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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versão On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.12 no.1 Ribeirão Preto mar. 2016

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v12i1p12-21 

ARTIGO ORIGINAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.v12i1p12-21

 

Fatores associados à opinião favorável (ou contrária) à liberação da maconha em uma amostra de docentes e discentes universitários1

 

Factores asociados a la opinión favorable (o contraria) a la liberación de la marihuana en una muestra de docentes y discentes universitarios

 

 

Camila Aparecida Pinheiro Landim-AlmeidaII; Henrique Galeno Patrício RodriguesIII; Juliana Macêdo MagalhãesIV; Márcia Astrês FernandesV

IIPhD, Professor Titular, Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, PI, Brasil
IIIAluno do Curso de Especialização em Cuidados Paliativos, Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil
IVMSc, Professor Assistente, Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, PI, Brasil
VPhD, Professor Adjunto, Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil

 

 


RESUMO

Objetivou-se conhecer fatores associados à opinião favorável (ou contrária) à liberação da maconha, em uma amostra de docentes e discentes universitários. Estudo exploratório-descritivo e transversal, com abordagem quantitativa, com 288 docentes e discentes dos cursos de graduação em Enfermagem e Direito de uma instituição de ensino superior privada, em Teresina, PI. Os dados foram coletados por meio de questionário autoaplicável, em 2014, e analisados no programa estatístico Statistical Package for Social Sciences. Os principais resultados revelaram que a maioria era do sexo feminino, média de 25 anos, solteiros, católicos e aproximadamente 70% mostraram-se contrários à liberação da maconha. Conclui-se que há carência de pesquisas sobre o tema da liberação da maconha no Brasil, principalmente em relação à visão de docentes e discentes de nível superior.

Descritores: Docentes; Estudantes; Universidades; Cannabis.


RESUMEN

Se objetivó conocer factores asociados a la opinión favorable (O contraria) a la liberación de la marihuana, en una muestra de docentes y discentes universitarios. Estudio exploratorio, descriptivo y transversal, con abordaje cuantitativo, con 288 docentes y discentes de los cursos de graduación en Enfermería y Derecho de una institución de enseñanza superiora privada, en Teresina, PI. Los datos fueron colectados por medio de cuestionario autoaplicable, en 2014, y analizados en el programa estadístico Statistical Package for Social Sciences. Los principales resultados revelaron que la mayoría era del sexo femenino, media de 25 años, solteros, católicos y aproximadamente 70% se mostraron contrarios a la liberación de la marihuana. Se concluye que hay carencia de investigaciones sobre el tema de la liberación de la marihuana en Brasil, principalmente con relación a la visión de docentes y discentes de nivel superior.

Descriptores: Docentes; Estudiantes; Universidades; Cannabis.


 

 

Introdução

O consumo mundial de substâncias psicoativas está sendo representado cada vez mais em números alarmantes(1). O abuso e a dependência de drogas ameaçam a sociedade política, econômica e social, pois contribui para o crescimento dos gastos com a saúde, eleva os índices de acidente de trânsito, de violência urbana e de mortes prematuras(2).

De acordo com o relatório anual de 2013, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), as drogas ilícitas como, por exemplo, a maconha, estão proliferando em ritmo sem precedentes, criando desafios na área da saúde pública(3).

A maconha, cientificamente conhecida como cannabis, é a droga ilícita mais cultivada, traficada e consumida em todo o mundo. Originária da Ásia Central, os registros mais remotos datam de 2723 a.C., quando foi mencionada na Farmacopeia Chinesa. Difundiu-se gradualmente para a Índia, Oriente Médio, chegando à Europa somente nos fins do século XVIII e início do XIX, passando pelo Norte da África e atingindo a América(4).

A cannabis continua a ser a substância ilícita mais utilizada no mundo. Enquanto seu uso tem claramente diminuído entre os jovens na Europa durante a última década, houve pequeno aumento na prevalência de usuários de cannabis (180 milhões, ou 3,9% da população entre 15 e 64 anos), em comparação com as estimativas anteriores em 2009(3).

Segundo o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado no ano 2005, o uso da maconha, no decorrer da vida, aparece em primeiro lugar entre as drogas ilícitas mais utilizadas, com aumento de 1,9% em relação ao ano 2001(5-6). Pode-se verificar que o uso é menor em outros países como EUA (40,2%), Reino Unido (30,8%), Dinamarca (24,3%), Espanha (22,2%), e Chile (22,4%), e superior a países como Bélgica (5,8%) e Colômbia (5,4%)(6).

Estudo internacional conclui que o envolvimento com drogas ilícitas ocorre principalmente em adolescentes e adultos jovens(7). No Brasil, o I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 capitais brasileiras demonstrou prevalência de uso de drogas ilícitas de 31,5% na vida e 54% nos últimos 12 meses, sendo esse número maior na área de Ciências Biológicas (62,6%)(8). Reconhece-se que alunos e professores universitários devem merecer enfoque diferenciado em relação ao consumo e ao conhecimento da liberação de drogas, pois são eles que continuamente transmitem as noções básicas de saúde à comunidade.

Diante do problema contextualizado e baseado na busca de estudos relacionados, percebeu-se carência de pesquisas sobre fatores associados à opinião favorável ou contrária à liberação da maconha no Brasil, principalmente em uma amostra de docentes e discentes de nível superior. Considerando-se o papel importante dos profissionais das áreas de saúde e humanas na formação de uma comunidade, o presente estudo apresenta a seguinte questão: Quais os fatores associados à opinião favorável (ou contrária) à liberação da maconha em uma amostra de docentes e discentes universitários? Portanto, este estudo teve como objetivo conhecer os fatores associados à opinião favorável (ou contrária) à liberação da maconha em uma amostra de docentes e discentes universitários. Espera-se que possa oferecer subsídios científicos aos profissionais das áreas de saúde e humanas sobre a liberação da maconha, por se tratar de tema relevante, complexo e pouco discutido nos cursos de graduação.

 

Método

Trata-se de estudo exploratório-descritivo e transversal, com abordagem quantitativa, realizado no período de agosto de 2013 a junho de 2014, em uma Instituição de Ensino Superior (IES), de caráter privado, localizada na cidade de Teresina, Estado do Piauí.

Os critérios eleitos para incluir os sujeitos na amostra deste estudo foram: ser docente ou discente dos cursos de graduação em Direito ou Enfermagem da IES e atender ao número estimado da amostra calculada pela seguinte equação estatística: n = (Z2.0,25.N) / E2.(N – 1) + Z2.0,25. A amostra estimada foi do tipo aleatória simples, com reposição, margem de erro inferior a 5%, nível de confiança de 95% e acréscimo de 30% para perdas em casos inconsistentes. Dessa forma, a amostra foi composta pelo total de 302 sujeitos, sendo: 164 discentes do curso de graduação em Direito, 121 do curso de Enfermagem, além de 6 docentes do curso de graduação em Direito e 11 do curso de Enfermagem.

Para a coleta dos dados, foi utilizado um questionário autoaplicável com questões objetivas, contendo variáveis socioeconômicas e demográficas, além de questões subjetivas sobre a utilização de algum tipo de droga e sobre a liberação da maconha. Os dados foram obtidos nos meses de fevereiro a abril de 2014, nas salas de aula da IES. As respostas foram registradas manualmente no instrumento de coleta de dados.

A análise dos dados foi realizada por meio do software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) para Windows módulo base e exact test, versão 19.0. Um banco de dados foi elaborado no programa Microsoft® Office Excel® 2010, para a organização e dupla digitação em um processo de validação. Logo após, os dados foram descritos em tabelas e figuras, por meio de proporções numéricas, percentuais, médias e desvio-padrão. As variáveis idade e renda foram analisadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, para verificar a aderência à distribuição normal. Como seguiram tendência de normalidade, aplicou-se o teste paramétrico t de Student para verificar diferença entre as médias. Na análise bivariada, para verificar associação entre as variáveis, foi utilizado o qui-quadrado de Pearson (c²). Para análise multivariada, algumas variáveis foram recategorizadas para uma melhor análise. Foi realizada uma análise multivariada, com as variáveis que apresentaram um valor de p<0,20 na análise bivariada, utilizando a regressão de logística binária com o objetivo de verificar as variáveis preditoras, associadas a ser a favor da liberação da maconha, controladas para possíveis fatores de confusão (RP ajustada) por meio de análise hierarquizada. Os resultados foram expressos por meio da Odds Ratio (OR) e seu respectivo intervalo de 95% de confiança (IC95%), e as associações foram avaliadas pelo teste de Wald. Em todas as análises realizadas, foi adotado o nível de significância de 5% (p≤0,05).

A inclusão dos sujeitos neste estudo foi realizada obedecendo ao que preceitua as recomendações ético-legais que regem as normas de pesquisas com seres humanos(9). O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UNINOVAFAPI, atendendo à Resolução nº466/12, do Conselho Nacional de Saúde, sob o CAAE nº24888413.1.0000.5210. O estudo também foi aprovado pela Pró-Reitoria de Ensino do Centro Universitário UNINOVAFAPI, por fazer parte de uma investigação final de trabalho de conclusão do curso de graduação em Enfermagem da IES.

 

Resultados

Do total de 302 sujeitos calculados estatisticamente para atender a amostra inicial, 288 compuseram a amostra final, apresentando taxa de resposta de 95,4%, considerada alta em estudos transversais, proporcionando consistência e credibilidade aos resultados. Os motivos para os 4,6% de perdas foram questionários incompletos e com letras ilegíveis.

Em relação à área de conhecimento dos sujeitos do estudo, 41,0% (n=118) eram discentes e 2,1% (n=06) docentes do curso de graduação em Enfermagem; 55,2% (n=159) eram discentes e 1,7% (n=05) docentes do curso de graduação em Direito, totalizando 43,1% (n=124) da Enfermagem e 56,9% (n=164) do curso de Direito.

A distribuição da amostra, quanto às variáveis socioeconômicas e demográficas, revelou que a maioria dos sujeitos era do sexo feminino (64,2%, n=185), concentrando-se na faixa etária entre 21 e 30 anos (41,7%, n=120), solteiro (74,3%, n=214), cor parda/mulata (50%, n=144), católico (68,1%, n=196), com procedência da capital Teresina (59%, n=170) e renda familiar e per capita abaixo de 5 salários-mínimos (respectivamente, 41,1%, n=95 e 90,9%, n=210), conforme descrito na Tabela 1.

A Tabela 2 apresenta a prevalência de experimentação de drogas ilícitas, sendo de 10,8% (n=31) entre todos os participantes e 12,8% (n=21) aos pertencentes à área do Direito. Entretanto, não houve associação estatisticamente significativa (p>0,05).

Dentre os sujeitos que relataram sobre a experimentação do uso de drogas ilícitas na vida, encontraram-se a maconha 71,0%, o loló/lança-perfume 29,9%, o LSD e a cocaína 9,7% e outros tipos de drogas 12,9% (Figura 1).

Em relação à opinião sobre a liberação da maconha pelos sujeitos do estudo, 29,9% (n=86 e IC95%: 24,3-35,3) mostraram-se a favor e 70,1% contra (n=202 e IC95%: 64,8-75,7).

A seguir, a Tabela 3 mostra os resultados da análise bruta sobre a opinião a respeito da liberação da maconha, de acordo com as variáveis socioeconômicas e demográficas, experimentação de drogas ilícitas e área de conhecimento. Observa-se que houve associação estatisticamente significativa entre ser a favor da liberação da maconha e faixa etária (p=0,002), estado civil (p=0,017), religião (p=0,002), se já experimentou drogas ilícitas (p<0,001) e área do conhecimento (p=0,009).

No que se refere à faixa etária, houve aumento da razão de chances com a diminuição da idade, com o fato de não ter companheiro, não possuir religião e já ter experimentado drogas ilícitas. Em relação à área da Enfermagem, ocorreu diminuição da razão de chances em relação a ser a favor da liberação da maconha. Nas variáveis sexo (p=0,052), cor (p=0,975), procedência (p=0,511), renda familiar (p=0,109), renda per capita (p=0,578) e tipo de vínculo não houve associação estatisticamente significativa (Tabela 3).

A Tabela 4 revela os resultados da análise multivariada por meio da regressão logística dos fatores independentes associados à liberação da maconha.

No primeiro nível, a faixa etária de 18-21 mostrou 2,60 vezes mais propensão a ser a favor da liberação da maconha, quando comparada com a faixa de >40 anos. Pessoas sem religião aumentam em 2,50 vezes as chances de serem a favor da liberação, quando comparadas a pessoas com algum tipo de religião. No segundo nível, foram incluídas as variáveis referentes à experimentação de drogas ilícitas e área do conhecimento, ajustadas para variáveis do nível 1 e entre elas. O resultado mostrou que os participantes que já fizeram uso de alguma droga ilícita são 5,34 vezes mais propensos a serem a favor da liberação da maconha, do que os que nunca fizeram uso, e na área da enfermagem diminuíram em 46,0% as chances de serem a favor, quando se comparou à área de Direito (Tabela 4).

 

Discussão

Apesar da relevância do presente estudo para a saúde pública, a composição amostral apresenta-se como uma importante limitação e deve ser levada em consideração. Os resultados deste estudo apontam os fatores associados à opinião da liberação da maconha em 95% de discentes e 5% de docentes. Desse modo, como poucos docentes foram incluídos na composição amostral, os resultados não podem ser tratados em amostra equilibrada entre docentes e discentes universitários.

Com base nos resultados, pode-se constatar que a maioria dos discentes do estudo era do sexo feminino, na faixa etária menor que 30 anos, solteiros, da cor parda, católicos e renda de até cinco salários-mínimos. Esses resultados encontrados corroboram algumas pesquisas que analisaram o perfil de jovens universitários brasileiros, mostrando que a maioria é do sexo feminino, com idade média de 21 anos, solteiros e de cor parda(10-12).

No que se refere à renda familiar, ocorreu uma diferença entre as pesquisas realizadas, pois o presente estudo foi realizado em uma IES de caráter privado, o que sugere padrão socioeconômico mais alto dos discentes e docentes. Mesmo após a implantação de programas do governo para o acesso de pessoas de baixa renda ao ensino superior em universidades particulares brasileiras, esse padrão mais alto de renda ainda permanece.

Corroborando os dados deste estudo, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Paraná, sobre o perfil dos universitários brasileiro, em 2009, mostrou que, no geral, os estudantes das classes C, D e E representam 44% dos estudantes das universidades federais. Esse percentual sobe para 69% e 52% nas Regiões Norte e Nordeste, respectivamente. Esta pesquisa ainda concluiu que, ao se analisar a classificação por renda familiar, verificou-se que 41% das famílias recebem até três salários-mínimos, mas há disparidades regionais. Esse percentual cresce significativamente nas Regiões Norte e Nordeste para 50 e 63%, respectivamente, e reduz no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com 31, 32 e 33%, respectivamente(13).

No que se refere à experimentação de algum tipo de drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida, houve prevalência de 10,8%. O I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários demonstrou a prevalência de uso de drogas ilícitas de 31,5% na vida(8).

Dentre as drogas ilícitas experimentadas pelo menos uma vez na vida, a maconha foi relatada em 71%, seguida de loló/lança-perfume, com 29%. Esses dados condizem com estudo no qual se conclui que as drogas ilícitas mais utilizadas na vida foram maconha (19,7%) e inalantes (17,3%)(14). Constatou-se, também, que 10,5% dos estudantes usaram "medicamentos com potencial de abuso", dos quais as anfetaminas (6,8%) foram as que tiveram maior uso, seguidas por tranquilizantes (3,2%) e opiáceos (0,6%). Estudos realizados também encontram essa tendência, em que a droga ilícita mais utilizada foi a maconha(14-16).

Entretanto, ressalta-se que o tipo de pergunta utilizada no questionário deste presente estudo avalia o relato do consumo de drogas e não o consumo em si; portanto, deve-se ter cautela na interpretação dos dados.

Observou-se que 70% dos pesquisados foram contrários à liberação da maconha, fato que se contrapôs à quantidade de pessoas que já utilizaram algum tipo de droga, mostrando, em parte, que o fato de ser contra não necessariamente esteja ligado a consumo anterior de algum tipo de droga. Ao analisar os fatores associados a ser a favor da liberação da maconha, observa-se que, em primeiro nível de análise, a idade e religião são fatores independentes associados.

Indivíduos com idade entre 18 e 21 anos e pessoas sem religião mostraram-se mais propensos a serem a favor da liberação da maconha. Esses dados podem estar relacionados aos códigos morais implícitos em pessoas mais velhas e religiosas que frequentemente condenam a sua liberação, pois, ao seguir uma religião, adere-se a um conjunto de valores e de comportamentos, entre os quais se inclui a proibição do uso de drogas.

Outro aspecto do presente estudo foi o fato de os indivíduos que já consumiram algum tipo de droga serem mais propensos à liberação da maconha e os participantes da área de enfermagem menos propensos a esse fato, quando comparados aos da área de Direito.

Uma possível justificativa pode estar relacionada ao fato de que indivíduos da área da saúde possuem uma visão mais fisiológica do consumo em grande quantidade do que somente a maconha. Outro fato que pode explicar essa possível propensão é que estudantes da área do Direito estão mais interligados aos determinantes jurídicos da discussão sobre a descriminalização da maconha do que os da área da saúde.

Estudo coordenado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) discutiu que, em quase todos os países do mundo onde houve algum nível de liberação da maconha, o consumo aumentou absurdamente entre os jovens. Esse é o caso de Portugal, Áustria, Holanda, Reino Unido e alguns Estados americanos(17).

No Brasil, a Universidade Federal de São Paulo realizou-se o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), em 149 municípios brasileiros, com a utilização da Escala de Avaliação de Dependência da Maconha, validada no Brasil, em 2000(18), revelando que 3,4 milhões de pessoas entre 18 e 59 anos usaram a maconha no ano 2012 e 8 milhões já experimentaram a maconha alguma vez na vida, o que equivale proporcionalmente a 7% da população brasileira. Desses, 62% tiveram contato com a droga antes dos 18 anos(19). Sobre a legalização da maconha no País, 75% dos entrevistados são contrários e apenas 11% apoiam a causa, 9% não souberam responder e 5% não responderam(19-20).

Essa perspectiva de ser a favor ou não da liberação da maconha no mundo evidencia uma contraposição de opiniões entre as políticas de repressão ao tráfico, ao consumo e às políticas de redução de danos, defendida por diversos setores da sociedade, exigindo a implementação por parte dos governos, em seus diferentes níveis, de medidas eficazes de proteção, prevenção e tratamento acessíveis a todos(21).

Dessa forma, o projeto deste estudo foi inicialmente desenvolvido por se tratar de um tema relevante e complexo, porém, pouco discutido nos cursos de graduação, na vivência dos profissionais de saúde e na comunidade em geral. Percebeu-se carência de pesquisas sobre a relação aos fatores associados à opinião a respeito da maconha em uma amostra de docentes e discentes universitários. Desse modo, a fim de contribuir também para o conhecimento da comunidade científica, torna-se relevante o incentivo de pesquisas relacionadas.

 

Conclusão

O presente estudo revelou que a maioria dos sujeitos era do sexo feminino, jovens, solteiros, cor parda, católicos e aproximadamente 70% são contrários à liberação do uso da maconha. Entretanto, estar na faixa etária mais jovem e já ter experimentado outras drogas foram fatores associados à maior propensão de ser a favor da liberação da maconha, enquanto que estar no curso de Enfermagem, quando comparado ao do Direito, mostrou um quadro menos propenso.

Os achados empíricos relatados neste estudo colaboram para a melhor compreensão dos fatores associados à opinião da liberação da maconha em docentes e discentes universitários e os aspectos socioeconômicos e demográficos associados. Entretanto, por se tratar de uma amostra representativa apenas para indivíduos de uma IES privada, impede-se a extrapolação dos dados para toda a classe universitária do país.

 

Referências

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Recebido: 18.02.2015
Aceito: 15.07.2015

Correspondência:
Camila Aparecida Pinheiro Landim-Almeida
Centro Universitário UNINOVAFAPI
Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123
Bairro: Uruguai
CEP: 64057-100, Teresina, PI, Brasil
E-mail: camila@uninovafapi.edu.br

 

 

1Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso "A visão dos docentes e discentes sobre a liberação da maconha" apresentada ao Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, PI, Brasil.

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