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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

On-line version ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.9 no.1 Ribeirão Preto Apr. 2013

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Perfil sociodemográfico e uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudantes do ensino médio

 

Perfil socio-demográfico y uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudiantes de la enseñanza media

 

 

Thalita de Castro FigueiredoI; Rivelilson Mendes de FreitasII

IAluna do curso de graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil
IIPhD, Professor Adjunto, Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil

Correspondência

 

 


RESUMO

O estudo teve como objetivo determinar o perfil sociodemográfico e o uso de drogas lícitas e ilícitas de escolares matriculados em instituições públicas e privadas de ensino médio, localizadas no município de Picos, Piauí. Foi realizado por intermédio de um questionário semiestruturado, aplicado a 2.400 estudantes. O perfil encontrado foi: idade entre 14 e 18 anos (94,5%), predomínio do sexo feminino (56%), estado civil solteiro (95,5%) e cor da pele branca (45,7%). Quanto ao consumo de drogas, as mais utilizadas são álcool e tabaco para as lícitas e tranquilizantes e maconha para as ilícitas. Um relacionamento familiar baseado no diálogo, um bom vínculo com a escola e informação sobre o uso dessas substâncias podem contribuir para menor consumo de drogas.

Descritores: Drogas Ilícitas; Ensino Fundamental e Médio; Consumo de Bebidas Alcoólicas; Tabaco.


RESUMEN

El estudio tuvo como objetivo determinar el perfil socio demográfico y el uso de drogas lícitas e ilícitas de escolares en instituciones públicas y privadas de enseñanza media localizadas en el municipio de Picos, Piauí. Fue realizado a través de un cuestionario semi-estructurado aplicado a 2.400 estudiantes. El perfil encontrado fue edad entre 14 a 18 años (94,5%), predominio del sexo femenino (56%), estado civil soltero (95,5%) y color de la piel blanca (45,7%). En cuanto al consumo de drogas, las más utilizadas son alcohol y tabaco para las lícitas y tranquilizantes y marihuana para las ilícitas. Una relación familiar basada en el diálogo, un buen vínculo con la escuela e información sobre el uso de esas substancias pueden aportar para menor consumo de drogas.

Descriptores: Drogas Ilícitas; Educación Primária y Secundaria; Consumo de Bebidas Alcohólicas; Tabaco.


 

 

Introdução

As substâncias psicoativas têm sido utilizadas em diversas épocas e culturas, bem como com finalidades terapêuticas, religiosas ou lúdicas. Desde a Antiguidade, o uso dessas substâncias pode ser verificado, demonstrando que a produção e o uso de drogas faz parte da própria história da humanidade(1-2). Nas últimas décadas, porém, em razão de sua elevada frequência, seu uso foi sugerido como um problema mundial de saúde pública, despertando o interesse de vários grupos de pesquisadores(2).

A crescente preocupação que mobiliza a sociedade e grupos de pesquisa na prevenção e combate ao uso de drogas lícitas e ilícitas no Brasil se deve à enorme disseminação do consumo de drogas, aos crimes hediondos cometidos por seus usuários e à idade cada vez mais precoce das pessoas que se tornam dependentes dessas substâncias, especialmente as ilícitas, bem como das que têm comércio autorizado pelas instituições(1).

Durante muito tempo, a temática das drogas foi referenciada apenas em uma abordagem quanto aos aspectos relativos à segurança internacional. As drogas eram comercializadas em trânsito ilegal entre os países como simples mercadorias. No entanto, esse mesmo comércio também é responsável pelo financiamento de outros crimes transnacionais. Dessa forma, a sociedade em geral precisa reagir a esse fenômeno de forma drástica, com uma política repressora e fortemente focada na redução da oferta e disponibilidade das drogas(3).

Com base nesses dados, percebe-se que a legislação brasileira relacionada às drogas evoluiu de um foco totalmente proibicionista para um sistema menos repressor com relação aos usuários de drogas. As drogas não podem ser referenciadas apenas como simples mercadorias em trânsito entre os países, sendo necessário destacar e informar a população em geral sobre os riscos gerados à saúde e à qualidade de vida pelo seu uso. Além disso, esse problema social afeta as estruturas políticas, econômicas e culturais de vários países(3-4).

Sabe-se que o ensino médio é frequentado de forma predominante por adolescentes. Essa época da vida é marcada por grandes descobertas e transformações. Nesse mesmo período, as recomendações quanto ao não uso de drogas, pela maioria dos jovens que buscam sua autonomia, são vistas de forma negativa. E alguns desses adolescentes encontram nas drogas uma oportunidade para fugir de uma realidade adversa, bem como podem ser estimulados pelos colegas de sala de aula a experimentá-las, por curiosidade(1).

Nessa fase, é comum observar que os adolescentes se distanciam do elo familiar e procuram maior aproximação com outros grupos de adolescentes. Essa reorganização social, muitas vezes, é objeto de grande preocupação entre pais, educadores e profissionais da saúde, uma vez que, durante essa aproximação, pode acontecer o relacionamento com um grupo usuário de drogas. Dessa forma, o adolescente pode se tornar vulnerável e pressionado a compartilhar da experiência do uso de drogas(5).

O consumo de drogas lícitas e ilícitas durante o ensino médio pode ser relacionado a muitos fatores, incluindo a situação socioeconômica e cultural(6). Além desses fatores, podem ser destacados o livre acesso a essas substâncias, a ausência de uma estrutura familiar sólida, relacionamento insatisfatório com os pais, os problemas de atenção e comportamento, o uso de drogas por outros familiares e a própria fase de transformação da adolescência, sugerindo que esse pode ser um período crítico para o uso dessas substâncias, reforçando a necessidade de estudos sobre esse tema, sobretudo entre estudantes do 3º ano do ensino médio de escolas públicas e privadas, para fornecer dados que subsidiem prontamente a identificação de alguns parâmetros relacionados ao uso de drogas lícitas e ilícitas.

Já é sabido que as drogas prejudicam o desempenho social, profissional e afetivo. O uso dessas substâncias pode gerar várias consequências como menor participação nas atividades acadêmicas e menor desempenho escolar. Além disso, pode ser verificado, entre os usuários estudantes do ensino médio, maior número de reprovações, bem como comportamento inadequado perante a família e a sociedade(7-8). Os prejuízos gerados aos indivíduos, muitas vezes, podem ser imensuráveis e os custos, durante o tratamento desses usuários para o serviço de saúde, são bastante elevados(1). Todos esses fatores demonstram a necessidade da prevenção e do combate ao uso de drogas lícitas e ilícitas, uma vez que podem produzir repercussões sociais, culturais e econômicas desfavoráveis ao país, de modo geral.

A caracterização e a investigação de fatores associados ao consumo de drogas entre estudantes do ensino médio pode ser importante ferramenta para as políticas públicas na busca de auxílio para a prevenção, combate e tratamento do abuso de substâncias psicoativas(6). Diante dessa contextualização, o presente estudo objetivou determinar o perfil sociodemográfico e os fatores associados ao uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudantes do 3º ano do período noturno de escolas públicas e privadas de ensino médio, localizadas no município de Picos, Piauí.

 

Material e Métodos

Trata-se de estudo de abordagem quantitativa-descritiva, com emprego da técnica de investigação direta(9-10). Os locais de realização da pesquisa foram 6 (seis) escolas públicas e 4 (quatro) escolas privadas de ensino médio do curso regular do período noturno, localizadas no município de Picos, Piauí. Inicialmente, todas as escolas públicas e privadas de ensino médio (n=22) da zona urbana do município foram solicitadas a participar da pesquisa; no entanto, dentre essas, apenas dez escolas (públicas e privadas) aceitaram, de forma voluntária, o convite para a participação no estudo.

Inicialmente, todos os estudantes de ambos os sexos e diferentes faixas etárias do 3º ano do período noturno do ensino médio dessas dez escolas foram convidados a participar do estudo. No entanto, muitos estudantes não aceitaram participar de forma voluntária. Dessa forma, a população final do estudo foi composta por 2.400 alunos do período noturno do 3° ano do ensino médio das escolas públicas (n=1.200) e privadas (n=1.200). Os dados foram coletados de agosto a novembro de 2010 por acadêmicas do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, treinadas e sob supervisão.

Para a obtenção das informações sobre o consumo de drogas e outros dados, foi utilizado um questionário anônimo autoaplicado, composto por questões objetivas e subjetivas relacionadas aos dados socioeconômicos (faixa etária, sexo, cor da pele autorreferida, situação conjugal, renda familiar e tipo de moradia); ao consumo de substâncias lícitas e ilícitas; ao uso de fármacos durante a prática da automedicação, bem como ao uso específico de álcool (etilismo), por meio de questões subjetivas sobre como o aluno considera ter excedido no consumo de bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida, e se o mesmo é um usuário ou autorrefere o uso do tabaco pelo menos uma vez ao dia (tabagismo).

Os questionários foram aplicados sempre no mesmo horário do turno noturno (19 horas), conforme agendado previamente com o diretor da escola, tendo essa aplicação sido feita de maneira coletiva e seus participantes mantidos sem identificação durante aproximadamente 20 minutos antes das atividades acadêmicas dos estudantes. Somente participaram da pesquisa os alunos que estavam presentes na sala de aula no dia da aplicação do questionário, sendo excluídos da pesquisa apenas os estudantes que se recusaram a participar da pesquisa ou não entregaram o Termo de Livre Consentimento e Esclarecido (TLCE), assinado pelo próprio aluno, quando maior de idade, ou pelo responsável, quando menor de idade. A participação foi feita de forma anônima e voluntária. Todos os estudantes do ensino médio, convidados a participar, foram esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa. Não houve identificação nominal, nem risco moral para os estudantes, por se tratar apenas de dados estatísticos.

A utilização de questionário autoaplicado, coletivamente, em sala de aula, por ser confidencial e garantir o anonimato, constitui-se num adequado procedimento para a obtenção de informações sobre comportamentos privados ou ilegais. Na eventualidade de viés de informação, é possível pressupor que a tendência seria de sub-relato, uma vez que as informações dizem respeito aos comportamentos ilegais(2). A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, com Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (Caae) nº0086.0.045.000-09, e cumpre os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki.

Para o tratamento dos dados, foi produzido um banco de dados no programa Microsoft Excel e utilizado o programa estatístico SPSS, versão 15.0. Para análise e interpretação dos resultados, para instituições de ensino médio acompanhadas durante o estudo, foram usados os resultados existentes na literatura e encontrados em bases de dados. A estatística descritiva com emprego da frequência absoluta e percentual foi utilizada para análise das informações.

 

Resultados

Dos 2.400 escolares acompanhados durante o estudo, a maioria é do sexo feminino (56%), sendo que 94,5% estavam na faixa etária entre 14 e 18 anos de idade. Quando questionados sobre a cor da pele, 45,7% dos estudantes autorreferiram que possuíam pele de cor branca e 24,2% de cor parda. Quanto à situação conjugal, 95,5% deles afirmaram ser solteiros e apenas 3,8% relataram apresentar uma situação conjugal estável (Tabela 1).

Nas escolas públicas, pode ser identificada a prevalência de renda familiar de um salário-mínimo (59,5%), enquanto que, nas escolas privadas, a variável avaliada apresentou sua prevalência entre dois a quatro salários-mínimos (47,6%) (Tabela 2).

Dentre os estudantes do ensino médio das escolas públicas foi visto que entre os fatores que induzem à utilização de drogas lícitas e ilícitas 41,5% fazem uso dessas substâncias principalmente pela diversão, seguida pela influência dos amigos (38,5%) (Tabela 3). Da mesma forma, os dados da Tabela 3 despertam a atenção para o estudo, uma vez que nas escolas privadas o primeiro fator indutor para o uso dessas substâncias é a procura por diversão (36,6%). No entanto, o segundo fator que mais induziu ao uso é a vontade própria (23,4%) e não a influência de amigos como evidenciam os dados genéricos. Os resultados sugerem que esses estudantes do ensino médio utilizam as substâncias porque realmente o querem e não por influência dos colegas, como acontece nas escolas públicas.

Quanto às drogas ilícitas, as mais utilizadas entre os estudantes das escolas particulares foram os tranquilizantes (4,1%), a maconha (2,5%) e a cocaína (2,5%). Já entre os estudantes das escolas públicas, houve semelhança entre os valores correspondentes ao uso da cocaína, bem como foi identificado maior consumo de tranquilizantes (3,8%) e da maconha (3,8%), quando comparado às drogas consumidas por estudantes do ensino médio de escolas particulares. Já nas escolas públicas, o uso do crack foi maior entre os estudantes do ensino médio, uma vez que nas escolas particulares não foi verificado o consumo dessa substância (Tabela 4).

Quanto às possíveis drogas utilizadas entre os escolares, foi detectada uma alta observação de consumo para as drogas lícitas como o álcool (82,2%) e o tabaco (7,3%) entre os estudantes de escolas públicas e privadas. Considerando os resultados obtidos entre os estudantes do ensino médio das escolas públicas e particulares, foi verificado que de 80 a 83,9% desses fazem uso do álcool e 7,6 e 7,0% do tabaco, respectivamente (Tabela 4). Entretanto, a grande maioria dos estudantes das escolas públicas e particulares relatou não fazer uso do álcool de modo frequente (82%) e não haver se excedido no seu uso (87%) (Tabela 5). Esses dois índices foram mais observados entre os estudantes da rede pública, quando comparados ao estudo em unidades de ensino do setor privado.

Complementados os dados do estudo, com relação à prática da automedicação, os resultados demonstram que 61% dos estudantes não faziam uso de medicamentos sem prescrição médica. De acordo com os resultados, a automedicação ocorre com maior predomínio nas escolas privadas. Dentre os medicamentos mais utilizados sem prescrição médica, foi identificado um consumo na prática de automedicação de 35,1, 38,2 e 12,6% para os fármacos analgésicos, anti-inflamatórios e complexos vitamínicos, respectivamente.

 

Discussão

Os dados obtidos no presente estudo se correlacionam com os de outros estudos que envolvem o uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudantes na mesma faixa etária escolar. Em outros estudos disponíveis na literatura foram encontrados resultados semelhantes aos deste estudo para as variáveis como sexo, faixa etária, cor da pele autorreferida e situação conjugal, entre os estudantes do ensino médio acompanhados no estudo(2,11). Em relação à renda familiar, houve divergência entre resultados encontrados para escolas públicas e privadas, evidenciando que os estudantes da rede municipal de ensino em estudo pertencem a diferentes estratos econômicos.

Como evidenciado nos dados descritos na Tabela 3, as substâncias lícitas mais consumidas pelos estudantes do 3º ano do período noturno do ensino médio foram o álcool, seguido pelo tabaco. Esses resultados corroboram resultados de vários estudos existentes sobre o tema, realizados em Palhoça, Santa Catarina, com 889 estudantes da rede de ensino público e particular(1), e em São José do Rio Preto, São Paulo, com 1.035 alunos de escolas públicas(6). Por serem substâncias permitidas legalmente, não há tanto destaque diante desse fato, uma vez que essas são substâncias que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas. Os dados do presente estudo, além de corroborarem os disponíveis na literatura(1,3,6,8), também ampliam os resultados encontrados com a faixa etária em questão, fortalecendo a necessidade de implantação de políticas de saúde pública de apoio e orientação psicofarmacológica aos estudantes do 3º ano do período noturno do ensino médio público e particular.

As bebidas alcoólicas, atualmente, podem estar inseridas nas mais variadas ocasi­ões sociais, por meio de ampla aceitação social e legal, sendo inclusive valorizadas culturalmente em algumas situações(12). No Brasil, o álcool também é a droga mais usada em qualquer faixa etária e pode ser verificado aumento do seu consumo entre adolescentes (13). Além disso, esse mesmo estudo demonstrou alto consumo de álcool e tabaco entre os estudantes, conforme também foi verificado no presente estudo, sugerindo que os adolescentes podem facilmente adquirir bebidas alcoólicas ou cigarros, tanto pela via comercial quanto por intermédio de seus grupos de convívio social e familiar (parentes e amigos).

O consumo de álcool em excesso, pelos adolescentes, pode acarretar várias consequências graves para sua saúde, reforçando os dados da literatura sobre o fato de que essa droga é socialmente aceita e pode facilitar, como porta de entrada, o consumo e o vício para outras classes de drogas ilícitas(14). Ainda com bases nos dados da Tabela 3, pode ser observado que, no âmbito das drogas ilícitas, os tranquilizantes e a maconha são as substâncias mais consumidas entre os estudantes das redes pública e privada. No entanto, ainda existem controvérsias nesses resultados que precisam ser mais bem investigados. Enquanto alguns estudos(1,6) indicam a maconha apenas como a segunda substância ilícita mais consumida por estudantes do ensino médio, outro relatório(5) indica que a maconha é a droga mais utilizada. O I Levantamento Domiciliar Nacional sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas, realizado pelo Cebrid também relata ser a maconha a droga ilícita mais consumida no Brasil(15).

A maconha é um grave problema de saúde pública. O seu uso pode ser considerado o passo inicial para o consumo de outras drogas ilícitas mais tóxicas, tornando evidente a necessidade de campanhas de prevenção quanto ao seu uso, uma vez que no estudo realizado em São José do Rio Preto(11) foi verificado que o consumo de outras drogas ilícitas e de drogas lícitas é mais comum entre aqueles que já experimentaram a maconha. Dessa forma, o uso dessa substância pode fortalecer a ideia da progressão quanto ao consumo de outras drogas lícitas e ilícitas. Além disso, a maconha possui valor comercial mais baixo, o que a torna mais acessível aos jovens, principalmente os oriundos de famílias de baixo poder aquisitivo(5), como pode ser visto nos dados socioeconômicos sobre a renda familiar, deste estudo.

Ainda, quanto ao uso de substâncias lícitas e ilícitas, foi detectado e vale ressaltar que o período noturno, foco central deste estudo, é, provavelmente, o horário mais propício para os alunos que fazem o uso dessas substâncias frequentarem as unidades de ensino, conforme também evidenciado por outros estudos em nosso país(1,6,16).

Um resultado positivo referente aos dados obtidos com relação à prática da automedicação sugere que os estudantes do ensino médio apresentam certo grau de conhecimento sobre os riscos dessa prática, uma vez que a maioria dos estudantes não faz uso de classes de fármacos sem prescrição médica. No entanto, a utilização das drogas lícitas ou ilícitas ultrapassa a cultura da nossa sociedade, sugerindo que, desde a infância até a velhice, os sujeitos podem entrar em contato com algum tipo dessas substâncias, ainda que não as tenham usado ou experimentado(5). Dessa forma, a prevenção do uso abusivo de drogas é essencial para evitar danos à saúde e à qualidade de vida dos estudantes do ensino médio, bem como para reduzir uma posterior dependência física e química.

Segundo vários especialistas, uma das formas mais eficazes de combater o uso indevido de drogas é a prevenção(1,3,6,8). Todavia, essa não deve ser dirigida apenas aos adolescentes de forma singular, já que outros fatores também são cruciais para o uso de drogas. Dessa forma, pode ser verificado que para um resultado mais relevante no combate ao uso dessas substâncias, as medidas preventivas devem envolver também as pessoas e ambientes próximos aos adolescentes, como seus amigos, familiares e dirigentes das unidades de ensino. Destaque ainda maior deve ser dado aos dois últimos anos do ensino médio, uma vez que, nesse período, os adolescentes começam a formar suas opiniões e conceitos sobre diversos assuntos. Assim, pode ser inferido que um relacionamento familiar baseado no diálogo, uma família estruturada, um bom vínculo com a escola e informações relevantes fornecidas aos adolescentes sobre as causas e consequências do uso dessas substâncias podem contribuir para um menor consumo de drogas. 

 

Considerações Finais

O presente estudo apresenta limitações quanto à generalização dos resultados para todos os alunos de ensino médio do Brasil e para os adolescentes em geral, por se tratar de uma localidade específica e por excluir da amostra os adolescentes de outros períodos e turnos do ensino médio, bem como aqueles que abandonaram ou já terminaram os estudos. A coleta de dados não foi refeita para os alunos que faltaram ao dia letivo no qual o questionário foi aplicado, podendo o resultado estar subestimado, uma vez que os alunos cronicamente faltosos consomem drogas com maior frequência e utilizam aquelas consideradas mais tóxicas.

Apesar das limitações, o presente estudo revela dados importantes, como o perfil dos estudantes que é de adolescentes do sexo feminino com faixa etária entre 14 e 18 anos, sem situação conjugal estável, com cor da pele autorreferida como branca e renda familiar entre 1 a 4 salários-mínimos. Quanto ao consumo de drogas, as mais utilizadas são o álcool e o tabaco para as lícitas e os tranquilizantes e a maconha para as ilícitas. Os fatores que induzem ao uso dessas substâncias mais citados foram a diversão e a influência dos amigos durante festas ou comemorações. A maioria dos estudantes do 3º ano do período noturno do ensino médio não pratica automedicação e nem faz uso de medicamentos regularmente.

Em suma, por se tratar de um tema bastante complexo, novos estudos serão importantes para multiplicar os resultados já existentes, contribuindo para o aprendizado da sociedade em geral sobre os riscos inerentes ao uso de drogas lícitas e ilícitas.

 

Referências

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Correspondence
Rivelilson Mendes de Freitas
Av. Cícero Eduardo, s/n
Bairro: Junco
CEP: 64607-675, Picos, PI, Brasil
E-mail: rivelilson@pq.cnpq.br

Received: Feb. 8th 2011
Accepted: Feb. 21st 2013