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Ciências & Cognição

versão On-line ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.15 no.1 Rio de Janeiro abr. 2010

 

Resenha

 

Temperamento forte e bipolaridade

 

Strong personality and bipolar

 

 

Maurício Aranha

Instituto de Ciências Cognitivas (ICC), Três Rios, Rio de Janeiro, Brasil

 

 

A obra procurar demonstrar que o temperamento quando associado às flutuações do humor podem caracterizar um dos transtornos mais crescentes da atualidade, o bipolar. Também tem por objetivo contribuir para que tal conhecimento possa auxiliar no controle do transtorno a partir de uma atitude resolutiva em situações em que o humor se apresente como desestruturante.

Outro aspecto importante da abordagem se volta para a avaliação criteriosa do diagnóstico de bipolaridade, muitas vezes confundidos com outros transtornos psíquicos e, portanto, medicados de forma equivocada.

O autvor enfoca com muita perspicácia o relevante papel sociocultural e sua influência num mundo repleto de estímulos e carente de análise e questionamento. O autor utiliza sua experiência, exemplificando situações com personagens conhecidos do universo contemporâneo. Esta abordagem facilita a leitura e o entendimento dos interessados pelo tema e que nem sempre dispõem de um instrumental teórico especializado para compreender textos mais técnicos.

Assim sendo, a obra encontra-se dividida em 12 capítulos. No capítulo 1 procura definir componentes importantes que lhe servirá de instrumental argumentativo tais como temperamento, caráter, personalidade e os tipos de humor. Demonstrando serem os temperamentos adaptativos ou não ao ambiente. Propõe uma leitura do humor por um viés depressivo e eufórico fazendo perceber que o que define o humor como sadio é a adequação do mesmo à realidade.

Dedica o capitulo 2 aos elementos conceituais da bipolaridade, bem como traça um paralelo dos estados afetivos de depressão e mania no entender da dinâmica bipolar. Chama a atenção para os aspectos sutis da diferenciação deste com o transtorno de humor unipolar. E discute o porquê não concorda que o termo "bipolaridade" seja realmente adequado para expressar este tipo de transtorno. Outro ponto significativo deste capítulo versa sobre os mecanismos de defesa empregados pelos portadores de tal sofrimento na busca de uma melhor adaptação social.

No capítulo 3 a abordagem se volta para os aspectos comparativos de pessoas detentoras de um temperamento forte, porém não portadoras de transtorno do humor. Deste modo, traça uma critica exposição sobre temas tais como hipertímico e ciclotímico.

Já o capítulo 4 elege o parâmetro temperamento com o fim de chegar aos aspectos mais relevantes do transtorno de humor. Destaca que compreender os tipos de temperamento é importante para que se entenda as diversas variações do humor.

O capítulo 5 aborda os bipolares leves. Chama a atenção para o fato de que mesmo não sendo um transtorno com o mesmo impacto que a bipolaridade plena, tem desdobramentos fronteiriços com outros transtornos de expressão e gravidade inquestionáveis como depressão, fobia social e ciúme patológico.

O capítulo 6 contempla humor bipolar do tipo I, as vezes confundido com uma bipolaridade leve ou quadro esquizofrênico. Procura demonstrar os significativos prejuízos sociais que acometem a vida de portadores desta patologia; descrevendo detalhes e situações que permitem uma compreensão mais dinâmica deste tipo de vivência.

O capítulo 7 fornece os elementos constitutivos do diagnóstico clínico do transtorno bipolar e ressalta a importância de uma experiência em proceder o diagnóstico para não se incorrer no equívoco de confundir tal patologia com alguns transtornos de personalidade.

No capítulo 8 o autor faz um parêntese na análise dinâmica do tema para ofertar a esperança aos portadores da bipolaridade. Neste capítulo enfatiza as maneiras de se lidar com tal transtorno. Para tanto, descreve vários níveis de abordagem do tema que vai desde uma abordagem medicamentosa até o acolhimento familiar. Chama a atenção para as armadilhas do pensamento e propõe meios de lidar com a personalidade.

O capítulo 9 retoma a especificidade temática. Trata da psicofarmacologia disponível na contemporaneidade. Alude aos estabilizadores de humor, suas implicações e expectativas; bem como, os cuidados na utilização e manejo dos antidepressivos.

Para demonstrar que a patologia não é um excludente social e nem uma patologia "preconceituosa", utiliza-se do capítulo 10 para demonstrar que o transtorno não escolhe classe, gênero, sexo, mas acomete indistintamente anônimos e famosos. Alude neste capítulo destacadas pessoas de temperamento forte e com bipolaridade.

O capítulo 11 é uma salutar reflexão sobre o momento atual e seu impacto no universo psíquico do sujeito. O mundo cada vez mais veloz, informal, distanciado, solitário, hiperestimulado e despojado de significado e limite. Estaria o mundo vivendo uma bipolaridade? Este é o grande questionamento do autor.

Por fim, tem-se o capítulo 12 fechando a obra com mais um questionamento, desta vez, voltado para o interior, É o contraponto reflexivo do capítulo 11. O enfoque é o futuro, a possibilidade ou uma possível inevitabilidade de se conviver com aquilo que se teme. E o autor o faz com consciência e sutileza.

A obra é indicada para alunos, professores e interessados em compreender os aspectos psíquicos, médicos e de um transtorno que vem se destacando como um dos mais estudados na atualidade e cujo impacto social tem se revelado através do contingente de portadores que veem suas vidas estagnadas como num labirinto em que a porta para sair é a mesma por onde se deu a entrada.

O autor Diogo Lara é psiquiatra e pesquisador em neurociência ramo do conhecimento em que se doutorou. Atualmente é orientador de pós-graduação e pesquisador do CNPq. Leciona psiquiatria e bioquímica na PUC-RS. E autor de artigos científicos em publicações nacionais e internacionais em psiquiatria, psicofarmacologia e neuroquímica.

Temperamento forte e bipolaridade.
Diogo Rizzato Lara.
Editora: Saraiva.

 

Notas

Maurício Aranha
E-mail para correspondência: ma@icc-br.org.

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