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Ciências & Cognição

versión On-line ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.16 no.3 Rio de Janeiro dic. 2011

 

Artigo Científico

 

Autoeficácia entre estudantes universitários ingressantes e veteranos de dois cursos

 

Self-efficacy between college students' freshmen and veterans from two courses

 

 

Fernanda Cerutti; Domingos Luiz Palma; Adriane Xavier Arteche; Regina Maria Fernandes Lopes; Guilherme Welter Wendt

Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Psicologia, Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção no Ciclo Vital, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

 

 


Resumo

A autoeficácia é um constructo que aborda a percepção de um indivíduo sobre sua capacidade de enfrentar desafios e buscar resultados satisfatórios. Sendo assim, objetivou-se a partir deste estudo investigar os níveis de autoeficácia de acadêmicos de uma universidade privada do interior do Rio Grande do Sul, Brasil. A amostra foi composta por 137 acadêmicos dos cursos de enfermagem e administração, com idades entre 17 a 41 anos. As informações coletadas foram analisadas quantitativamente, na versão 17 do Statistical Package for the Social Sciences.Verificou-se médias mais elevadas de autoeficácia entre as mulheres em comparação aos homens. Os resultados indicam que as médias de autoeficácia dos grupos de calouros e veteranos não diferem significativamente (p>0,05), bem como entre os acadêmicos dos cursos de enfermagem e administração (p>0,05). © Cien. Cogn. 2011; Vol. 16 (3): 057-065.

Palavras-chave: autoeficácia; universidade; universitários ingressantes; concluintes.


Abstract

Self-efficacy is a construct that addresses the perception of an individual about his ability to deal with challenges and get results. Therefore, the aim of this study is to investigate the levels of academic self-efficacy at a university sited at Rio Grande do Sul, Brazil. The sample was formed with 137 graduate students of nursing and business courses, with ages between 17 and 41-years-old. The data information was analyzed using Statistical Package for the Social Sciences, version 17.0. The results indicate that differences between initial and final undergraduate students (p>0,05) and also between nursing and business student were no statistical significant (p>0,05). © Cien. Cogn. 2011; Vol. 16 (3): 057-065.

Keywords: self-efficacy; university; business students; undergraduate students.


 

 

Introdução

O constructo de autoeficácia refere-se ao modo como o indivíduo avalia ou percebe suas próprias capacidades, reconhecendo-as como suas. Foi através da Teoria Social Cognitiva (Bandura, 1977), que postula que o ser humano é um ser capaz de influenciar suas ações, que a noção de autoeficácia passou a ser debatida com atenção na psicologia educacional. Um dos conceitos importantes desenvolvidos por Bandura (1997) foi o de agência humana. Esta seria uma disposição do indivíduo para produzir e guiar comportamentos com fins específicos, sendo, portanto, um comportamento intencional.

Esse postulado explica como as pessoas escolhem, geralmente, atividades para as quais se sentem aptas, e evitam (agenciam) situações nais quais acreditam possuir nenhuma ou eficácia inferior. Sendo um conceito amplo, cambiante e narrativo, a autoeficácia de uma mesma pessoa pode variar em graus e intensidade. Do mesmo modo, a auto-reflexão é uma forma de ressignificar sentimentos e comportamentos a partir da experiência cotidiana da pessoa (Bandura, 1986). A essa característica de elasticidade adaptativa, insere-se a dimensão relacional da vida em sociedade.

Gerhardt e Brown (2006) explicam que o ser humano, na visão da teoria social cognitiva, é descrito como o resultado da interação entre as influências pessoais, comportamentais e ambientais. Sob este ponto de vista, um indivíduo é capaz de exercer controle sobre seus próprios pensamentos, sentimentos e ações, e esse controle é feito pela crença que o indivíduo possui a respeito de si mesmo. Exercendo, assim, influência considerável na autodeterminação do comportamento e no estabelecimento do alcance de objetivos. Podemos dizer desta forma que são as expectativas de autoeficácia que mobilizam o indivíduo em atração ou repulsão a determinado resultado (Bzuneck, 2004; Chen, 2002).

Dois elementos importantes merecem análise para a compreensão do referido constructo. O primeiro deles é que a autoeficácia é um componente maleável, que pode ser alterado e estimulado. Segundo, sendo correlatas às crenças que o sujeito possui acerca de si, as de autoeficácia podem ser perpassadas pelo viés das diferenças individuais. De acordo com a Teoria Social Cognitiva, a autoeficácia, enquanto crença de competência pessoal, exerce uma função estimuladora do comportamento das pessoas. Bandura (1977) declarou que a autoeficácia determina as opções e atitudes dos indivíduos, bem como é seletiva no montande de energia, tempo e perseverança a serem despendidos em prol de um objetivo.

Se considerarmos que são os fatores pessoais internos, cognitivos e afetivos, as heranças biológicas e as comportamentais apreendidas que interagem de modo complexo nos níveis individuais de autoeficácia, podemos também presumir que o estudo dessa característica é, ao mesmo tempo, complexo e crucial. Crucial uma vez que busca analisar fatores positivos e importantes para o desenvolvimento das pessoas. Shea e Howell (2000) sublinham que algumas dimensões da teoria social cognitiva têm recebido pouca verificação empírica. A própria relação entre o desempenho e a crença pessoal de eficácia, ainda carece por estudos mais detalhados, mesmo sendo central a teoria social cognitiva (Ourique, 2010).

A literatura internacional veicula um número expressivo de estudos que abordam as crenças de autoeficácia suas associações com ambiente acadêmico (Motlagh, Amrai, Yazdani, Abderahim & Souri, 2011; Robbins, Lauver, Le, Davis, Langley & Carlstrom, 2004; Van Dinther, Dochy & Segers, 2011; Yusuf, 2011). Tal atenção pode ser entendida uma vez que, nesse contexto, os alunos vivem um período considerável de suas vidas, buscando conhecimentos e informações sobre a futura profissão, que é de fundamental importância para o desenvolvimento da pessoa e também para o reforçamento de suas crenças de eficácia pessoal.

Levinson (1978) comenta sobre as específicas necessidades de atenção psicossocial em alunos ingressantes na universidade. Para o autor, é uma etapa de transição que impõe exigências expressivas a pessoa, ao passo que, desse modo, devem ser mais bem compreendidas para subsidiar ações institucionais de prevenção e intervenção pedagógica e psicológica. Do mesmo modo, Teixeira (2008) sublinha que alguns aspectos intra-cursos podem ser importantes para a compreensão da autoeficácia no contexto acadêmico, o que pressupõe e demanda por verificações empíricas.

Por exemplo, o estudo de Meneses e Silva (2009), objetivou caracterizar a autoeficácia de acadêmicos que estivessem ingressando pela primeira vez no ensino superior em cursos na área da saúde. O estudo buscou compreender se há influência de variáveis como idade e mudança de residência nas crenças de autoeficácia da amostra pesquisada. Concluíram que os 127 estudantes participantes do estudo possuíam uma boa autoeficácia independentemente das variáveis em questão. Já o estudo longitudinal conduzido por Kocaman, Dicle e Ugur (2009) mostrou que, na medida em que os acadêmicos avançam no curso universitário, os níveis de auto-eficácia e aprendizagem aumentam. Os pesquisadores avaliaram estas mudanças através do acompanhamento de estudantes calouros e veteranos de enfermagem (N = 59) em cinco momentos, ao início do primeiro, segundo, terceiro e quarto ano, bem como no momento de conclusão da graduação.

Teixeira (2008) encontrou relação entre o constructo de eficácia pessoal e as metas educacionais e vocacionais dos estudantes. Em seu estudo, utilizou a escala de autoeficácia percebida, em versão para a língua portuguesa, contando com uma amostra de 296 estudantes. Todos eram estudantes do primeiro ano do ensino superior. Os resultados evidenciaram uma média de autoeficácia elevada no sexo feminino, com diferenças estatisticamente significativas no item Aprendizagem Auto-Regulada (p < 0,05). Já, no que se refere à variável idade, o grupo de estudantes mais jovens, em comparação com o grupo dos mais velhos, apresentou média significativamente mais elevada nos itens sucesso acadêmico e eficácia para obter apoio parental e comunitário (p < 0,01).

Adicionalmente, Ourique (2010) verificou que a autoeficácia pode ser um preditor no planejamento de carreira na medida em que as crenças em relação às habilidades pessoais influenciam positivamente na precisão das atividades que o universitário irá exercer futuramente. A literatura assinala a importância de incluir, durante a graduação, atividades voltadas à profissão e ao mercado de trabalho, pois a autoeficácia está diretamente ligada às expectativas positivas em relação ao futuro profissional (Teixeira & Gomes, 2005).

Caprara, Vecchione, Alessandri, Gerbino e Barbaranelli (2011) hipotetizam que traços de personalidade podem estar envolvidos na mediação dos níveis individuais de autoeficácia. Para tanto, conduziram um estudo longitudinal com 412 estudantes, que responderam aos instrumentos quando tinham 13, 14, 16 e 19 anos de idade. As análises multivariadas demonstram que os estudantes que apresentam traços elevados de consciência demonstraram, ao final do curso, mais crenças de autoeficácia em relação à carreira. Dessa forma, os traços de personalidade instituem-se enquanto núcleos de análise do processo de aprendizagem (Caprara et al., 2011).

Bardagi e Boff (2010) também analisaram as crenças de autoeficácia em universitários concluintes, em uma universidade no interior do Rio Grande do Sul. Salientam, por meio de seu estudo, que um acompanhamento aos universitários em processo de transição para o mercado de trabalho se faz imprescindível. Desta forma, compreender a relação entre a autoeficácia e o ambiente acadêmico é um assunto que possui grande relevância, pois, através deste, é possível compreender tanto as situações em que serão encontrados acadêmicos com eficácia mais elevada e que, portanto, tenderão a realizar suas tarefas na faculdade de forma mais motivadora. E, situações em que aparecerão acadêmicos com uma crença de eficácia diminuída, que resultará em grandes dificuldades na realização das atividades propostas.

Nesse aspecto, objetivou-se investigar a autoeficácia de acadêmicos de uma universidade privada. Especificamente investigou-se a diferença entre os níveis de autoeficácia e algumas variáveis tais como: curso, semestre, idade, sexo e reprovação. Para tanto, utilizou-se a escala de autoeficácia criada por Sherer et al. (1982) e traduzida para a língua portuguesa por Palma (2001).

 

Método

Trata-se de um estudo de delineamento quantitativo, transversal e descritivo. Participaram da amostra 137 alunos do sexo masculino e feminino, que foram divididos de acordo com a situação no curso. Os cursos foram selecionados de modo aleatório, dentre todas as opções de graduação disponíveis na instituição.

Os estudantes do primeiro curso, administração de empresas, freqüentam 1º e 9º semestre do curso (calouros e veteranos); os respondentes do segundo curso sorteado estavam entre o 1º e o 7º semestre de graduação em enfermagem (calouros e veteranos).

O instrumento utilizado na pesquisa foi a Escala de Autoeficácia, de Sherer et al. (1982), adaptada para a língua portuguesa por Palma (2001). O instrumento é composto por 17 afirmativas em disposição de escala do tipo Likert cinco pontos. As variações vão desde 1, discordo totalmente, a 5, concordo totalmente. Para a obtenção dos escores, calculou-se a média ponderada das respostas. Alguns itens da escala utilizam pontuação reversa para a composição do escore.

O instrumento foi aplicado em cada turma de graduandos separadamente, em sala de aula. As respostas dos participantes foram tabuladas em um banco de dados, e logo após foi realizada a análise estatística dos dados coletados, que contemplou: técnicas de estatística descritiva e comparação de médias (M) e desvio padrão (DP), por meio do Teste t. Todos os aspectos éticos foram assegurados, bem como se ressalta que o estudo foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Pesquisada. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

Resultados e discussão

Observou-se que a idade mínima foi de 17 anos, a máxima foi de 41 anos, a média está nos 25 anos (DP = 5,11). Foram utilizados estes resultados para dividir as idades dos 137 participantes em quatro grupos (tabela 1). No primeiro grupo encontram-se pessoas com idade entre 17 e 22 anos, no segundo estão aquelas com idade entre 23 e 28 anos, no terceiro grupo aparecem as pessoas com idade entre 29 e 34 anos, e no último grupo estão aquelas com idade entre 35 e 41 anos.

Idades

N

Média

17 à 22

98

2,78

23 à 28

26

2,76

29 à 34

8

2,74

35 à 41

5

2,92

Tabela 1 - Média de autoeficácia em relação à idade.

Pode-se perceber que a maior freqüência, 98 participantes (71%), aparece no primeiro grupo, com idades entre 17 e 22 anos. A média mais baixa de autoeficácia (M = 2,74) foi encontrada no terceiro grupo que compreende as idades entre 29 e 34 anos. Já a menor freqüência, apenas cinco participantes (4%) e a média mais alta de autoeficácia (M = 2,92), encontra-se no quarto e último grupo (35 a 41 anos).

Os resultados apontam que a autoeficácia é mais alta em pessoas com mais idade. Sendo assim, quanto mais tempo de vida a pessoa tem, mais crenças de autoeficácia ela apresentará, embora nesta análise constatou-se que as diferenças nas médias de autoeficácia dos grupos analisados não foram significativas. Abbad e Borges-Andrade (2004) afirmam que a eficácia pessoal é moldada através dos anos pelo conhecimento adquirido por meio das experiências vividas.

Ademais, observa-se que a amostra foi composta por uma maioria de mulheres (55%, N = 75). Na análise dos resultados (tabela 2) observou-se que o maior número de participantes foi encontrado no grupo de calouros, 87 (64%), uma vez que o grupo de veteranos apresentou 50 participantes (36%).

Através das respostas das 137 pessoas que compunham o grupo amostral, constatou-se que o valor mínimo das respostas referentes à percepção de autoeficácia foi de 2,24 e o máximo foi de 3,76. A média bruta das respostas da amostra foi de 2,78 (DP = 0,29). Os níveis de autoeficácia foram estipulados tendo como parâmetro a média dos escores brutos. Sendo assim, os participantes que obtiveram no teste o escore padronizado igual ou inferior a 2,50 foram categorizados com autoeficácia baixa (figura 1).

Gráfico 1

Gráfico 1 - Níveis de autoeficácia observados na amostra

Aqueles que obtiveram escore padronizado entre 2,51 e 2,90 foram categorizados com autoeficácia média. Já os sujeitos que apresentaram escores padronizados iguais ou superiores a 2,91 foram categorizados com autoeficácia alta. Obteve-se a quantia entre cada nível por meio da Análise de Freqüência, expressa na figura acima. Observou-se igualmente que, dentre os participantes, 19 (14%) pertenciam ao grupo de autoeficácia baixa, 82 (60%) pertenciam ao nível de autoeficácia média e, finalmente, 36 estudantes (26%) apresentavam autoeficácia em níveis altos. Este resultado pode estar relacionado a uma tendência de auto-valorização, uma vez que o que estava sendo avaliado era a percepção referente à própria capacidade, pois a autoeficácia está relacionada com os julgamentos que o sujeito tem de si e não com suas habilidades (Abbad & Borges-Andrade, 2004).

N

Média

DP

Alfa de Cronbach

Variância

T

p1

Sexo

Masculino

62

2,75

0,33

0,299

0,70

-1,102

Ns

Feminino

75

2,80

0,34

0,516

0,90

-1,116

Ns

Curso

Enfermagem

52

2,80

0,41

0,507

0,94

0,828

Ns

Administração

85

2,77

0,29

0,377

0,74

0,805

Ns

Situação no curso

Calouros

87

2,78

0,29

0,415

0,78

0,131

Ns

Veteranos

50

2,77

0,42

0,464

0,89

0,129

Ns

Tabela 2 - Média de autoeficácia dos cursos de enfermagem e administração. 1Ns: não significativo; S: significativo à 0,005.

Em relação à percepção de autoeficácia positiva e a variável sexo, a média das mulheres (M = 2,81; DP = 0,30) foi um pouco mais elevada do que a dos homens (M = 2,75; DP = 0,26), entretanto, essa diferença não é significativa (p > 0,05). O estudo de validação da Escala de Autoeficácia Geral Percebida, realizado por Souza e Souza (2004), evidenciou que o sexo biológico não possui influência significativa sobre o constructo de autoeficácia (p = 0,847).

Para verificar a existência de diferença entre os níveis de autoeficácia dos acadêmicos dos cursos de enfermagem e administração foram comparadas as médias dos alunos desses dois cursos com a média de autoeficácia total. Para tanto se utilizou o Teste t de Student. Percebe-se que a diferença entre as médias dos dois grupos analisados não é significativa (p>0,05). Como não houve uma diferença significativa, infere-se que, independente do curso, o que importa na verdade é estar na universidade. Deste modo, se os acadêmicos não desanimam e nem deixam de acreditar no seu potencial, sabem lidar com as cobranças de qualquer ambiente (Hall, Lindzey & Campbell, 2000).

A média dos acadêmicos foi de 2,78, igual em ambos os grupos, calouros e veteranos. Deste modo, não existe diferença significativa entre as médias dos dois grupos (p>0,05). O resultado aponta que embora calouros e veteranos estejam em momentos de vida diferentes, têm expectativas e desafios que se equivalem. Pois entrar na universidade pode ser um desafio tanto maior ou igual quanto enfrentar o mercado de trabalho. E independentemente do nível em que se está cursando e das dificuldades e novidades encontradas em cada um, o que importa são as crenças de autoeficácia já que são elas as responsáveis pelo esforço, pela persistência e pela dedicação na tarefa realizada (Rivièri, 1996).

Gerhardt e Brown (2006) acrescentam ainda que as crenças de autoeficácia formam a perspectiva de que a pessoa pode, por esforço próprio, dominar uma situação e provocar um resultado desejado. Se a expectativa que uma pessoa tem de si for positiva, fará com que esta demande um maior esforço e saiba lidar de forma eficaz com as adversidades (Hall et al., 2000).

 

Considerações finais

As expectativas de autoeficácia, a partir de uma ação de auto-avaliação, vão contribuir na escolha da atividade a ser realizada futuramente. Além disso, podem influenciar tanto o nível como o tipo de desempenho que será disponibilizado para lidar com as atividades, bem como o esforço que será despendido (Bandura, 1977).

Por muitas vezes, os universitários podem expressar o modo como agenciam as demandas desafios e adversidades do cotidiano no contexto da universidade. Tal fato motivou uma série de estudos com vistas a mapear quais são os determinantes de um bom desempenho acadêmico (Robbins et al., 2004). Na amostra do presente estudo, os resultados não apresentaram variações significativas.

Van Dinther et al. (2011) afirmam que os estudantes de ensino superior que participam de programas de promoção autoeficácia apresentam desfechos positivos em uma série de domínios relacionados à saúde, expectativas profissionais e metas individuais. Os pesquisadores conduziram uma ampla revisão de estudos sobre a temática e concluíram ainda que, dos programas de intervenção citados, os mais eficazes foram os sustentados pela teoria social cognitiva.

Levando em conta estas questões, há um longo caminho a ser desvelado, ao menos no Brasil, no sentido de criar condições cada vez mais propícias a um processo de desenvolvimento pessoal saudável. Neste trabalho, o conceito de autoeficácia apresentou intersecções com variações do ambiente acadêmico, o que, embora não significativo, sugere que as particularidades de um influenciam o outro. Tanto a percepção de autoeficácia vai determinar o rendimento e o comportamento dos acadêmicos quanto às vivências no contexto da academia irão influenciar a forma e o grau de eficiência percebida pelo aluno.

Logo, é preciso acreditar que as condições cognitivas e físicas necessárias para atingir objetivos estão à disposição da pessoa (Zanelli & Bastos, 2004). Sendo assim, percebe-se a importância de incentivar e criar condições, em casa ou na universidade, para que os indivíduos acreditem que são capazes. Embora a autoeficácia seja atualmente reconhecida como uma importante contribuição a psicologia educacional, alguns aspectos ainda necessitam de maiores investigações. Do mesmo modo, conforme os postulados da meta-análise envolvendo a literatura sobre autoeficácia, Robbins et al. (2004) destacaram para a importância da descrição das propriedades psicométricas das investigações sobre o tema, fato que, na proposição dos autores, pode contribuir para novos e robustos estudos.

Além disso, em futuras investigações sobre o assunto, poderia ser interessante contar com um número maior de participantes, aumentando a precisão das análises estatísticas. Ressalta-se também para a pertinência de englobar outros cursos na composição amostral em pesquisas com universitários.

 

Referências bibliográficas

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Referências bibliográficas

F. Cerutti
Endereço para Correspondência: Av. Ipiranga, 6681, Partenon, Porto Alegre, RS 90.619-900;
E-mail para correspondência: fecerutti@hotmail.com;

D.L. Palma
Endereço para Correspondência: Centro de Ensino Superior de Chapecó. Lauro Muler 767 E, Santa Maria, Chapecó, SC 89.801-601.
E-mail para correspondência: dlpalma2003@yahoo.com.br;

A.X. Arteche
Endereço para Correspondência: Av. Ipiranga, 6681, Partenon, Porto Alegre, RS 90.619-900;
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