livres para fazer qualquer comentário adicional. As questões pré-elaboradas foram:

  • O que mais lhe impressionou?
  • A escola costuma fazer essas visitas, sempre? Como acontece este trabalho extra-classe?
  • Você tem algum trabalho para realizar sobre esta visita?
  • Qual a diferença entre uma aula dentro de sala de aula e, uma aula que acontece em outro lugar, como neste museu, por exemplo?

Os alunos de uma determinada escola eram entrevistados em grupos e, assim, algumas respostas foram compiladas considerando o número de escolas e em outras, o número de citações, como citado no texto. Foi observado que turmas de níveis escolares diferentes estavam presentes nas visitas, apesar de estas serem destinadas a uma turma específica. As outras turmas estariam apenas "preenchendo lugar no ônibus", segundo os professores responsáveis. Porém, as entrevistas foram realizadas apenas com as turmas as quais a visitação era destinada, e não com as outras turmas extras.

 

Resultados e discussão

As visitas escolares

As visitas escolares ao Museu Nacional foram analisadas em relação ao comportamento do professor e dos alunos e, mesmo tendo o cuidado inicial de introduzir as finalidades de nossa pesquisa ao professor, não descartamos o chamado "efeito do observador", descrito por Bogdan e Biklen (1994). Segundo esses autores, o investigador pode modificar o comportamento das pessoas que pretende estudar (Bogdan e Biklen, 1994). Com o intuito de minimizar esse efeito, adotamos um método qualitativo que proporcionou aos professores e alunos liberdade nas respostas das entrevistas, bem como no trajeto da visita. Dessa forma, procuramos nos manter próximos a um mesmo grupo apenas durante um curto período de tempo, a fim de não interferir na visitação.

No período de estudo, foi possível o acompanhamento de um total de 30 escolas. Dentre estas, 13 eram do município do Rio de Janeiro, 12 de municípios adjacentes, conhecidos como entorno, e o restante, de municípios mais distantes (ver sec. 2.1). A maioria das escolas eram públicas, sendo tanto Municipais (n = 12) como Estaduais (n = 8), e uma delas era comunitária, gerida com os recursos da comunidade. O restante das escolas (n = 9) era Particular. Não foi observada, porém, qualquer diferença em relação ao comportamento ou ao nível de interesse de professores e/ou alunos de escolas públicas e particulares.

O Museu Nacional solicita que se tenha um acompanhante para cada grupo de 10 alunos, sendo que o número de responsáveis (n = 91) estava próximo dessa solicitação, considerando que cada escola levou uma média de 40 alunos em cada visita. De acordo com um dos nossos critérios para a escolha das escolas, a maioria dos responsáveis (35%) era professor de Ciências e Biologia. Ou seja, havia pelo menos um professor de Ciências de cada escola acompanhada por nosso grupo durante a visitação ao Museu. Como seria esperado pelo grande acervo referente à disciplina de História que pode ser encontrado no Museu Nacional, o segundo maior número de professores era dessa disciplina (n = 17), e o restante dos responsáveis estava bem distribuído em outras disciplinas ou funções escolares.

Foi também observado que as turmas não eram exclusivas de um segmento escolar. Apesar de nosso interesse ser o acompanhamento de turmas do segundo segmento do Ensino Fundamental, foram acompanhadas 62 turmas no total, sendo que aproximadamente 14% (n = 9) dessas turmas era de alunos do primeiro segmento do Ensino Fundamental ou mesmo do Ensino Médio. A maioria (86%), porém, era de turmas do segundo segmento do Ensino Fundamental, fato coerente com um dos critérios previamente definidos para o acompanhamento das escolas em visita ao museu. De acordo com o relato de professores durante as entrevistas, o conteúdo básico de Ciências presente no Museu Nacional se refere, essencialmente, à 5ª série (geografia e minerais) ou à 6ª série (seres vivos), hoje correspondendo às 6ª e 7ª séries, respectivamente.

Apesar de a maioria das turmas ser do segmento escolar de interesse deste estudo, é importante ressaltar que a mistura de níveis escolares distintos pode ser prejudicial a uma aula não-formal, já que isso não permite direcionar a aula a conteúdos específicos de uma determinada série. Além disso, espera-se que os alunos de um mesmo grupo tenham um grau de maturidade semelhante para um bom desempenho de aulas não-formais, o que certamente não ocorre se níveis escolares muito distintos estão presentes na visita ao museu. Esse mesmo critério já é adotado na educação formal, em que o ensino seriado tem sido uma necessidade imposta pelas propostas curriculares que sofreram um aumento significativo de conteúdo programático nos últimos anos. A própria evolução rápida da Ciência leva a um grande acúmulo de conhecimento que deve ser incorporado aos poucos no ensino básico. Ou seja, não há como ter um bom acompanhamento de conteúdos destinados a turmas mais avançadas, se não tiverem um conhecimento prévio necessário para o bom entendimento e para a chegada de conclusões, como é esperado no ensino não-formal.

O comportamento dos alunos, bem como a relação dos professores com os mesmos, eram constantemente registrados. Foi possível observar que apenas um quarto (n = 8) dos professores de Ciências prepararam as visitas e procuraram executá-las da melhor maneira possível. Esses professores tinham realizado trabalhos prévios e/ou estariam realizando outros posteriores à visita com seus alunos, e demonstravam uma preocupação constante em acompanhá-los durante a visitação.

Porém, muitos professores (n = 26), independente da disciplina, comentaram nas entrevistas que haviam realizado algum tipo de preparação daquela aula não-formal no Museu Nacional, mas o modo como guiaram a visitação não demonstrou tal cuidado. Isso foi observado não só na postura do professor durante a visita como nos depoimentos de alunos nas entrevistas (ver adiante), quando muitos deles afirmaram desconhecer o objetivo da visita. Alguns alunos tinham que responder um questionário com perguntas sobre o acervo do museu, e isso gerava uma preocupação constante de que tal questionário poderia ter alguma pontuação na nota. Ou seja, apesar de usarem o questionário para se guiarem no museu, não sabiam o real objetivo do mesmo. Essa preocupação gerava uma postura negativa, pois ficou claro que os alunos nem sempre aproveitavam o que a visita poderia propiciar, pois estavam atentos apenas aos aspectos relacionados nos questionários e à possível pontuação resultante das respostas.

Ao final da visita, a escola nos reservava alguns minutos para realizar a entrevista com professores e alunos. Em diversos casos, porém, o tempo disponível não era o suficiente para todas as questões previstas, pois os alunos teriam que cumprir o horário previamente estipulado pela escola para fazer um lanche e/ou visitar outro local naquele mesmo dia. Foi interessante observar que, geralmente, as escolas aproveitam a proximidade e visitam o Jardim Zoológico no mesmo dia que visitam o Museu Nacional. Segundo os professores, essa segunda visita era para "aproveitar a viagem", pois não tinham um objetivo específico relacionado ao Zoológico. Escolas de fora da cidade aproveitavam para visitar o Museu da Vida, apesar da distância, no mesmo dia que iam ao Museu Nacional. Com isso, notamos o cansaço dos alunos, como será comentado na seção 3.3 sobre as entrevistas com os mesmos.

A postura dos professores e dos alunos durante a visita será comentada mais adiante (sec. 3.4).

Entrevistas com o professor

As entrevistas com professores de Ciências que acompanhavam os alunos durante a visitação ao Museu Nacional, ocorreram de forma semi-estruturada (Bogdan e Biklen, 1994) e, portanto, os professores poderiam tecer comentários livres. Durante uma das entrevistas, por exemplo, soubemos que os professores haviam solicitado para o SAE o transporte gratuito dos alunos, ressaltando que uma das grandes dificuldades das saídas escolares é justamente o gasto para se chegar até o local com os alunos.

Em cerca de 67% das escolas (n = 20), a iniciativa em visitar a instituição foi do professor de Ciências. Para um número pequeno das escolas acompanhadas (n = 2), o interesse pela visita foi uma idéia conjunta dos professores de Ciências e de História, e em outras três, o interesse foi do professor de História, que também acompanhava os alunos nas visitas analisadas. Nas escolas restantes, o interesse foi de professores de outras disciplinas (n = 3) ou mesmo dos alunos (n = 1), sendo que em um caso particular, a visita foi um presente a algumas turmas.

Dos professores de Ciências que tiveram a iniciativa de visitar o Museu, observou-se que estes não eram recém formados, mas tampouco apresentavam longa experiência no magistério. Daqueles que informaram o tempo de magistério (n = 12), chegou-se a uma média de 12,6 anos de experiência profissional.

Durante a entrevista à equipe do SAE para obter informações sobre o agendamento de visitas escolares ao Museu, foi informado que sempre era oferecido o curso de treinamento de professores. No entanto, apenas cinco dos 30 professores entrevistados haviam realizado o treinamento, sendo que 14 deles afirmaram não ter conhecimento de tal curso. Aqueles que sabiam da existência do curso alegavam, como motivo principal para a não realização do mesmo, a falta de tempo. Segundo os professores, como o curso ocorre durante quatro dias seguidos, no período letivo, a realização do mesmo é difícil para muitos professores, pois precisariam ser liberados de suas atividades profissionais, o que nem sempre é possível. Os cursos de Ciências Naturais em 2007, por exemplo, foram agendados para julho (24 a 27), setembro (25 a 28) e novembro (27 a 30). Dado que o curso de treinamento fornece subsídios ao professor, mostrando as formas de explorar o acervo do Museu Nacional, seria interessante que fosse realizado por todos aqueles que têm o objetivo de utilizar a visita ao museu como uma aula não-formal. Durante o curso, procura-se conscientizar o professor da importância de uma visita bem orientada ao Museu Nacional, para que esta seja uma atividade de ensino produtiva, além de prazerosa. Dessa forma, seria interessante que o SAE oferecesse opções de curso durante as férias escolares, para facilitar a participação dos professores, já que o treinamento para professores dá uma boa base para o aproveitamento do espaço durante aulas não-formais.

A maioria dos professores (n = 24) prefere que as visitas escolares sejam guiadas por monitores. Apesar de justificarem essa preferência de diferentes maneiras, quase todos ressaltam o fato dos monitores conhecerem melhor o acervo, o que poderia resultar no melhor aprendizado para o aluno. Porém, esse tipo de visão deveria ser repensada pelos professores, pois uma aula não-formal continua sendo uma aula para uma determinada turma e, assim, precisa ser bem preparada e estruturada com o objetivo de atingir a compreensão da maioria dos alunos. É necessário uma reflexão sobre quem seria a pessoa mais indicada para dar determinada aula não-formal, o professor que já conhece sua turma ou um monitor que nunca teve contato anterior com os alunos? O professor, provavelmente, seria o mais indicado para conduzi-la, pois conhece as deficiências de cada um e saberia qual a melhor forma de apresentar novos conceitos (no caso, científicos) para seus alunos. No entanto, ao que parece, o professor não pensa assim, ou pelo menos a maioria daqueles que participaram da visitação ao Museu Nacional, já que afirmam ter preferência pelo acompanhamento de um monitor. O monitor, por outro lado, conhece muito bem a exposição e poderia oferecer informações importantes e detalhadas sobre o acervo. Porém, esse monitor não teria um treinamento para conduzir aulas específicas para diferentes níveis escolares, considerando que as visitações ocorrem com alunos de qualquer nível do ensino básico. Talvez seja difícil chegar a um consenso, considerando os prós e contras de cada um dos possíveis condutores da aula não-formal. Em nossa opinião, o professor é o mais adequado, pois, mesmo não conhecendo os detalhes da exposição, pode se familiarizar com o acervo antes de levar seus alunos e escolher o que melhor se adapta ao currículo programático que vem seguindo em sala de aula.

No caso do Museu Nacional, o fato de os professores não terem participado do curso de treinamento contribuiu para a dificuldade que encontraram em conduzir uma aula não-formal nesse local. A visita prévia ao museu seria importante para o professor se familiarizar com as salas de exposição e o acervo, mas isso tampouco ocorreu, fato explicado pela falta de tempo. Ou seja, ao desconhecer a instituição, o professor tem a preferência por visitas guiadas. É possível, também, que tal preferência se deva à falta de segurança do professor em relação a temas científicos atuais, como sugerido por Bryce e Gray (2004). É importante que os professores estejam atualizados quanto aos novos temas científicos para perceberem os conteúdos importantes, bem como aqueles ultrapassados, ainda apresentados nesses espaços.

A maioria dos professores (70%) enfatizou que o aprendizado de conteúdos de Ciências era o principal objetivo da visita; os outros objetivos citados foram aprendizado de conteúdos multidisciplinares, atividade sócio-cultural e curiosidade ou passeio livre.

Mais de 80% dos professores (n = 26) afirmaram que teriam realizado algum trabalho prévio ou que seria realizado um trabalho posterior à visita, com suas turmas. Em geral, foi citado como trabalho prévio a apresentação dos conteúdos que seriam observados no museu, já que muitos professores consideram essa aula como um "reforço" do que foi ensinado em sala de aula. Alguns professores também se preocuparam com a questão disciplinar, considerando como trabalho prévio a informação do que os alunos podiam ou não fazer no museu. Os trabalhos que seriam realizados após a aula no Museu Nacional eram, na maioria, a execução de relatórios e/ou trabalhos em grupo. Os testes ou provas sobre o conteúdo observado no museu não parecia ter importância pois seriam aplicados em menor escala (23%) no depoimento dos professores entrevistados.

Os professores, algumas vezes, comentaram que sentem dificuldade em realizar os trabalhos relativos à saídas escolares com suas turmas devido a ausência de muitos alunos que ocorre, em geral, por motivos financeiros. Apesar de o acesso à instituição ser gratuito para estudantes do ensino público, é necessário que paguem pelo transporte, nem sempre oferecido pela Prefeitura ou pelo Governo Estadual. Além disso, deve-se levar em conta que os alunos têm despesas extras com a alimentação, quando fora da escola, onerando o custo desse tipo de saída da escola.

Ao final da entrevista pedíamos que relatassem a importância das aulas não-formais, caso não a tivessem mencionado. As diversas citações dos professores sobre as aulas não-formais foram agrupadas em quatro grandes temas, de acordo com as semelhanças entre seus conteúdos. Os aspectos citados eram positivos e se relacionavam com a interação com o espaço (n = 15), com aspectos de ensino-aprendizagem (n = 13) e aspectos sócio-culturais (n = 6). Alguns comentários genéricos (n = 6) como a mudança do ambiente da aula ou a tentativa de não deixar que os alunos se dispersem pela curiosidade, também foram observados. Porém, todos concordavam que aulas não-formais são essenciais para o aprendizado, como pode ser observado em alguns depoimentos que se seguem:

"A gente não pode abolir a parte teórica, mas ela sozinha é maçante, rende mais quando associada com a parte prática. Tudo o que você olha e visualiza é melhor para gravar".

(Professora de Ciências, Português e Geografia, Escola Estadual, São Gonçalo, RJ)

"Nessas saídas, é observada a postura e a socialização dos alunos, o que não pode ser feito em sala de aula. A escola tem que fazer pelos alunos é abrir o mundo. O que a gente traz dessa vivência é construir coisas e desconstruir outras na sala de aula".

(Professor de Biologia, Escola Municipal, Duque de Caxias, RJ).

"Hoje em dia o professor está concorrendo com a mídia, os computadores, se a gente não recorrer a este tipo de aula, aquela aula pura em sala de aula vai ficar menos interessante. O conhecimento não está mais centrado no professor, ele é um facilitador, aquele que ensina a pensar, ensinar, filtrar essas informações".

(Professor de Ciências, Escola Comunitária, Niterói, RJ ).

"Os alunos ficam deslumbrados porque, às vezes, levamos eles a lugares que eles não teriam oportunidade de ver. Nada como você estar observando tudo, isso abre o horizonte".

(Professor de Ciências Colégio Estadual, Volta Redonda, RJ).

A maioria dos professores entrevistados (n = 20; cerca de 67%) afirma que a escola está sempre disposta a apoiar e incentivar novas metodologias de ensino. Alguns professores comentaram sobre projetos em suas escolas que estimulam um ensino mais dinâmico pela aplicação de aulas diversificadas (práticas, não-formais, interativas, entre outras). Alguns professores descreviam suas experiências de ensino diversificado com bastante entusiasmo, mostrando fotos, apresentando diferentes membros da equipe pedagógica e até mesmo nos convidando a visitar as escolas.

Entrevistas com os alunos

Ao final da visitação, principalmente por estarem cansados, foi possível entrevistar 22 grupos de alunos, pois o restante dos grupos não teve interesse em participar. Consideramos todas as respostas dadas a uma questão, independente do número de alunos que a respondiam. Ou seja, os dados foram compilados de acordo com o número de citações e não de alunos, já que nem todos respondiam a todas as questões. Em alguns casos, consideramos o número de escolas nas respostas, como indicado no texto.

Durante as entrevistas com os alunos procuramos saber, principalmente, qual era a impressão geral que tiveram do Museu Nacional. Isso se referia ao fato de terem ou não gostado da visita, sem intenção de relacionar a pergunta a conteúdos curriculares. Os relatos, porém, relacionavam-se a algum aspecto do acervo e, portanto, compilamos a resposta considerando o que mais impressionou os alunos durante a visita. Recebemos um total de 77 respostas, como mostrado na Tabela 1, sendo que o número de citações positivas (82%) superou, de forma significativa, as negativas (18%). Grandes figuras como os dinossauros (Figura 1A) e os grandes mamíferos (baleia, elefantes e primatas) causaram uma impressão positiva, incentivando a curiosidade dos alunos. A múmia, cujo processo de conservação tem sido muito comentado na mídia, também recebeu comentários positivos. As impressões negativas tinham relação com aquilo que poderia ser considerado imperfeito. A reprodução em cera de uma cabeça humana representando um paciente com leishmaniose cutânea (Figura 1B) é um exemplo das citações negativas, devido à fidelidade com que representa uma doença que afeta a pele e causa ulcerações no rosto e no corpo.

 

Tipo de Citação

Número de Citações

Positiva

63

Dinossauros

15

Grandes Mamíferos

13

Múmia

12

Tudo

7

Cultura Indígena

5

Outros *

11

Negativa

14

Rosto com Leishmaniose

3

Protozoários

2

Outros **

9

Tabela 1. O que mais impressiona o aluno na visita ao Museu Nacional

*Aranha do mar (n = 3); insetos (n = 3); peixes, DNA, Biodiversidade, vermes e fetos.

**Foram mencionados tartarugas; animais feios; insetos; vermes; fetos; não poder tirar fotos; não poder tocar; calor; reforma.

 

(A)

Figura 1

(B)

Figura 2

Figura 1 - Fotos do acervo do Museu Nacional da UFRJ. (A)Dinossauro: o modelo impressionou os alunos de forma positiva; (B) Rosto modelado em cera mostrando o efeito da leishmaniose, que impressionou os alunos de forma negativa.

 

Quando os alunos eram questionados sobre a realização de algum trabalho posterior à visita, consideramos uma resposta por escola, já que a preparação prévia e/ou o trabalho posterior seria o mesmo para todos. Dos grupos de alunos entrevistados (n = 22), nove relataram não saber ao certo o que aconteceria em suas respectivas escolas após a visita. Os alunos demonstraram receio em serem avaliados, pois diziam que o professor não havia deixado claro o objetivo daquela aula. Como discutido acima, a estratégia adotada pelo professor, de não deixar claro ao aluno se vai ou não realizar uma avaliação posterior, fazia com que os alunos ficassem apreensivos, dificultando o bom aproveitamento da aula.

O restante dos alunos (cerca de 60%) sabia que seria realizado um trabalho posterior sendo, na maior parte das vezes, a execução de um relatório. Isso sugere que os alunos tiveram algum tipo de preparação prévia para essa aula, mesmo que fosse apenas a informação de que fariam um relatório sobre a visita. É importante, porém, ressaltar que uma aula não-formal bem executada é aquela em que o professor utiliza diferentes estratégias, antes, durante e depois da mesma (Griffin e Symington, 1997). Apenas o fato de pedirem um relatório não implica que os professores tiveram uma preocupação de indicar os objetivos dessa aula não-formal, já que não ficou claro para os alunos se seriam avaliados através desses relatórios. Nas aulas não-formais, é importante que o professor defina bem suas estratégias metodológicas, deixando claro o que será usado na avaliação, já que o importante é que os alunos aprendam, não apenas se preocupem com a nota final resultante dos trabalhos decorrentes da visita, já que essa aula foge dos padrões conhecidos da sala de aula.

Os alunos comentaram também que as saídas da escola dependiam verbas, como podemos observar em depoimentos que citavam, por exemplo, "o problema de pagar o ônibus".

Os alunos também eram questionados sobre a importância da presença de monitores para a realização de uma visita guiada. Dos 18 alunos que responderam esta pergunta, a maioria (n = 15) prefere que a visitação aconteça na presença de monitores. Os motivos citados foram diversos, mas podemos exemplificar com os comentários de que "é melhor para o aprendizado"; "(o monitor) explica melhor"; "sabem mais que o professor"; ou "conhecem melhor as coisas (acervo)".

Foi curioso notar que um grupo de alunos enfatizou a preferência pela ausência de monitor pois preferiam a explicação da professora. Nesse caso particular foi possível observar uma aula não-formal muito bem estruturada, em que a professora conduziu sua aula deixando os objetivos claros para seus alunos.

Finalmente, os alunos respondiam sobre questões gerais a respeito de aulas não-formais. As frases e citações foram muitas mas todas, unânimes, consideravam a realização dessas aulas de extrema importância para o aprendizado. As 45 citações dos alunos foram agrupadas da mesma forma que fizemos com as citações dos professores, e se relacionavam, principalmente, à interação com o objeto de estudo (n = 24) e a aspectos de ensino-aprendizagem (n = 14), com alguns comentários dos aspectos sócio-culturais (n = 4) da visita ao museu. Poucos comentários (n = 3), apesar de positivos, foram muito gerais. Alguns comentários dos alunos foram:

"Eu acho legal porque a gente aprende coisas divertidas que talvez a gente use mais tarde, coisas interativas que a gente pode mexer, brincar".

"Legal, além do passeio com os amigos a gente aprende".

(Escola Municipal, Duque de Caxias, RJ)

"É legal ao vivo e a cores, na sala só olhando para quadro é um pouquinho chato. Aqui nós podemos ver as coisas livres, a gente se anima, presta mais atenção e se interessa. É que na sala de aula a gente fica muito preso."

(Escola Particular, Niterói, RJ)

"É aqui que a gente pode ver de perto essas coisas que a gente estuda. Na aula só tem nos livros e a gente tem que imaginar. Vendo é muito melhor. Ver essas partes de biologia como o DNA me marcou muito, é uma coisa que eu vou guardar na minha memória para o resto da minha vida. Quando eu puder voltar aqui, vou voltar. É a primeira vez que eu visito esse museu."

(Escola Estadual, Paty de Alferes, RJ)

"Que a gente aprende mais, a gente não fica sabendo só Português, Matemática, essas matérias, não fica sentado sufocado. É muito interessante porque as pessoas conhecem coisas que nunca viram. A teoria aqui é a prática."

(Escola Estadual, São João de Meriti, RJ)

O professor e o aluno durante a visita ao Museu Nacional

Durante o período em que analisamos as visitas escolares ao Museu Nacional foi interessante notar como os professores e os alunos se relacionavam durante a visitação.

A forma com que o professor se relacionava com seus alunos durante a visita foi classificada como sendo do tipo "observador", "mediador" ou "transmissor", como descrito na sec. 2.1.

A postura do professor, na maioria das vezes, era a de um observador, pois mantinha uma atitude contemplativa da exposição. Em muitos casos, a interação com seus alunos era, apenas, para impor disciplina. Porém, nem sempre conseguiam esse objetivo, pois os alunos se sentiam completamente livres, já que não tinham objetivos a cumprir durante a visita ao museu, ficando bastante dispersos. Outros professores com característica de observadores se mostravam atenciosos com seus alunos e, apesar de não interferirem no comportamento de seus alunos, tampouco direcionavam os mesmos no museu. O depoimento de um professor com tal postura mostrou que as saídas escolares tinham o único objetivo de promover e/ou melhorar a socialização entre os alunos e entre estes com os professores, ou seja, não tinha um objetivo relacionado ao processo de ensino/aprendizagem. Outros professores do tipo observadores deixaram claro que a intenção da visita ao museu era meramente para passeio, sendo que muitos deles aproveitavam o dia (ou o ônibus) para conhecer outros locais.

Alguns professores mantinham uma postura típica do observador, mas faziam várias cobranças a respeito de conteúdos científicos da exposição. Esse foi o caso de um professor, por exemplo, que pediu a seus alunos que anotassem "tudo" sobre o acervo que se relacionasse aos conteúdos vistos em sala de aula. Os alunos dessa turma estavam dispersos, pois não sabiam ao certo qual era o objetivo da professora, se teriam que fazer algum relatório ou se os conteúdos seriam cobrados em prova. Em outro caso, o professor esperava que os alunos obtivessem informações que seriam úteis para a montagem de uma Mostra Pedagógica (um tipo de Feira de Ciências) que seria realizada na escola. Os alunos, porém, não sabiam ao certo o que deveria ser feito durante a visita ao museu.

Em um caso analisado, o idealizador da aula no museu que não era o professor de Ciências que também acompanhava a turma atuando como observador. Nesse caso, a escola estava acompanhada de um guia, contratado por eles para realizar a aula. Este guia dava várias explicações sobre todas as peças do acervo e, no entanto, os alunos estavam aos poucos se dispersando do grupo.

Poucos foram os professores enquadrados na categoria de mediadores (ver sec. 2.1). Este foi, por exemplo, o caso de um professor de Ciências de uma escola municipal de Duque de Caxias, RJ, que além de ter preparado sua turma para a visita, elaborou um questionário que orientava os alunos. Esse questionário continha perguntas gerais que podiam ser respondidas com os diferentes conteúdos do acervo, ou seja, trazia os objetivos da aula não-formal que os alunos entendiam ao responder a essas perguntas. Como não se relacionava a um determinado tema, o aluno podia escolher o tema que tivesse mais interesse e relatar sobre o mesmo seguindo um roteiro determinado pelo questionário. Este professor era um "mediador" do acervo pois permitiu que os alunos ficassem livres para aprender sobre o que tinham maior interesse mas, com direcionamento, para não se dispersarem. Ao mesmo tempo, estava sempre presente e, sempre que necessário, ajudava seus alunos. De acordo com os depoimentos, os alunos dessa escola pareciam bastante satisfeitos com o trabalho que realizavam. Em um primeiro momento estavam eufóricos por conhecer todo o museu para, logo depois, se concentrarem na atividade a ser realizada.

Um outro professor de Ciências de uma escola municipal do Rio de Janeiro, RJ, mostrava-se muito preocupado com o aprendizado de seus alunos e atuou como transmissor do conteúdo da exposição. Quando agendou a visita de sua turma, fez várias visitas anteriores para se familiarizar com o espaço. Numa exposição itinerante de Dinossauros, ele mesmo conduzia sua turma, apesar de poderem contar com a ajuda de monitores treinados pelo museu. No entanto, observamos que nem todos os alunos estavam atentos e a turma se mostrava um pouco dispersa. Com toda a preocupação em ser um transmissor, esse professor não permitiu que seus alunos interagissem com a exposição de forma espontânea.

Alguns professores comentaram que, apesar de terem conteúdos a explorar no museu, não o faziam, pois não eram os idealizadores da visita. Este caso pode ser exemplificado pelo depoimento de uma professora de Ciências de uma escola particular do interior do Estado do Rio de Janeiro, que alegou estar apenas acompanhando a professora de História. Neste caso, as professoras de Ciências e de História poderiam ter aproveitado o Museu Nacional como um espaço não-formal de ensino para o trabalho de conteúdos multidisciplinares.

Como já comentado quando apresentamos as entrevistas dos alunos, pudemos observar que eles estavam sempre muito preocupados com o que poderia ocorrer após a visita, já que não sabiam dos objetivos da mesma. Essa preocupação foi sempre negativa, já que percebíamos que esses mesmos alunos não aproveitavam a exposição como poderia ser aproveitada. Isso mostra que os alunos precisam, de certa forma ser guiados pelos seus professores. Os poucos casos em que os alunos se mostraram satisfeitos com a aula foram relacionados ao fato dessas terem sido bem estruturadas, em que os objetivos estavam claros. O fato de saberem que teriam algum tipo de cobrança (nota em relatório ou prova) não parece ser um problema desde que isso esteja claro. Porém, a dúvida gerava uma angústia que dificultava o bom aproveitamento do espaço pelo aluno.

Mesmo apresentando um comportamento, de certa forma, negativo, os alunos também mostravam um entusiasmo que certamente não se observa dentro da sala de aula. O fato de saírem do estabelecimento formal de ensino parecia exercer um efeito positivo nos alunos. Esse efeito deveria ser melhor explorado pelo professor que, mostando seus objetivos antes da visitação e definindo bem o que espera de seus alunos, teria como resposta uma postura de maior interesse do aluno pelos conteúdos apresentados no museu.

 

Conclusão

O Museu Nacional da UFRJ, além de ser um lugar de grande importância histórica, oferece a oportunidade de realização de aulas não-formais estimulantes. O acervo é rico e estimulante tanto para alunos quanto para professores que relatam a experiência da visitação como sendo prazerosa e estimuladora do aprendizado.

Neste trabalho não procuramos avaliar a qualidade do acervo ou o conteúdo curricular a que ele se refere. Nosso objetivo foi o de avaliar como o espaço estava sendo utilizado por professores do segundo segmento do Ensino Fundamental, que compreende as antigas 5ª a 8ª séries (hoje, 6ª a 9ª séries), já que nessas a disciplina de Ciências ganha maior destaque.

Porém, nossos resultados vieram ressaltar a importância de um professor estabelecer uma estratégia bem definida, não necessariamente inovadora, no momento em que decide levar sua turma a um espaço de ensino não-formal como é o caso de um museu de Ciências, por exemplo. A aula dentro de um museu ou centro de Ciência, além de estar estimulando o aprendizado através de um ensino dinâmico, faz com que os alunos apreciem melhor os conteúdos curriculares expostos nesses espaços. Isso porque oferecem a possibilidade de visualização, além de exercerem um impacto emocional, pela própria natureza do espaço físico. Ou seja, independentemente da disciplina a que se destinava a visita, observamos, através do acompanhamento das visitas e das entrevistas, que os alunos estavam encantados com o diferencial social e cultural vivido neste momento da aula não-formal.

Esse diferencial é marcado, também, pela interação do aluno com os conceitos presentes nesses espaços. O Museu Nacional não apresenta uma possibilidade de interação direta com o acervo, como aquela conhecida na chamada "hands on", termo usado para a prática experimental na escola ou para a interatividade nos museus (Krapas e Colaboradores, 1997). Apesar disso, deixa o visitante livre para ler, observar e/ou comentar com amigos e professores a parte do acervo que mais interessa ao estudante. Assim, muitas vezes, o estudante tem a oportunidade de interagir mentalmente com a exposição. Já é bem discutido na literatura, principalmente na área de ensino (Carvalho, 1992; Leach, 1998), que o aprendizado não ocorre por transmissão de conteúdos mas sim pela interação entre o conhecimento apresentado com os conceitos já existentes na estrutura cognitiva do aluno. Dessa forma, os alunos podem assimilar conteúdos pois a grande maioria deles já ouviu comentários sobre vários assuntos referentes ao conteúdo exposto no Museu.

Por meio de boas estratégias de ensino e da possibilidade de explorar conteúdos que interessem aos alunos, o Museu Nacional pode ser considerado como uma excelente ferramenta pedagógica. Esse museu pode servir como um recurso para a interação entre conhecimentos prévios, presentes na mente dos alunos, e a apresentação dos conteúdos científicos, sem que necessariamente ocorra uma transmissão dos mesmos. No entanto, para que alguma forma de aprendizado ocorra, é necessário haver uma eficiente interação entre professor e aluno (Mortimer, 1994; Leach, 1998). Estas interações nas aulas não-formais podem ser interpretadas por meio de estratégias bem definidasm, preparadas pelo professor responsável pela visita, antes, durante e depois da realização da mesma. Além disso, é de importância fundamental que elas estejam claras para os alunos, permitindo que estes usufruam a melhor forma possível dessas aulas.

 

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Notas

V. Vieira
E-mail para correspondência: valvibr@yahoo.com.br

M.L. Bianconi
E-mail para correspondência: lucia.bianconi@gmail.com;
homepage:
www.bioqmed.ufrj.br/bianconi.

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