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Ciências & Cognição

versão On-line ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.15 no.1 Rio de Janeiro abr. 2010

 

Editorial

 

QUALIS e qualificações: apropriações e desvirtuamentos

 

QUALIS and qualification: appropriation and distortion

 

 

Glaucio Aranha

Ciências e Cognição - Núcleo de divulgação científica e ensino de neurociências (UFRJ)

 

Objeto de elogios e críticas o sistema QUALIS, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), possui uma finalidade importante, que nada tem em comum com os descaminhos que lhe são atribuídos hoje. Atualmente, o QUALIS é utilizado como critério para avaliação absoluta de periódicos, bem como para avaliação da produção de pesquisadores por algumas instituições de fomento à pesquisa. O maior problema depois deste desvirtuamento é o próprio silêncio da CAPES em relação a estes equívocos, ou melhor, seus esporádicos sussurros em relação ao mau uso do sistema.

É importante que compreendamos sua origem e seu processo de formação ou deformação. O QUALIS foi criado com o fim de avaliar a qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação e sobre estes se concentra seu foco. Em momento nenhum, a CAPES se dispôs a desenvolver um sistema capaz de avaliar em termos absolutos a qualidade dos periódicos científicos brasileiros, mas tão somente a estratificação da produção dos programas de pós-graduação. Como destacado por Emmanuel Zagury Tourinho, coordenador da área de Psicologia da CAPES, no IV Encontro de Editores de Revistas Científicas de Psicologia, o processo QUALIS foi concebido para atender necessidades específicas, mapeando a produção dos programas de pós-graduação. As informações que alimentam o sistema consideram apenas os periódicos registrados no aplicativo Coleta de Dados. A produção de associações científicas, ONGs ou mesmo de instituições privadas que não sejam de pós-graduação fogem ao escopo do QUALIS, podendo passar invisível pelo processo de análise. Como destacou Tourinho, reforçando entendimento expresso no próprio site da CAPES, "não se pretende com esta classificação que é específica, definir a qualidade de periódicos de forma absoluta".

Infelizmente, a ignorância de muitos em relação ao sistema de avaliação - ou falta de interesse em se informar melhor - elevou, oficiosamente, o sistema à condição de "índice de impacto"; bem como de banco de dados capaz de sustentar não mais a avaliação dos programas de pós-graduação, mas os próprios pesquisadores, servindo por vezes como base para a análise do perfil destes em relação à concessão de bolsas e outros incentivos. Tais fatos evidenciam o desvirtuamento e total desconhecimento do propósito e dos limites do QUALIS.

A vulgarização do sistema acaba funcionando como ponto de inquietação e polêmica. Curiosamente, os debatedores desta polêmica em torno do QUALIS, muitas vezes, são desconhecedores do próprio objeto da discórdia. Não são poucas as vozes que resistem ao rol das qualificações, sem, contudo, atentar para a própria impropriedade no uso do sistema.

Não se trata, portanto, de levantar bandeiras contra esta ou aquela avaliação, mas investir em uma campanha de esclarecimento acerca da função específica do QUALIS. Hoje, o sistema perde a credibilidade e os debates se repetem, gravitando em torno de discussões inadequadas. É preciso chamar a ordem à discussão, buscando entender melhor o que se está discutindo, sob pena de julgar o engano através das lentes do equívoco.

Glaucio Aranha

Editor-Chefe de Ciências & Cognição

Organização Ciências e Cognição (OCC)

Instituto de Ciências Cognitivas (ICC)

Ciências e Cognição - Núcleo de divulgação científica e ensino de neurociências (UFRJ)

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