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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versión On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.13 no.4 Ribeirão Preto oct./dic. 2017

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v13i4p176-188 

ORIGINAL ARTICLE
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.v13i4p176-188

 

Factors associated with the onset of stress in a sample of university nursing students

 

Factores asociados con la aparición de estrés en una muestra de estudiantes universitarios de enfermería

 

 

Camila Aparecida Pinheiro Landim AlmeidaI; Lauryanna de Queiroz SilvaII; Francisca Cecília Viana RochaIII; Maria do Rosário de Fátima Franco BatistaIV; Magda Coeli Vitorino SalesV

IPhD, Full Professor, Centro Universitário Uninovafapi, Teresina, PI, Brazil
IIUndergraduate student in Nursing, Centro Universitário Uninovafapi, Teresina, PI, Brazil
IIIMSc, Assistant Professor, Centro Universitário Uninovafapi, Teresina, PI, Brazil
IVProfessor, Centro Universitário Uninovafapi, Teresina, PI, Brazil
VMaster’s student, Centro Universitário Uninovafapi, Teresina, PI, Brazil. Professor, Centro Universitário Uninovafapi, Teresina, PI, Brazil

 

 


ABSTRACT

This study aimed to assess the factors associated with the onset of stress in a sample of university nursing students. Descriptive, exploratory and cross-sectional study, with quantitative approach, carried out with 181 nursing students of a higher education institution. The data were collected by the Assessing Stress among Nursing Students questionnaire and processed in Statistical Package for Social Sciences software. The main results show that the stress conditions are present throughout the course of undergraduate nursing, with emphasis on the field performance of practical activities that showed high levels of stress in the sixth semester. It was concluded on the need to develop comfortable means to lead students to experience a healthier academic training to help reduce stress factors.

Descriptors: Psychological, Stress; Nursing, Students; Higher Education Institutions.


RESUMEN

El objetivo fue evaluar los factores asociados con la aparición de estrés en una muestra de estudiantes universitarios de enfermería. Estudio descriptivo, exploratorio y transversal, con enfoque cuantitativo, realizado con 181 estudiantes de enfermería de una institución de educación superior. Los datos fueron recogidos por el cuestionario de Evaluación del Estrés de Estudiantes de Enfermería y procesados en el programa Statistical Package for Social Sciences. Los principales resultados muestran que las condiciones de estrés están presentes a lo largo del curso de graduación en enfermería, con énfasis en el rendimiento en el campo de las actividades prácticas que mostraron altos niveles de estrés en el sexto semestre. Se concluyó en la necesidad de desarrollar medios cómodos para conducir a los estudiantes a experimentar una formación académica más saludable para ayudar a reducir los factores de estrés.

Descriptores: Estrés Psicológico; Estudiantes de Enfermería; Instituciones de Enseñanza Superior.


 

 

Introdução

As mudanças no mundo moderno têm acarretado, cada vez mais, um interesse crescente no fenômeno do estresse, visto como o resultado de um choque entre uma determinada dificuldade e sua capacidade de superação(1-2). As consequências do estresse podem relacionar-se diretamente à resposta de um indivíduo a uma determinada demanda, ou seja, se a demanda é compreendida como um desafio estimulante ou uma ameaça a ser enfrentada(1).

Como um fenômeno psicológico, o estresse vem sendo estudado desde a década de 1950(3). Desde então, algumas associações foram estabelecidas, tais como a influência sobre o comportamento e a produtividade dos profissionais de saúde, destacando-se a enfermagem como uma das profissões onde o estresse é frequentemente observado(4).

No Brasil, a própria história da saúde revela problemas associados à enfermagem como profissão desde a sua implementação, e que são persistentes atualmente, como a marginalização da profissão, o que leva o profissional enfermeiro a buscar constantemente sua afirmação profissional perante outros profissionais(5). Portanto, o estresse sempre esteve presente na enfermagem. Além disso, destacam-se alguns outros problemas relacionados ao estresse na enfermagem, principalmente em virtude da rotatividade de escalas nos serviços noturnos, como o número reduzido de enfermeiros na equipe e os baixos salários que levam o profissional a atuar em mais de um local de trabalho, desempenhando uma longa carga horária mensal(6-7).

O estresse está presente em variadas situações de rotina e a reação ao estímulo estressor determina suas consequências, podendo refletir na vida pessoal e/ou profissional. Estudos mostram a presença frequente do estresse desde a formação acadêmica dos estudantes de enfermagem(8-10). Por exemplo, os estágios realizados pelos estudantes de graduação em enfermagem em campos de práticas hospitalares são apontados como responsáveis por desencadear uma série de fatores estressores, tais como: a realização de procedimentos técnicos, o uso de novas tecnologias e equipamentos, a supervisão constante por professores, o sistema de avaliação prática, as relações estabelecidas com os pacientes, a incerteza no que diz respeito às expectativas dos professores quanto ao desempenho acadêmico e a própria dinâmica hospitalar. Tais fatores podem dificultar a aprendizagem, podendo gerar erros, falta ou dificuldade de concentração(11-12).

No cenário acadêmico, os estudantes de enfermagem vivenciam momentos de mudança, desenvolvimento, frustração, crescimento, temores e angústias. Dessa forma, frequentemente, desenvolvem sentimentos como desapontamento, irritabilidade, preocupação, impaciência durante o curso de graduação, acarretando déficit de aprendizado e consequente queda na qualidade do cuidado de enfermagem nas suas inserções nos ambientes de estágios de cuidados clínicos(13-14).

Somam-se a isso às consequências para a rotina pessoal dos estudantes de enfermagem, que influenciam consideravelmente aqueles que fazem parte da sua conviência, como familiares, colegas e amigos, associadas à prevalência de transtornos mentais, como por exemplo, a ansiedade, a depressão e o desejo de morte(15-18). Pesquisa desenvolvida no ano de 2014 com 179 estudantes de enfermagem de uma universidade pública brasileira revelou que dentre os estudantes com sintomas depressivos, 47,7% relataram algum comportamento de ideação suicida e 26,31% apresentaram história de tentativa de suicídio(19).

Diante da magnitude do problema apresentado, justifica-se a realização deste estudo, o qual visa contribuir para a identificação dos principais fatores associados ao aparecimento do estresse em uma amostra de estudantes de enfermagem universitários.

A divulgação de estudos científicos que abordem essa temática é fundamental, pois o estresse em ambientes acadêmicos pode ser um fator de risco para causar doenças e transtornos mentais no decorrer da vida pessoal e acadêmica, como por exemplo, a ansiedade, a depressão e o suicídio, e, a partir disso, refletir sobre o desenvolvimento de estratégias de redução de fatores estimulantes ao estresse, possibilitando a garantia de uma vida acadêmica saudável para estudantes de enfermagem universitários, com melhor desempenho, aprendizado e condições pessoais de saúde.

Portanto, este estudo tem como objeto: fatores associados ao aparecimento do estresse em uma amostra de estudantes de enfermagem universitários. Pretende-se responder à seguinte questão de pesquisa: "Quais os fatores associados ao aparecimento do estresse em uma amostra de estudantes de enfermagem universitários?". Sendo assim, este estudo teve como objetivo avaliar os fatores associados ao aparecimento do estresse em uma amostra de estudantes de enfermagem universitários.

 

Método

Trata-se de um estudo descritivo-exploratório e transversal, com abordagem quantitativa, realizado no período de outubro a dezembro de 2015, em uma Instituição de Ensino Superior (IES), um Centro Universitário de caráter privado, localizado em Teresina, capital do Estado do Piauí, Brasil.

A população do estudo foi composta por 289 estudantes de enfermagem matriculados no turnos matutino e vespertino na referida IES cursando do 5º ao 9º período. A amostra, do tipo aleatória simples, com reposição, totalizou 181 estudantes: 32 do 5º período, 45 do 6º período, 29 do 7º período, 47 do 8º período e 28 do 9º período.

Os critérios de inclusão da amostra foram: ser estudante do curso de graduação em Enfermagem do 5º ao 9º período do Centro Universitário e atender ao número estimado da amostra calculada pela seguinte equação estatística: n = (Z2.0,25.N) / E2.(N – 1) + Z2.0,25, margem de erro inferior a 5%, nível de confiança de 95% e acréscimo de 30% para perdas em casos inconsistentes. Foram excluídos deste estudo os estudantes do curso de graduação em Enfermagem do 1º ao 3º período, por considerar um contato breve com o universo acadêmico, especialmente a ausência do contato com estágios acadêmicos; os do 4º período, por iniciarem os estágios somente no segundo bimestre do período, além dos que não estiveram regularmente matriculados na IES selecionada.

Para a coleta dos dados utilizou-se um questionário construído pelos pesquisadores com questões objetivas, contendo variáveis socioeconômicas e demográficas, além do instrumento denominado Avaliação de Estresse em Estudantes de Enfermagem (AEEE), construído e validado por Costa e Polak, o qual propõe que o estresse está vinculado à relação entre indivíduo e ambiente eo seu estudo requer que as pessoas sejam avaliadas dentro de seus próprios contextos, em sua relação com o ambiente e na atribuição de significados aos eventos. O AEEE, cuja consistência interna estimada pelo alfa de Cronbach variou de 0,71 a 0,87, permite avaliar o estresse entre estudantes de enfermagem como variável em estudos ou para finalidades educacionais por meio de seis domínios(20).

O domínio 1 (D1), Realização de Atividades Práticas, refere-se ao conhecimento instrumental adquirido peloaluno para a realização dos procedimentos e os sentimentos envolvidos no momento da assistência ao paciente. No domínio 2 (D2), Comunicação Profissional, são avaliadas as dificuldades sentidas na comunicação dentro do local de trabalho e nas situações de conflito que surgem. O domínio 3 (D3), Gerenciamento do Tempo, considera a dificuldade do aluno em conciliar as atividades acadêmicas estabelecidas na grade curricular com as exigências pessoais, emocionais e sociais(20).

No domínio 4 (D4), Ambiente, aborda o grau de dificuldade sentido no acesso aos campos de estágio ouuniversidade e às situações de desgaste percebidas pelos alunos com os meios de transporte utilizados. Os itens do domínio 5 (D5), Formação Profissional, referem-se à preocupação do aluno sobre o conhecimento adquirido em sua fase de formação acadêmica e o impacto que esse exerce sobre sua futura vida profissional, além de abordar também sua percepção em situações que poderá viver quando profissional. Já no domínio 6 (D6), Atividade Teórica, mede o grau de dificuldade do aluno ao lidar com o conteúdo programático, as atividades desenvolvidas e a metodologia de ensino adotada(20).

A interpretação dos escores classifica os níveis de estresse para cada um dos seis domínios do questionário AEEE da seguinte forma: D1 - 0-9 baixo nível de estresse; 10-12 médio nível de estresse; 13-14 alto nível de estresse; 15-18 muito alto nível de estresse; D2 - 0-5 baixo nível de estresse; 6 médio nível de estresse; 7-8 alto nível de estresse; 9-12 muito alto nível de estresse; D3 - 0-10 baixo nível de estresse; 11-12 médio nível de estresse; 13-14 alto nível de estresse; 15 muito alto nível de estresse; D4 - 0-7 baixo nível de estresse; 8-10 médio nível de estresse; 11 alto nível de estresse; 12 muito alto nível de estresse; D5 - 0-9 baixo nível de estresse; 10 médio nível de estresse; 11-12 alto nível de estresse; 13-18 muito alto nível de estresse; e D6 - 0-9 baixo nível de estresse; 10-11 médio nível de estresse; 12-13 alto nível de estresse; 14-15 muito alto nível de estresse(20).

A análise dos dados foi realizada por meio do software estatístico IBM SPSS (Statistical Package for Social Sciences) Statistics, versão 20.0. Inicialmente, um banco de dados foi elaborado no programa Microsoft® Office Excel® 2010, para organização e dupla digitação em um processo de validação. Após o processamento, os dados foram descritos em tabelas e figuras por meio de proporções numéricas, percentuais, médias e desvio padrão. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado nas variáveis numéricas contínuas para verificação do pressuposto de normalidade e o teste de Kruskal-Wallis para analisar as diferenças das distribuições dos escores entre os seis domínios investigados. A homogeneidade das variâncias foi avaliada pelo teste de Levene, enquanto que a linearidade foi avaliada por meio dos gráficos de dispersão. Para a comparação dos escores entre dois grupos categorizados em variáveis qualitativas foi utilizado o  teste Mann-Whitney, com nível de significância de 5% (p < 0,05).

A inclusão dos sujeitos nesse estudo foi realizada obedecendo ao que preceitua as recomendações ético-legais que regem as normas de pesquisas com seres humanos(21). O projeto de pesquisa foi aprovado peloComitê de Ética em Pesquisa, atendendo à Resolução nº 466/12do Conselho Nacional de Saúde, sob o Certificado de Apresentação e Apreciação Ética (CAAE) nº 49410915.9.0000.5210 e Parecer nº 1.262.795, em 6 de outubro de 2015.

 

Resultados

A distribuição da amostra quanto às variáveis socioeconômicas e demográficas revelou que a maioria dos sujeitos era do gênero feminino (84,5%), faixa etária de 20-29 anos (84,0%), solteiro (75,7%), cor parda/mulato (60,2%), católico (70,2%), procedente da capital Teresina (49,2%), seguida de cidades do interior do Piauí (34,8%) e renda familiar entre 1 e 4 salários mínimos (63,0%), conforme descrito na Tabela 1.

 

 

A Tabela 2 apresenta os valores mínimos, máximos, média e desvio-padrão dos escores de estresse entre os estudantes da pesquisa, além das frequências absoluta (n) e relativa (%) dos seis domínios investigados por meio do instrumento AEEE. Observa-se que o domínio que apresentou os mais elevados níveis de estresse, classificados como alto e muito alto, foi o D5 (formação profissional) com 53,0%; seguido do D2 (comunicação profissional) com 34,3%; D4 (ambiente) com 25,4%; D1 com 21,0%; D3 com 14,4% e D6 com 11,0%.

 

 

A seguir, a Tabela 3 mostra os resultados da análise das médias dos escores obtidos nos seis domínios investigados por meio do instrumento AEEE, de acordo com as variáveis socioeconômicas e demográficas. Observa-se que houve associação estatisticamente significativa entre as médias dos escores obtidos nos domínios D1, D4, D5 e D6 e o gênero, p=0,000, p=0,002, p=0,000 e p=0,009, respectivamente. Nas demais variáveis, faixa etária, situação conjugal, religião e renda, não houve associação estatisticamente significativa.

 

 

A Figura 1 representa as médias dos escores de estresse obtidas e a análise das variantes obtidas no boxplot entre os seis domínios investigados por meio do questionário AEEE. Observa-se que foram obtidas distribuições assimétricas entre os escores de estresse obtidos com relação aos seis domínios investigados, pois as medianas não estão posicionadas de forma equidistante dos extremos das caixas do boxplot. Observa-se também que as maiores médias e medianas dos escores foram obtidas nos domínios D1 (realização de atividades práticas) e D5 (formação profissional), com 9,96 e 10,98 de médias e 9 e 11 de medianas, respectivamente. No domínio D2 (comunicação profissional), com média de 5,92 e mediana de 6, houveram valores atípicos muito afastados da grande parte dos escores.

 

 

Em relação aos níveis de estresse nos seis domínios investigados nos estudantes de enfermagem em seus respectivos semestres em curso, destaca-se que no domínio D1 (realização de atividades práticas) obteve muito alto (35,5%) e alto (46,6%) nível de estresse entre os estudantes de enfermagem do 6º semestre. De forma geral, no que diz respeito ao domínio D2 (comunicação profissional), percebe-se que foi o segundo domínio mais agravante, considerando as frequencias relativas dos níveis de estresse alto e muito alto; estando atrás apenas para o domínio D5 (formação profissional), com destaque para 42,3% e 20,0% dos estudantes com muito alto e alto nível de estresse no 6º semestre, respectivamente. Sobre o domínio D3 (gerenciamento do tempo), observa-se uma maior frequencia de baixo nível de estresse, quando comparado ao moderado, alto e muito alto (Tabela 4).

 

 

Ainda no que tange a Tabela 4, no domínio D6 (atividade teórica), percebe-se que no decorrer dos semestres letivos, as frequencias de baixo nível de estresse cada vez mais se intensifica.

 

Discussão

Com base nos resultados, pode-se constatar que a maioria dos estudantes de enfermagem era do sexo feminino, concentrando-se na faixa etária de 20-29 anos, solteiro, cor parda/mulato, católico e com renda familiar até quatro salários mínimos. Vale ressaltar que a predominância do sexo feminino demonstra que a enfermagem é uma profissão ainda dominada pelas mulheres, sendo que atualmente percebe-se um aumento da procura pela busca do curso pelo sexo masculino(22-24).

Pesquisadores desenvolveram um estudo na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) referente à avaliação do estresse em estudantes do curso de Graduação em Enfermagem, encontrando que a maioria dos estudantes residiam longe da famíia, em repúblicas ou pensões, o que corrobora com o presente estudo, no qual, a maioria, 50,8 %, eram procedentes de outras cidades do Estado do Piauí e do Brasil(25).

Quanto a renda familiar, 69,6 % dos estudantes de enfermagem possuíam até 4 salários mínimos. Esse dado mostra-se desfavorável para fazer frente aos gastos relativos à permanência de um estudante no ensino superior, pois há despesas com transporte, alimentação, material didático e vestuário. Dessa forma, faz-se necessário o fomento a projetos de pesquisa, de extensão, de monitoria, voltados para a oferta de bolsas aos estudantes, além da construção de alojamentos e refeitórios internos(26). Todas essas estratégias são fundamentais para assegurar a permanência dos estudantes na Universidade, garantindo condições favoráveis ao processo ensino-aprendizagem, porém, reconhece-se que há divergências entre realidades para IES de caráter privada ou pública.

Independente do período semestral em que os estudantes de enfermagem estavam matriculados nesse estudo, as situações de estresse estiveram sempre presentes durante todo o período da graduação, desde o estar graduando-se em uma IES, disciplinas práticas não realizadas anteriormente, carga horária semanal distribuídas em dois ambientes distintos, alunos que estão envolvidos em grupos de pesquisa, projetos de extensão, monitoria, eventos ou ainda cursos de atualização extras.

Os estudantes do último semestre passam a vivenciar situações de estresse semelhantes aos profissionais causados pelas exigências administrativas da instituição de trabalho, a obrigatoriedade em desempenhar as atividades de liderança na equipe de enfermagem, como também a assistência, na maioria das vezes, em pacientes críticos(23,27).

A aquisição de habilidades técnicas para execução de procedimentos de enfermagem avaliados como fatores estressores no domínio D1 (realização de atividades práticas), foi pontuada com maior ênfase no sexto semestre do curso, decaindo no oitavo e nono semestres, constatando-se uma progressão do estudante em sua formação acadêmica, onde o medo e a insegurança em realizar atividades práticas da profissão que envolvem cuidados diretos ao paciente, com certo grau de complexidade, vão diminuindo, denotando maior compromisso do estudante e sequenciamento lógico do plano pedagógico do curso. Confirma-se, neste estudo, que foi no oitavo semestre da graduação onde os estudantes de enfermagem revelaram maior segurança em relação às atividades práticas, já que vivenciam a prática do estágio curricular, adquiririndo melhor treinamento das habilidades ténicas e capacidade na realização das atividades necessárias na rotina hospitalar(28).

Ainda no que se refere ao domínio D1, o muito alto e alto níveis de estresse revelado pelos estudantes de enfermagem do 6º semestre nesse estudo podem ser justificados devido a ausência de prática hospitalar no 5º semestre, havendo estágios de práticas apenas na atenção primária. Neste sentido, um semestre sem convivência com a prática hospitalar pode ser responsável pelos elevados níveis de estresse no 6º semestre, no qual há o retorno com as atividades de práticas no âmbito hospitalar. Estudos relacionados aos transtornos psíquicos em estudantes de enfermagem, em sua maioria, associam o início dos sintomas a inserção do aluno no campo hospitalar(29).

O domínio D2, que retrata as dificuldades sentidas pelos estudantes na comunicação com os profissionais do setor onde são realizados os estágios, encontrou-se alto nível de estresse no quinto e sexto período e mantem-se relativamente elevados no oitavo semestre. A explicação para o elevado nível de estresse ainda no oitavo semestre pode estar relacionado ao fato de que as atividades hospitalares desempenhadas pelos estudantes nos estágios supervisionados são realizadas em um hospital público, onde os profissionais do serviço não têm tempo suficiente para lidar com estudantes e pacientes ao ponto de poder repassar os conhecimentos básicos durante as práticas ou mesmo pela breve passagem no campo de estágio impedindo a criação de uma relação (mútua) com transmissão de experiências.

Sobre o domínio D3 (gerenciamento do tempo), houve baixo nível de estresse em todos os períodos da graduação. Verifica-se o fato da IES pesquisada oferecer os estágios em apenas um turno, possibilitando permitir aos estudantes distribuir melhor a carga horária estudantil, profissional e familiar de forma equivalente, facilitando, portanto a adaptação positiva segundo os aspetos relacionados neste domínio. Por outro lado, a sobrecarga de atividades acadêmicas realizadas em um mesmo período pode ser estressante para o estudante, pois o mesmo tem que adaptar-se aos horários, devido a atividade profissional, horários de estágios, atividades extracurriculares, não sobrando tempo para o lazer e a família, resultando em situação estressora(24).

Já no domínio D4 (ambiente), observa-se um alto nível de estresse especialmente frente às situações vivenciadas no ambiente hospitalar, já que comumente é possível assistir e atender casos novos e que remetem a maiores cuidados entre enfermeiro-paciente. O hospital para o estudante de enfermagem é um ambiente que provoca momentos de choque durante o cotidiano pode ocasionar temor, inquietação, medo, dúvida e angústia o que resulta em alto nível de estresse(10).

Destaca-se ainda que os estudantes possuem aulas práticas em diferentes bairros afastados da IES. Portanto, a maioria usam transporte coletivo para locomoção, o que pode ter contribuído para a avaliação em terceiro lugar para o ambiente como estressor, considerando as questões levantadas no instrumento utilizado.

Dentre todos os semestres investigados, foi observado um destaque maior para o nível muito alto de estresse no domínio D5, formação profissional, onde este domínio foi mais determinante para o estresse apenas no ultimo período do curso, onde a proximidade com o término do curso aumentam as expectativas não mais como estudantes, mas sim como enfermeiros. Essa fase de aluno-enfermeiro é apresentada como estressora, bem como o desafio quanto ao mercado de trabalho e a responsabilidade profissional(30-31).

Dessa forma, pesquisa recente revelou que no último ano do curso de graduação em enfermagem os estudantes enfrentam o medo quanto ao futuro profissional diante do mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigente(24). Diante dessa insegurança, poderão surgir dúvidas se estarão mesmo preparados para liderar uma equipe sem a supervisão e o apoio de um professor e se o que lhe foi experienciado durante o curso de graduação foi suficiente para a sua formação(23).

Percebeu-se baixo nível de estresse em relação ao Domínio 6, atividades teóricas, correspondendo ao estudo que afirma quanto mais avançado o período em que o aluno se encontra menor o nível de estresse, ou seja, o grau de dificuldade sentido pelos estudantes com o conteúdo programático, atividades desenvolvidas e a metodologia de ensino diminuem, sendo percebido como menor fonte estressora, conforme o progredir do aluno(25).

Neste sentido, o aprendizado prático de uma profissão, como a enfermagem, que lida com uma das mais explícitas demonstrações do limite do homem (a doença e a morte), é também viver o próprio limite: é o encontro de fragilidades entre o racional e o emocional(10).

De forma geral, percebe-se que o cotidiano deste estudante de enfermagem passa a ser marcado por sentimentos de dúvida, decepção, ansiedade, medo, tristeza, raiva e angústia(32). Desse modo, constata-se que as diversas situações enfrentadas na formação acadêmica, especialmente em campos de práticas, hospitalares ou não, permitem considerar que poderão existir várias condições ou fatores estressores que comprometerão o aprendizado.

A identificação de fatores de estresse deve proporcionar aos estudantes um processo de reflexão em suas atividades acadêmicas e profissionais, contribuindo para a elaboração de estratégias de gerenciamento, proporcionando um melhor aproveitamento acadêmico, melhoria na qualidade de vida e preparo para desafios profissionais futuros profissional(23,27).

É válido ressaltar sobre a necessidade em orientar os docentes a estimular a criação e/ou participação dos estudantes em programas de ações preventivas e terapêuticas que possibilitem um arranjo de soluções saudáveis para suas angústias e medos, a fim de conduzir um melhor desempenho e conhecimento acadêmico como estudantes de enfermagem para aproveitamento no futuro profissional como enfermeiros(33).

Com base na discussão dos resultados desse estudo, torna-se fundamental estimular que as Instituições de Ensino Superior dos cursos de graduação em enfermagem desenvolvam meios confortáveis para conduzir os estudantes a vivenciar uma formação acadêmica mais saudável, favorecendo a construção do conhecimento tanto nos ambientes de campos de práticas como em salas de aula, contribuindo para a prevenção de transtornos mentais ou até patologias mais complexas. 

 

Conclusão

O ambiente de formação acadêmica universitária contribui para o desenvolvimento de condições favoráveis ao aparecimento do estresse, como se constatou neste estudo. Por meio da participação de estudantes de enfermagem, este estudo permitiu avaliar os fatores associados ao aparecimento do estresse em uma Instituição de Ensino Superior, bem como classificar os níveis de estresse de acordo com os semestres avaliados. Constatou-se que a progressão do estudante na sua formação promove a alteração dos escores dos domínios investigados pelo questionário AEEE.

As condições do estresse estão presentes ao longo do curso de graduação em enfermagem e se intensificam com a inserção do estudante nos campos de práticas, com destaque para o domínio realização de atividades práticas que apresentou níveis de estresse muito alto e alto nos estudantes de enfermagem do sexto semestre. Sobre o domínio comunicação profissional, destaca-se o aumento do estresse no oitavo semestre. Também foi constatado que os domínios ambiente e formação profissional foram fatores estressores durante a vivência acadêmica, com destaque maior para a formação profissional, na qual representa um grande desafio quanto às expectativas para o mercado de trabalho e responsabilidade profissional.

No entanto, quanto ao domínio gerenciamento do tempo, os estudantes de enfermagem apresentaram baixo níveis de estresse em todos os semestres, pois as vagas do curso de enfermagem da IES pesquisada são ofertadas em um turno, manhã ou tarde, o que possibilita uma melhor distribuição das atividades e carga horária estudantil, profissional e familiar. Constatou-se que houve associação estatisticamente significativa entre as médias dos escores obtidos nos domínios D1 (p=0,000), D4 (p=0,002), D5 (p=0,000) e D6 (p=0,009) e o gênero.

É importante ressaltar que os resultados apresentados nesta pesquisa devem ser considerados sobre a ótica de algumas limitações, como o desenvolvimento da coleta dos dados em uma única realidade local específica. Recomenda-se que esse desenho de estudo seja reproduzido em outras Instituições de Ensino Superior, regiões brasileiras e países com culturas diferentes. Além disso, menciona-se o fato dos questionários terem sido aplicados ao final das aulas ou dos estágios, o que pode ter proporcionado desconforto para responder aos itens dos questionários após um dia contínuo de atividades acadêmicas.

Tendo em vista os resultados encontrados, ressalta-se a necessidade de estimular que as Instituições de Ensino Superior dos cursos de graduação em enfermagem desenvolvam meios confortáveis para conduzir os estudantes a vivenciar uma formação acadêmica mais saudável, favorecendo a construção do conhecimento tanto nos ambientes de campos de práticas como em salas de aula. Ressalta-se o incentivo de pesquisas relacionadas, a fim de que seja possível aperfeiçoar propostas com vistas a redução de fatores estressores do estresse nesta população.

 

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Recebido: 18.01.2016
Aceito: 23.01.2017

Corresponding Author:
Camila Aparecida Pinheiro Landim Almeida
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