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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versão On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.12 no.2 Ribeirão Preto jun. 2016

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v12i2p84-91 

ARTIGO ORIGINAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.v12i2p84-91

 

Análise das atitudes de profissionais da Atenção Primária a Saúde frente a pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool1

 

Análisis de las actitudes de profesionales de la Atención Primaria a la Salud frente a personas con trastornos relacionados al uso de alcohol

 

 

Lucélia Marques Martins CaixetaII; Leila Aparecida Kauchakje PedrosaIII; Vanderlei José HaasIV

IIMSc, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil
IIIPhD, Professor Associado, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
IVPhD, Professor Visitante, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil

 

 


RESUMO

Este estudo objetivou analisar as atitudes dos profissionais da Atenção Primária a Saúde frente a pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool, realizado com 489 profissionais atuantes em um município de Minas Gerais. Foram utilizados dois instrumentos auto aplicáveis: questionário com informações sócio-demográficas e a Escala de Atitudes Frente o Uso de Álcool, ao Alcoolismo e ao Alcoolista (EAFAAA). Os dados coletados foram submetidos à análise por meio do programa SPSS versão 20.0. Os resultados evidenciaram que as atitudes dos participantes se apresentaram positivas em todos os itens da escala (=3,31; med =3,33). Concluiu-se que a investigação das atitudes apresentou uma noção da visão dos profissionais relacionada aos sentimentos, opiniões e percepções frente a pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool. Diante disso, faz-se necessário a realização de outros estudos que auxiliem no fortalecimento dessas atitudes, de forma a melhorar o plano assistencial dispensado a esses indivíduos.

Descritores: Alcoolismo; Atenção Primária a Saúde; Conhecimentos, Atitudes e Práticas em Saúde.


RESUMEN

Este estudio objetivó analizar las actitudes de los profesionales de la Atención Primaria a la Salud frente a personas con trastornos relacionados al uso de alcohol, realizado con 489 profesionales actuantes en un municipio de Minas Gerais. Fueron utilizados dos instrumentos auto aplicables: cuestionario con informaciones sociodemográficas y la Escala de Actitudes Frente el Uso de Alcohol, al Alcoholismo y al Alcoolista (EAFAAA). Los datos colectados fueron sometidos para análisis por medio del programa SPSS versión 20.0. Los resultados evidenciaron que las actitudes de los participantes se presentaron positivas en todos los ítems de la escala (=3,31; med =3,33). Se concluyó que la averiguación de las actitudes presentó una noción de la visión de los profesionales relacionada a los sentimientos, opiniones y percepciones frente a personas con trastornos relacionados al uso de alcohol. Delante de eso, se hace necesaria la realización de otros estudios que auxilien en el fortalecimiento de esas actitudes, de manera a mejorar el plan asistencial dispensado a esos individuos.

Descriptores: Alcoholismo; Atención Primaria de la Salud; Conocimientos, Actitudes y Prácticas en la Salud.


 

 

Introdução

O alcoolismo hoje é considerado um problema de saúde pública com abrangência global(1). O II Levantamento Domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas em 2005, revelou que o uso de álcool durante a vida nas 107 maiores cidades do país foi de 68,7% sendo observado no Chile 70,8% e nos Estados Unidos 81%. Nesse mesmo estudo, a perda do controle de beber apareceu com porcentagem expressiva de 9,4% do total da amostra.Os sinais e sintomas de tolerância ao álcool e problemas pessoais decorrentes do uso tiveram porcentagens próximas a 6% (2).

O avanço nas pesquisas e estudos tem viabilizado novas intervenções e tratamentos com resultados positivos, porém ainda existe um número relevante de indivíduos isentos do contexto de tratamento, resultando em um sinal de alerta não só para os profissionais de saúde, como para os governantes responsáveis pela condução e execução de políticas voltadas para esses clientes(1).

Segundo a Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas(1), aproximadamente 20% dos pacientes que recebem tratamento na Atenção Primária faz uso exacerbado do álcool, sendo considerados como indivíduos de alto risco. O fato desses individuoas terem o primeiro contato com os serviços de saúde por intermédio de clínicos gerais dificulta a detecção da utilização dessas drogas(3).

Frente a essa questão, cabe ressaltar que os profissionais atuantes na atenção primária têm condições de desenvolver uma intervenção mais direcionada, pois além de ter uma atuação na unidade de saúde, acabam por estender essa atuação a comunidade com ações educativas, reventivas e assistenciais. . Logo, possui potencialidades para identificar: casos de riscos para o desenvolvimento da dependência, usuários com potencial de uso abusivo, dependência já instalada, e associada a esse fator; e desenvolver em conjunto ações voltadas para inserção dos usuários ao sistema de saúde e intervenção precoce, tornando possível exercer uma contribuição efetiva(4-6).

Um dos maiores obstáculos a serem enfrentados na abordagem e no tratamento desses clientes está relacionado à visão negativa dos profissionais frente a esses indivíduos e das perspectivas evolutivas frente ao problema, evidenciada pelas atitudes carregadas de estigma e preconceito, o que dificulta por vezes o alcance de resultados positivos frente ao trabalho prestado(7-9).

 Atkinson(10) define atitudes como manifestações com tendências positivas ou negativas frente a pessoas, situações, ideias abstratas e objetos que além de sentimentos, expressam cognições específicas ao objeto da atitude. Para o autor, as atitudes são compostas de três fatores: o cognitivo que se refere às crenças e percepções frente a determinado grupo, o afetivo, que faz conclusão aos sentimentos dispensados a um grupo, e o comportamental, que são as ações direcionadas ao mesmo.

Conforme o referencial encontrado nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) traduzido do Medical Subject Headings (MeSH) e apresentado pela Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), por meio do Índex Latino-Americano, atitude é definida como uma predisposição duradoura e adquirida que faz com que o indivíduo aja do mesmo modo diante de uma determinada classe de objetos. Pode- se definir ainda como um persistente estado mental e/ou neural de prontidão para reagir diante de uma determinada classe de objetos, não como eles são, mas sim como são concebidos(11).

Estudos demonstram que fatores como idade, hábitos de consumo, crenças, experiências vivenciadas e habilidades práticas ineficientes concluem negativamente nas atitudes dos profissionais dispensadas aos indivíduos com transtornos relacionados ao uso de álcool. Evidencia-se um despreparo considerável por parte dos profissionais frente as questões que envolvem a temática do alcoolismo(12-16).

A avaliação acirrada das atitudes dos profissionais que lidam com essa clientela, explora as dificuldades por vezes não evidenciadas nas relações de trabalho. Partindo dessa constatação, é de suma importância conhecer as atitudes dos profissionais da atenção primária a saúde frente o alcoolista, porque as atitudes podem comprometer ou não a qualidade da assistência prestada e a resposta dos usuários frente ao tratamento(17-18).

Diante das constatações este estudo objetivou identificar as atitudes dos profissionais da Atenção Primária a Saúde frente a pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool.

 

Material e Métodos

Tipo e local do estudo

Trata-se de um estudo exploratório realizado por meio de entrevistas com profissionais atuantes no campo da Atenção Primária a Saúde do município de Uberlândia/MG. Participaram do estudo 489 profissionais distribuídos em unidades situadas na zona urbana e zona rural. Atualmente o município conta com cinquenta Unidades de Básicas de Saúde da Família, oito Unidades Básicas de Saúde e o Centro de Saúde Jaraguá, totalizando cinquenta e nove unidades. A Tabela 1 apresenta a distribuição dos profissionais por zona e por setor de localização.

 

 

Na Tabela 2 podem ser observados os dados referentes ao número de profissionais atuantes de acordo com a categoria profissional.

 

 

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada no período compreendido entre 01 de agosto a 04 de outubro de 2013. A abordagem dos profissionais foi realizada de duas formas: em algumas unidades, através da aplicação de questionários com toda equipe em um momento agendado previamente pelo coordenador; em outras, os profissionais tiveram conhecimento das informações contidas nos questionários, e de pleno acordo, foi agendado um momento posterior para recebimento dos mesmos. Foi salientado sobre a conferência dos questionários e a importância da completude das respostas.

Instrumentos para coleta de dados

Foram utilizados dois instrumentos auto aplicáveis: um questionário de informações sócio demográficas, que contém dados referentes à idade, sexo, estado civil, religião, escolaridade, formação acadêmica, ano de formação, função exercida na unidade, tempo de atuação na equipe, quantidade de vínculos empregatícios, contato com paciente alcoolista, cursos de capacitação e natureza da capacitação; e outro, para a avaliação das atitudes frente ao alcoolista, denominado de Escala De Atitudes frente ao Álcool, ao Alcoolismo e ao Alcoolista (EAFAAA). Neste estudo utilizamos especificamente o Domínio ou Fator 2 da EAFAAA: "Atitudes frente ao alcoolista".

A EAFAAA foi constituída com a finalidade de avaliar os principais grupos de atitudes dos profissionais de saúde frente ao álcool, ao alcoolismo e ao alcoolista. Sua validação ocorreu em 2005, e a consistência interna foi estimada pela técnica de alfa de Cronbach que apresentou um índice de confiabilidade de 0,90. A versão preliminar da escala era composta por 165 itens, que após serem submetidos a procedimentos analíticos resultou em uma versão constituída por 96 itens. Posteriormente, devido à necessidade de realização de outros testes estatísticos a versão preliminar foi submetida a outras análises o que resultou em uma versão menos extensa composta por 83 itens. Nesse mesmo sentido, outros estudos foram realizados com apuração das qualidades psicométricas da mesma, resultando em uma versão com 50 itens, distribuídos em quatro fatores(11,19-20).

A EAFAAA é uma escala composta por quatro fatores ou domínios. Os itens da escala são assim distribuídos: 21 itens integram o Fator 1, nove itens integram o Fator 2, 11 itens o Fator 3 e nove itens o Fator 4. O Fator 1 definido como "O trabalhar e o relacionar-se com o alcoolista", mede a percepção, os sentimentos e opiniões em relação ao trabalho e o relacionamento com o alcoolista. O Fator 2 "Atitudes frente ao alcoolista" envolve opiniões, sentimentos e percepções do profissional frente ao indivíduo alcoolista. Os itens que integram o Fator 3 "Atitudes frente ao alcoolismo (etiologia)" verificam as tendências das atitudes dos profissionais frente às causas que levam ao alcoolismo, assim como, os fatores motivadores. E por fim, o Fator 4 "Atitudes frente ao uso do álcool" busca verificar as atitudes do profissional frente ao uso de bebidas alcoólicas, assim como, as opiniões e posicionamentos envolvidos diante do ato de beber; consequências advindas do uso; efeitos da bebida sobre o comportamento da pessoa; limite entre o beber normal e o patológico(11,19-20).

A EAFAAA é uma escala somatória do tipo Likert na qual os sujeitos respondem a cada item por meio de vários graus de acordo ou desacordo: (1) discordo totalmente, (2) discordo em parte, (3) estou em dúvida, (4) concordo em parte e (5) concordo totalmente. O cálculo dos escores para cada fator é feito pela soma total das respostas divididas pelo número de itens do fator, o que resulta em uma variação de 1 a 5 (13,15-16). Neste estudo optou-se por agrupar as opções de resposta: concordo em parte e totalmente = concordo; estou em dúvida; discordo em parte e totalmente = discordo.

É importante ressaltar que a EAFAAA é um instrumento negativamente orientado, ou seja, constituído por itens predominantemente negativos, o que significa dizer que quanto maior o acordo do sujeito frente a um item positivo, mais positiva sua atitude. Dos 50 itens, 33 tem orientação negativa e 17 possuem orientação positiva. Para análise, os itens negativamente orientados foram analisados com os valores invertidos: (1=5), (2=4), (3=3), (4=2) e (5=1). Dessa forma, os escores baixos indicam atitudes negativas e escores altos indicam atitudes positivas.

Optou-se pelo uso da EAFAAA, devido ao fato de ser uma escala construída e validada no Brasil, o que possibilita verificar as tendências das atitudes focadas nas questões que envolvem o indivíduo alcoolista(20).   

Os resultados evidenciados pela análise do Fator 2 nos permitem concluir as atitudes apresentadas pelos profissionais diante dos comportamentos, das características físicas e psíquicas dos indivíduos com transtornos relacionados ao uso de álcool. A análise dos itens que compõem a escala reflete essas opiniões, sentimentos e percepções dos profissionais que atuam com esses clientes. Esse fator apresenta predominância de itens negativos, o que significa dizer que quanto maior o grau de desacordo frente aos itens, mais atitudes positivas são direcionadas ao alcoolista.

Análise dos dados

Os dados obtidos foram analisados por meio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0. Com o objetivo de exaurir os resultados referentes aos escores obtidos por meio da análise fatorial do Fator 2, foram efetuados os cálculos das medidas de tendência central (Média, moda e mediana) e dispersão. Empregou-se o coeficiente de Cronbach para as medidas de consistência interna.

Com a finalidade de explorar a relação entre as atitudes e o conhecimento em relação à temática do alcoolismo, optou-se pela análise bivariada da variante interesse, por meio da utilização do Teste t de Student, para tanto lançou-se mão da variante "capacitação".

Condutas éticas

Este estudo foi pautado nas condutas éticas previstas pela Resolução 196/96 para pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e obteve o parecer de aprovação em cinco de julho de 2013. Os participantes do estudo foram informados sobre os aspectos éticos da pesquisa e sobre a necessidade de assinarem o Termo de Consentimento Livre após Esclarecimento.

Resultados

Os resultados obtidos por meio da análise fatorial nos permitiram verificar que a média de escores do Fator 2 é igual a 3,31. Sendo que o valor encontrado com maior frequência, representado pela moda, é igual a 3,89 (a=0,79). Esses dados nos permitem concluir que os profissionais atuantes na Atenção Primária a Saúde demonstraram atitudes positivas frente aos indivíduos com transtornos relacionados ao uso de álcool.

A análise dos itens que integram o Fator 2 nos permitiu identificar as atitudes dos profissionais frente as características comportamentais, físicas e psicológicas dos indivíduos que apresentam transtornos relacionados ao uso de álcool.

Com relação às características físicas, verificou-se que a maioria dos entrevistados (85,9%) considerou o alcoolista como um indivíduo doente, o que revela uma atitude positiva por parte desses profissionais.

No que tange ao comportamento dos indivíduos com transtornos relacionados ao uso de álcool, 55,2% dos entrevistados discordaram que o alcoolista é um indivíduo agressivo e mal-educado, e 54,6% discordaram que esses indivíduos possuem comportamento violento. As porcentagens apresentadas demonstram atitudes positivas por parte do profissional frente ao comportamento desses clientes. Vale pontuar que 4,9% dos indivíduos apresentaram dúvidas quanto à opinião frente ao comportamento agressivo e mal-educado, enquanto que para o comportamento violento o resultado foi de 7,8%.

Os sentimentos e percepções dos profissionais frente às características psicológicas do alcoolista reforçam as atitudes positivas diante desses clientes. Para 45,2% os alcoolistas não são indivíduos revoltados, 47,3% discordaram que eles não têm bom senso. A irresponsabilidade não é vista como uma característica do alcoolista na opinião de 55,2% dos profissionais. Os resultados demonstraram que para 53,4% o alcoolista não é culpado por seus problemas de saúde, em contrapartida, uma porcentagem significativa de 40,1% concordam que ele não quer se cuidar.

Com a finalidade de explorar a relação entre as atitudes e a capacitação frente à temática da dependência química, optou-se pela análise bivariada da variante "capacitação". Os dados obtidos apontaram que 19,8% dos profissionais possuem capacitação (Minicurso, especialização, mestrado ou doutorado). Os resultados demonstraram que tanto os indivíduos que possuem capacitação quanto os que não possuem apresentaram atitudes positivas frente a pessoas com transtornos advindos do uso de álcool. Esse resultado nos permitiu concluir que a capacitação não influenciou nas atitudes.

 

Discussão

Estudos realizados anteriormente apresentaram resultados semelhantes aos obtidos no presente estudo.. Pesquisa realizada com coordenadores de Serviços de Atenção a Dependência de Substâncias Psicoativas da Região da grande Florianópolis(21), mostrou que para 45% dos profissionais atuantes, o fenômeno das drogas está inserido em uma dimensão biológica, na qual a dependência é concebida como uma doença crônica e recorrente, de fundo genético, biológico e/ou neuroquímico. Nesse sentido, indivíduos com transtornos relacionados ao uso de álcool são considerados doentes, o que revela uma atitude positiva por parte desses profissionais.

Atitudes positivas também foram evidenciadas em um estudo realizado na região de Coari/AM(22). Os profissionais atuantes na atenção primária tratam o uso do álcool como uma doença que pode acarretar diversos prejuízos físicos e psicológicos. Sua opinião é que essa concepção de doença advém da percepção do uso contínuo, da dificuldade de controle do uso e da presença de sintomas de abstinência quando o uso é interrompido.

As percepções e sentimentos dos profissionais frente às características psicológicas do paciente alcoolista foram identificadas em estudo(20) cujos resultados corroboram com os dados do presente estudo. Para 84,5% dos profissionais, o alcoolista é considerado como um indivíduo doente, que não apresenta comportamento violento na opinião de 58,3% nem tampouco apresentam atitudes irresponsáveis (78,3%). Na opinião de 57,4%, a fraqueza não é vista como característica do alcoolista, e não foi percebido por esses profissionais (58,3%) nenhum tipo de comportamento agressivo ou mal-educado. Para 44,5% dos entrevistados é do próprio alcoolista a culpa pelos problemas de sáude.. Contrariando esse índice uma porcentagem significativa dos profissionais (54,3%) afirmam que o alcoolista é isento da culpa por seus problemas de saúde.

A análise exploratória dos dados obtidos por meio de um estudo com 171 profissionais de enfermagem de Ribeirão Preto/SP revelou que 51,5% dos profissionais acreditaram que o alcoolista é uma pessoa com graves dificuldades emocionais e 82,2% afirmaram que esses indivíduos foram conduzidos a beber por outros problemas (21). Esses dados reforçam os dados encontrados no presente estudo em que a irresponsabilidade não é observada como uma característica associada ao alcoolista (55,2%), o que sugere que o ato de beber está associado a outros fatores.

No presente estudo os resultados referentes às atitudes e a capacitação demonstraram que não há relação entre ambas. Um outro estudo, trouxe resultados contrários(23). Em seus achados, mediante a fala dos profissionais atuantes na Atenção Primária a Saúde, a falta de capacitação é referenciada como um fator preponderante que interfere negativamente na atenção dispensada a esses clientes, devido a falta de informações referentes a temática e ao condução do tratamento desses indivíduos.

 Resultados semelhantes foram evidenciados em estudo realizado em Minas Gerais(24), que teve como foco a capacitação referente à temática do uso de álcool para 113 profissionais locados na Atenção Primária a Saúde de três municípios desse estado. Dentre os resultados encontrados, um dos efeitos significativos da capacitação foi a diminuição da atitude de moralização frente ao uso de álcool, o que contribuiu positivamente para a abordagem e aproximação desses profissionais frente a esses indivíduos, nesse sentido a capacitação contribuiu positivamente com a mudança de atitudes dos profissionais.

 

Conclusão

O presente estudo procurou analisar as atitudes desenvolvidas pelos profissionais da Atenção Primária a Saúde junto a pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool.

A análise dos dados nos permitiu identificar que a média de escores evidenciadas no Fator 2 da EAFAAA demonstra que esses profissionais apresentaram atitudes positivas frente esses indivíduos, o que demonstra que os mesmos compreendem o alcoolista como um doente que requer tratamento.

É importante considerar-se que as atitudes exercem um papel significativo no que tange ao tratamento  de pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool. Diante disso, a investigação das atitudes dos profissionais atuantes na APS foi uma ferramenta fundamental capaz de nos trazer uma noção simplificada da visão dos profissionais frente a esses indivíduos, além disso, representa uma estratégia que possibilita uma intervenção direcionada junto a esses profissionais.

Vale considerar a necessidade de realização de outros estudos, com intuito de subsidiar a mudança das atitudes dos profissionais atuantes e contribuir para melhora na assistência dispensada a esses indivíduos.

 

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Recebido: 19.1.2014
Aprovado: 4.12.2015

Correspondência:
Leila Aparecida kauchakje Pedrosa
Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Av. Frei Paulino, 30
CEP: 38025-180, Uberaba, MG, Brasil
E-mail: leilakauchakje@terra.com.br

 

 

1Artigo extraído da dissertação de mestrado "Análise das atitudes desenvolvidas pelos profissionais da Atenção Primária a Saúde frente ao uso de álcool, ao alcoolismo e ao alcoolista", apresentada a Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil.

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