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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versão On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.11 no.4 Ribeirão Preto dez. 2015

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v11i4p179-180 

EDITORIAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.v11i4p179-180

 

Diversidade e Saúde Mental: potencial de exclusão ou diálogo?

 

 

Carla Aparecida Arena Ventura

 

 

 

A diversidade é o agrupamento que reúne múltiplos aspectos, diferentes entre si, podendo gerar estímulos sociais com resultados extremamente positivos, quando entendida como possibilidade de compreensão e aprendizado com o outro. Porém, pode também produzir resultados dolorosos e negativos, especialmente em situações em que associa o diferente ao que se desconhece, se afasta e se exclui. Constroem-se, nestes casos, barreiras que legitimam demarcações, gerando impactos profundos na identidade dos indivíduos.

A saúde mental abarca e combina diferentes aspectos da diversidade como o social, de valores e informacional(1). Para a OMS(2), o conceito de saúde mental é análogo ao de saúde, relacionando fenômenos complexos, influenciado por diferenças culturais e pela subjetividade, uma vez que pessoas com transtornos mentais geralmente apresentam um conjunto multifacetado de necessidades clínicas e  sociais.

Nesse contexto, historicamente, a diversidade na saúde mental acentuou as dificuldades individuais e coletivas do enfrentamento da "loucura", com consequências devastadoras para as pessoas com transtornos mentais, por meio da consolidação da cultura de asilo e da banalização da reificação destes seres humanos, privados totalmente de sua individualidade.

Outrossim, os movimentos de reforma e de consolidação dos direitos humanos, como direitos de toda pessoa humana, abriram espaços para o diálogo como instrumento para trabalhar com estes desafios e gerar novas visões e formas de ação. Nesta nova perspectiva, buscam-se diversos modos de compreender e se relacionar com esses indivíduos, não os resumindo às suas doenças. Depois de anos de exclusão, vislumbra-se a possibilidade de diálogo no contexto da diversidade na saúde mental, com a produção de evidências e a implementação de práticas que aceitem e não se intimidem com sua complexidade, gerando ações técnicas orientadas para afirmar a diferença e negar as desigualdades.

Este número da Revista Saúde Mental, Álcool e Drogas reflete a diversidade intrínseca à saúde mental, combinando artigos com temas distintos: sentido atribuído pelos trabalhadores de um CAPSad ao acolhimento de usuários de crack; interações medicamentosas administradas em um Serviço de Urgência Psiquiátrica de um Hospital Geral durante as primeiras horas de atendimento; o padrão de consumo de bebidas alcoólicas em jovens em formação educativa; repercussões neonatais decorrentes da exposição ao crack durante a gestão; adesão ao tratamento medicamentoso de usuários de CAPs com transtornos de humor e esquizofrenia; a depressão em gestantes no final da gestação e duas revisões integrativas: a primeira sobre a consulta de enfermagem em saúde mental na atenção primária e a segunda sobre a aplicabilidade do processo de enfermagem no cuidar em enfermagem psiquiátrica. Além de temas diversos sobre saúde mental, álcool e drogas, os artigos  são provenientes de diferentes regiões do Brasil e um deles desenvolvido em Lisboa, Portugal.

Em suma, enfatiza-se que a diversidade na pesquisa em saúde mental e sobre álcool e drogas a torna inclusiva e sensível às necessidades dos grupos mais vulneráveis, acelerando e fortalecendo avanços, oferecendo novos olhares para "velhos" e recorrentes problemas. Essa pluraridade permite a evolução da área de conhecimento, ao possibilitar que a pesquisa preencha lacunas existentes e consolide uma agenda que legitimamente busque responder às reais necessidades sociais. Nesse sentido, é ainda um importante desafio reconhecer a diversidade na saúde mental e buscar instrumentos, por meio da educação e pesquisa, de trabalhar com ela, diminuindo o estigma e a discriminação das pessoas com transtornos mentais e usuárias de álcool e outras drogas.

 

Referências

1. Worman D. Is there a business case for diversity? Personn Today. May 2005:27-8.         [ Links ]

2. World Health Organization.  Mental health: strengthening mental health promotion. [Internet].  Fact Sheet N. 220, 2007 [Acesso 2 março 2016].  Disponível em: www.who.int/mediacentre/factsheets/fs220/en/        [ Links ]

 

 

Carla Aparecida Arena Ventura

Editor Associado da SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, Professor Associado da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Brasil, e-mail: caaventu@eerp.usp.br.

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