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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

On-line version ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.11 no.3 Ribeirão Preto Sept. 2015

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v11i3p120-121 

EDITORIAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.v11i3p120-121

 

Adolescência, saúde mental, drogas e violência

 

 

Ana Maria Pimenta Carvalho

Co-editora, SMAD - Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas. Professor Associado, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil, e-mail: anacar@eerp.usp.br

 

 

 

A população estimada de adolescentes no Brasil é de 21 milhões, não à toa esse segmento vem ocupando espaços na mídia, em decorrência do aumento nos índices de criminalidade, nos quais os adolescentes têm participação ativa, o que tem gerado acalorados debates sobre a redução da maioridade penal. No entanto, fala-se menos sobre a violência sofrida pelo adolescente que acaba sendo mão de obra barata e facilmente descartável, no contexto das práticas ilegais. Acresça-se a isso os ideais de masculinidade que passam por valentia, coragem e embotamento do medo que colocam os adolescentes do sexo masculino, em especial, em condição de maior disponibilidade para aderir à prática de atos antissociais e ilegais.

Ao fazer isso, o adolescente também desmascara a hipocrisia dos adultos no que tange a essas práticas, obrigando-os à revisão de regras e leis, o que leva, infelizmente, à questão da redução da maioridade.

Embora segmentos da sociedade argumentem em sentido contrário, essas vozes são menos ouvidas e é sempre importante lembrar que os comportamentos são aprendidos, e cumpre ao adulto oferecer condições de aprendizagem que levem à apreciação e respeito pela vida. São esses dois índices importantes de Saúde Mental, cuja construção é um processo complexo que se dá ao longo de todo o desenvolvimento do indivíduo, embora os alicerces dessa construção sejam lançados nos períodos que compreendem a infância e a adolescência. Visto que se trata de construção, um indivíduo forma-se no contexto das relações que estabelece com as pessoas à sua volta. É com elas que se aprendem os modos de pensar e agir no mundo. Um contexto violento e de exploração leva à construção de indivíduos igualmente violentos.

Embora tenhamos tendência a ter representações fantasiosas da adolescência, ora como ruidosa, bagunceira, mas inócua, ora como agressiva e, portanto, perigosa, sabe-se que há diferentes modos pelos quais os adolescentes vivem essa etapa da vida e, para uma representativa parcela desse contingente de pessoas, as condições que as circundam não são boas o suficiente ou mesmo são condições muito ruins. Em dois trabalhos que destaco, no presente número da SMAD, são analisadas as circunstâncias que facilitam o consumo de drogas(1) (lícitas e ilícitas) e, dentre elas, encontra-se o convívio com familiares que também as utilizam, o que, por seu turno, pode contribuir para a diminuição da percepção de risco(2) (como apontado no estudo que trata dessa temática, em relação ao consumo de álcool) do uso dessas substâncias. O consumo de drogas ilícitas coloca, ainda, o adolescente em contato com o universo infracional, contribuindo, assim, para que se complete a imagem do adolescente perigoso. Dessa forma, nunca é demais lembrar que esse adolescente é tanto vítima como agressor. Dados do relatório do Unicef, sobre a adolescência brasileira, revelaram que, em 2011:

- dos adolescentes, 14% estavam fora da escola;

- de cada 100 jovens, 49 se encontravam na escola e, desses, apenas 29% se encontravam em série adequada à faixa etária;

- oitenta mil crianças e adolescentes viviam em abrigos, sendo 24% por motivo de pobreza e 53% com abrigamento superior a dois anos;

- das mortes, entre 15 e 19 anos, 43% ocorreram por homicídios, sendo que os adolescentes negros exibiram quatro vezes mais chances de serem assassinados que os brancos. A taxa de mortalidade por homicídio na população geral era de 4,8%;

- crimes contra a vida foram cometidos por 0,013% dos adolescentes.

Esses números dão a dimensão de um segmento desprotegido, para o qual cuidados devem ser propostos se queremos pessoas física e mentalmente saudáveis.

 

Referências

1. Marcon SR, Sene JO, Oliveira JRT. Contexto familiar e uso de drogas entre adolescentes em tratamento. SMAD, Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) [Internet]. jul-set 2015;11(3). In press.

2. Uribe Alvarado JI, Verdugo Lucero JC, Zacarías Salinas X. Relación entre percepción de riesgo y consumo de drogas en estudiantes de bachillerato. Psicol Salud. 2011;21(1):47-55.

2. Uribe Alvarado JI, Verdugo Lucero JC, Zacarías Salinas X. Relación entre percepción de riesgo y consumo de drogas en estudiantes de bachillerato. Psicol Salud. 2011;21(1):47-55.         [ Links ]