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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versión On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) v.2 n.2 Ribeirão Preto ago. 2006

 

ARTIGO ORIGINAL

 

O uso de álcool entre gestantes e o seus conhecimentos sobre os efeitos do álcool no feto*

 

El uso de alcohol y tabaco en una población de gestantes y su conocimiento sobre los efectos del alcohol en el feto

 

Alcohol and tobacco use in a population of pregnant women and their knowledge about the effects of alcohol on the fetus

 

 

Cássia Fernanda FiorentinI, Divane de VargasII

I Enfermeira graduada pela Universidade de Ribeirão Preto – Unaerp.
II Professor Doutor Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade de Ribeirão Preto – Unaerp.

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Estudo exploratório de abordagem qualitativa que objetivou verificar o conhecimento de gestantes sobre os efeitos do álcool no feto, bem como identificar o consumo de álcool e tabaco pelas mesmas. Os dados foram coletados junto à população de 20 gestantes que faziam acompanhamento pré-natal em uma Unidade Básica Distrital de Saúde de Ribeirão Preto,SP. Os resultados mostram que 35% das gestantes faziam uso de álcool e tabaco, concomitantemente, e que as mesmas possuíam pouco conhecimento sobre a temática, sendo que o mesmo estava mais relacionado às crenças do senso comum da população do que ao preparo formal por parte da equipe de saúde.

Palavras-chave: Álcool, Tabaco, Gravidez, Conhecimentos.


RESUMEN

Estudio exploratorio con aproximación cualitativa, cuya finalidad fue verificar el conocimiento de gestantes sobre los efectos del alcohol en el feto, y también identificar el consumo de alcohol y tabaco entre ellas. Los datos fueron recolectados en la población de 20 gestantes que hacían acompañamiento prenatal en una Unidad Básica Distrital de Salud de Ribeirão Preto-SP. Los resultados muestran que el 35% de las gestantes consumía alcohol y tabaco concomitantemente, y que poseía poco conocimiento sobre la temática, siendo que el mismo estaba más relacionado a las creencias del sentido común de la población que al preparo formal por parte del equipo de salud.

Palabras clave: Alcohol, Tabaco, Embarazo, Conocimientos.


ABSTRACT

This exploratory study adopted a qualitative approach and aimed to investigate pregnant women’s knowledge about the effects of alcohol on the fetus, as well as their consumption of alcohol and tobacco. Data were collected in a population of 20 pregnant women receiving prenatal care at a Basic District Health Unit in Ribeirão Preto-SP. The results show that 35% of these women used both alcohol and tobacco, and that they possessed little knowledge about the theme, which was more related to common sense beliefs than to formal preparation provided by the health team.

Keywords: Alcohol, Tobacco, Pregnancy, Knowledge.


 

 

INTRODUÇÃO

O consumo de álcool durante a gestação tem sido tema de pesquisa razoavelmente bem documentado, embora, ainda, muitas das conseqüências do mesmo sobre o desenvolvimento infantil em filhos de mães alcoolistas sejam pouco conhecidas em sua extensão e gravidade(1). Certo é que o uso de álcool, durante a gestação, é uma das principais causas evitáveis de defeitos ao nascimento bem como alterações no desenvolvimento da criança(2).

Estima-se que aproximadamente 20% das mulheres façam uso de álcool durante a gravidez(3). E, apesar de variar, em forma e intensidade, o uso freqüente (sete ou mais drinques por semana, ou cinco ou mais drinques por ocasião) tem aumentado significativamente nos últimos anos(4-5). Em decorrência disso, tem-se observado o aumento da evidência dos efeitos negativos do chamado consumo "baixo a moderado", durante a gestação(6).

Apesar de existir a diminuição do consumo do álcool durante a gravidez, cada vez mais aumenta o consumo pela população feminina e, em conseqüência disso, grande parcela de mulheres e seus fetos são expostos a doses variáveis desse agente. Estima-se que o uso freqüente seja inferior a 4% ao final da gravidez(7). As bebedoras moderadas têm maior chance de parar ou reduzir seu consumo durante o período de gestação, porém, entre as bebedoras pesadas, dois terços diminuem o consumo e um terço continuam a abusar do álcool durante toda a gestação(8).

Esse fato é preocupante, principalmente quando se sabe que o consumo de álcool durante a gestação envolve grande risco, devido à embriotoxicidade e teratogenicidade fetal que a ele estão relacionadas, transformando-se em sério problema de saúde pública(9).

O mecanismo fisiológico de nutrição fetal caracteriza-se, a partir do momento da fecundação, na relação de dependência entre a mãe e o novo ser que começa a se desenvolver, o que constitui, na realidade, a integração de dois seres em um mesmo organismo, suscetível a todas as ações ou influências que venham envolvê-lo(9).

O álcool, quando ingerido pela gestante, atravessa a barreira placentária e faz com que o feto receba as mesmas concentrações da substância que a futura mãe. Porém, a exposição fetal é maior, devido ao fato de que o metabolismo e eliminação são mais lentos, fazendo com que o líquido amniótico permaneça impregnado de álcool não modificado em acetaldeído. Essa situação é ocasionada pela ausência de enzimas em quantidade necessária para a degradação de tais substâncias(10).

Entre as complicações pré-natais, provocadas pelo consumo de álcool, identificam-se anomalias físicas e disformismo no primeiro trimestre, aumento de duas a quatro vezes na incidência de abortamento espontâneo no segundo trimestre, fatores comprometedores durante o parto, como risco de infecções, deslocamento prematuro de placenta, hipertonia uterina, trabalho de parto prematuro e líquido amniótico meconial(11-12).

Dentre as conseqüências decorrentes do uso de álcool por gestantes, a mais conhecida é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), caracterizada por baixo peso ao nascer, hipotonia, incoordenação, irritabilidade, retardo do desenvolvimento, anormalidades craniofaciais e cardiovasculares, retardo mental leve e moderado, hiperatividade e baixo rendimento escolar(9).

Isso posto, pode-se dizer que o enfermeiro, juntamente com os demais profissionais da saúde, desempenha importante papel na detecção do uso de álcool durante a gestação, bem como na prevenção da SAF e demais complicações decorrentes do uso do álcool pela gestante(2). No entanto, a enfermagem pouco tem produzido sobre o alcoolismo em geral. Em se tratando do alcoolismo feminino, percebe-se desinteresse ainda maior, talvez pelo fato de o alcoolismo feminino permanecer, na maioria das vezes, no espaço do lar, chegando ao conhecimento da sociedade somente quando já em estado avançado, ao contrário do alcoolismo masculino que se dá, quase sempre, publicamente.

Por acreditar que o enfermeiro é um dos profissionais que mais tem contato com a gestante, durante o acompanhamento pré-natal nos serviços de atenção primária, e considerando a pouca atenção da enfermagem sobre a questão do alcoolismo feminino e, em especial, as conseqüências do álcool sobre a saúde do feto e da mulher grávida, que muitas vezes desconhece tais conseqüências, surgiu o interesse em realizar este estudo.

 

OBJETIVOS

Identificar o consumo de bebidas alcoólicas e tabaco em uma população de gestantes.

Verificar o conhecimento da gestante sobre os efeitos do álcool no feto.

 

METODOLOGIA

Trata-se de estudo exploratório de abordagem qualitativa que objetivou identificar o uso de álcool e tabaco entre uma população de gestantes, bem como verificar o conhecimento das mesmas frente aos efeitos do álcool no feto.

Os dados foram coletados junto a um grupo de gestantes que realizava o programa pré-natal em uma Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS) da região leste de Ribeirão Preto, interior paulista. O contato com as gestantes se deu durante a pré-consulta na sala de espera. A amostra foi constituida de 20 gestantes. O critério de inclusão foi a aceitação por parte das mesmas em participar do estudo.

Em consonância com a Resolução nº 196/96, os aspectos éticos observados foram à aprovação do projeto deste estudo pelo Comitê de Ética das Faculdades Integradas Fafibe, e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos sujeitos que se dispuseram a participar da pesquisa.

Para coleta dos dados elaborou-se um questionário dividido em duas partes, a primeira referente aos dados sociodemográficos da população e a segunda contendo questões específicas sobre o consumo de álcool e tabaco entre as gestantes, bem como o conhecimento das mesmas sobre os efeitos do álcool no feto.

As entrevistas individuais foram analisadas, e os dados foram organizados em categorias temáticas, originadas da leitura e interpretação das respostas dadas pelas participantes. Tais respostas possibilitaram identificar o conhecimento e as percepções das gestantes sobre os efeitos do álcool no feto. A interpretação dos dados norteou-se pelos pressupostos de Minayo(13) e discutidos com base na literatura sobre o tema.

 

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Características sociodemográficas da população

Foram entrevistadas 20 gestantes usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) que faziam acompanhamento pré-natal no serviço de atendimento obstétrico, prestado por UBDS de um bairro da região leste de Ribeirão Preto, interior paulista. As gestantes encontravam-se na faixa etária entre 18 e 40 anos de idade, amasiadas 45%, com primeiro grau completo 65%, com renda familiar média de cinco salários mínimos. A idade gestacional das participantes variou entre 24 e 36 semanas de gestação.

 

Consumo pessoal de álcool e tabaco

No que se refere ao consumo de álcool, a maioria das gestantes (65%) informou não fazer uso do mesmo, enquanto 35% das entrevistadas revelaram consumir bebidas alcoólicas, cabendo ressaltar que essas últimas informaram fazer uso concomitante de tabaco; dado que converge para os achados na literatura que apontam que, geralmente, o consumo de álcool associa-se ao tabagismo(14).

 

Conhecimentos e percepções sobre os efeitos do álcool no feto

Com relação ao conhecimento das gestantes sobre os efeitos do álcool no feto, os resultados desta pesquisa são de certa forma preocupantes, pois os mesmos revelaram que somente 5% das gestantes entrevistadas informaram ter algum tipo de conhecimento sobre os mesmos, sendo que a grande maioria (95%) informou não possuir tais conhecimentos.

No entanto, apesar de revelarem desconhecimento sobre a problemática, a análise das falas possibilitou verificar que as mesmas possuem algumas concepções sobre as conseqüências do consumo do álcool no feto que, embora sejam mais do senso comum e da experiência empírica, mereceram análise.

A interpretação dos dados permitiu considerar que essas gestantes associam o conhecimento que têm acerca dos efeitos do álcool sobre a saúde das pessoas em geral, o qual é divulgado amplamente pelos meios de comunicação, aos possíveis efeitos sobre o feto. O que, de certa forma, revela desconhecimento sobre as decorrências específicas do uso de álcool durante a gestação. Talvez esse fato esteja relacionado à concepção que as gestantes têm do álcool enquanto droga, conceito definido e aceito amplamente através do senso comum, que atribui às drogas de um modo geral graves prejuízos a saúde. As falas apresentadas a seguir parecem demonstrar tal concepção.

... não faz bem nem para mim, imagina para o bebê(E-A).

... porque é uma coisa ruim uma droga(E-B).

Na percepção das gestantes, o álcool, enquanto droga, quando consumido, é capaz de trazer conseqüências à saúde do bebê, pois, os resultados mostraram que a maioria das gestantes, embora não soubesse precisar quais as conseqüências decorrentes do uso do álcool durante a gestação, foi unânime em considerar que o álcool causa problemas na criança.

As falas abaixo sugerem essa inferência.

...porque a criança nasce com problema (E-B).

...porque presenciei um caso que a mulher bebia e a criança nasceu com problema (E-C).

...porque não pode beber, causa sérios problemas (E-E).

Conforme se percebe nessas falas, as gestantes acreditam que o álcool causa problemas na criança. Cabe ressaltar, porém, que, quando precisam responder sobre quais problemas o álcool acarretaria, nenhuma das entrevistadas admitiu possuir tal conhecimento.

Na concepção das entrevistadas, o uso do álcool traz conseqüências físicas e psicológicas para o feto. Embora não saibam precisar com exatidão quais são essas conseqüências, acreditam que o cérebro do feto é o órgão mais afetado; além disso, o uso de álcool poderá prejudicar o crescimento e desenvolvimento da criança, conforme pode ser verificado nas seguintes falas.

...porque minha colega durante a gravidez, bebia durante a gestação e o bebê dela apresentou em uma ultra-sonografia que não tinha cérebro, e o medico falou que é porque ela bebia (E-A).

...porque o cérebro da criança não desenvolve (E-A).

... prejudica o psicológico da criança (E-B).

...prejudica todo desenvolvimento (E-C).

...prejudica no crescimento e desenvolvimento (E-D).

Apesar de revelarem conhecimentos oriundos de experiências vividas, os resultados permitem dizer que as conseqüências do consumo de álcool, durante a gestação, apontadas pelas entrevistadas, convergem para o que é apontado na literatura sobre o tema, pois, dentre os danos ocasionados pelo uso do álcool, durante a gestação, estão as alterações no desenvolvimento fetal e no desenvolvimento psicomotor da criança(1). Chamou a atenção, no entanto, o fato de nenhuma das entrevistadas ter mencionado a SAF, fato preocupante, principalmente quando se verifica que, segundo os estudiosos(15) do assunto, a SAF encontra-se entre as principais decorrências relacionados ao uso de álcool pelas gestantes.

A análise das falas das entrevistadas permite dizer, mais uma vez, que o conhecimento revelado pelas mesmas está mais relacionado a crenças e concepções do senso comum do que aos conceitos técnico-científicos, pois, quando justificaram suas respostas, conforme se observa no conteúdo das entrevistas A e D, que seguem, atribuíram fatos do cotidiano das mesmas, experiências com pessoas próximas ou concepções populares como fonte do conhecimento (“todo mundo fala”). Além disso, experiências prévias na própria família aparecem também como fonte de conhecimento.

...todo mundo fala que quem bebe durante a gravidez o nenê nasce com problema(E-A).

...tenho na família pessoas alcoólatras, então, eu noto que os filhos são diferentes (E-C).

Esse dado reforça a inferência de que o conhecimento dessas gestantes está mais relacionado às percepções e experiências empíricas do que ao conhecimento científico propriamente dito, algo que merece comentário, uma vez que 65% da população possui ao menos o ensino fundamental completo (oito anos), pois, embora o nível de escolaridade possa ser considerado baixo, pressupõe-se que estejam aptas a compreenderem informações no que se refere às conseqüências da bebida alcoólica sobre o feto.

Talvez o pouco conhecimento científico sobre a temática esteja relacionado então à falta de informações e preparo que devem ser assegurados pelos profissionais de saúde que prestam assistência a essas gestantes. Informações que parecem ser negligenciadas pela equipe, uma vez que, embora todas as gestantes que participaram da pesquisa estavam sob acompanhamento pré-natal, nenhuma revelou ter obtido informações e orientações profissionais sobre a questão durante o acompanhamento.

Tal constatação é preocupante, principalmente quando se considera que dentre as medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde(16) está a advertência de restrição de uso, advertência essa que, sob outra perspectiva, compete primordialmente aos profissionais de saúde, fazendo-se necessária maior atenção dos profissionais no que se refere às orientações das gestantes a respeito dos efeitos teratogênicos do álcool no feto, uma vez que os dados revelaram, conforme já mencionado, que o conhecimento e as informações, que as mesmas expressam, remetem ao conhecimento popular.

A pouca atenção dada à problemática, durante o acompanhamento pré-natal pode ser observada, através do depoimento de uma das entrevistadas que, mesmo em acompanhamento pelos profissionais de saúde do referido serviço, afirmou que o uso do álcool não ocasiona prejuízos ao feto, conforme fala que segue.

...o álcool não prejudica, não... porque não prejudicou meu outro filho (E-A).

Embora somente uma gestante tenha expressado tal concepção, julgou-se pertinente discutir essa situação, principalmente, quando se considera que os efeitos teratogênicos do álcool estão relacionados à fase do desenvolvimento fetal em que esse é consumido(11-12).

Sendo assim, o fato de essa gestante acreditar que o álcool não causa problemas ao feto, tendo como referência a gestação anterior, na qual revela ter feito uso de álcool, parece revelar falta de conhecimento sobre a questão, este fato denuncia a pouca atenção dos profissionais de saúde, na detecção do uso ainda na primeira gestação, bem como na orientação e esclarecimento da mesma sobre a periculosidade e as conseqüências acarretadas pelo uso do álcool durante a gravidez.

A interpretação dos dados obtidos, junto a essa população de mulheres, permitiu verificar que, mesmo em acompanhamento pré-natal, o conhecimento e as percepções das gestantes sobre os efeitos do consumo de bebidas alcoólicas na saúde do feto estão mais relacionados às informações do senso comum do que ao preparo oferecido pelos profissionais de saúde. As gestantes concebem ainda o álcool enquanto droga, acreditando que, como tal, acarretará problemas no cérebro e no crescimento da criança. O fato de tais informações remeterem mais ao senso comum parece revelar a pouca atenção dada ao consumo do álcool e outras drogas durante a gestação no acompanhamento pré-natal. Esse achado é preocupante, pois, uma vez que tal questão não é abordada pelos profissionais durante o acompanhamento, é possível que a gestante mantenha o mesmo padrão de ingestão alcoólica anterior à gestação, quer seja, o consumo moderado ou pesado, desconsiderando assim os efeitos teratogênicos dessa substância.

Através desses dados, é possível inferir então que parece existir maior preocupação dos profissionais com os aspectos clínicos da gestação em detrimento dos comportamentais, o que justificaria o pouco conhecimento das gestantes sobre a problemática. Essa situação deve-se ao fato da tendência atual que circunda a assistência em saúde, em que se coloca um limite entre o que é de competência clínica e aquilo que ultrapassa essa competência(17), acarretando, assim, dificuldade por parte dos profissionais na prestação da assistência integral.

Frente a isso, se faz necessário que maior atenção seja dada às questões relacionadas aos aspectos comportamentais da gestante, em especial ao consumo de álcool e drogas, durante o acompanhamento pré-natal, pois, conforme os especialistas, essa é a principal forma de evitar teratogenias e alterações no desenvolvimento da criança.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Realizou-se estudo que objetivou identificar o uso de álcool e tabaco entre uma população de gestantes, bem como verificar o conhecimento das mesmas diante dos efeitos do álcool no feto. No que se refere ao consumo do álcool, 35% das entrevistadas informaram que o faziam e todas faziam uso concomitante de tabaco.

Com relação ao conhecimento dos efeitos do álcool sobre o feto, pode-se perceber que o conhecimento e as concepções relatadas pelas gestantes relacionam-se mais ao senso comum da população e às experiências vividas, do que com o preparo formal por parte dos profissionais de saúde, embora não saibam justificar suas respostas, as gestantes acreditam que o álcool traz problemas tanto para mãe quanto para o feto, sendo que, dentre os problemas atribuídos ao álcool, durante a gestação, os prejuízos ao cérebro e ao desenvolvimento foram os mais mencionados pelas mesmas.

Os dados revelaram que nenhuma das gestantes do estudo obteve informações sobre as questões relacionadas ao álcool durante o acompanhamento pré-natal. Esse dado leva a inferir que o uso e abuso de álcool entre as gestantes esteja sendo negligenciado pelos profissionais de saúde, apontando a necessidade de maior atenção e preparo, através de orientações e esclarecimentos, sobre os prejuízos do álcool e do alcoolismo para a gestante e o feto, uma vez que esses são uma das poucas conseqüências atribuídas ao álcool que se pode prevenir.

Sugere-se a reaplicação deste instrumento em outras populações de gestantes e usuárias de outros serviços, no sentido de comparar os dados desta pesquisa, buscando evidências sobre a pouca atenção dos profissionais de saúde frente à problemática do uso de álcool na gestação, bem como o oferecimento de cursos de conscientização e capacitação em álcool e drogas para profissionais envolvidos em programas de acompanhamento pré-natal, no sentido de se obter mais um elemento para assistência integral à saúde da gestante.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência
Divane de Vargas
E-mail: dvargas@email.unaerp.br

 

 

* Artigo elaborado a partir do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Enfermagem da Universidade de Ribeirão Preto – Unaerp.

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