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Ciências & Cognição

versão On-line ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.15 no.2 Rio de Janeiro ago. 2010

 

Resenha

 

Como se aprende? Estratégias, estilos e cognição

 

How do we learn? Strategies, styles, and cognition

 

 

José Ribamar Neres Costa

Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, Distrito Federal, Brasil

 

 

Resenha de Portilho, Evelise. (2009). Como se aprende? Estratégias, estilos e metacognição. Rio de Janeiro: Wak. 164p.

 

Entender como uma pessoa aprende é um desejo antigo dos profissionais voltados para o processo ensino-aprendizagem. Diversos livros, artigos e teses já foram dedicados a essa fonte inesgotável de estudo que é a Educação, mas alguns são destinados apenas a quem já tem domínio teórico, e outros pecam pela superficialidade. O essencial é que houvesse uma obra que mesclasse cientificidade e praticidade, sem perder de vista a legibilidade do texto.

Em 2009 chegou às livrarias o livro Como se aprende? Estratégias, estilos e cognição, da professora e pesquisadora Evelise Portilho, que, a partir de sua experiência docente, de seus cursos e palestras ministradas e de suas pesquisas reúne alguns trabalhos que buscam responder à indagação feita no título.

O livro está dividido em quatro partes que se completam, formando uma unidade temática. Apesar de os capítulos seguirem uma sequência, eles podem também ser lidos como estudos independentes, pois cada um deles mantém uma organização interna que permite a compreensão do conteúdo e assimilação das argumentações defendidas pela autora sem que haja a necessidade de recorrer aos outros estudos da obra.

No primeiro capitulo, intitulado, "Teorias da aprendizagem", a autora inicia "destacando alguns teóricos e seus conceitos de aprendizagem" (p. 16). O texto é organizado a partir da dicotomia que divide os autores enfocados em dois grandes grupos: os que defendem o paradigma comportamental e os partidários do paradigma cognitivista.

De modo sintético, porém claro, Evelise Portilho comenta os conceitos dos principais teóricos do comportamentalismo. Ivan Pavlov, John Watson, Eduard Lee Thorndike e Burrhus Skinner são os cientistas que têm suas ideias a respeito da educação comentadas pela autora, através de um recorte esquemático dos tópicos principais das obras mais importantes de cada um dos educadores.

Defensora da visão cognitivista da aprendizagem, a autora dedica a maior parte do capítulo para estudar os autores do segundo paradigma, sem esquecer de avisar que "não temos uma linha única na teoria cognitivista, que explique o funcionamento da mente" (p. 27). Trabalhando com destreza as concepções dos diversos pensadores que encaixam nesse paradigma, a autora não se limita a dissertar sobre os conceitos mais significativos de cada um dos teóricos estudos, mas aproveita para ilustrar os raciocínios teóricos com exemplos práticos que podem ser encontrados em sala de aula e que podem auxiliar o profissional da educação em suas atividades diárias.

Nessa segunda parte do capítulo inicial, são estudados os seguintes autores: Robert Gagné, Albert Bandura, Jean Piaget, Jerome Bruner, David Ausubel, Lev Vygotsky, Jorge Visca e Juan Ignácio Pozo. No tópico dedicado a cada um dos pensadores cognitivistas, a autora, além de sintetizar de modo claro e objetivo as principais teses defendidas pelos educadores escolhidos, aproveita para fazer críticas fundamentadas a respeito da importância de cada um deles para os estudos dos processos de ensino-aprendizagem e também, quando necessário, apontar algumas incongruências conceituais que poderiam inviabilizar a aplicação de algumas teorias na prática docente.

Para encerrar o primeiro capítulo, o leitor tem um subtópico intitulado "Vislumbrando mais possibilidades para a mente humana", no qual a autora procura entrecruzar os dois paradigmas abordados anteriormente, já que "o aprender envolve todas as capacidades da mente" (p. 74).

O segundo capitulo do livro concentra-se nas "modalidades de aprendizagem" e parte da concepção de que "a pessoa quando aprende precisa, também, desenvolver um conhecimento sobre si mesma" (p. 78). Devendo também preocupar-se em desvendar os mecanismos utilizados na própria aprendizagem. A seguir, a autora diferencia capacidade e habilidade e depois, baseada nas teorias de diversos estudiosos, apresenta várias estratégias de aprendizagem, como por exemplo, revisão, elaboração (defendida por J. I. Pozo); organização, holística, serialista (propostas por G. Pask) e apoio, atenção, processamento de informação, memorização, personalização, aproveitamento das aulas, expressão da informação (na concepção de J. B. Carrasco).

Como continuação do capítulo, Portilho trabalha também os enfoques de aprendizagem, que "têm referência na diversidade das formas existentes de abordar este processo" (p. 91). Embasando-se nas teorias de Ference Maton, Noel Entwistle e Juan Ignácio Pozo, a autora discute as noções de enfoque profundo/superficial (ativo ou passivo), estratégico e lucrativo, antes de passar para o último tópico, que enfoca os estilos de aprendizagem, que segundo os pensadores pesquisados, podem ser de experimentação concreta, observação reflexiva, conceituação abstrata, experimentação ativa; convergente, divergente, assimilativo ou criativo (na teoria de David Kolb); ativo, reflexivo, teórico ou pragmático (na concepção de Peter Honey).

O terceiro capítulo é dedicado à metacognição, estudo "que parece estar ligado à própria existência do ser humano" (p.105). Para desenvolver o tema, a autora inicia recorrendo às conceituações de autores consagrados e, depois, passa a dissertar sobre as estratégias metacognitivas, lembrando que "nenhuma estratégia pode desenvolver-se sem um mínimo de planejamento, controle e avaliação" (p. 108), elementos que estes que servirão de base para os estudos de metaconhecimento, teoria estruturada por Flavell e que será bastante explorada pela autora ao longo do capítulo. Para finalizar a terceira parte do livro, Portilho comenta os instrumentos de avaliação cognitiva e transcreve alguns questionários que podem ser aplicados a crianças ou adultos, dependendo dos objetivos que se queira alcança.

No último e breve capítulo, a pesquisadora volta à ideia de cabe ao professor, "antes mesmo de conhecer como seu aluno aprende, tomar consciência e controle das estratégias que utiliza para aprender" (p. 149). Nessa parte do livro, Portilho apresenta reflexões sobre a atuação dos professores e dá sugestões para que o processo ensino-aprendizagem se torne mais efetivo e afetivo, sendo "necessário que os professores sejam, além de ensinantes, também aprendentes" (p.154).

De modo geral, o livro Como se aprende: estratégias, estilos e metacognição, da professora Evelise Portilho, atinge seu objetivo de despertar a reflexão acerca dos questionamentos de como alguém é levado a aprender algo. Com uma linguagem que permite a leitura e o aproveitamento dos conteúdos discutidos tanto por pessoas expertas no assunto quanto por iniciantes, o livro pode ser lido por todos aqueles que tenham como objetivo compreender os processos de aprendizagem.

 

 

Notas

J.R.N. Costa
E-mail para correspondência: joseneres@globo.com.

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