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Ciências & Cognição

versión On-line ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.15 no.2 Rio de Janeiro ago. 2010

 

Artigo Científico

 

A construção (criativa) do significado: processos inferenciais e blending

 

The (creative) construction of meaning: inferential processes and blending

 

 

Aline Aver Vanin

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

 

 


Resumo

Este texto tem por objetivo discutir o processamento inferencial da informação em trocas comunicativas cotidianas a partir da proposta de uma interface interdisciplinar entre a Teoria da Integração Conceitual (Fauconnier e Turner, 2002) e a Teoria da Relevância (Sperber e Wilson, 1995). Parte-se da ideia de que as ambas as perspectivas podem relacionar-se complementarmente para descrever e explicar os aspectos dinâmicos da construção do significado, levando-se em conta as noções de mescla, domínios conceituais, contexto e inferências. © Cien. Cogn. 2010; Vol. 15 (2): 077-093.

Palavras-chave: inferências; blending; teoria de relevância; interfaces.


Abstract

The aim of this paper is to discuss the inferential process of information in daily communicative exchanges, taking into account the proposal of an interdisciplinary interface between Conceptual Integration Theory (Fauconnier e Turner, 2002) and Relevance Theory (Sperber e Wilson, 1995). Both perspectives may complement each other in order to describe and explain dynamic aspects of meaning construction, considering the notions of blend, conceptual domains, context and inferences. © Cien. Cogn. 2010; Vol. 15 (2): 077-093.

Keywords: inferences; blending; relevance theory; interfaces.


 

A percepção da intencionalidade em comunicação é inerente a todo ser humano. Devido à compreensão de que há muito mais informação além daquilo que está no nível das palavras, os participantes da troca comunicativa são levados a investir na busca pelo significado do outro. Contudo, não é possível desvencilhar-se da condição de pertencer a esse mundo a fim de analisá-lo; uma vez vivenciado, constrói-se uma realidade para que ela passe a fazer sentido, para que aquilo que existe possua um significado de acordo com a forma como é experienciado. Desse modo, o significado atribuído para o mundo e, consequentemente, para o outro, não é uma propriedade unicamente da linguagem; é, na verdade, trazido à tona na linguagem, pela interação entre os falantes engajados em atos comunicativos, os quais cooperam a fim de lançar ao outro a consciência de suas próprias intenções. Portanto, o mundo não é algo construído a priori; ele só existe por causa da experiência de cada indivíduo em estar e se observar nele. A linguagem é um meio de organizar, construir e interpretar o conhecimento acerca desse mundo.

Ao interagir com o outro, não se está apenas expressando aquilo que se pensa, mas ao mesmo tempo passa-se a influenciá-lo. A comunicação acontece em uma cadeia de intencionalidade, enfatizando a lacuna entre o que é dito e o que é entendido. Desse modo, os participantes da comunicação têm o papel de construir inter-relações e uma rede de significados que apenas existe por causa do outro.

Por se acreditar que essas relações trazem à tona uma produção dinâmica do significado, este texto pretende refletir a respeito da criação de hipóteses interpretativas na comunicação e, dessa forma, também disserta sobre a formação de inferências e de suposições acerca do dito. Propõe-se um debate sobre uma interface possível entre a Teoria da Integração Conceitual, ou Teoria de Blending, de Fauconnier e Turner (2002), que busca descrever a construção dinâmica do significado, e a Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson (1995), cujo potencial descritivo e explanatório é capaz de demonstrar como ocorre a elaboração de inferências durante trocas comunicativas. Tais teorias possuem diferenças em seus fundamentos, e essa é a razão pela qual se decidiu trabalhar sob a ótica da Teoria das Interfaces, de Campos (2007). Tal abordagem baseia-se na possibilidade de explorar perspectivas inter e intradisciplinares, na qual o objeto de estudo, neste caso, o significado, pode ser abordado dentro de duas ou mais áreas com ideias afins.

De acordo com Campos (2007: 346), a "linguística deveria estar inserida em uma área de relações interdisciplinares, e o seu objeto, a linguagem humana, deveria ser visto como constituinte de um conjunto de propriedades determinadas por relações intradisciplinares"1. Tendo em vista que "(...) a língua em seu escopo envolve ao menos aspectos cognitivos, formais, sociais e culturais" (p. 346), pensa-se ser possível unir aspectos essenciais dessas áreas, as quais contribuem, sem a pretensão de mudança nos fundamentos teóricos, com o intuito de explicar determinado fenômeno, neste caso, a construção dinâmica do significado. Por isso, o significado pode ser observado não apenas sob uma perspectiva linguística, mas através de áreas com interesses comuns, como a Psicologia. Uma relação entre essas áreas abarca também a perspectiva da Semântica Cognitiva e de suas subteorias, a fim de descrever e explicar, também, a interpretação das intenções dos falantes em um contexto online.

A inter-relação entre a Teoria da Relevância e a Teoria de Blending se justifica porque ambas buscam explicar como o significado se constrói no momento da comunicação. Cada abordagem explora um aspecto dessa construção, e é através da interface entre essas áreas que se pretende dar conta de aspectos como o processamento inferencial da informação. Assim, o conjunto de relações parece ser independente: "a interdisciplinaridade e a intradisciplinaridade são construídas de forma cientificamente interativa." (Campos, 2007: 327).

Nessa integração, não ocorrem apenas conexões nas trocas de informação e não há, apenas, certa reciprocidade teórica; de fato, num nível mais profundo,

"Não se trata (...) de traduzir uma interdisciplinaridade como uma atividade tal em que uma disciplina usa uma outra para seus interesses. Ao contrário, uma disciplina mantém as suas tarefas específicas e, quando entra em relações interdisciplinares, trata-se de uma associação interativa de um terceiro objeto, resultante da amálgama interdisciplinar." (Campos, 2007: 348)

Numa relação interdisciplinar, os fatos de uma teoria são vistos como partes de um continuum que podem ser complementados por elementos de outras, mantendo-se as características delineadas por ambas a fim de observar com lentes interdisciplinares um objeto comum.

Tal interface entre uma teoria da Semântica Cognitiva e a Teoria da Relevância parece ser requerida tendo em vista que a Teoria de Blending, parte da Semântica Cognitiva, dá conta da dinamicidade em comunicação, mas seu escopo não explica, completamente, a geração de inferências. Já a teoria de Sperber e Wilson possibilita a descrição e a explicação de como o processamento inferencial da informação ocorre e como suposições são escolhidas, dentre várias, a fim de se chegar a uma provável interpretação da intenção comunicativa do interlocutor.

Lima, Feltes e Macedo (2008) acreditam na necessidade de discutirem-se os processos inferenciais que perpassam a compreensão. Para as autoras, tipos e formas de funcionamento, operações que servem de base para a derivação/geração de inferências semântico-pragmáticas devem ser trazidos para debate. A discussão apresentada por Feltes (2007) questiona a noção de inferência para a Teoria de Blending, visto que essa apenas menciona a existência desses processos, mas não explora a sua ocorrência. Para a autora, a interação entre as teorias aqui mencionadas seria uma solução para determinar quais suposições são selecionadas para serem usadas no processo inferencial, como esse ocorre e por que algumas suposições são mais plausíveis do que outras nesse processo.

A partir do argumento de Feltes (2007) sobre a necessidade de se delinear mais rigorosamente as possíveis explanações para o processamento inferencial e, por consequência, a interpretação do significado no discurso, traçar-se-á uma discussão acerca da possível integração entre as áreas. Para tanto, é preciso, antes de tudo, expor os fundamentos de cada teoria. Como ponto inicial, a próxima seção expõe as bases da Teoria da Integração Conceitual.

 

A construção do significado na perspectiva da Teoria de Blending

A Semântica Cognitiva é uma abordagem que abarca diversas teorias que estão inter-relacionadas devido a sua base experiencialista. Nesse sentido, os processos cognitivos são orientados através da interação do corpo com o mundo. O significado, então, não tem correspondência direta com o mundo, mas ele é representado mentalmente conforme o desenvolvimento das interações e percepções. Sob esse viés, a representação conceitual é perceptual por natureza, e a linguagem serve para incitar significados diversos.

Dentro da visão da representação conceitual do significado, Fauconnier (1994) defende que a expressão linguística é vista como uma ferramenta para a construção de novas estruturas conceituais e de domínios temporários, como um resultado do discurso em andamento. O autor refere esses domínios temporários, ou espaços mentais, como grupos de memórias de trabalho que são construídos durante a interação. Fauconnier e Turner (2002: 102) afirmam que "espaços mentais são pacotes conceituais construídos enquanto se pensa e fala, para propósitos de compreensão e ação locais". Eles estão ligados uns aos outros e a conhecimentos mais estáveis que constituem domínios e frames. De acordo com Fillmore (1985), um frame seria uma estrutura conceitual proposicional definida culturalmente, a qual determina como alguns itens lexicais são utilizados. Lakoff e Johnson (1999) dizem que esses frames utilizados como background são geradores deinferências (p. 117, grifos dos autores). Isso significa que eles serão estabelecidos causalmente nas inferências, baseados no cenário no qual o enunciado está inserido. Os frames contribuem para o conteúdo semântico das palavras e para o significado dos enunciados (Lakoff e Johnson, 1999: 117).

O significado, então, é construído a partir de um processo conceitual e dinâmico, no qual a língua guia a emergência contextual. Os frames, nessa relação, são uma forma de estruturar o conhecimento em espaços mentais. Essas estruturas são moldadas pelo contexto discursivo, o qual é entendido, aqui, como algo que não existe a priori, mas que se delineia no decorrer da comunicação. É por isso que o uso de expressões linguísticas leva ao significado, que é situado. Essa é uma das razões pela qual se diz que a Semântica Cognitiva é fundamentalmente guiada por elementos contextuais, através dos quais a interação comunicativa incita a intencionalidade, influenciando o significado semântico.

Os elementos contextuais, tais como inputs conversacionais, cenários2 culturais e sociais, ambiente físico e até mesmo a linguagem corporal, guiarão a construção do significado através da elaboração de espaços mentais e de mapeamentos entre essas estruturas. Fauconnier (1994) mostra que os espaços mentais são estruturas parciais que se proliferam durante o ato conversacional; o mesmo enunciado pode incitar interpretações diferentes, visto que elas emergem de mapeamentos diversos entre o input originado na interação e o cenário a partir do qual são construídos.

A noção de espaços mentais está em consonância com a Teoria da Metáfora Conceitual, elaborada por Lakoff e Johnson (1980). De acordo com Kövecses (2002), a metáfora é definida, em Linguística Cognitiva, como o entendimento de um domínio conceitual em termos de outro domínio conceitual, em que o pensamento metafórico é organizado através de associações convencionais (Lakoff e Johnson, 1980), como no exemplo "Nosso relacionamento chegou ao fim", em que há a metáfora conceitual implícita O AMOR É UMA VIAGEM. Nesse caso, faz-se um mapeamento entre um domínio-fonte, VIAGEM, e um domínio-alvo, AMOR, como se pode ver abaixo:

 

Domínio-fonte

Domínio-alvo

Os viajantes

Os amantes

O veículo

O relacionamento amoroso

A viagem

Os eventos no relacionamento

A distância percorrida

O progresso feito

Os obstáculos encontrados

As dificuldades vividas

As decisões sobre qual caminho a seguir

As escolhas sobre o que fazer

O destino da viagem

A(s) meta(s) do relacionamento

O final da viagem

O final do relacionamento

Tabela 1 - Mapeamentos da metáfora conceitual O AMOR É UMA VIAGEM (adaptada de Kövecses, 2002: 7).

 

Contudo, a Teoria da Metáfora Conceitual sofreu críticas por razões diversas, entre elas a de que ignora o estudo de metáforas em contextos nos quais expressões metafóricas realmente ocorrem, ou seja, em discursos reais (Kövecses, comunicação pessoal, set./ 2009). De acordo com essa crítica, essa abordagem concebe as metáforas como estruturas conceituais altamente convencionais e estáticas, tornando difícil tratar dos casos em que há a ocorrência de novos e criativos casos de metáforas. Isso ocorre porque muitas vezes as informações contidas no domínio-fonte e no domínio-alvo são capazes de trazer à tona uma metáfora que subjaz o enunciado "estamos em uma encruzilhada" (Kövecses, 2002: 7), por exemplo, mas não há clareza em como esses elementos fazem emergir a interpretação da metáfora conceitual alcançada. Assim, verificando-se o enunciado (1)

"Para ela, o momento mais doloroso da relação foi quando percebeu que finalmente o havia perdido".

percebe-se que, através das experiências vividas no relacionamento amoroso, essa pessoa conceitua o amor através da metáfora O AMOR É DOR, mesmo com dois domínios conceituais abstratos - o que torna a metáfora um pouco diferente do que se costuma lidar, mas possível, segundo Kövecses (2005: 266). Nesse caso, há um domínio conceitual para AMOR e outro para DOR, mas a ideia expressa pelo enunciado de que o relacionamento amoroso foi tão difícil que o indivíduo sentiu, fisicamente, o final do relacionamento se perde no momento em que se tenta fazer as correspondências de acordo com a Teoria da Metáfora Conceitual.

Uma forma de explicar de que maneira inferências como essa ocorrem poderia ser dada através de um acréscimo teórico para essa abordagem. Assim, a noção de espaços mentais (conforme já exposto) e a Teoria da Metáfora Conceitual são base para o que Fauconnier e Turner (2002) chamam de Teoria da Integração Conceitual, ou simplesmente Teoria de Blending (Mescla)3. Essa abordagem trata de processos dinâmicos de construção do significado, o que denota certo tipo de flexibilidade na formação de espaços mentais e dos mapeamentos de um espaço com outros. Esses autores afirmam que a mescla, ou blend, é uma operação cognitiva básica que é central para o modo como as pessoas pensam. Objetivando explicar como o significado emerge, os estudiosos da Teoria de Blending propõem uma forma de analisar esse fenômeno através de redes conceituais relacionadas a espaços mentais e a metáforas conceituais.

A partir dessa união de aspectos teóricos (Teoria da Metáfora Conceitual e Espaços Mentais), numa perspectiva intradisciplinar4, Fauconnier e Turner (2002) estendem o escopo teórico para uma abordagem que visa integrar, dinamicamente, conceitos de domínios diversos a fim de tratar das interpretações surgidas no decorrer do discurso, sendo elas convencionais ou criativas. Os autores sugerem que as redes (networks) são entidades de espaços múltiplos, com direção dupla, as quais integram vários espaços mentais em uma rede mais complexa. Esse processo ligará dois ou mais espaços de input (construídos a partir de grupos de domínios conceituais, experiências imediatas e do que é dito durante a comunicação) por meio de um espaço genérico. Esse espaço mapeia parcialmente o que cada espaço de input tem em comum. Isso significa que "a qualquer momento na constituição da rede, a estrutura que os inputs parecem partilhar é capturada" no espaço genérico (Fauconnier e Turner, 2002: 47), que faz o mapeamento em cada um dos inputs, levando a um blend (mescla). Tal operação é um efeito cognitivo que envolve operações para gerar significado. O espaço de blend gera uma estrutura emergente, ou um significado novo, que não está nos espaços de input. A estrutura nesse espaço emerge através do acréscimo de elementos dos espaços de input a fim de produzir uma entidade única para o próprio espaço de blend. Nessa integração, as novas propriedades de um conceito emergem através de inferências no contexto. Essa arquitetura conceitual dá conta de aspectos convencionais e criativos da construção do significado, como no enunciado (2):

(2) "Ele estava com tanta raiva que tinha fumaça saindo pelos seus ouvidos".

A Teoria de Blending é capaz de explicar como os indivíduos chegam à ideia de que algo abstrato como a raiva pode ser conceitualizado em termos de um conceito mais concreto, imagético, que tem como metáforas subjacentes RAIVA É UM FLUIDO QUENTE EM UM RECIPIENTE, RAIVA É CALOR e também RAIVA É AUMENTO NA INTENSIDADE, além da metonímia conceitual que abarca essas metáforas: OS EFEITOS FISIOLÓGICOS DE UMA EMOÇÃO REPRESENTAM A PRÓPRIA EMOÇÃO. Tais metáforas baseiam-se na ideia de que a raiva tem efeitos fisiológicos como: "Ele estava vermelho de raiva", "Ele estava fervendo por dentro" ou "Ele explodiu" (Lakoff e Kövecses, 1987). Há, aqui, uma relação vital de causa e efeito que ligam as emoções aos seus efeitos fisiológicos, a qual permite que tais expressões refiram a RAIVA (Fauconnier e Turner, 2002: 299). Tal relação possui os seguintes mapeamentos:

 

INPUT 1 - CALOR

INPUT 2 - EMOÇÃO

INPUT 3 - CORPO

Eventos físicos

Emoções

Fisiológico

Recipiente

Pessoa

Pessoa

Calor

Raiva

Calor do corpo

Vapor

Sinal da raiva

Vermelhidão, tremedeira, transpiração, agitação

Ponto de ebulição

Ponto alto da emoção

Explosão

Mostra de raiva extrema

Forte tremedeira, perda de controle psicológico, ações violentas

Tabela 2 - Mapeamentos da relação entre emoções e seus efeitos fisiológicos (adaptada de Fauconnier e Turner, 2002: 300).

 

Esses espaços, de acordo com os autores, podem ser manipuláveis para a emoção designada como "raiva" e para os estados corporais relacionados a ela. Há, também, uma noção cultural e convencional de que as pessoas sempre ficam vermelhas, tremem e têm a temperatura do corpo aumentada quando estão com raiva. Em acréscimo a esse mapeamento entre Calor e Emoção, e a conexão de relação vital (causa e efeito) entre Emoções e Corpo, há um terceiro mapeamento parcial entre Corpo e Calor.

A fusão entre os espaços de input constituem uma mescla convencional múltipla, em que os elementos calor, raiva e calor corporal se fundem para designar explosão, raiva extrema e (começo de/nível de) tremedeira (Fauconnier e Turner, 2002: 300). Dessa mescla, desenvolve-se a interpretação do enunciado (2) ("Ele estava com tanta raiva que tinha fumaça saindo pelos seus ouvidos"), por exemplo. Trata-se de uma elaboração nova a partir das metáforas conceituais RAIVA É UM FLUIDO QUENTE EM UM RECIPIENTE e RAIVA EXTREMA PRODUZ PRESSÃO NO RECIPIENTE. Contudo, segundo Kövecses (2005: 278), não há nem ouvidos no domínio-fonte e nem fumaça no domínio-alvo, mas na mescla esses elementos aparecem. A reação da fumaça saindo pelos ouvidos seria inconcebível se apenas um dos espaços de input fosse utilizado; no entanto, ao se estabelecer uma fusão entre alguns aspectos dos espaços de input, está-se trabalhando com conceitos que podem ser convencionais, como o mencionado para "raiva", ou então para metáforas inteiramente novas e criativas. Nesse caso, elementos de cada espaço de input são selecionados, em que parte do corpo de uma pessoa (cabeça) se torna o recipiente, e a fumaça, ou vapor, é vista como algo que sai pelos ouvidos (orifícios do recipiente). A partir do enunciado (2), através das prováveis fusões, poder-se-ia gerar a inferência interpretativa e conceitual de que ter raiva é como ter um vapor quente dentro de si, que aumenta de intensidade, podendo chegar ao ponto de explodir. A provável mescla, formalizada, é representada na figura 1.

As mesclas podem ser desenvolvidas infinitamente, demonstrando a criatividade da criação de novas metáforas, ou novos conceitos. A associação entre vapor saindo dos ouvidos de alguém e o sentimento de raiva se transforma em um novo mapeamento no momento em que o enunciado é pronunciado, em que o primeiro elemento (fumaça, vapor) acarreta o segundo (raiva).

Contudo, após analisar, em linhas gerais, como a Teoria da Integração Conceitual atua, alguns questionamentos são levantados: (1) Como os elementos dos espaços de input são selecionados para serem usados no espaço de blend? (2) Como as inferências são derivadas? (3) Que tipos de inferências são gerados no espaço de blend?5

Como afirmado no início deste texto, Feltes (2007) afirma que é necessário avaliar os tipos de inferências usados na construção do significado, bem como de que forma o processo inferencial ocorre na interpretação de enunciados no discurso. Essa é a razão pela qual se propõe uma interface entre a visão da Teoria da Relevância e da Teoria de Blending; enquanto a primeira busca estudar aspectos dinâmicos do significado, a segunda é capaz de descrever e explicar como surgem as inferências e como algumas suposições são selecionadas de modo a fazerem parte do raciocínio que leva à interpretação. A próxima seção, então, aborda os fundamentos da Teoria da Relevância.

 

Figura 1

Figura 1 - Inferência: TER RAIVA É COMO TER VAPOR QUENTE DENTRO DE SI. Esquema elaborado pela autora deste texto.

 

Inferências e relevância

Para Sperber e Wilson (1995), a mente humana é flexível e criativa, o que capacita a construção de uma ampla variedade de pensamentos e conceitos. Os autores afirmam que esses são construídos através da interação da memória enciclopédica e dos inputs advindos de elementos contextuais, os quais são criados no decorrer da comunicação - é por isso que se pode dizer que conceitos e ideias são construções ad hoc. Essa é uma tentativa de explicar como os indivíduos compreendem as intenções de seus interlocutores durante a comunicação em certo cenário.

Tal arquitetura conceitual mantém seu foco na comunicação, isto é, no ato intencional, dinâmico e interativo das trocas linguísticas. Nesse sentido, pretende-se dar conta das intenções dos falantes e dos ouvintes, nas suas suposições e na derivação inferencial. Nessa abordagem, os indivíduos envolvem-se em uma comunicação ostensivo-inferencial, na qual o falante provém evidência para a informação transmitida (e das intenções decorrentes dela). Isso significa que, através de um ato ostensivo de comunicação, o falante pretende modificar o ambiente cognitivo do seu ouvinte, o qual é constituído de um conjunto de suposições disponíveis para o indivíduo no momento da interação. O papel do ouvinte é perceber essa intenção e processá-la inferencialmente a fim de chegar a uma interpretação possível. Assim, "a comunicação ostensivo-inferencial consiste em tornar manifesta para uma audiência a intenção do outro em tornar manifesta uma camada básica da informação" (Sperber e Wilson, 1995: 54).

Tais afirmações levam ao primeiro princípio de Relevância (denominado também de Princípio Comunicativo da Relevância), para o qual "cada ato de comunicação ostensiva comunica uma presunção de sua própria relevância ótima" (Sperber e Wilson, 1995: 158). O que os autores querem dizer é que a relevância será ótima se o ato ostensivo gerar efeitos cognitivos, os quais podem ser definidos por três direções: (a) para uma implicação contextual (em que novas suposições podem surgir a partir dos inputs ostensivos); (b) para suposições preexistentes que podem ser fortalecidas ou enfraquecidas, dependendo do estímulo recebido; e (c) para contradição de suposições existentes. Em outras palavras, o processo inferencial é guiado por esforços e efeitos cognitivos.

A comunicação ostensivo-inferencial pode ser definida nesses termos: "o comunicador produz um estímulo que torna mutuamente manifesto para o comunicador e para a audiência aquilo que o comunicador pretende, por meio desses estímulos, para tornar manifesto ou mais manifesto para a audiência um conjunto de suposições I" (Sperber e Wilson, 1995: 63).

A intencionalidade é uma característica definidora da comunicação; como afirma Grice (1975), cada indivíduo lança uma evidência direta da sua intenção informativa, produzindo uma variedade de informação. Também Sperber e Wilson (1995) afirmam que as intenções humanas modificam e expandem o ambiente cognitivo mútuo que compartilham enquanto interagem. Acredita-se que esse princípio comunicativo é necessário para tornar o modelo inferencial griceano explanatório, já que estende a noção de inferência ao detalhar como algumas suposições são escolhidas para a interpretação.

Outra afirmação dessa teoria é que a cognição humana é guiada pela relevância, no sentido de que há uma relação custo-benefício. Como mencionado, o processamento inferencial lida com esforços cognitivos, nos quais as suposições são criadas, fortalecidas/enfraquecidas ou contraditas, de acordo com a interação entre os estímulos ostensivos (inputs) e o conhecimento enciclopédico. O grau de acessibilidade do contexto (construído apenas no decorrer da interação comunicativa) proverá efeitos cognitivos diversos. Tal relação levará a um segundo princípio de relevância (ou Princípio Cognitivo de Relevância): "a cognição humana tende a ser guiada para a maximização da relevância" (Sperber e Wilson, 1995: 260). A presunção de relevância ótima é comunicada ostensivamente, isto é, parte do que é comunicado deve, de algum modo, ser relevante para o interlocutor. A relevância, nessa visão, é entendida em termos de graus de esforço e efeito: os efeitos cognitivos são dimensões não-representacionais dos processos mentais; eles existem independentemente de se o indivíduo os acessa conscientemente, ou se eles são representados conceitualmente. Eles são uma forma de julgamentos comparativos, nos quais suposições mais fortes terão efeitos cognitivos positivos maiores. A relação custo-benefício pode ser explicada como o que se segue: (a) quanto maiores os efeitos cognitivos alcançados durante o processamento do input, maior a relevância para o indivíduo; (b) quanto maior o esforço para processar a informação, menor será a relevância para o indivíduo.

No processo inferencial, quanto mais facilmente uma informação for compreendida, menor o esforço de processamento e maiores os efeitos cognitivos alcançados; por outro lado, se há dificuldades em processar a informação, o esforço será muito maior e os efeitos conseguidos serão menores e, portanto, o grau de relevância será também menor. Tomando-se a metáfora RAIVA É UM FLUIDO QUENTE EM UM RECIPIENTE como um exemplo, pode-se notar que as conexões entre RAIVA e RECIPIENTE são apreendidas devido ao fato de construírem uma metáfora já convencional, facilmente compreendida por causa das experiências do indivíduo com o mundo. Na visão da Relevância, a escolha do melhor significado hipotético ocorre por causa do grau de relevância dado por fatores contextuais: a fim de selecionar suposições para chegar à inferência de que ter raiva é como ter vapor quente dentro de si, entre outras interpretações possíveis, o ouvinte segue um caminho de menor esforço, usando as informações que ele já conhece, partindo de sua memória enciclopédica em conjunto com os inputs contextuais, tais como cenários sociais, culturais e físicos, inputs imagéticos e conversacionais. A metáfora apenas será relevante se preencher a expectativa de que esse estímulo ostensivo é válido para ser processado, isto é, se os esforços para processá-lo serão compensados por efeitos cognitivos positivos. Uma metáfora nova ou criativa gerará um esforço maior, já que novas conexões e inferências deverão ser estabelecidas, mas seus efeitos cognitivos poderão ser superiores a esses esforços se a compreensão for efetivamente alcançada.

As noções de esforço e efeito têm um papel decisivo na cognição, visto a tendência humana de maximização da relevância. Como resultado da seleção constante, mecanismos perceptuais tendem a selecionar estímulos relevantes, e os dispositivos mnemônicos relativos à ativação da memória enciclopédica tendem a levar a suposições relevantes. Elas são processadas inferencialmente da forma mais econômica, sugerindo que o custo do trabalho inferencial é sustentado apenas se houver uma intenção de se conseguir maiores benefícios do que esforços. No caso da compreensão de novas construções linguísticas, o processo inferencial será válido apenas se os efeitos cognitivos superarem os esforços - mesmo que esses sejam muito altos.

Com o propósito de ilustrar a possibilidade de interface teórica, será analisada uma notícia, apresentada a seguir e dividida em fragmentos para melhor compreensão. O primeiro, (3a), será tratado nesta seção, enquanto os demais serão abordados na seção 3 para discussões teóricas e metodológicas.

 

(3a)

United in a roar of anger; Airport fighters make symbolic protest

MORE than 200 people staged a protest yesterday against the expansion of Coventry Airport at Baginton.

(3b)

Campaigners from towns, villages and neighbourhoods across Coventry and Warwickshire waved placards and sang songs to show a united front ahead of a public inquiry into the development of a passenger terminal at the site.

The deafening sound of a jet taking off was played over loud-speakers before protesters let out a collective scream of anger.

(3c)

Archy Muir, chairman of the Stoneleigh and Ashow Airport Action Group, who organised the rally, said: "We are here today to send a strong message that local communities do not want the degradation that the temporary terminal brings to the environment.

"It's a symbolic rally to demonstrate the wide range of people against this." (...)6

 

A leitura da manchete expressa pelo segmento (3a) pode levar, por inferência, ao reconhecimento da metáfora conceitual TER RAIVA É TRANSFORMAR-SE EM UM ANIMAL ENFURECIDO. De acordo com a perspectiva da Relevância, a expressão "urro de raiva" poderia ser facilmente interpretada através do mesmo caminho inferencial que qualquer outro enunciado demandaria. Provavelmente, ao ler a primeira parte da manchete, o indivíduo faria um primeiro esforço cognitivo para compreender o que o autor quis dizer, o qual é compensado pelas informações apresentadas pelo lide, que auxilia na construção do contexto e, portanto, no aumento de efeitos cognitivos. Para Sperber e Wilson (2008), mesmo em se tratando de uma metáfora criativa, não há necessidade de um dispositivo especial para a interpretação desse recurso de linguagem; o mesmo caminho inferencial seria percorrido pelo indivíduo que tem em sua memória enciclopédica elementos que o auxiliem na interpretação desses estímulos ostensivos que são a manchete e o lide.

Os princípios de relevância explicam como hipóteses interpretativas são construídas, escolhidas e processadas no mecanismo cognitivo-inferencial. Elas estão relacionadas às suposições que estão mais ou menos manifestas durante o ato comunicativo, sendo fortes ou fracas, tornando-se premissas para a interpretação do enunciado do falante.

O processamento inferencial baseia-se em regras dedutivas, as quais geram todas as conclusões logicamente implicadas por um conjunto de premissas não-demonstrativas. O processamento cognitivo de inferências, desse modo, não ocorre em termos de enunciados relacionados a condições-de-verdade; de fato, as premissas são construídas durante as trocas comunicativas, o que faz com que se estabeleçam suposições que tornam possível uma conclusão, ou seja, uma interpretação plausível para a intenção informativa do falante. A fim de criar hipóteses interpretativas, os indivíduos apenas seguem um caminho de seleção de premissas, ou suposições, guiadas pela relação esforço-efeito, para alcançar dada conclusão. Ainda utilizando o exemplo (3a), a derivação provável, e inicial, de inferências pode ocorrer desta forma:

P1 - Manifestantes estão em um aeroporto para protestar contra a sua expansão. (nível da explicatura)

P2 - O sentimento que as une é o de raiva por causa da ideia de expansão do local.

P3 - As pessoas protestam por estarem com raiva.

P4 - As pessoas sentem raiva porque a ideia de expandir o aeroporto provavelmente afeta as suas vidas.

P5 - O vocábulo "roar" (urro) é uma onomatopeia para o urro de um animal enfurecido.

P6 - A raiva faz as pessoas gritarem, o que parece ser um urro.

P7 - TER RAIVA É TRANSFORMAR-SE EM UM ANIMAL ENFURECIDO (inferência derivada por mapeamento em rede de integração metafórica.

P8 - EXPRESSAR RAIVA É URRAR (derivação por mapeamento conceitual)

P9 - O "urro" simboliza as muitas vozes, ou as muitas pessoas, que estão contra a expansão do aeroporto.

P10 - O urro das pessoas remete à intensidade de suas emoções em relação à obra a ser executada.

C - Por estarem com raiva, as pessoas gritam com a intensidade de um animal feroz.

Essa derivação é apenas uma simulação de como o processo inferencial ocorreria. Em se tratando de um conjunto de suposições não-demonstrativo, esse pode variar. As suposições podem ser diferentes, dependendo do conteúdo existente na memória enciclopédica de cada pessoa. É por isso que, mesmo tendo os mesmos inputs, duas pessoas podem construir um conceito, ou uma interpretação, de maneiras diferentes. A seleção dos elementos que devem constar nas suposições é guiada pela relevância, uma ferramenta para explicar como algumas suposições são selecionadas para fazerem parte do raciocínio e outras não. Apesar da possibilidade de haver muitas outras suposições e significados que poderiam ser incluídos na derivação acima explicitada, os escolhidos pelo ouvinte são aqueles que ele considera os mais relevantes para serem processados. Para Sperber e Wilson (2008), uma interpretação depende apenas de processos inferenciais e, por isso, a perspectiva da Relevância seria capaz de lidar com aspectos da emergência do significado. Na próxima seção, dar-se-á continuidade na análise da notícia, utilizada aqui para a finalidade de demonstrar a proposta de interface.

 

Relevância e blending: perspectivas interdisciplinares

Em muitos aspectos, a visão da Teoria da Relevância sobre a construção do significado é bastante similar à assumida pelo escopo da Semântica Cognitiva, especialmente na Teoria da Integração Conceitual. Ambas as teorias se preocupam com a construção dinâmica do significado, no sentido de que esse é limitado pelo conhecimento enciclopédico, é dependente de contexto e dos processos inferenciais subjacentes à compreensão. Embora a Teoria de Blending refira esses mecanismos de forma diferente7 de como são delineados pela Teoria da Relevância, ambas as arquiteturas teóricas tentam descrever e explicar como a cognição trabalha na formulação do significado.

No entanto, essas abordagens têm pontos de discordância. A Teoria da Relevância parte de uma tradição gerativa, assumindo as hipóteses inatistas e da modularidade da mente. É criticada por considerar uma "lógica de condições-de-verdade para certos aspectos do significado linguístico" (Evans e Green, 2006: 464) - cuja visão este texto não compartilha. De fato, a arquitetura da Relevância assume a forma modus ponens8, tipicamente utilizada para delinear a inferência dedutiva, para explicar como as suposições (ou premissas para o raciocínio) são derivadas a fim de chegar a hipóteses interpretativas plausíveis. Sperber e Wilson (1995) têm consciência de que não é possível corroborar a hipótese de que a cognição trabalharia dessa forma; é por isso que se assume que só se podem criar hipóteses interpretativas com base naquilo que é dito.

Sperber e Wilson (1995) sugerem uma abordagem cognitiva baseada na tarefa de um dispositivo dedutivo, mas não como sugerido na semântica de condições-de-verdade; trata-se de um caminho metodológico para tratar as premissas abarcadas no raciocínio. A interpretação formulada pela relação entre os inputs, advindos dos estímulos ostensivos, e a memória enciclopédica do indivíduo será capaz de produzir graus de força de cada suposição, implicando em aumento ou diminuição delas e, consequentemente, no grau de relevância da informação.

É interessante notar que Sperber e Wilson (2008) argumentam que a metáfora e outros mecanismos de linguagem não são dispositivos excepcionais, tratando-os como se fossem gerados pelos mesmos processos cognitivos que ocorrem em quaisquer outras trocas comunicativas. Essa visão é bastante similar à assumida pela Teoria da Integração Conceitual, visto que essa adota a perspectiva de que os mesmos processos - blending, redes de integração, mapeamentos entre espaços mentais, entre outros - provêm uma explicação para a emergência do significado em qualquer tipo de enunciado, incluindo o tratamento das metáforas. De acordo com Sperber e Wilson (2008: 84), "as interpretações metafóricas são alcançadas da mesma forma que em interpretações literais, vagas ou hiperbólicas: não há um mecanismo específico para as metáforas (...)". É por isso que esses autores assumem que as expressões metafóricas são também interpretadas através de derivação inferencial:

"O fato de as interpretações de enunciados não serem codificadas, mas meramente evidenciadas pelo seu significado linguístico não depreciam a riqueza da comunicação linguística, mas, ao contrário, a valorizam: cada enunciado pode fazer surgir um grupo aberto de interpretações que vão além de sentidos codificados. Algumas das melhores ilustrações para isso são (...) as metáforas criativas." (Sperber e Wilson, 2008: 88-89)

De acordo com essa visão, as expressões metafóricas são também evocadas através de um caminho inferencial. O significado emerge a partir da associação de propriedades de conceitos ad hoc, tais como um animal perigoso ad hoc. Sperber e Wilson (2008) afirmam que conceitos como esse, construídos com base em termos metafóricos, são genuinamente ad hoc: eles são ajustados às circunstâncias de uso, ou seja, são "sensíveis ao contexto" (p. 86), pelo estreitamento (narrowing) ou ampliação (broadening) de um conceito, apesar de o mesmo procedimento inferencial ser usado para interpretar esses diferentes tipos de enunciados.

Os autores afirmam que a questão principal é se as propriedades que parecem emergir na interpretação metafórica podem ser inferidas. Embora muitas vezes haja um grau considerável de fuzziness9 relacionado aos enunciados metafóricos ou metonímicos, é importante ter em mente que essa visão assume que o caminho inferencial é o mesmo para quaisquer enunciados, sejam eles mais convencionais ou vagos.

Voltando para a manchete no exemplo (3a) (United in a roar of anger; Airport fighters make symbolic protest), pode-se perceber que, inicialmente, a metáfora criada para expressar a dimensão e a intensidade da raiva com relação à expansão do aeroporto pode ser referida como TER RAIVA É TRANSFORMAR-SE EM UM ANIMAL FEROZ. Um caminho inferencial para uma compreensão adequada envolve uma evocação da forma como um animal urra em um momento de emoção extrema, como a raiva, e a construção com base em um conceito ad hoc para esse animal perigoso, denotando a maneira como o animal com raiva se portaria. A associação entre as características do urro do animal enfurecido e da emoção sentida pelos participantes do protesto levanta a inferência de que, por estarem com raiva, as pessoas gritam com a intensidade de um animal feroz. Já de acordo com Kövecses (manuscrito não publicado - a), o caminho a ser criado deve levar em conta um número de metáforas e metonímias conceituais que funcionam em vários níveis de esquematicidade. Primeiro, para ele, há a metáfora genérica INTENSIDADE É FORÇA DE EFEITO; segundo, especifica-se com a metonímia para RESPOSTAS EMOCIONAIS PARA AS EMOÇÕES; terceiro, a metonímia COMPORTAMENTO RAIVOSO PARA DISCUSSÃO; e, finalmente, a metonímia EMOÇÃO PARA A DETERMINAÇÃO DO ATO liga as emoções às ações. Nesse sentido, a associação entre URRO e RAIVA pode ser feita porque os indivíduos constroem esses caminhos conceituais a partir de seu background, devido às experiências no mundo, sendo levantadas nos espaços de input a fim de executarem a mescla.

Observa-se que essas metáforas e metonímias apenas sugerem a relação causa-e-efeito entre emoção e ação, a intensidade do ato, o tipo de emoção envolvida no ato e da presença (ou ausência) do ato e o tipo de emoção. Contudo, o item lexical "roar" (urro) aparece no enunciado a fim de simbolizar, entre outras coisas, que os sentimentos envolvidos eram tão intensos que pareciam não serem humanos, mas de algum animal feroz e, por isso, teriam a ação de "gritar" substituída pela de "urrar" ("roar"), resgatada por meio de onomatopeia (no caso da Língua Inglesa). Como, então, se chega a essa inferência?

Além disso, constata-se, na continuidade do mesmo texto, uma mudança na descrição da expressão da raiva que os manifestantes sentem, conforme relacionado em (3b), acima exposto. Nesse caso, há uma mudança no foco do sentido da raiva trazida por analogia ao ruído emitido por um jato ao decolar ("The deafening sound of a jet taking off was played over loud-speakers"). Como se pode notar, é intenção dos organizadores do protesto comunicar que estão insatisfeitos com a ampliação do local. Por causa desse novo foco, as suposições iniciais relacionadas à metáfora conceitual para raiva, acima descrita, são agora enfraquecidas, fazendo emergir, assim, um novo efeito cognitivo gerado pela intenção dos manifestantes: a inferência derivada na manchete é cancelada por causa da expansão do contexto. A partir do novo input linguístico, as inferências trazidas à tona levam a associações entre elementos do input para o "jato decolando" e o "som ensurdecedor" com o input de "grito de raiva coletivo" ("a collective scream of anger"), em (3b). É possível, por meio de um blend conceitual múltiplo, estabelecer relações entre esses inputs para chegar à interpretação de que o grito de raiva dos manifestantes é tão forte quanto o ruído emitido pela decolagem de um jato, enfraquecendo a primeira inferência metafórica elaborada pela leitura do segmento (3a). Tal inferência emerge no espaço de blend, e a intenção de que ela seja estabelecida é corroborada a partir da leitura do enunciado expresso em (3c). Desse modo, a interpretação de que a mensagem que se quer transmitir no protesto tem força é enfatizada por meio da associação com o ruído emitido pelo jato. Ademais, a suposição P4, elaborada durante a leitura da manchete e do lide, em (3a), é retomada e fortalecida por causa da ampliação do contexto, em (3c), com "(...) local communities do not want the degradation that the temporary terminal brings (...)".

Ao construir uma interpretação por meio de metáfora convencional ou criativa, algumas comparações são estabelecidas; embora existam poucas semelhanças entre os aspectos relacionados a RAIVA e a ANIMAL PERIGOSO, ou, em seguida, à emissão de um som ensurdecedor de um jato decolando, alguns elementos de cada conceito são pinçados dos espaços de input com o intuito de construir um novo conceito para uma raiva ad hoc. A maneira como esses elementos são escolhidos para fazerem parte do espaço de blend (hipotético) poderia ser explicada através da noção de acessibilidade do contexto, através de suposições fortes ou fracas, e através do lugar e do grau da satisfatoriedade dessas suposições na derivação. Ou seja, nesse processo, as suposições mais fortes são as acessadas em primeiro lugar, seguidas por outras até o momento em que as não tão fortes servirão para chegar à interpretação desejada.

Já Kövecses (2010, no prelo) propõe que há um "foco de significado principal" na seleção de características específicas no mapeamento de metáforas conceituais. Através dessa perspectiva, o foco de significado principal do domínio-fonte manteria que uma característica é mapeada porque está associada com um dos focos de significado principais associados a outros conceitos. Portanto, para ANIMAL FEROZ, por exemplo, um dos significados associados é levantado no mapeamento por causa de sua saliência: as pessoas possivelmente assumirão, entre outras definições, que um animal perigoso tem como uma de suas características urrar em um momento de emoção intensa. Embora existam outras definições que podem se ligar ao conceito de ANIMAL FEROZ (como a noção de periculosidade, ou de rapidez, por exemplo), a interpretação de intensidade do urro é a mais forte, e mais relevante, ao se construir a metáfora TER RAIVA É TRANSFORMAR-SE EM UM ANIMAL FEROZ. Já na expansão do contexto, percebe-se que o foco de significado principal é modificado por causa da proeminência dos elementos trazidos em (3b), que se concentra na associação entre o som ensurdecedor de um jato decolando e da intenção de comunicar o grau de raiva sentida pelos manifestantes. Ainda no mesmo trecho, há a menção de "scream of anger", cujo sentido convencional, normalmente, aplica-se a seres humanos. Desse modo, a mudança de foco faz com que a metáfora inicial seja enfraquecida, mas não eliminada, relacionando o sentido dado ao conceito de RAIVA para as reações tipicamente aplicadas a pessoas. Contudo, os elementos "roar" e "deafening sound of a jet taking off" contribuem para a inferência sobre o grau da emoção sentida pelas pessoas no protesto sendo esses, portanto, elementos fundamentais para o ajustamento do conceito de RAIVA ao contexto construído pela leitura da notícia.

Constata-se, ainda, que essa interpretação pode ser estabelecida ainda no lide, cuja função é fornecer ao leitor uma ideia global do texto que se seguirá: nele, é possível observar que o autor elabora um blend em que "urro" e "barulho ensurdecedor" estão mapeados, mas essa interpretação só será alcançada após a leitura do texto como um todo. Há, como já mencionado, um blend múltiplo, em que "urro", "barulho ensurdecedor de um jato decolando" e grito de raiva" são mapeados a fim de levar à suposição sobre o grau de emoção envolvida no protesto, o qual é antecipado no lide. Por esse motivo, acredita-se que a emergência do significado, com foco nos seus elementos principais, pode ser mais bem explicada por meio da articulação de blending metafórico à noção de Relevância como desenvolvida pela Teoria da Relevância.

A fim de responder às questões previamente levantadas quando a Teoria da Integração Conceitual foi discutida10, propõe-se o estabelecimento de uma interface que poderia dar conta de aspectos da construção do significado em ambas as arquiteturas teóricas apresentadas neste texto. Como mencionado, embora existam algumas discordâncias entre elas, é possível aproximar as áreas através de uma interface, como proposta por Campos (2007), a fim de explicar as questões que não estão explícitas na Teoria de Blending.

Por haver certa formalização para explicar o fenômeno da geração de espaços de input, espaço genérico e de blend, dar-se-á um passo a mais neste esquema através do acréscimo no número de elementos envolvidos. Sugere-se que os processos subjacentes na interpretação podem ser associados, em parte, a como a Teoria da Relevância os descreve e explica. Além disso, a ideia de foco no significado principal, descrita por Kövecses, poderia ser um aspecto a ser considerado, tendo em vista que a escolha da melhor hipótese interpretativa poderia ser tratada também pela noção de saliência do aspecto do significado selecionado para executar a mescla. Considerando essa visão, há uma relação metonímica entre o comportamento raivoso para uma discussão (neste caso, o tema do protesto), bem como para a resposta emocional da raiva. Dessa forma, certo conceito é usado para designar um foco para aspectos específicos do conceito da raiva ad hoc. Gibbs (1994, capítulo 7) afirma que a compreensão humana das coisas depende da habilidade de pensar metonimicamente quando mencionadas as partes de um evento e inferido algo sobre a situação como um todo. A interpretação da metáfora não requer que todos os significados subjacentes a determinado conceito, estocados na memória enciclopédica, venham à tona durante a derivação inferencial; a escolha de alguns aspectos do conhecimento metonímico sobre RAIVA e ANIMAL PERIGOSO, por exemplo, garante que nem todos os conceitos sejam selecionados, mas apenas os que se relacionam ao foco de significado principal subjacente aos aspectos dinâmicos da conversação. Essa é a razão pela qual se pode dizer que, no caso do exemplo (3a), a interpretação da metáfora TER RAIVA É TRANSFORMAR-SE EM UM ANIMAL FEROZ acontece por que as pessoas conceituam a intensidade da raiva dentro do frame do comportamento de um animal perigoso no instante de emoção intensa.

Como proposto aqui, a união das áreas com o intuito de descrever o fenômeno da construção de significados é válida por causa das contribuições que ambas as abordagens poderiam oferecer. Essa interface é possível porque, enquanto a Teoria da Relevância mantém seu foco na comunicação, na intencionalidade, nas suposições e na derivação de inferências, a Teoria da Integração Conceitual dá conta especificamente de mecanismos cognitivos. Para Kövecses (2005: 270), "(...) a mescla é um processo cognitivo adicional e essencial que intensifica grandemente o potencial para o pensamento criativo". Sugere-se que parte dos escopos de ambas as teorias possam ser usados para explicar uma compreensão global do enunciado. Kövecses (manuscrito não publicado - b) afirma que "(...) o modelo teórico da relevância faz uso de mecanismos conceituais bem estabelecidos que podem contribuir para a compreensão do enunciado" (p. 8). Além disso, a arquitetura de Blending pode utilizar os dispositivos inferenciais a fim de explicar como a mescla trabalha internamente.

Estabelecida a interface, a pergunta "Como os elementos de espaços de input são selecionados para serem usados no espaço de blend?" pode ser respondida, visto que a perspectiva da Relevância antecipa a escolha de premissas usadas no raciocínio por meio da força das suposições, acessibilidade do contexto e do esforço de processamento: esse deve ser válido a ponto de gerar um efeito cognitivo. Apenas elementos relevantes presentes nos espaços de input serão tomados para fazerem parte do espaço de blend, e serão relevantes devido à força deles no momento da elaboração das suposições, ou seja, no decorrer da interação. Nesse sentido, não somente os elementos advindos dos espaços de input serão processados; numa relação de relevância como uma questão de esforço e efeito, os aspectos considerados relevantes para o novo significado entram na mescla resultante. Esses aspectos são escolhidos ao se considerar elementos comuns de cada espaço de input, aplicando-se a noção de foco no significado principal, de Kövecses (2010), a fim de selecionar os elementos mais salientes de determinado conceito; dessa forma, certo elemento de um conceito será preferido em detrimento de outros porque é aquele que deverá levar a uma construção de suposições mais fortes, em ordem decrescente, até cessar a necessidade de formulação de suposições (as que não tiverem força suficiente para constituírem a derivação, mesmo que pertencentes a um dos conceitos isoladamente, não entrariam no caminho inferencial para a interpretação). Isso significa que a relação metonímica que subjaz a metáfora será enfocada a fim de ativar um ou alguns dos seus aspectos; a memória enciclopédica, juntamente com elementos contextuais, contribui para o surgimento desse (novo) significado ad hoc.

Acredita-se, também, que no espaço de blend as inferências sejam derivadas conforme descrito acima: a partir de suposições específicas e relevantes, uma interpretação será implicada. Lembrando que, se por um lado a teoria de Sperber e Wilson (1995) trata da construção de processos inferenciais como guiada pela Relevância, envolvendo dois princípios gerais - Comunicativo e Cognitivo - por outro é necessário observar que também Fauconnier e Turner (2002) delineiam um Princípio de Relevância:

"(...) um elemento na mescla deveria ter relevância, incluindo relevância para estabelecer links com outros espaços para operar a mescla. Conversamente, uma relação de espaços-exteriores entre os inputs que seja importante para o propósito da rede deveria ter uma compressão correspondente na mescla." (Fauconnier e Turner, 2002: 333)

Contudo, os autores não explicam quais elementos são usados para executar a mescla. Esse fato leva à observação de que deveria haver uma explicação um pouco mais profunda para o que os autores chamam de "Relevância da Rede" (Network Relevance), como propõem; de outro modo, a Teoria de Blending seria uma teoria circular, visto que não explica o que é relevância (ou o que é "importante para o propósito da rede"), como estabelece os links levando em conta apenas aspectos "importantes" para operar na mescla e como esses elementos são escolhidos, entre todos os possíveis, para executarem a mescla. Nesse caso, o primeiro e segundo princípios de Relevância, elaborados por Sperber e Wilson (1995) poderiam dar conta dessa escolha de elementos ditos relevantes, posto serem dependentes de contexto e criados inferencialmente, em que a cognição humana é guiada pela maximização da relevância.

Considera-se a integração conceitual um processo motivado por causalidade e intencionalidade: é causal devido à associação entre o efeito e a causa de um fato, os quais geram interpretações muitas vezes mais elaboradas; é intencional porque essa é uma propriedade inerente da cognição humana - quando se comunica, o ser humano quer que os outros entendam o significado pretendido, que o outro vá além do que é dito. De acordo com Fauconnier e Turner (2002), as relações de espaços exteriores de intencionalidade e de causa-e-efeito precisam ter compressões na mescla, que acontecem por conta da estrutura causal e intencional do frame usado na rede de integração. Isso ocorre porque o frame é como um cenário prévio, que participa da rede, ajudando a estabelecer parte dos elementos contextuais que irão contribuir na mescla. Novamente, reafirma-se a possibilidade de interface teórica, posto que esses elementos seriam dados pelo processamento inferencial.

Os mesmos autores também dizem que os participantes na comunicação estão sob pressão para tornar a sua comunicação relevante, e parte dessa relevância deriva da função e da localização do espaço de blend na rede: "um elemento na mescla pode preencher a expectativa geral de relevância pela indicação de suas conexões em outros espaços ou pela indicação das linhas pelas quais a mescla é desenvolvida" (Fauconnier e Turner, 2002: 333). Eles também afirmam que

"A expectativa de relevância encoraja o ouvinte a procurar conexões que maximizem a relevância de um elemento para a rede, e encoraja o falante a incluir na mescla elementos que levam a conexões de rede corretas, mas também excluem elementos que possam incitar conexões não requeridas." (Fauconnier e Turner, 2002: 334)

Tais explicações lembram muito o background teórico da Relevância em relação aos seus princípios Comunicativo e Cognitivo. No entanto, como mencionado, na perspectiva da Teoria de Blending os autores não deixam claro o que entendem por relevância, como as ligações são estabelecidas e como (e quais) elementos incluídos na mescla são selecionados. Essas constatações sugerem que a construção de uma interface teórica é, de fato, possível - e também requerida -, visto que as lacunas deixadas por ambas as teorias poderiam ser mais bem resolvidas; a contribuição com elementos advindos de uma teoria e de outra tornaria possível uma descrição e explicação mais detalhada do fenômeno que subjaz a construção do significado como um todo, não só de expressões tipicamente metafóricas, mas de toda e qualquer troca comunicativa, que exige de cada um dos seus participantes esforço cognitivo para compreensão do que o outro pretende dizer.

 

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Agradecimentos

Este artigo é parte da tese de doutoramento em andamento sob orientação do Professor Dr. Jorge Campos da Costa, com apoio financeiro da CAPES. Agradeço ao Professor Dr. Zoltán Kövecses, da Eötvös Loránd University, pelas valiosas sugestões dadas durante a escrita deste texto, e, em especial, à Professora Dr. Heloísa Pedroso de Moraes Feltes pela generosidade em analisar e discutir o texto e por sugerir mudanças substanciais no seu formato original.

 

Notas

Aline Aver Vanin
E-mail para correspondência: aline.vanin@ymail.com.

(1)Todas as traduções foram feitas pela autora deste texto.
(2)O vocábulo "cenário" é aqui utilizado em substituição a "contexto", visto que esse é compreendido como uma construção online.
(3)Neste texto, as palavras blend, blending e mescla serão referidas aleatoriamente.
(4)Lembrando que o trabalho numa perspectiva intradisciplinar é proposto por Campos (2007).
(5)Feltes (2007: 179) também questiona a noção de inferência para a Teoria de Blending. A autora levanta perguntas como "O que se entende por uma inferência? (...) O que é considerado "processo inferencial" nesses modelos? Quais tipos de inferências possíveis? Que categorias de inferências podem ser geradas e como operam? Se o acarretamento é uma inferência, em que ponto deve cessar e por quê?".
(6)(3a) Unidos em um urro de raiva; manifestantes de aeroporto fazem protesto simbólico. MAIS de 200 pessoas organizaram um protesto ontem contra a expansão do Aeroporto Coventry, em Baginton. (3b) Manifestantes de cidades, vilas e redondezas de Conventry e Warwickshire balançavam placas e catavam canções para demonstrar uma frente unida de indagação pública quanto ao desenvolvimento de um terminal de passageiros no local. O som ensurdecedor de um jato decolando foi executado em autofalantes antes de os manifestantes soltarem um grito coletivo de raiva. (3c) Archy Muir, presidente da Stoneleigh and Ashow Airport Action Group, que organizou o protesto, disse: "Estamos aqui hoje para enviar uma forte mensagem de que as comunidades locais não querem a degradação que o terminal temporário traz para o ambiente. É um protesto para demonstrar o grande número de pessoas contra isso" (...). Disponível: http://findarticles.com/p/news-articles/coventry-evening-telegraph-england/mi_7969/is_2005_Jan_24/united-roar-anger-airport-fighters/ai_n33971404/. Acesso em: 02/01/2010.
(7)Essa visão refere-se a esses processos como projeção, mapeamento, indução de esquema e integração.
(8)A derivação de premissas para uma conclusão é feita através do estabelecimento de um conjunto de suposições factuais dentro de aspectos contextuais para um raciocínio completo.
(9)Optou-se por manter o termo em inglês a fim de obter-se o sentido pretendido.
(10)Como os elementos dos espaços de input são selecionados para serem usados no espaço de blend? (2) Como as inferências são derivadas? (3) Que tipos de inferências são gerados no espaço de blend?

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