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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

On-line version ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.1 no.2 Ribeirão Preto Aug. 2005

 

ARTIGO ORIGINAL

 

O uso de bebidas alcoólicas pelos estudantes de enfermagem da Universidade do estado do Rio de Janeiro (FENF/UERJ)

 

The use of alcoholic drinks by nursing students at the state University of Rio de Janeiro (FENF/UERJ)

 

El uso de bebidas alcoholicas por estudiantes de enfermería de la Universidad del estado de Rio de Janeiro (FENF/UERJ)

 

 

Cíntia Leila de Araújo MarçalI, Fernanda de AssisII, Gertrudes Teixeira LopesIII

I Aluna de graduação do 5º período de enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Bolsista de Extensão.
II Aluna de graduação do 5º período de enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, bolsista de Iniciação Científica do PIBIC.
III Professora Titular da Faculdade de Enfermagem da UERJ, Doutora e Livre Docente em Enfermagem. Pesquisadora do CNPq e da FAPERJ, Procientista da UERJ. Coordenadora do Mestrado da FENF/UERJ. Membro do NUPHEBRAS.

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Problema do estudo: qual é o uso de bebidas alcoólicas pelos acadêmicos de Enfermagem da UERJ? Objetivos: identificar o uso de bebidas alcoólicas pelos acadêmicos da FENF/UERJ e verificar os fatores que levam à sua ingestão. Estudo descritivo quantitativo investigou 177 estudantes do 1º ao 9º períodos, de abril a junho de 2004, mediante a aplicação de um questionário. Os resultados evidenciaram que a maioria faz uso de bebida alcoólica, iniciando o beber entre 13 e 16 anos, por diversão, descontração e ficam alegres após a ingestão do álcool. Para alguns o consumo cresceu após ingressar na universidade.

Palavras-chave: Enfermagem, Estudantes de enfermagem, Alcoolismo.


ABSTRACT

This study aimed to identify alcohol use by nursing students and verify the factors that induce students to consume them. A descriptive quantitative research investigated 177 students from April to June 2004, applying a questionnaire. The results evidenced that a majority consumes alcoholic drinks and started this habit when they were between 13 and 16 years old, motivated by amusement, relaxation and becoming happy after consuming alcohol. Some participants mentioned increased consumption after getting to university.

Keywords: Nursing, Nursing students, Alcoholism.


RESUMEN

Los objetivos de este estudio fueron los de identificar el uso de bebida alcohólica para los académicos del FENF/UERJ y verificar los factores que llevan a su ingestión. Estudio descriptivo cuantitativo investigó a 177 estudiantes del 1º al 4º año, de abril a junio de 2004, mediante la aplicación de una encuesta. Los resultados evidenciaron que la mayoría hace uso de bebida alcohólica, empezando a beber entre los 13 y 16 años, para el entretenimiento, la casualidad y quedarse alegre tras la ingestión del alcohol. Para algunos, el consumo creció después de entrar en la universidad.

Palabras clave: Enfermería, Estudiantes de enfermería, Alcoholismo.


 

 

INTRODUÇÃO

O objeto deste estudo é o uso de bebidas alcoólicas entre os acadêmicos da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FENF/UERJ).

Justifica-se este estudo a partir da observação cotidiana sobre a alta freqüência de chopadas na universidade, geralmente uma vez por semana, considerando a existência de vários cursos oferecidos pela Instituição. Esse tipo de comemoração tornou-se tradição nas universidades públicas e a freqüência aos barzinhos, situados no entorno da universidade, depois das atividades acadêmicas, uma rotina cotidiana.

Considerando que o álcool é uma droga lícita e atinge grande parte da população em menor ou maior escala, no Brasil estima-se que 84% dos brasileiros fazem uso ocasional do álcool, 21% consomem diariamente e 19% têm uma embriaguez alcoólica semanal. Oitenta por cento dos menores já experimentaram bebidas alcoólicas. Calcula-se prevalência em torno de 8 a 10% de abuso e dependência do álcool, afetando cerca de 8 milhões de brasileiros. O alcoolismo é o responsável por 75% dos acidentes automobilísticos com morte e por 39% das ocorrências policiais, em que a maioria dos homicídios é facilitado pelo uso do álcool(1).

Em relação à saúde, ao álcool se atribui a segunda causa mais freqüente das internações psiquiátricas e representa a causa de 32% dos leitos ocupados nos hospitais gerais. O alcoolismo é o quinto responsável pela consultas ambulatoriais(1).

Esse quadro da realidade, tanto entre a população geral como entre os universitários, incitou o desenvolvimento de um estudo que pudesse desvelar qual é o uso de bebidas alcoólicas pelos acadêmicos de Enfermagem da UERJ.

Essa situação também chamou a atenção pelo fato de haver uma lacuna no conhecimento sobre o assunto que se considera, na atualidade, muito sério pelas conseqüências que pode encerrar. Na busca de apoio literário encontra-se poucas fontes de informações sobre a temática, suscitando uma interpretação mais profunda. Diante do exposto questiona-se: quando os acadêmicos iniciaram o beber? que tipos de bebidas usam com mais freqüência? como é o seu beber na universidade? e quais as motivações que levam os alunos a fazerem o uso do álcool?

Os objetivos deste estudo são:

  • identificar o uso de bebidas alcoólicas pelos acadêmicos da FENF/UERJ;
  • verificar os fatores que levam os acadêmicos a ingerir bebidas alcoólicas.

A finalidade deste trabalho foi de contribuir para identificar o real consumo de bebidas alcoólicas pelos estudantes da FENF/UERJ. Por outro lado, pretende-se, também, proporcionar aos docentes e discentes a reflexão sobre as implicações que o uso elevado do álcool provoca na vida acadêmica e do ser humano.

 

REVISÃO DA LITERATURA

O alcoolismo é uma doença crônica, cuja evolução processa-se lentamente, levando muitos anos para apresentar os sinais evidentes de sua presença e, na maioria das vezes, são minimizados pelo bebedor. O corpo se adapta às manifestações fisiológicas causadas pelo álcool e aos poucos vai se deteriorando(1).

O álcool é uma das substâncias que causa maior número de prejuízos para a população e, portanto, obriga o Brasil a gastar enormes fortunas, todos os anos, na reparação de suas conseqüências. Já os prejuízos individuais nem sempre podem ser recuperados(2).

A fixação de uma pessoa no comportamento de busca do álcool obedece a dois mecanismos não patológicos, conhecidos como comportamento de repetição: o reforço positivo e o reforço negativo. O reforço positivo refere-se ao comportamento de busca de prazer quando algo é agradável. Nessa situação, a pessoa busca os mesmos estímulos para obter a mesma satisfação. O reforço negativo refere-se ao comportamento de evitação de dor ou desprazer, ou seja, quando algo é desagradável a pessoa procura os mesmos meios para evitar a dor ou desprazer, causados numa dada circunstância. No começo a busca é pelo prazer que a bebida proporciona, depois de um certo período, quando a pessoa não alcança mais o prazer anteriormente obtido, não consegue mais parar porque sempre que isso é tentado surgem os sintomas desagradáveis da abstinência, a pessoa continua mantendo o uso do álcool. Os reforços positivos e negativos são mecanismos ou recursos normais que permitem às pessoas se adaptarem ao seu ambiente(3).

O alcoolismo, como as demais doenças psiquiátricas, é determinado por um conjunto de fatores genéticos e condições sociais. Há muitos genes que permitem a alguns indivíduos beber mais que outros, sem se sentir mal, sem ter dor de cabeça, sem se tornar viciado. E há muitos outros que contribuem para o alcoolismo. Se os pais e avós forem alcoolistas, esse é um sinal de alerta. Deve-se usar álcool com muito cuidado, porque a predisposição genética é mais forte do que a de um filho de pais não alcoolistas. Mas se não houver um fato que desencadeie a doença, a pessoa pode passar a vida toda sem ter problemas com álcool. O importante é que a carga genética não equivale a uma condenação ao alcoolismo, assim como ser filho de músicos não transforma ninguém em violinista(4).

Pesquisa realizada com um grupo de 398 pessoas mostrou que 72 desenvolveram dependência ao álcool. Dos 178 indivíduos sem nenhum parente com história de abuso de bebida, apenas dezoito se tornaram dependentes. Entretanto, no universo das 71 pessoas que tinham quatro ou mais parentes que abusavam do álcool, 25 se tornaram alcoolistas. Essa é uma diferença expressiva, que nos mostra a possibilidade da influência genética. No entanto, mesmo nesse segundo caso a maior parte das pessoas não desenvolveu abuso de álcool(4).

Nesse campo, uma das questões a ser valorizada é a interação familiar especialmente em relação ao comportamento dos pais que fazem uso da bebida alcoólica, por exemplo, no caso de alcoolismo. O ambiente familiar é visto como parte importante na determinação do uso do álcool e sugere que o alcoolismo está constantemente associado à negligência, distanciamento emocional, rejeição dos pais ou tensão familiar(5).

O uso, tornando-se importante na vida do indivíduo, começa a ser inserido nas suas atividades. Em geral, o uso começa a preponderar em atividades de lazer, com a família, para, após, estender-se a atividades e situações vitais, como o trabalho, o estado psíquico e de saúde física, entre outros(6)

O bebedor é classificado como(7):

  • bebedor moderado - alguém que utiliza a bebida alcoólica sem dependência e sem problemas decorrentes de seu uso;
  • bebedor problema - alguém que apresenta qualquer tipo de problema (físico, psíquico ou social), decorrente do consumo de álcool;
  • dependente de álcool - alguém que apresente estado psíquico e/ou físico caracterizado por reações que incluem ingestão excessiva de álcool, de modo contínuo, ou periódico, para experimentar seus efeitos psíquicos e/ou para evitar o desconforto de sua falta;
  • alcoolista - esse termo refere-se tanto aos bebedores - problema quanto aos dependentes de álcool. Ainda que os termos alcoolista e alcoólatra tenham o mesmo significado, dar-se-á aqui, preferência ao termo alcoolista;
  • síndrome de abstinência - conjunto de sinais e/ou sintomas habitualmente encontrados nas pessoas dependentes de álcool, quando da interrupção ou diminuição de seu uso;
  • intoxicação alcoólica aguda (embriaguez) - comportamento relacionado a recente consumo de quantidade de álcool que produz intoxicação, devido à alta concentração desse no sangue (alcoolemia). Na pessoa abstêmia, ou bebedor moderado, acima de 25 a 30 mg/100ml já há alteração do comportamento, enquanto a pessoa dependente suporta concentrações muito maiores face às modificações fisiológicas da doença decorrentes do fenômeno de tolerância.

 

 

A síndrome da dependência do álcool passou a ser entendida como um continuum, referindo-se a um grupo de sintomas caracterizados por perda da capacidade de controlar a ingestão de substâncias psicoativas, ênfase no consumo, tolerância, síndrome de abstinência e consumo de substâncias para aliviar os sintomas de abstinência(6).

Estudo realizado(8) identificou que, numa população de 1263 estudantes, 971 receberam os questionários. Porém, somente 390 questionários foram respondidos, representando um índice de 40%. Os resultados mostraram que 351 estudantes já experimentaram o álcool, correspondendo a 90% dos entrevistados; 32 (8,2%) nunca experimentaram e 7 deles (1,8%) não responderam. Dos respondentes, 54% era do sexo masculino e 45% do feminino; 87% estavam na faixa etária entre 18 e 25 anos, e 94% eram solteiros. Trinta e um por cento moravam com os pais, 36% com amigos, 17% com outros familiares e, por fim, 25% apresentavam renda familiar de 5 a 10 salários-mínimos.

 

METODOLOGIA

Para desenvolver o estudo, optou-se pela abordagem quantitativa do tipo descritivo.

O campo do estudo foi a Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, localizada no Boulevard 28 de Setembro, número 157, Prédio Professor Paulo de Carvalho, Bairro Vila Isabel, Zona Norte, da cidade do Rio de Janeiro.

A população foi composta pelos 350 estudantes da Faculdade de Enfermagem nos nove períodos acadêmicos. A amostra do tipo casual compreendeu 177 estudantes, sendo a maioria do sexo feminino, cor branca, e na faixa etária entre 21 e 22 anos. Os critérios adotados para inclusão dos estudantes na pesquisa foram: ser alunos matriculados na Faculdade e aqueles que, por ocasião da aplicação do instrumento, em sala de aula, aceitaram participar voluntariamente do estudo. O instrumento foi aplicado somente em sala de aula, motivo pelo qual não se atingiu percentual maior, em virtude de muitos estudantes se encontrarem em estágios fora da unidade acadêmica, atingindo-se 50% da população estudantil.

As variáveis selecionadas para o estudo foram: variável independente - o uso de bebidas alcoólicas entre os acadêmicos da Faculdade de Enfermagem – UERJ. Variáveis dependentes - características socioeconômicas demográficas como faixa etária, sexo, renda familiar, estado civil. e características comportamentais. Relacionadas à problemática: início do uso de bebidas alcoólicas, fatores que levam à ingestão do álcool, tipo de bebidas consumidas, conhecimento acerca das alterações no organismo pelo uso dessas bebidas.

O instrumento de coleta de dados foi um questionário auto-aplicável, composto por 36 questões fechadas. Um instrumento é válido quando mede o que pretende medir e é fidedigno quando aplicado à mesma amostra oferece consistentemente os mesmos resultados(9). A adequação do instrumento foi feita através de um Estudo Piloto, realizado no período de janeiro a março de 2004, com 30 alunos universitários de diversos cursos e diferentes graduações.

Os dados foram coletados no período de abril a junho de 2004, sendo aplicado o questionário aos alunos de enfermagem, que se dispuserem a respondê-lo.

Para desenvolver a pesquisa, atendendo aos preceitos de Ética, nos baseou-se nos procedimentos da Resolução de 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, para tanto os respondentes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi encaminhado à direção da instituição pedido de autorização para aplicação da pesquisa. O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ.

Para análise das informações, utilizou-se uma Base de Dados no Programa Microsoft Excel. Os dados foram tabulados e analisados, aplicando-se a estatística descritiva, sendo apresentados em tabelas.

 

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A pesquisa evidenciou que a maioria dos estudantes (88%) é do sexo feminino, 95% solteiros, sendo 36% na faixa etária entre 21 e 22 anos. Declaram-se brancos 60% e professam o catolicismo 50%. Os dados mostram que existe um número significativo (56%) dos estudantes que residem com os pais, sendo que 28% possuem renda familiar em torno de 10 a 12 salários-mínimos.

A opinião de 177 participantes sobre o uso do álcool entre seus familiares evidenciou que a maioria dos estudantes conviveu e/ou convivem com usuários dessa substância no seu cotidiano de vida.

 

 

A análise dos discentes, segundo o uso do álcool pelos familiares, mostrou que 153 (86%) referiram o uso do álcool entre os familiares, enquanto 24 (14%) negaram o uso. Esses resultados, de acordo com a literatura, mostram que os jovens no seu dia-a-dia entram em contato com o álcool no seu próprio convívio, o que pode ser um estímulo para iniciar e/ou manter o uso dessa substância.

Estudo desenvolvido(10) com integrantes de uma universidade indicam que o álcool é a droga mais utilizada no convívio social. No entanto, entre os estudantes ele ocupa o segundo lugar, ficando atrás da maconha.

O componente ambiental, relacionado à família, e o uso de álcool podem determinar, de um modo geral, a ocorrência de alcoolistas(5). Seja por uso indiscriminado, enfraquecimento nas relações familiares, rejeição dos pais aos filhos, entre outros. Dessa forma, pode-se inferir que o beber entre os familiares estimula direta ou indiretamente o consumo de substâncias entre os jovens.

 

 

A análise dos discentes investigados mostrou que 166 (94%) têm amigos que fazem uso de álcool, ao passo que 11 (6%) não possuem.

Os jovens, em seus momentos de lazer, por influência do meio social, muitas vezes tendem a acompanhar certos hábitos de grupos dos quais estão fazendo parte. A aquisição desses hábitos pode ser explicada por necessidade de pertencer ao grupo, atingindo esse objetivo pode-se, dessa maneira usufruir de status no mesmo(6).

Percebe-se também, que os jovens universitários, na maioria das vezes adolescentes, não possuem informações suficientes sobre as drogas. Isso é confirmado em dissertação de mestrado(11) com universitários em Alfenas, Minas Gerais, quando comprovado que 57,5% dos estudantes nunca tiveram qualquer tipo de informação sobre drogas.

 

 

A análise das experiências dos estuantes quanto às bebidas alcoólicas evidenciou que 148 (84%) já experimentaram algum tipo de bebida alcoólica, enquanto 29 (16%) nunca experimentaram.

Inicialmente, o indivíduo começa a usar drogas pelo prazer que ela lhe proporciona, no entanto, com o tempo e o uso, passa a consumi-la para eliminar a sensação ruim pela sua falta no organismo(12).

Quando o indivíduo começa a manifestar os efeitos do álcool no seu organismo, pode estar desenvolvendo a dependência, pois até chegar a esse estágio, ele passa por diversos níveis de classificação. Iniciando com o uso moderado, o qual não traz dano à saúde, passando pelo uso problemático, podendo chegar à dependência. Essa pode ser caracterizada por perda da capacidade de controlar a ingestão, ênfase no consumo, tolerância, síndrome de abstinência e consumo de substâncias para aliviar os sintomas de abstinência(7).

Estudos têm demonstrado que a prevalência de dependentes do álcool aparecem mais freqüentemente entre os 18 e 24 anos de idade; alguns autores(13) ao afirmam que o uso do álcool variou entre 53% na Região Norte e 71,5% no Sudeste do País. Essa faixa etária corresponde à idade da maioria dos universitários em nosso País, portanto, está de acordo com os resultados desta pesquisa.

 

 

A análise da ingesta pela primeira vez de bebidas alcoólicas aponta que a maioria dos discentes 70 (46%) ingeriu essa substância pela primeira vez entre 13 e 16 anos; seguida de 44 (30%) entre 17 e 20 anos; 14 (10%) entre 9 e 12 anos e 13 (9%) com idade inferior a 8 anos.

A cronologia do beber inicia-se na adolescência. Reforçando, assim, a premissa de que a família influencia no princípio do uso pelos sujeitos. Já que nessa faixa etária há um convívio intenso com os familiares, logo esses são determinantes para o iniciar e manutenção do uso de bebidas alcoólicas(5).

O que chama atenção nestes resultados é o fato de 9% dos estudantes referem ter ingerido bebidas alcóolicas com idade inferior a 8 anos, o que demonstra o uso dessa substância em idades cada vez mais precoce.

 

 

Quanto ao consumo de bebidas alcóolicas pelos estudantes, os resultados demonstram que 49 (33%) dos discentes consomem freqüentemente bebidas alcoólicas, ao passo que, 91 (62%) desses não consomem.

Através de vivência, no seio universitário, percebe-se que o consumo freqüente possibilita o déficit no rendimento acadêmico, enfraquecimento nas relações interpessoais, tais como: dificuldade de concentração, atrasos às aulas (geralmente, no dia posterior às festas/chopadas), distúrbios de humor, alterando assim a qualidade da dinâmica acadêmica e seu possível desenvolvimento.

O uso freqüente de bebidas alcóolicas pode levar à dependência(6) e a síndrome da dependência do álcool pode causar sintomas como a perda da capacidade de controlar o beber, aumento no consumo, tolerância e síndrome de abstinência.

 

 

Dos 49 alunos que fazem uso de bebidas alcoólicas, 22 (45%) aumentaram o beber após a entrada na universidade, enquanto 27 (55%) não aumentaram o seu beber.

Na universidade, a realização de chopadas tornou-se uma cultura nos diversos cursos. Associado a isso, o que temos observado é o aumento de bares na proximidade da Instituição de ensino, ambos colaborando para o incentivo do uso de bebidas alcoólicas entre os universitários.

Portanto, o meio universitário estimula o uso abusivo de álcool e dentre os principais fatores de estímulo estão as festas que constantemente são promovidas para obter recursos para formatura e a necessidade de socialização(14).

Estudo(11) conclui que 97,6% dos universitários investigados fizeram uso do álcool, o que é considerada uma questão séria, uma vez que essa substância é concebia como socialmente lícita e que, portanto, engendra um comportamento aceito e incentivado pela sociedade.

O aumento no consumo de álcool é um sinal de alerta para a dependência e suas conseqüências, mais evidentes(6).

 

 

Os motivos referidos pelos estudantes em relação à ingesta do álcool apontou que 54 (65%) dos discentes alegam motivos de diversão/descontração para ingerirem bebidas alcoólicas, em seguida 8 (9%) por motivos de influência do meio social.

De um modo geral, a ingestão de bebidas alcoólicas tornou-se indispensável a variados tipos de comemorações. Logo, mostra-se inteiramente correlacionada às atividades de lazer, oportunizando os discentes a manifestarem os seus desejos tais como: divertir-se, descontrair-se. Dessa forma, podemos inferir que, para obter sentimentos e situações desejáveis, muitos utilizam o álcool como droga de escolha para desempenhar determinadas manifestações. O beber por diversão ou descontração incluiu-se no nível inicial de consumo e se manifesta como euforia adequada(7).

Nesta linha de pensar, outro estudo(11) afirma que dentre os motivos que levam os estudantes a iniciarem o uso de drogas destacou-se a curiosidade e essa aconteceu, na maioria das vezes, antes mesmo do seu ingresso na universidade.

Entretanto, destacam-se(10) que dentre os principais fatores apontados pelos graduandos e pós-graduandos na indução do abuso de drogas, os problemas familiares foram os mais evidentes.

 

 

Considerando o efeito do álcool no comportamento dos estudantes, os resultados evidenciaram que 49 (60%) ficam alegres após o beber e 15 (19%) apresentam comportamento normal.

O sentimento predominante do estudante após o beber geralmente é de alegria. Isso corrobora os Níveis de Intoxicação Alcoólica, pois em níveis inicias pode ocorrer euforia adequada à concentração de álcool no organismo. Em contrapartida, se esse uso não for controlado, tornando-se um abuso, pode acarretar prejuízos nocivos à saúde do indivíduo, possibilitando a manifestação de danos irreversíveis(7).

 

CONCLUSÃO

Os resultados demonstram a predominância de estudantes que já experimentaram bebidas alcoólicas, o que aconteceu entre os 13 e 16 anos de idade. Referem que a maioria de seus familiares e amigos faz uso dessas substâncias, donde se infere terem recebido influência desses grupos para manter ou ampliar o seu beber.

A maioria dos estudantes revelou que fazem uso freqüente de bebidas alcoólicas, e muitos declaram que seu consumo aumentou após ingressarem na universidade.

Dentre os fatores explicitados pelos alunos como responsáveis pela ingestão do álcool, o destaque foi para a diversão e a descontração, cuja manifestação comportamental se revela em alegria.

O uso do álcool é saudável, porém, não respeitando os limites de ingestão, torna-se uma forma perigosa de enveredar-se ao abuso. Atualmente, os estudantes da FENF/UERJ têm certo controle no que se diz respeito à ingestão, respeitando os limites pessoais e legais.

Contudo, se não houver esses questionamentos e preocupações bem arraigados e delineados, corre-se o risco de ampliação da prática abusiva do álcool. Logo, necessita-se de se manter diálogo no meio acadêmico sobre essa temática.

Por outro lado, a universidade não pode se eximir de sua responsabilidade e nem ignorar os problemas que envolvem o uso freqüente de bebidas alcoólicas entre os seus universitários. Assim, deve ser clara a conclusão de que a liberdade acadêmica e a autonomia da universidade são indissociáveis de sua responsabilidade social.

 

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Cíntia Leila de Araújo Marçal
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Fernanda de Assis
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