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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versão On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.9 no.2 Ribeirão Preto ago. 2013

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Atendimento aos usuários de substâncias psicoativas em pronto atendimento: perspectiva dos profissionais de saúde

 

Atención a los usuarios de substancias psicoactivas en presto servicio: perspectiva de los profesionales de salud

 

 

Sara Pinto BarbosaI; Maria Conceição Bernardo de Mello e SouzaII

IMestranda, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil
IIPhD, Professor Associado, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil

Correspondência

 

 


RESUMO

Objetivou-se analisar como ocorre o atendimento de usuários de substâncias psicoativas, a partir da perspectiva dos profissionais atuantes, num serviço de pronto atendimento do município de Ribeirão Preto, SP. Para a coleta de dados, utilizou-se entrevista semiestruturada, realizada com 17 participantes e procedeu-se à Análise de Conteúdo do tipo temática. Constatou-se que a maioria dos profissionais não dispõe de conhecimento para o atendimento a essa demanda, sentiam-se inseguros e suas posturas eram guiadas por julgamento moral e preconceito. As ações mostraram-se pouco eficazes no atendimento, visto que quase sempre as mesmas se concentravam em problemas clínicos. Reforça-se a necessidade de formação dos profissionais de saúde para esse atendimento, sobretudo devido à crescente procura por esses serviços.

Descritores: Usuários de Drogas; Serviços Médicos de Emergência; Saúde Mental.


RESUMEN

Se objetivó analizar como ocurre el servicio de usuarios de substancias psicoactivas, desde la perspectiva de los profesionales actuantes, en un servicio de presto servicio del municipio de Ribeirão Preto-SP. Para recogida de datos se utilizó entrevista semiestructurada realizada con 17 participantes y se procedió el Análisis de Contenido del tipo temática. Se constató que la mayoría de los profesionales no dispone de conocimiento para el servicio la esa demanda, se sienten inseguros y sus posturas eran guiadas por juicio moral y preconcepto. Las acciones se mostraron poco eficaces en el servicio, visto que casi siempre las mismas se concentraban en problemas clínicos. Reforzamos la necesidad de formación de los profesionales de salud para ese servicio, especialmente debido a la creciente busca de estos servicios.

Descriptores: Consumidores de Drogas; Servicios Médicos de Urgencia; Salud Mental.


 

 

Introdução

O uso abusivo de substâncias psicoativas é hoje um problema social, de saúde e de segurança pública e vem ocorrendo cada vez mais precocemente na vida das pessoas(1). Há de se destacar o incremento nos gastos com saúde devido às complicações potenciais do uso dessas substâncias em quadros clínicos já instalados(2).

Essa problemática é ainda apontada como um dos motivos de aumento da demanda em serviços emergenciais que atendem saúde mental(3) e, com isso, provocando, também, a ocorrência crescente de casos que apresentam complicações clínicas.

Nesse sentido, a adequação dos serviços para atendimento dessa demanda é hoje uma das prioridades do Ministério da Saúde, como uma das possibilidades de tratamento adequado aos usuários de substâncias psicoativas(4). Para atender essa clientela, é política ministerial aperfeiçoar a assistência em serviços que competem à atenção de maior complexidade, a exemplo dos serviços emergenciais que se dedicam a atender casos de intoxicação e abstinência(5).

Desse modo, o objetivo deste estudo foi analisar como se dá o atendimento de usuários de substâncias psicoativas em uma Unidade Distrital de Saúde (UBDS) da Distrital Oeste do município de Ribeirão Preto, SP, segundo a perspectiva dos profissionais atuantes no serviço de Pronto Atendimento (PA) do mesmo.

 

Metodologia

Trata-se de pesquisa de cunho descritivo e analítico, com abordagem qualitativa, realizada no período de abril a agosto de 2011. Para obtenção de dados, utilizaram-se entrevistas semiestruturadas com profissionais que trabalham em um PA geral de uma Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS). As questões da entrevista versavam sobre o atendimento a pacientes com demanda específica em saúde mental e psiquiatria.

O local de estudo é um serviço de pronto atendimento de uma das cinco distritais de saúde do município de Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo. O mesmo é vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), entendendo-se, por isso, como um local importante não somente na assistência, mas no ensino e em práticas para a formação de novos profissionais. Todos os profissionais de saúde desse PA foram convidados a participar da pesquisa, concedendo uma entrevista à pesquisadora, sendo o único critério de exclusão a não aceitação em participar. Neste estudo, houve apenas um caso de negação em conceder a entrevista, sendo respeitado esse direito do profissional.

O número de participantes foi obtido por meio de saturação teórica dos dados, ou seja, quando já existe um adensamento teórico e a coleta de novos dados apontaria poucos elementos novos para análise(6). Desse modo, este estudo foi composto com 17 participantes. Os mesmos, após aceitarem participar da pesquisa, assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Assim, as entrevistas foram realizadas em sala reservada do serviço e duraram, em média, 30 minutos. As mesmas foram audiogravadas e, posteriormente, transcritas.

As entrevistas foram analisadas quanto ao conteúdo, sendo obedecida, para tal, a seguinte ordem: pré-análise, onde se realizaram leituras flutuantes, ou seja, superficiais, a fim de se explorar todo material da entrevista transcrito; exploração do material, quando se iniciou o agrupamento dos dados em unidades de registros e, por último, tratamento dos resultados e posterior interpretação, sendo nessa etapa realizada a categorização, ou seja, a classificação segundo semelhanças, reagrupando-os devido às suas características comuns(7). Neste estudo, utilizou-se a análise de conteúdo do tipo temática, sendo extraídos das entrevistas os núcleos temáticos que versavam sobre o atendimento aos usuários de substâncias psicoativas no serviço no PA.

A pesquisa obedeceu aos preceitos éticos da Resolução 196/96, que dispõe sobre pesquisa em seres humanos, e, para a execução, foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FMRP-USP, sob Processo nº445/CEP-CSE-FMRP-USP. Os nomes dos participantes são fictícios e alguns foram escolhidos pelos mesmos durante as entrevistas.

 

Resultados e discussão

Primeiramente apresenta-se o perfil dos participantes da pesquisa (Figura 1), seguido da análise e discussão proveniente das entrevistas realizadas com os profissionais de saúde. Dos 17 participantes entrevistados cinco são enfermeiras, oito auxiliares de enfermagem, dois técnicos de enfermagem e dois médicos. Quanto ao sexo, havia 7 homens. A faixa etária dos profissionais variou de 26 a 54 anos. Oito participantes relataram ter outro emprego, sendo um deles fora da área de saúde e um docente do ensino superior.

Sobre a participação em cursos para formação na área de saúde mental, sete participantes relataram já terem assistido palestras oferecidas por instituições de ensino no local do serviço, nenhuma dessas palestras foi oferecida pela Secretaria Municipal de Saúde da cidade. Esse fato sugere pouco investimento do município na formação específica em saúde mental. Sete profissionais de nível superior relataram ter realizado curso de pós-graduação, dois desses - um médico e uma enfermeira – disseram que o curso de pós-graduação que possuem é na área de saúde mental. O tempo de trabalho no serviço de PA variou de um mês a 18 anos, podendo ser observado que a equipe fixa (exceto os residentes que revezam com mais frequência) apresenta certa permanência.

No município de Ribeirão Preto, SP, usuários que necessitam de internação ou mesmo que estão em situações de urgência ou emergência, por uso ou abuso de substâncias psicoativas, podem ser facilmente encontrados em serviços de PA, visto que nesses locais se realizam triagens para o atendimento em níveis mais complexos de serviços de saúde.

O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) atende pacientes por demanda espontânea ou por encaminhamentos. Durante a coleta de dados, esse serviço disponível no município enfrentava problemas por não possuir profissional psiquiatra em seu quadro de profissionais fixos, o que impossibilitava que usuários de substâncias psicoativas pudessem procurar o serviço tornando, por vezes, o PA como único local disponível para atender essa demanda.

Isso pode ser comprovado pelos relatos dos participantes deste estudo que, de forma geral, disseram ser frequente a procura de usuários de substâncias psicoativas no serviço. Os profissionais acabam relacionando a procura desses usuários ao serviço com a dificuldade que encontram de ter um local para morar, devido à exclusão social sofrida pelos mesmos, dificultando também, o estabelecimento de vínculo com a equipe de saúde, conforme explicita Ricardo. Chega muito usuário de droga que não tem onde morar e quer ficar aqui. E é claro que para equipe também é difícil lidar com uma situação dessas... Qual que vai ser a empatia aí? Baixa, e realmente é difícil isso... (Ricardo).

As taxas atuais de prevalências de transtornos por uso de substâncias psicoativas são altas na população de maneira geral e, por isso, a necessidade crescente de serviços de emergência mais preparados para receber essa população(8).

Assim sendo, o PA é um local importante do percurso do usuário de substâncias psicoativas na rede. Contudo, para que se utilize desse local adequadamente, faz-se necessário que os profissionais tenham uma postura empática. Já é sabido que é por meio do processo empático que os profissionais podem compreender e perceber significados dos sentimentos e vivências dos usuários, então, faz-se necessário que os mesmos sejam aceitos como são, independente de seus comportamentos(9). Torna-se difícil, se não impossível, manter uma relação terapêutica e de ajuda para com o usuário se a compreensão que se tem do seu sofrimento e de sua vivência parte somente do julgamento moral advindo do profissional. O julgamento moral é a concepção de algo como indesejável de se lidar, como um "problema" com carga negativa. Assim, tanto o problema e como o portador do problema são negados, isso influencia de forma negativa as ações concernentes ao processo de tratamento(10).

É necessário que profissionais dos serviços de saúde sejam capazes de estabelecer relações empáticas para que se possa proporcionar atenção adequada e superar os obstáculos dos julgamentos morais pré-concebidos. O profissional de saúde deve ter a capacidade de se imaginar na situação do outro que sofre, sobretudo se o sofrimento é tão moralmente inaceitável pela sociedade como no caso do abuso de substâncias psicoativas e álcool. Esse processo deve ser desencadeado mesmo diante da brevidade do contato com o PA.

A situação do PA, como local inadequado para aguardar regulação para outros serviços, foi frisada pelos participantes, sobretudo pelo fato de o serviço não oferecer atividades aos usuários durante o período de espera, o que contribui, muitas vezes, para evasão do paciente do serviço, como deixa claro o depoimento da Flora. Acaba acontecendo, muitas vezes sai, vai dá volta. Aqui ele não tem atividade nenhuma, ele fica lá na sala aguardando, fica o dia inteiro à toa... Às vezes, ele sai, vai, volta e quem garante que ele sair e voltar e não usa droga? (Flora).

Diversos estudos mostram o impacto do uso de substâncias psicoativas à população usuária, o que sinaliza uma necessidade de adequação e melhoria da assistência dirigida a esses. O uso frequente do álcool, por exemplo, tem siginificado problemas de saúde e acarretado altos gastos econômicos referentes à saúde em adultos.

Em estudo piloto, realizado nos serviços de PA da cidade de Ribeirão Preto, SP, conclui-se que em 90% dos entrevistados com idade entre 34 e 40 anos, o álcool predominou como droga de uso, inclusive num padrão diário em ambos os sexos(11). Com essa demanda, espera-se que ações sejam desencadeadas no sentido de formação profissional e adequação dos serviços para esses atendimentos.

Entende-se que parte do processo de adequação desses serviços é a aceitação dessa demanda e compreensão de que o uso ou abuso de substâncias psicoativas denotam cuidados que concernem ao campo da saúde mental. Contudo, no serviço deste estudo, os participantes relataram que esses usuários não fazem parte da demanda de saúde mental, como explicitado no depoimento. Porque não é só dizer que ele é psiquiátrico, a grande maioria é dependente químico. E aí? (Alice).

A importância de ações em serviços de PA, que vão além do mero atendimento das situações de abstinência e intoxicação, é apontada como importante, sobretudo porque o rastreamento de usuários abusivos permite acessar os que nunca haviam pedido ajuda com relação às dificuldades enfrentadas pelo vício(12).

Existem casos que, se não tivessem sido avaliados no PA, poderiam sair do serviço sem qualquer tratamento ou informação sobre as possibilidades que dispõem para a ajuda. A sala de emergência pode, assim, representar talvez a única oportunidade de receber informações sobre o vício e ser o começo de um tratamento adequado(12).

Outra questão que também justifica a importância de formação para a identificação de usuário de substâncias no PA é o fato de a maior parte das taxas de morbimortalidade sobre uso de álcool se dá em indivíduos que não frequentam serviços especializados, mas os outros dispositivos da rede de saúde(13). Os serviços emergenciais podem ser um desses, sem dúvida.

Assim, identificação de usuários com comportamentos de risco pode favorecer a implementação de estratégias preventivas que têm comprovada eficácia e eficiência, além de menores custos por reduzir os quadros clínicos mais graves, que são mais onerosos ao sistema público de saúde(13). Essa identificação poderia ter como um dos locais o próprio PA que, rotineiramente, recebe usuários, contudo, para isso, há de ter formação e compreensão para a importância de tal atividade. Essa possível dissociação entre uso de substâncias e necessidade de cuidados concernentes ao campo da saúde mental pode ser decorrente do estereótipo de agitação e violência dado ao paciente com demanda em saúde mental que não é associado, nesse serviço, aos usuários de substâncias, como relata Elias. O usuário de droga não chega a ser um paciente psiquiátrico, não é? Ele chega tranquilo, não chega agitado, entendeu? Eu vi poucos que chegaram aqui agitados, a maioria chega com dor precordial e taquicardia (Elias).

Em uma pesquisa(14) com os profissionais de enfermagem do pronto atendimento de um hospital geral, esses relataram que as situações de violência no serviço são mais frequentemente relacionadas aos usuários sob efeito de substâncias psicoativas. No atual estudo, mesmo ante as dificuldades encontradas durante os atendimentos aos usuários de substâncias psicoativas, eles relatam ser um local procurado pela família como uma possibilidade de suporte para si e para o usuário, conforme a fala a seguir. Faz uso de substâncias ilícitas (ele, o usuário) e fica fora de casa durante muito tempo, então, a família quando consegue localizar, traz pra tentar alguma uma ajuda para parar o uso dessas substâncias (Regina).

Apesar de o serviço ser um local onde a procura por usuários de substâncias psicoativas é grande, percebe-se que os profissionais não têm formação adequada para realizar atendimento a essa população, o que é reconhecido por Heloísa. Não, não é igual... É um pouco, por exemplo, eu no meu caso, eu me sinto um pouco confusa em como atender o paciente. Eu nunca sei, por exemplo, como tratar um paciente de drogadição (Heloísa).

A formação, sobretudo de profissionais da categoria de enfermagem, apresenta-se imprópria para que esses possam oferecer cuidados aos usuários de substâncias psicoativas(15), fato preocupante pela importância desse profissional na assistência em saúde, visto que os mesmos participam do processo de desenho e implementação de programas de prevenção da saúde, incluindo prevenção do uso e abuso de substâncias(16).

A dificuldade de se realizar uma abordagem adequada é apontada pelos profissionais como decorrência da pouca disponibilidade de tempo, assim, podem ser sugeridas capacitações para realizações de Intervenções Breves (IB)(17). Isso poderia driblar esse obstáculo, visto que nessas intervenções há adaptações para aplicação em salas de emergência. A IB poderia ainda instrumentalizar os profissionais da saúde do PA a falar sobre consumo de substâncias com os pacientes do serviço, erro que comumente eles cometem por acreditarem não ser o local adequado(17). É preciso ainda formar profissionais a fim de que possam entender que a própria informação, no caso de uso de substâncias, é uma importante forma de apoio(16). O uso da IB na emergência já foi apontado como maior facilitador na derivação do tratamento especializado em casos graves de dependência alcoólica(17), reduzindo riscos de danos, chances e condições de desenvolvimento dos problemas comumente observados em decorrência do uso de substâncias(13).

O momento de crítica ou não ao uso da substância por parte do usuário determina a atuação profissional. Regina explicita que a interação com paciente depende de qual momento ele se encontra. Se ele veio porque ele é usuário de drogas, por exemplo, e ele quer parar, ele quer tratar a dependência, é diferente. Então, dá para você conversar... (Regina).

Há necessidade de uma rede de atendimento integrada para atendimento de dependente, sendo que o pronto atendimento é um espaço importante onde se possibilita não apenas intervenção nos problemas clínicos, devido ao uso, mas sensibilização para que o usuário possa dar início ao processo de mudança(14).

No período de motivação, o indivíduo sente-se mais capaz para mudança de comportamento em relação ao uso de substâncias psicoativas e, assim, mais receptivo à atuação da equipe(17). Para aproveitar a motivação ou mesmo para sensibilizar os usuários, uma das saídas apontadas em estudos, que poderia ser utilizada no PA, seria a intervenção breve que demonstrou ser efetiva em indivíduos que apresentam consumo de risco e prejudicial de álcool. A IB é apropriada para ser aplicada em serviços de emergências, sendo para isso necessário treinamento dos profissionais. Nesse tipo de intervenção, o foco é detectar o uso de substâncias e motivar as mudanças(17).

Não se notou que, no serviço de PA, local onde se desenvolveu o atual estudo, houvesse muitos profissionais capacitados para realizar abordagens adequadas para essa clientela, e isso foi, inclusive, claramente referido pelos participantes nas entrevistas.

São preocupantes, ainda, os relatos de demora no processo de liberação de vaga para internação em casos já avaliados pelo psiquiatra e que, de fato, requerem internação. Esse fato é preocupante, sobretudo porque, no tratamento do uso de substâncias psicoativas, o item motivação é muito importante, e, quando os usuários se sentem motivados para dar início ao processo de tratamento, há de se crer que a demora, de certa forma, desperdiça a oportunidade de realização de trabalho terapêutico, visto que no serviço não há qualquer atividade ou intervenção oferecida aos usuários durante esse período de maior espera, o que pode contribuir para as "fugas" do serviço.

Há necessidade premente de uma rede de atendimento integrada para atendimento de dependentes, sendo o PA um espaço importante onde se possibilita não apenas a intervenção nos problemas clínicos devido ao uso, mas a sensibilização para que o usuário possa dar início ao processo de mudança(16).

 

Considerações finais

No que se refere ao atendimento a usuários de substâncias psicoativas fica claro, pela análise de conteúdo das falas dos participantes, que esses são atendidos como usuários com demandas em saúde mental. As condutas profissionais parecem ainda ser guiadas por preconceitos e julgamentos morais, posturas inadequadas dos profissionais de saúde. Essas dificuldades encontradas pareceram ser provenientes de formação profissional pouco adequada para atendimento em saúde mental. Formação essa necessária aos profissionais que lidam com essa demanda no serviço, visto que, por eles, passam pacientes em momentos de crise psicótica, intoxicação ou abstinência, entre outras situações nas quais a equipe deveria ser preparada para acolher, atender e orientar, avaliar e encaminhar, se necessário, para outros serviços de saúde geral ou especializado. Cabe destacar a necessidade de estudos mais aprofundados nessa temática e investimentos públicos nos serviços de pronto atendimento para que se possa melhorar a qualidade da assistência nessa área.

 

Referências

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Correspondence
Maria Conceição Bernardo de Mello e Souza
Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas
Av. Bandeirantes, 3900
Bairro: Monte Alegre
CEP: 14040-902, Ribeirão Preto, SP, Brasil
E-mail: consouza@eerp.usp.br

Received: Jan. 24th 2013
Accepted: Mar. 5th 2013

 

 

1 Artigo extraído da dissertação de mestrado "Atendimento ao paciente psiquiátrico: cotidiano de um serviço de pronto atendimento do interior do Estado de São Paulo", apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil.