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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versión On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.9 no.1 Ribeirão Preto abr. 2013

 

EDITORIAL

 

Os diversos focos de estudo da saúde mental

 

 

Margarita Antonia Villar Luis

 

 

Chief Editor of the SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, Full Professor of the University of São Paulo at Ribeirão Preto College of Nursing, WHO Collaborating Centre for Nursing Research Development, Brazil, e-mail: margarit@eerp.usp.br

 

 

Neste número serão abordados diversos temas relacionados ao escopo da revista, incluídos em pesquisas realizadas com critérios científicos, que oferecem dados valiosos para fomentar o interesse em discussões, tanto no meio acadêmico entre docentes e alunos, como em espaços de profissionais de saúde e de outras áreas interessados no assunto. Ao divulgar os artigos, fruto do aprendizado que os autores adquiriram na realização de suas pesquisas, no processo de obter e discutir os resultados, elaborar conclusões e apresentar sugestões, a expectativa é de que, os leitores sintam-se encorajados a perceber suas experiências como um estudo científico em potencial e invistam na ação de transforma-las em textos científicos. Afinal, muitos com sua prática estão fazendo ciência, mas ao não redigirem seus feitos, não os compartilham e expõem à crítica de seus pares e perdem a oportunidade de ampliar o próprio conhecimento e de contribuir para o avanço da ciência.

Três são os estudos sobre adolescentes estudantes do ensino médio e focalizam o uso de álcool e de outras drogas psicoativas. São procedentes de estados diferentes do Brasil, mostram as peculiaridades e semelhanças desse grupo de idade, em termos de frequência e vulnerabilidades para o uso. Tais estudos complementam o conhecimento já existente, por isso mesmo, são indicadores da necessidade de avançar e investir em pesquisas direcionadas à intervenção.

Problemas de saúde como os relativos à saúde mental e ao uso de drogas psicoativas são permeados por contradições e estigmatizados pela população em geral e trabalhadores de saúde(1-2). No caso das drogas ao mesmo tempo em que há o estímulo, sutil ou ostensivo ao uso de algumas, existe a repressão acentuada das chamadas ilícitas. Essa situação tem influenciado especialmente, na qualidade do atendimento oferecido aos pacientes nos serviços de saúde, pois os profissionais ainda tem dificuldade em abordar o assunto consumo de drogas psicoativas com os seus clientes, inclusive porque consideram esse uso como uma questão de natureza moral(3-4). Além do possível afastamento do paciente, outra dificuldade decorrente dessa visão é considerar o usuário dessas substâncias como isento de outros problemas de saúde.

Relatório elaborado pela Organização Mundial da Saúde(5) sobre o status global das substâncias psicoativas aponta os riscos associados ao seu uso, tanto que manifesta a tendência cada vez maior, em avaliar a contribuição desse consumo para a carga global de doenças. Nessa publicação, a carga de doenças devidas ao uso de substâncias psicoativas em conjunto, foi de 8,9% em termos de Anos de Vida Ajustados por Incapacidade (DALY) o que não é pouco. Por isso, a revisão sobre consumo de crack e tuberculose é tão oportuna para refletir a respeito da composição fragmentada que se imagina ser a pessoa humana e o quanto isso pode interferir na avaliação geral das necessidades de saúde.

Numa perspectiva inovadora, o trabalho a respeito das representações acerca da exposição no corpo de adereços e tatuagens, oferece uma oportunidade para compreender os vários significados que são atribuídos a essa prática e também as motivações que levam as pessoas a querer utilizar-se dela no próprio corpo. Varias possibilidades de pesquisa, podem ser incentivadas a partir desse estudo, pois o corpo humano constitui a expressão simbólica da sociedade.

A sociedade se constrói fazendo os corpos dos homens e mulheres e através dos mesmos ela se materializa. Por ser predominantemente uma construção social, o corpo humano apresenta as características dos fenômenos culturais, portanto ele é relativo, apresentando variações entre as sociedades e no seu interior e varia de acordo com a época histórica, conforme os grupos e também no âmbito individual, segundo a biografia pessoal e os contextos vivenciados(6). Assim, enfeitar, pintar, tatuar, mutilar o corpo humano se constituem em formas de expressar sentimentos, idéias, crenças que fazem sentido para um indivíduo, como membro de um grupo, ou unicamente para ele num dado momento de sua história pessoal.

Os trabalhos sobre saúde mental apresentam aspectos relevantes para conhecimento dos interessados na área, como as diversas formas como foram classificadas as manifestações de sofrimento mental e as expressões de comportamentos destoantes vinculados ao mesmo, pelos manuais de classificação internacional. O material exposto, direciona o leitor a refletir sobre como o conhecimento científico evolui e como a tolerância da sociedade pode mudar em relação ao comportamento humano, sob a influência desse conhecimento e dos padrões sócio- culturais de cada momento histórico. O outro estudo focaliza o paciente de instituição psiquiátrica de longa permanência e os recursos de que dispõe, o conhecimento dessa realidade é importante para pensar no planejamento e oferta de cuidados de saúde mental que atinjam as necessidades dos indivíduos que se encontram em situação semelhante.

Os artigos apresentados indicam o empenho dos pesquisadores em aprofundar o seu conhecimento sobre hábitos e problemas de diversos grupos da população em busca de subsídios para planejar atividades de promoção e prevenção e formas de cuidado à saúde mais eficazes. São conteúdos que agregam informações científicas, experiências que poderão propiciar debates, análises e incentivar novas pesquisas.

 

Referências

1. Neves DP. Alcholism: indictment or diagnosis? Reports in Public Health. 2004;20(1):7-14.         [ Links ]

2. Lock CA, Kaner E, Lamont S, Bond S. A Qualitative study of nurses'attitudes and practices regarding brief alcohol intervention in primary health care. J Adv Nurs. 2002;39(4):333-42.         [ Links ]

3. Vargas D, Luis MAV. Álcool, alcoolismo e alcoolista: concepções e atitudes de enfermeiros em unidades básicas distritais de saúde. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2008;16(spec):543-50.         [ Links ]

4. Ronzani TR, Higgins-Biddle J, Furtado EF. Stigmatization of alcohol and other drug users by primary care providers in Southeast Brazil. Soc Sci Med. 2009;69(7):1080-4.         [ Links ]

5. World Health Organization. Department of Mental Health and Substance Abuse. Global Status Report on Alcohol. Geneva: 2004.         [ Links ]

6. Rodrigues JC. Os corpos na antropologia. Cap II Abordagens Disciplinares: antropologia, história, educação, informação e comunicação. In: Minayo MC, Coimbra Jr CE (Orgs.). Críticas e atuantes: Ciências Sociais e Humanas em Saúde na América Latina. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.         [ Links ]