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Ciências & Cognição

On-line version ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.13 no.1 Rio de Janeiro Mar. 2008

 

Artigo Científico

 

O universalismo semântico cognitivo em um estudo sobre termos básicos referentes a cores na língua indígena Shanenawa (Pano)

 

The cognitive semantic universalism in an issue about color terms in the Shanenawa indigenous language (Pano)

 

 

Lincoln Almir Amarante RibeiroI; Gláucia Vieira CândidoII

IGrupo de Investigação Científica de Línguas Indígenas (GICLI), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil;
II GICLI, Curso de Letras, Unidade Universitária de Ciências Socioeconômicas e Humanas (UnU CSEH), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Anápolis, Goiás, Brasil

 

 


Resumo

Neste artigo apresentaremos os resultados de um estudo sobre termos empregados para indicar cores na língua indígena Shanenawa da família Pano. O objetivo do referido estudo é tentar classificar esses termos de acordo com a escala evolutiva proposta por Berlin e Kay no contexto do universalismo semântico cognitivo. Na apresentação, descreveremos em linhas gerais as perspectivas teóricas do problema, enfatizando-se a controvérsia relativismo lingüístico/ universalismo semântico cognitivo e, na seqüência, será dada previamente a nomenclatura usada no estudo. Os resultados mostrarão que a língua Shanenawa, bem como outras representantes da família Pano, não podem ser classificadas evolutivamente nesse esquema e que a evolução proposta por Berlin e Kay não segue, pelo menos no concernente às línguas dessa família, a mesma linha do tempo que a evolução lingüística.

Palvras-chave: relativismo; universalismo semântico cognitivo; termos de cores; línguas indígenas; língua Shanenawa.


Abstract

In this paper we present and discuss the data referring to the color terms of the Shanenawa language of the Pano family, in an attempt to classify these therms in the evolutive scale proposed by Berlin and Kay in the context of the cognitive semantic universalism. We describe the main lines of the theoretical perspectives emphasizing the controversy between linguistic relativism and cognitive semantic universalism. Previously we present the appropiate nomenclature used in the development our analysis. We show that the Shanenawa language and other languages of same family cannot be classified in terms of color evolution and that the evolution proposed by Berlin and Kay is not valid at least where it concerns with the languages of Pano family with the same timeline linguistic evolution.

Keywords: relativism; cognitive semantic universalism; color terms; indigenous language; Shanenawa language.


 

 

Introdução

A língua Shanenawa é representante da família de línguas indígenas conhecida na literatura como Pano. Esta família conta com aproximadamente 40.000 falantes distribuídos em pelo menos 34 povos conhecidos. Estes ocupam juntamente com várias etnias de outras famílias, uma vasta área que possui a forma aproximada de um quadrilátero cujos lados são limitados pelos paralelos .° S e 1.° S e pelos meridianos 7.° W e 6.° W. Esse quadrilátero situa-se na região amazônica boliviana, brasileira e peruana.

De acordo com Amarante Ribeiro (2006), as línguas Pano estão divididas em quatro grandes grupos. A língua Shanenawa figura no chamado Grupo III, que está subdividido em dois outros grupos imediatos, sendo o maior deles o Subgrupo III-2 que, por sua vez, conta com várias subdivisões menores, dentre elas a que origina o Subgrupo III-2-2-2, o qual inclui, além do Shanenawa, outras línguas ainda vivas como o Arara, o Sharanawa e o Yawanawa.

Os falantes da língua Shanenawa habitam a região norte central do Estado do Acre, Brasil, à margem esquerda do rio Envira, no Município de Feijó, onde se distribuem em quatro comunidades assim denominadas: Paredão, Cardoso, Nova Vida e Morada Nova. Segundo a FUNAI (2002 apud Cândido, 2004), cada aldeia conta com os seguintes números de habitantes: Morada Nova, 200; Paredão, 53; Cardoso, 54 e Nova Vida, 49. Nas aldeias, embora a maior proficiência seja dos mais idosos, todos falam a língua. Todavia, entre os mais jovens e crianças, principalmente, enquanto cresce a preferência pelo Português, nota-se que o uso da língua indígena está se tornando cada vez mais limitado. Por isso, pode-se dizer que o Shanenawa, como tantas outras línguas brasileiras, está situado no grupo das endangered languages, ou seja, as línguas em perigo de extinção (Krauss, 1992).

Neste trabalho, apresentaremos e discutiremos os dados referentes a termos de cores no Shanenawa com o objetivo de classificar esta língua de acordo com a tabela evolutiva dos termos de cores proposta por Berlin e Kay (1969). Para tanto, primeiramente, faremos uma breve descrição dos pressupostos a respeito das cores tanto do ponto de vista da física quanto perceptual, seguida da introdução das definições pertinentes usadas no desenvolvimento do estudo e, ainda, uma discussão também sucinta sobre os dois pontos de vista a partir dos quais o tema deste trabalho pode ser analisado, a saber: o relativismo e o universalismo cognitivo semântico, enfatizando o trabalho de Berlin e Kay (1969). Na seqüência, descreveremos os termos de cores na língua Shanenawa e, ainda, apresentaremos um quadro comparativo entre esta e outras línguas da família Pano. Concluem o texto, a conclusão e as referências bibliográficas.

 

Cores: física e percepção

O conceito de 'cor' é bastante subjetivo. Do ponto de vista da física, o termo 'cor' refere-se a uma propriedade da luz que, por sua vez, é uma radiação eletromagnética caracterizada por um comprimento de onda bem definido, assim como em acústica física, um determinado som é caracterizado pelo comprimento de onda das vibrações sonoras que o produzem.

Já sob o olhar cognitivo, a cor é uma sensação visual assim como, por exemplo, um fone é uma sensação auditiva. Nesse caso, a cor já não é uma propriedade da luz, mas sim do cérebro/mente, pois não é preciso que haja luz para se perceber as cores. Basta-nos fechar os olhos e imaginar uma cena "colorida" qualquer para que "vejamos" as cores.

Ainda no âmbito da cognição, a sensação de cor é causada por três entidades: a luz, o objeto e o olho do observador. O olho possui um mecanismo constituído de sensores que, quando excitados pela luz, enviam ao cérebro informações sobre as cores. O olho humano percebe as cores como sendo constituída de vários comprimentos de onda que são absorvidos ou refletidos pelos objetos. Assim, ao observarmos uma maçã à luz do sol, notaremos que a luz brilha na maçã e os comprimentos de onda da região do vermelho são refletidos e chegam ao olho enquanto os demais comprimentos são absorvidos pela maçã e não chegam ao olho. Os sensores do olho reagem à luz refletida pela maçã, enviando para o cérebro uma mensagem que é interpretada como sendo a sensação de cor vermelha e, dessa forma, a fruta nos parece ser dessa cor. Isso equivale a dizer que a cor é uma sensação psicológica que possui três componentes: qualidade (ou tom), quantidade (ou valor) e pureza (ou fator de saturação).

A qualidade distingue as cores umas das outras (por exemplo, o azul do vermelho) através do "matiz"; pela quantidade, as cores distinguem-se pelo "brilho" (claro, escuro). Na verdade, o brilho é uma propriedade mais do ambiente do que da cor propriamente dita. Objetos que refletem mais as cores são mais claros; já os que refletem menos, aparecem escuros. Quanto à pureza, a propriedade que descreve este componente da cor é a "saturação". Trata-se do grau de pureza de uma cor com relação a uma mistura com o branco. Uma cor que é desprovida de branco em sua composição é uma cor totalmente saturada. Assim, como o rosa é considerado o resultado de uma mistura de branco com vermelho numa certa proporção, podemos dizer que o rosa é, na realidade, um vermelho menos saturado. É preciso ressaltar que esse conceito de saturação está ligado a aos pigmentos aolicados na pintura de um corpo, ou seja, são propriedades da reflexão dos corpos e não da luz propriamente dita.

Quanto ao número de cores que o ser humano pode perceber, estudiosos como Halsey e Chapanis (1951) e Kaiser e Boynton (1989) afirmam que há cerca de 1 milhão de cores distinguíveis por seu matiz, brilho e saturação. Já Lenneberg (1967) afirma existir entre 4 a 10 milhões de tonalidades perceptíveis aos olhos do ser humano.

Ainda alguns outros conceitos são úteis para o entendimento das cores. Quanto à natureza das cores, elas podem ser cromáticas ou acromáticas. As cores acromáticas são o branco (porque é uma mistura de todas as cores), o preto (porque é a ausência de cores em conseqüência da falta de luz) e o cinza (porque é intermediário entre o branco e o preto). Em contrapartida, são cromáticas todas as demais cores. No arco-íris ou na experiência de separação da luz por um prisma, vemos um contínuo de cores, as quais são denominadas cores espectrais. Todas essas cores são cromáticas. Uma cor é monocromática se a luz que a compõe é constituída de um só comprimento de onda. Nesse caso, essa cor possui saturação máxima. Caso contrário, se houver mais de um comprimento de onda (ou uma mistura de cores causando menos saturação), a luz é policromática.

Outra distinção comum no âmbito das cores é aquela que ocorre entre as cores quentes e as frias. Chamamos de cores quentes, o vermelho, o laranja e o amarelo; as frias são o verde, o azul e o violeta. Esta nomenclatura tem origem no fenômeno físico da radiação dos corpos aquecidos. Quando um corpo é aquecido, quanto maior é sua temperatura, mais "vermelho" ele parece aos nossos olhos. Basta examinar um cadinho de ferro fundido no estado líquido ou o aquecimento de um pedaço de arame na chama do fogão e notaremos que eles se apresentam totalmente avermelhados. À medida que a temperatura abaixa, os corpos vão irradiando cores mais azuladas. A temperatura das estrelas é medida desta forma, ou seja, observando-se a cor da luz que elas emitem. Estrelas avermelhadas possuem temperaturas mais altas e, portanto, são denominadas "mais quentes"; já as mais azuladas têm temperaturas mais baixas, logo, são "mais frias".

Como afirmamos anteriormente, o número de tonalidades que o olho humano pode perceber é da ordem dos milhões. Como é praticamente certo que as línguas naturais não contam com um número equivalente de lexemas para expressar cada uma dessas cores, é necessária outra maneira de codificá-las. Geralmente isto é feito por meio do emprego de nomes de cores na língua. Assim, o nome de uma cor é um rótulo lingüístico, expresso por um lexema, que os falantes dão às cores. Esses nomes de cores são obviamente característicos de cada língua, a qual possui seu vocabulário básico de cores que são aquelas que têm lexemas simples para especificar as cores do espectro. O Português, por exemplo, possui 11 palavras designadoras de cores simples: "preto", "branco", "vermelho", "verde", "amarelo", "azul", "marrom", "rosa", "violeta", "alaranjado" e "cinza". O Inglês, a exemplo do Português, também apresenta 11 nomeações de cores. O Russo e o Turco, por outro lado, têm 12 palavras para cores, sendo duas dessas palavras usadas para designar a cor azul em Português; algo semelhante ocorre no Húngaro, em que duas palavras designam o vermelho. Já línguas como o Dani da família Trans-Nova Guiné falada na Indonésia contam com apenas duas palavras que nomeiam o preto e o branco. Por outro lado, há a possibilidade de existência de línguas que sequer contam com palavras referentes a cores. É o que parece ocorrer com a língua indígena Pirahã da família Mura que, segundo Everett (2005), não possui termos básicos de cores1, mas somente palavras para designar as noções 'claro' e 'escuro'.2

 

Relativismo e universalismo

Segundo a visão da Física, o arco-íris é um contínuo de luzes variando entre os comprimentos de ondas menores e maiores do espectro visível. Entretanto, o olhar humano para o arco-íris não visualiza um contínuo, mas sim bandas (ou categorias) de matizes separadas por fronteiras distintas. Cada uma dessas bandas corresponde aos nomes das cores numa língua, tais como "vermelho", "verde", "azul", entre outras no Português. Assim sendo, deparamo-nos com a seguinte questão fundamental: como é possível alguém enxergar o arco-íris, tal como nós o "vemos", se por acaso sua língua materna não contiver nomes particulares para algumas cores? Uma tentativa de resposta a essa questão é o cerne deste artigo.

Vimos anteriormente que as línguas diferem entre si nas partes do espectro de cores para as quais elas têm nomes. Algumas línguas (dentre as quais, o Shanenawa, tal como veremos a posteriori) possuem um único nome para designar mais de uma cor. Ou seja, se em Português reconhecemos e denominamos como cores distintas o "azul" e o "verde", em tais línguas, essa distinção não existe, pois há apenas uma palavra para designar as duas cores. Dessa forma, supondo que fôssemos falantes de uma língua desse tipo, como nos pareceria o arco-íris? Na verdade, independentemente da ausência de palavras específicas para cada cor, conforme ocorre em Português, continuaríamos vendo uma banda azul e uma verde ou uma única banda de acordo com a maneira como a língua em suposição categoriza as cores.

Sem dúvida, essa resposta, à maneira do questionamento que lhe dá origem, têm intrigado ao longo dos anos muitos pesquisadores de ciências que estudam o pensamento humano e seu comportamento. Muitos estudiosos do tema acreditam que as cores são o domínio ideal para decidir sobre as hipóteses correntes a respeito da relação entre linguagem e cognição. De fato, um estudo da maneira como as línguas naturais codificam as cores, através dos nomes que lhes são atribuídos, representa um campo semântico ideal para investigar hipóteses. Isso porque existem modos científicos e uma correspondente metalinguagem científica para precisar as sensações de cores que são independentes de línguas particulares.

Dentre outras questões, o estudo do léxico das cores pode decidir sobre a validade de uma das duas teorias correntes sobre a lingüística cognitiva: o relativismo lingüístico e o universalismo semântico cognitivo. O relativismo lingüístico encontra sua explicitação no princípio de Sapir-Whorf, o qual estabelece a crença de que o pensamento e o comportamento dos seres humanos são determinados por sua língua. A forma fraca deste princípio, atualmente mais pesquisada por se achar que seja mais plausível, diz que a língua meramente influencia o pensamento.3 Esse princípio pode ser apresentado da seguinte forma:

1 - as diferentes línguas categorizam o mundo de maneiras diferentes;

2 - o modo de pensar e o comportamento de etnias diferentes são influenciados por estas diferenças de caracterização.

Em contrapartida, o universalismo semântico cognitivo estabelece que existem certos fenômenos lingüísticos que são universais e, portanto, independem da cultura dos falantes.

Considerando outro prisma, essas duas hipóteses podem ser caracterizadas pelas respostas que cada uma dá às seguintes perguntas: o nome das cores nas línguas é dado por convenções lingüísticas arbitrárias? As diferenças de nomes de cor são causadas por distinções nos fenômenos cognitivos referentes a cores? Um adepto do relativismo lingüístico responderá sim às duas questões; já um estudioso do universalismo semântico responderá não.

No âmbito do relativismo lingüístico, Brown e Lenneberg (1954) testaram a codificação das cores através da maneira como os falantes categorizam o espectro de cores e como esta categorização afeta o reconhecimento dessas cores. Esses autores mostraram que os falantes da língua inglesa reconhecem melhor os tons que são mais facilmente nomeados em sua língua. Outros estudiosos, Lucy e Shweder (1979), aplicaram o chamado teste de memória de cor: se uma língua tem termos para discriminar cores, logo a descrição/percepção dessas cores é afetada. Kay e Kempton (1984) observaram que os falantes de Inglês apresentam distorções na área verde-azul em oposição aos falantes de Tarahumara da família Uto-Aztecana, que não possuem tal distinção. Roberson e colaboradores (2000) mostraram que no Benimno, língua da família Sepik-Ramu falada na Nova Guiné, os falantes discriminam mais eficazmente duas cores se estas estiverem separadas do que se estiverem na mesma categoria. Özgen (2004) realizou uma experiência para mostrar que é possível induzir efeitos de categorização na percepção de cores através de treinamento em laboratório. Isto sugere que as línguas podem mudar semelhantemente a percepção de cores através de aprendizagem.

Já do lado do universalismo semântico cognitivo, Heider (1972), trabalhando com o idioma Dani, comparou a discriminação entre esta língua e o Inglês americano. Este autor testou a memória de cor dos dois grupos de falantes, mostrando-lhes primeiramente uma cor e, após alguns minutos, pedindo-lhes que apontassem a referida cor em um grupo de cores semelhantes. A conclusão foi a de que, apesar das diferenças de nomenclatura entre as línguas, não havia diferenças entre os dois grupos quanto à percepção de cores.

Outro trabalho nessa linha de raciocínio que, dentre os estudiosos do tema é considerado o mais relevante, foi realizado por Berlin e Kay (1969). Esses autores compararam os nomes de cores básicas em 20 línguas e, baseados no resultado dessa comparação, concluíram que existem universais semânticos de cor, sendo o mais importante aquele que diz que os principais termos de cor de todas as línguas naturais referem-se às cores que fazem parte do conjunto das chamadas cores fundamentais. Após essa conclusão, postularam uma seqüência evolucionária para o desenvolvimento do léxico de cores, segundo a qual o preto e o branco precedem o vermelho, que precede o verde ou o amarelo, que precedem o verde e o amarelo (ocorrendo conjuntamente), que precedem o azul, que precede o marrom que, finalmente, precede o rosa, o roxo, o laranja e o cinza. Ainda no entendimento desses estudiosos, existem sete níveis com os quais cada uma dentre as diversas culturas está relacionada. Assim, no estágio I, que contém somente as cores preta e branca, estão inseridas as línguas que apenas possuem termos para essas duas cores; já no estágio final, o VII, estão as línguas que possuem oito ou mais termos de cores básicas. Para Berlin e Kay (1969), quando as línguas evoluem, elas desenvolvem termos de cor em uma seqüência cronológica estrita. Dessa forma, se um termo de cor é encontrado na língua, então, os termos de cor de todos os estágios prévios estarão também presentes. Essa seqüência cronológica pode ser vista na Tabela 1, a seguir:

 

Estágio

Cores

Número de Cores

I

Preto e branco

2

II

Vermelho

3

III

Verde ou amarelo

4

IV

Verde e amarelo

5

V

Azul

6

VI

Marrom

7

VII

Alaranjado, rosa, violeta, cinza

8 ou mais

Tabela 1 - Estágios e seqüência cronológica de cores segundo Berlin e Kay (1969).

 

Assim, podemos sumarizar as idéias de Berlin e Kay (1969) em dois pontos:

1) as diferenças léxicas dos termos de cor das línguas do mundo podem ser explicadas como diferentes combinações de umas poucas cores fundamentais que se encontram provavelmente no universo perceptual dos homens;

2) as diferenças léxicas nos termos de cor das línguas do mundo podem ser arranjadas numa progressão evolutiva.

 

Metodologia

Uma das maiores dificuldades de se fazer testes que comprovem fatos cognitivos é o uso adequado da linguagem. Afinal, se, como sugere a hipótese fraca de Sapir-Whorf, a linguagem influencia o pensamento, difícil será a tarefa, em trabalhos de campo visando à coleta de dados para os referidos testes, de aplicar questionários que normalmente exigem o uso da linguagem. Notoriamente esta poderá afetar os resultados dos experimentos.

No âmbito dessas preocupações, ao coletar dados sobre cores entre os falantes nativos da língua Shanenawa, buscamos evitar a linguagem oral na aplicação de questionários sobre cores. Em lugar disso, apelamos para o artifício de indicar a cada colaborador da pesquisa um conjunto de figuras geométricas retangulares, preenchidas com as cores que esperávamos que nos fossem elicitadas ou nomeadas em sua língua materna. Dessa forma, foram evitadas, no questionário, perguntas do tipo "Como é verde em Shanenawa?", o que nos resguardou, por exemplo, de receber respostas do tipo "não maduro". Na verdade, uma resposta como esta só seria possível se, na língua em questão, o termo de cor básico para "verde" correspondesse ao significado "não maduro", mas nesse caso os dados não seriam falseados.

Sobre as cores presentes nos retângulos expostos no questionário, estas eram do padrão de computadores digitais Red, Green e Blue (doravante RGB), com as dimensões apropriadas de tonalidade, saturação e intensidade.

Quanto à apresentação dos dados, devido às dificuldades de impressão das cores, optamos por usar neste artigo o código RGB hexadecimal, que pode ser reproduzido em qualquer microcomputador.4

 

As cores na língua Shanenawa

Na língua Shanenawa, para designar a cor branca, os falantes utilizam o monolexema ushe; já para a cor preta, usam o monolexema txeshe, sendo esta palavra, muitas vezes, também utilizada para referir-se a 'escuro' como no exemplo jame hin txeshe, cuja glosa é 'A noite é escura'. Ainda sobre os termos ushe, para branco, e txeshe, preto, algumas curiosidades chamam a atenção. Ao contrário de muitas línguas africanas e indígenas brasileiras, ushe não ocorre na expressão referente a 'homem branco'. Para isto, os falantes utilizam a palavra nawajan, cuja segmentação morfológica permite-nos depreender apenas o significado da forma nawa-, ou seja, 'homem estrangeiro' (isto é, que não pertence à etnia ou ao núcleo indígena Shanenawa). Em contrapartida, a palavra txeshujan é usada em referência ao homem cuja pele é negra. Além do termo txshe, outro lexema, wisu, é utilizado para nomear a cor preta, aparentemente sem nenhuma diferença semântica.

Para o vermelho, os Shanenawa usam o termo uxin. Para o amarelo, paxin, embora, a exemplo do preto, também exista um outro termo, txaxna, usado com o mesmo significado. Já as cores verde e azul são nomeadas por um mesmo e único monolexema: shena. É preciso ressaltar, entretanto, que os falantes também usam, respectivamente, as palavras "shu" cujo significado é 'fruta verde', para designar o verde, e shane, que é a cor de um pássaro de plumagem azul (do qual, aliás, possivelmente se origina o nome da língua e da etnia Shanenawa), para nomear o azul. Esse processo, no entanto, é pouco produtivo e parece-nos que não é dessa maneira que a língua vai evoluir para ter dois termos de cores para azul e verde, obviamente, se isto for possível.

Quanto à cor marrom, os Shanenawa reservam para denominá-la a palavra etaki. Trata-se também de um monolexema que, às vezes, costuma ser usado para denominar uma outra cor: o violeta mais avermelhado.

Para o rosa, a língua utiliza o termo uximafa. Este, porém, não é um monolexema, pois é constituído das formas uxin, referente a 'vermelho', e mafa, que significa 'claro'. Assim, o nome que expressa rosa, nessa língua, é um termo de cor secundário. O mesmo acontece com as cores alaranjada e violeta. O alaranjado é chamado de shushara, sendo a forma shu referente ao significado 'fruta verde', enquanto shara significa 'escuro'. Isso, aliás, leva-nos a concluir que os Shanenawa têm predileção por cores de menor saturação, haja vista que a palavra shara também pode significar 'bonito' ou 'bom' em sua língua materna. Já o violeta é designado por uxinshara, uma palavra composta pelas raízes uxin e shara, respectivamente, 'vermelho' e 'escuro'.

É interessante observar que, na língua Shanenawa, não existe uma palavra que expresse a idéia de cor. Quando um falante deseja dizer que uma cor é a de um determinado objeto, por exemplo um que tenha a cor do urucum, ele usa o próprio objeto como referência e emprega a expressão paxinti kuskara, cuja glosa é 'parecido com o urucum' ou 'da cor do urucum'.

Considerando todas essas informações, podemos concluir que, em Shanenawa, existem oito termos de cores primárias, o que situa essa língua no estágio VII da escala evolutiva proposta por Berlin e Kay (1969). Os dados obtidos são mostrados na Tabela 2 a seguir:

 

Português

Shanenawa

Tipo de cor

RGB-hexadecimal

Porcentagens (%)

Vermelho

Verde

Azul

Preto

Txeshu

Primária

#000000

0

0

0

Branco

Ushe

Primária

#FFFFFF

100

100

100

Vermelho

Uxin

Primária

#FF0000

100

0

0

Amarelo

Paxin

Primária

#FFFF00

100

100

0

Verde

Shenan

Primária

#00FF00

0

100

0

Azul

Shenam

Primária

#0000FF

0

0

100

Marrom

Etaki

Primária

#964B00

59

29

0

Rosa

Uximafa

Secundária

#FFCBDB

100

75

80

Violeta

Uxinshara

Secundária

#993399

89

0

89

Alaranjado

Shuxhara

Secundária

#FFA500

100

65

0

Cinza

Kuru

Primária

#808080

50

50

50

Tabela 2 - Cores na língua Shanenawa, segundo a escala evolutiva de Berlin e Kay (1969).

 

A configuração dos dados expostos na Tabela 2, contudo, coloca-nos diante de um problema, pois a referida escala prevê que termos de cores para marrom, cinza, alaranjado, violeta, rosa e cinza só podem surgir após o verde separar-se do azul. Sendo assim, na realidade, a língua Shanenawa constitui um exemplo flagrante de língua que viola a escala evolutiva de Berlin e Kay (1969).

 

Comparação

Uma breve comparação entre os termos de cores do Shanenawa com os de outras línguas representativas de vários grupos e subgrupos genéticos da família Pano5 pode ser feita a partir dos dados expostos na Tabela 3, a seguir.

 

Línguas

Cores

Ama-
huaca

Kashi-
bo

Shipi-
bo

Kaxi-
nawa

Shabe-
bawa

Kaxa
ran

Chá
cobo

Matis

Mat-
sés

Preto

Chaho

Tunan

Wiso

Mexupa

Txeshu

Txeshe

Txeke

Wisu

Xêxê

Branco

Joxo

Uxu

Jôsho

Juxupa

Ushe

Alosho

Hosho

Wasa

Uxu

Vermelho

Vinshin

Txexea

Joshin

Taxipa

Uxin

Puxi

Xini

Ped

Piu

Amarelo

Panshin

Panxian

Panshin

Paxinipa

Paxin

Xini

Xini

Xin

Piu

Verde

Maço

Paxa

Yancon

Nanke

Shenan

Yara

Beniaba

Meu

Umu

Azul

Nava

Paxa

Yancon

Nanke

Shenan

yara

Bibiaba

Meu

Umu

Marrom

Tuxin

Etake

Kudu

Laranja

Tuxin

Shushara

Piu

Rosa

Ximafa

Violeta

Axipa

Xinshshara

Cinza

manxan

Kudupa

kuru

Tanun

Tabela 3 - Termos de cores em línguas da família Pano.6

 

Conforme podemos ver na Tabela 3, acima, todas as línguas, exceto o Amawaka, ainda não estão no estágio em que as cores azul e verde se separaram. Além disso, as línguas Matis, Matsés e Kaxinawá apresentam o mesmo problema que o Shanenawa por contarem com termos de cores secundários antes da separação do verde-azul, o que, portanto, não nos permite classificá-las dentro da escala evolutiva de Berlin e Kay (1969). A língua Amawaka encontra-se na fase VI, enquanto as parentas Shipibo, Chácobo e Kaxarari estão no estágio IV. É interessante notar, ainda, que a evolução dos termos de cores, de acordo com a escala de Berlin e Kay (1969), não segue a evolução das línguas, já que o Matsés, o Matis, o Kashibo e o Kaxarari se separaram do Proto-Pano muito antes das línguas restantes aqui mencionadas. Suspeitamos, com este indício, de que o esquema proposto por Berlin e Kay (1969) não ocorre pelo menos para algumas das línguas, pois a evolução, no caso, significa a evolução no tempo e os termos de cores devem aparecer sucessivamente no tempo a partir de algum estágio inicial que se supõe ser o II. Assim, o Shanenawa deveria estar em um estágio muito mais avançado do que o Matsés, por exemplo, já tendo separado as cores verde e azul, como ocorre com o Amawaka, que também é uma língua mais recente do que o Matsés.

 

Conclusão

Após fazermos uma breve descrição dos pressupostos a respeito das cores tanto do ponto de vista da física quanto perceptual e introduzirmos as definições pertinentes que usamos no desenvolvimento do texto, discutimos também de maneira sucinta as linhas de raciocínio, relativismo e universalismo cognitivo semântico, enfatizando o trabalho de Berlin e Kay (1969). Em seguida, apresentamos e discutimos os dados de termos de cores da língua Shanenawa da família Pano e concluímos que esta língua apresenta oito termos de cores básicos, sendo três acromáticos e cinco cromáticos.

Vimos que o Shanenawa é uma língua que neutraliza o léxico de palavras correspondentes ao "verde-azul" e conseqüentemente categoriza as cores quentes separadamente e as frias como uma única categoria. Entretanto, verificamos que essa língua não obedece a escala evolutiva proposta por Berlin e Kay (1969) por apresentar termos de cores para o cinza e o marrom antes do verde se separar do azul.

Apresentamos ainda um quadro comparativo dos termos de cores para o Shanenawa e outras línguas da família Pano e as classificamos dentro da escala de Berlin e Kay (1969). A comparação mostrou que algumas línguas podem ser classificadas com os dados disponíveis, outras apresentam o mesmo problema do Shanenawa. Verificamos também que o esquema proposto por Berlin e Kay não segue a linha evolutiva das línguas, pois as que se separaram previamente da proto-língua Pano (isto é, o Proto-Pano) têm escala evolutiva superior em termos de cores do que aquelas que se separaram mais modernamente. Isto acontece, por exemplo, com as línguas Kaxarari e Amawaka. O Kaxarari se separou há mais tempo do Proto-Pano do que o Amawaka e, portanto, deveria ser uma língua mais evoluída em seu vocabulário de cores por ter tido tempo para isto. O Matsés, por exemplo, não separou nem o azul do verde e nem o vermelho do amarelo, embora tenha sido a primeira língua a se afastar do Proto-Pano.

O próximo passo em nossa pesquisa, será aplicar a metodologia proposta por Berlin e Kay (1969), usando a carta de cores do Color World Survey, com os Shanenawa ao mesmo tempo em que examinaremos essa mesma etnia com relação à memorização e discriminação de cores para chegar a uma compreensão definitiva sobre o debate relativismo versus universalismo pelo menos no que concerne à categorização de cores. No momento, podemos afirmar somente que a língua Shanenawa não evoluiu com relação aos termos de cores como proposto por Berlin e Kay (1969).

 

Referências Bibliográficas

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Notas

L. A. A. Ribeiro
Endereço para correspondência: Av. dos Colonizadores Qd. 16 Lt. 1, Vila Brasília, Aparecida de Goiânia, Goiás, Cep. 74905-270.
Telefone: (62) 3280-9630.
E-mail para correspondência: almir.bh@terra.com.br

G. V. Cândido
Site: http://paginas.terra.com.br/educacao/GICLI

(1) Mais rigorosamente podemos definir um "termo básico de cor" da seguinte maneira: se for um monolexema, isto é, quando seu significado não pode ser previsível através de suas partes; se não se tratar de um hipônimo (eliminam-se assim cores como o carmim); se for aplicável a qualquer objeto (isto elimina louro e baio); se for psicologicamente evidente (isto elimina termos como "cor do café com leite"). Assim, os termos básicos de cor são: os acromáticos: "preto" e "branco"; os primários: "vermelho", "amarelo", "verde", "azul"; os secundários: "marrom", "alaranjado", "violeta", "rosa" e "cinza". Há, ainda, os chamados termos focais de cores, os quais são aqueles constituídos dos acromáticos e primários básicos, ou seja, "preto", "branco", "vermelho", "amarelo", "verde" e "azul".

(2) É preciso ressaltar, porém, que essa descrição é passível de questionamento (cf. Kay, 2005).

(3) Uma descrição com uma discussão do princípio de Sapir-Whorf encontra-se em Amarante Ribeiro e Cândido (2004).

(4) Infelizmente, não foi possível utilizar o programa World Color Survey, pois na época da pesquisa de campo, esse recurso não estava disponível para nós. Trata-se de um conjunto de dados de 110 línguas do International of Computer Science Institute, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. A pesquisa é obtida com uma carta padrão que consiste em 330 cores. Estas encontram-se dispostas em uma matriz de 40 colunas de matizes igualmente espaçados e 8 colunas de brilho. Além disso, a matriz possui uma coluna de dez linhas com as cores acromáticas. Esse recurso encontra-se disponível no endereço eletrônico http://www.icsi.berkeley.edu/wcs/data.html.

(5) Segundo as terminologias usadas na classificação das línguas Pano proposta por Amarante Ribeiro (2006), todas as línguas aqui comparadas pertencem aos seguintes grupos e subgrupos: Amawaka (Grupo I), Kashibo (Subgrupo II-1), Shipibo (Subgrupo II-2), Kaxinawá (Subgrupo III-1), Shanenawa (Subgrupo III-2-2), Kaxarari (III-2-3), Chácobo (Subgrupo IV-3), Matis (Subgrupo IV-1) e Matsés (Subgrupo IV-1).

(6) A fontes bibliográficas de onde foram retirados os dados são: Amawaka, Hyde (1980); Kashibo, Shell (1987); Shipibo, Loriot e colaboradores (1993); Kaxinawa, Montag (1981) e Ans e Mondragon (1976); Shanenawa, Cândido (1998, 2004); Kaxarari, Lanes (2000) e Souza (2004); Chácobo, Zingg (1998); Matis, Ferreira (2001, 2005); Matsés, Kneeland (1979) e Fleck (2003).