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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

On-line version ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.11 no.2 Ribeirão Preto June 2015

 

Questões contemporâneas do uso de cocaína/crack

 

 

Sandra Cristina Pillon

Editora Associada da SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, e Professor Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil, e-mail: pillon@eerp.usp.br

 

 

 

O uso de substâncias psicoativas é considerado um problema de saúde pública mundial. Dados do Relatório Mundial sobre Drogas apontam que, nas últimas décadas, houve aumento do uso de cocaína e crack, contudo, a magnitude do uso de drogas ilícitas tem se mantido estável na população adulta(1).

No cenário brasileiro, os dados epidemiológicos apontam transição em relação ao tipo de droga de escolha(2). Os resultados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas permitiram delinear um panorama do uso de cocaína e seus derivados (crack, merla, oxi) no Brasil. O estudo identificou que cerca de seis milhões de brasileiros (4% da população adulta) declaram que já experimentaram essa droga em algum momento da vida, sendo que 2,8 milhões haviam usado a droga nos últimos 12 meses. Desse contingente de indivíduos, quase a metade (48%) tornou-se dependente(2), o que tem gerado crescente demanda por serviços de saúde.

O uso abusivo dessas substâncias aumenta a vulnerabilidade psicossocial dos usuários e gera inúmeras consequências nocivas à saúde, implicando em incremento significativo da carga para o sistema de saúde. Nessa população são inúmeros os problemas físicos decorrentes da exposição às drogas e aos comportamentos de risco associados ao uso, como o risco de infecção por DST-AIDS, complicações clínicas agudas (overdose e síndrome de abstinência), além de elevados índices de comorbidade psiquiátrica(3).

No contexto da assistência, o papel do enfermeiro se destaca pela atuação nos diferentes níveis de atenção à saúde, da prevenção primária ao tratamento e reabilitação psicossocial. O enfermeiro é um dos profissionais-chave que atua na linha de frente da assistência junto a essa população vulnerável, auxiliando no fortalecimento da promoção do autocuidado. No entanto, o profissional de enfermagem que atua no campo da intervenção costuma encontrar diversas barreiras na abordagem dos usuários dos serviços. Essas barreiras incluem a falta de conhecimento e competência clínica, decorrentes de preparo educacional deficiente, baixa adesão ao tratamento, falta de protocolos sistematizados para oferecer assistência de qualidade, falta de tempo ou interesse, estresse laboral, baixa motivação para mudança do paciente e remuneração limitada(4).

Por outro lado, as evidências sugerem que a equipe que atua na atenção primária à saúde, uma vez treinada em reconhecer e intervir precocemente, pode contribuir efetivamente na redução dos danos e efeitos adversos do uso crônico de substâncias(5). Nesse contexto, torna-se necessário produzir conhecimentos sobre a prevalência, os fatores preditivos como o contexto pessoal, familiar e ambiental, que contribuam para o consumo de drogas na realidade brasileira.

Este fascículo da SMAD é composto por seis artigos (estudos originais) que abordam temas específicos relacionados ao uso de álcool e outras substâncias psicoativas, predominando cocaína/crack. Os estudos tratam da prevalência, fatores preditivos do uso de drogas, aspectos biopsicossociais (interpessoais, familiares, espirituais), trajetórias de uso, em populações tais como adolescentes, adultos e gestantes. Os temas focalizados são atuais e os resultados apresentados são relevantes do ponto de vista da agenda de saúde pública, contribuindo para sistematizar políticas e intervenções direcionadas a essas populações. Os estudos foram realizados por pesquisadores de diversas regiões do país e refletem a diversidade cultural que caracteriza as populações específicas a cada contexto.

O desafio da prevenção é criar uma rede de proteção aos usuários, inserindo-os em programas sociais e alternativas ocupacionais capazes de restituir a dignidade e os direitos de cidadania.

 

Referências

1. United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC). World Drug Report 2013. [Internet]. 2013. [acesso 6 abr 2015]. Disponível em: http://www.unodc.org/wdr/

2. Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD). II Levantamento Nacional de Alcool e Drogas (LENAD). [Internet]. 2012. [acesso 6 abr 2015]. Disponível em: http://inpad.org.br/lenad/cocaina-e-crack/resultados-preliminares/

3. Diehl A, Vieira DL, Rassool GH, Pillon SC, Laranjeira R. Sexual risk behaviors in non-injecting substance-dependent Brazilian patients. Adicciones. 2014;26(3):208-20.

4. Pillon SC, Laranjeira R. Formal education and nurses attitudes towards alcohol and alcoholism in a Brazilian sample. São Paulo Med J. 2005;123(4):175-80.

5. Junqueira MAB, Santos MA, Pillon SC. Competências atitudinais de estudantes de Enfermagem na assistência a usuários de álcool. Rev Enferm Atenção Saúde. 2014; 3(2):76-85.

1. United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC). World Drug Report 2013. [Internet]. 2013. [acesso 6 abr 2015]. Disponível em: http://www.unodc.org/wdr/        [ Links ]

2. Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD). II Levantamento Nacional de Alcool e Drogas (LENAD). [Internet]. 2012. [acesso 6 abr 2015]. Disponível em: http://inpad.org.br/lenad/cocaina-e-crack/resultados-preliminares/        [ Links ]

3. Diehl A, Vieira DL, Rassool GH, Pillon SC, Laranjeira R. Sexual risk behaviors in non-injecting substance-dependent Brazilian patients. Adicciones. 2014;26(3):208-20.         [ Links ]

4. Pillon SC, Laranjeira R. Formal education and nurses attitudes towards alcohol and alcoholism in a Brazilian sample. São Paulo Med J. 2005;123(4):175-80.         [ Links ]

5. Junqueira MAB, Santos MA, Pillon SC. Competências atitudinais de estudantes de Enfermagem na assistência a usuários de álcool. Rev Enferm Atenção Saúde. 2014; 3(2):76-85.         [ Links ]