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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

On-line version ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.14 no.3 Ribeirão Preto Jul./Sept. 2018

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.000342 

ARTIGO ORIGINAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.000342

 

Prevalência do consumo de drogas lícitas e ilícitas por estudantes universitários

 

La prevalencia de drogas lícitas e ilícitas por estudiantes universitarios

 

 

Claudineia Matos de AraujoI; Carla Xavier VieiraII; Claudio Henrique Meira MascarenhasI

IMSc, Professor Assistente, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, BA, Brasil
IIFisioterapeuta

 

 


RESUMO

OBJETIVO: avaliar o consumo de drogas lícitas e ilícitas por estudantes universitários e investigar associação com variáveis sociodemográficas.
MÉTODO: trata-se de um estudo transversal, com 429 estudantes de 18-24 anos,responderam ao questionário sociodemográfico e o Teste de Triagem do Envolvimento com Álcool, Tabaco e outras Substâncias. Utilizou-se estatística descritiva, testes do qui-quadrado de Fischer.
RESULTADOS: as drogas mais utilizadas foram álcool, derivados do tabaco e hipnóticos/sedativos. O sexo masculino teve associação com maior uso de drogas como tabaco e maconha e consumo sugestivo de abuso para álcool.
CONCLUSÃO: conclui-se que o álcool prevalece como substância mais utilizada, pertencer ao sexo masculino e não possuir religião, morar longe dos pais/parentes são fatores que podem influenciar no uso/abuso de drogas lícitas e ilícitas.

Descritores: Estudantes; Drogas Ilícitas; Epidemiologia.


RESUMEN

OBJECTIVO: evaluar el uso de drogas lícitas e ilícitas por estudiantes universitarios e investigar la asociación con variables sociodemográficas.
MÉTODO: se trata de un estudio transversal, 429 alumnos de 18-24 años, respondió al cuestionario sociodemográfico y Participación test de cribado con alcohol, tabaco y otras sustancias. Se utilizó estadística descriptiva, pruebas de chi-cuadrado Fischer.
RESULTADOS: los fármacos más utilizados fueron el alcohol, el tabaco y los hipnóticos sedantes. El macho se asoció con un mayor uso de fármacos tales como el consumo de tabaco y la marihuana y sugestivos de abuso de alcohol.
CONCLUSIÓN: se concluye que el alcohol prevalece como sustancia más utilizada, ser hombre y no tener religión, que viven lejos de sus padres/familiares son factores que pueden influir en el uso/abuso de drogas lícitas e ilícitas.

Descriptores: Estudiantes; Drogas Ilícitas; Epidemiologia.


 

 

Introdução

O consumo de drogas lícitas e ilícitas é bastante recorrente na sociedade atual, e a ingestão exacerbada dessas substâncias vem sendo avaliada como um problema de caráter social, sobretudo aos danos que acarretam a saúde(1-2). Droga é definida como qualquer substância, natural ou sintética que, uma vez introduzida no organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções, sendo que, as drogas lícitas são substâncias comercializadas livremente, de forma legal, podendo ou não estar submetidas a algum tipo de limitação de sua comercialização, e as ilícitas são aquelas cuja produção, comercialização e consumo são considerados crime, sendo proibidos por leis específicas(3).

Existe na atualidade uma atenção especial ao uso de drogas entre os estudantes universitários, visto que, pesquisas revelam um nível de consumo mais elevado entre esses indivíduos do que na população em geral(4-5). Em todo o mundo estudos têm abordado o comportamento de universitários em relação ao uso dessas substâncias e no Brasil as pesquisas elucidam que a população mais atingida é a de universitários com faixa etária entre 18 e 24 anos(5-6) .

 A Pesquisa Nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre estudantes universitários realizados em 27 capitais brasileiras mostrou que 48,7% dos estudantes relataram o uso de drogas ilícitas em sua vida. Acredita-se que a autonomia que se insere na vida de muitos estudantes no período de ingresso na universidade é fator preditor da vulnerabilidade que irá acarretar o início do consumo dessas substâncias, e o maior uso por essa população específica está relacionado a determinados fatores já identificados, como depressão, transtorno de personalidade antissocial, baixa auto-estima, falta de perspectiva de vida, estar à procura de novas sensações, disponibilidade da droga, fatores ambientais como altas taxas de criminalidade, morar longe dos pais, apresentar mais horas livres nos dias úteis e não possuir religião(7).

O consumo abusivo de drogas entre os estudantes está relacionado a inúmeras implicações negativas tanto para saúde física e mental destes jovens quanto para a sociedade como: queda do desempenho acadêmico, prejuízo no desenvolvimento e na estruturação de habilidades cognitiva comportamental e emocional, danos ao patrimônio público, acidentes de trânsito, violência e homicídios(8).

Tornou-se necessário identificar os fatores que contribuem para a iniciação e manutenção dessas substâncias na população jovem, pois o esclarecimento do processo pelo qual essa população fica exposta pode nortear o desenvolvimento de estratégias de prevenção. Os universitários da área da saúde constituem alvo de especial atenção no que se refere ao consumo de drogas, e esse enfoque diferenciado se deve pelo fato de que esses indivíduos futuramente estarão levando noções básicas de saúde à comunidade(9).

Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi avaliar o consumo de drogas lícitas e ilícitas entre os estudantes universitários da área de saúde de uma universidade pública no interior da Bahia, bem como verificar sua associação com as variáveis sociodemográficas.

 

Método

Trata-se de um estudo do tipo descritivo-analítico, com delineamento transversal, realizado no período de agosto a novembro de 2014. O cenário da pesquisa foi o campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), no município de Jequié-Bahia, cuja amostra compreendeu 429 estudantes adultos jovens dos cursos de Fisioterapia (163), Medicina (42), Educação Física (36), Farmácia (50), Odontologia (99) e Enfermagem (39), os quais foram selecionados de forma aleatória. Os critérios de inclusão foram universitários com faixa etária entre 18 e 24 anos, que concordaram em participar da pesquisa firmando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e que estavam devidamente matriculados.

Os dados foram coletados a partir de um questionário de caráter anônimo e autopreenchível subdividido em duas seções. A primeira seção referente aos dados sociodemográficos foi composta por variáveis como sexo, idade, estado civil (solteiro, casado, divorciado, viúvo e separado), etnia (parda, branca, preta, amarela e indígena), religião (católico, protestante, ateu, umbanda, candomblé, espírita e outra), curso de graduação, ano da matricula (início do curso) e tipo de domicílio (república, domicílio dos pais, domicílio de parentes, pensionato, sozinho e outro). A segunda seção referente à avaliação do consumo de drogas lícitas e ilícitas foi realizada através do Teste de Triagem do Envolvimento com Álcool, Tabaco e outras Substâncias (ASSIST).

O ASSIST trata-se da versão em português do Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST), desenvolvido em um projeto multicêntrico coordenado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esse instrumento é estruturado em oito questões sobre o uso de nove classes de substâncias psicoativas (tabaco, álcool, maconha, cocaína, estimulantes, sedativos, inalantes, alucinógenos, e opiáceos)(10).

As questões do ASSIST abordam a frequência de uso, na vida e nos últimos três meses, problemas relacionados ao uso, preocupação a respeito do uso por parte de pessoas próximas ao usuário, prejuízo na execução de tarefas esperadas, tentativas mal sucedidas de cessar ou reduzir o uso, sentimento de compulsão e uso por via injetável. Cada resposta corresponde a um escore, que varia de 0 a 4, sendo que a soma total pode variar de 0 a 20. Considera-se a faixa de escore de 0 a 3 como indicativa de uso ocasional, de 4 a 15 como indicativa de abuso e 16 a 20 como sugestiva de dependência(10).

Para a análise dos dados, a variável idade (≤21 anos, >21 anos), foi categorizada adotando-se a mediana como referência. Os dados foram tabulados e analisados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) - versão 20.0, sendo que, inicialmente, as variáveis sociodemográficas e relacionadas ao consumo de drogas foram submetidas à estatística descritiva com determinação das frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas; e das médias e desvio padrão (DP) para as variáveis quantitativas.

As associações entre as variáveis dependentes (consumo de drogas) e as variáveis independentes (sociodemográficas) foram realizadas utilizando-se o Teste do Qui-quadrado (χ2) e o Teste exato de Fischer (para valores esperados menores que 5), sendo considerada a associação estatisticamente significativa quando o p-valor for < 0,05.

Esta pesquisa atendeu as normas da Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que normatiza a realização de pesquisa em seres humanos, sendo aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob o protocolo no 703.385, CAAE 31685314.9.0000.0055.

 

Resultados

A partir da análise dos dados sociodemográficos, observou-se que a média de idade dos estudantes entrevistados foi de 20,77(± 1,73) anos, sendo que 67,2% possuíam idade inferior ou igual a 21 anos. A maioria dos indivíduos era do sexo feminino (72,4%), solteiros (96,9%), etnia parda (56,8%), católicos (52,8%), e moravam em república (38,4%) (Tabela 1).

 

 

No que se refere ao uso de drogas lícitas e ilícitas durante a vida, pode-se observar que a droga mais utilizada foi à bebida alcoólica (78,1%), seguidas pelos derivados do tabaco (9,1%) e hipnóticos/sedativos (8,4%) (Figura 1).

 

 

Ao verificar os escores de cada substância de acordo com o ASSIST, 76,9% daqueles que utilizaram tabaco fizeram de forma ocasional e 23,1% uso sugestivo de abuso. Em relação ao uso de álcool, 74,6% fizeram uso ocasional e 25,4% sugestivo de abuso. Quanto ao uso de maconha, 85,7% fizeram uso ocasional e 14,3% sugestivo de abuso. Os indivíduos que utilizaram sedativos fizeram uso de forma ocasional em 88,9% e 11,1% foram considerados sugestivo de abuso (Figura 2). As outras substâncias utilizadas pelos acadêmicos como cocaína/crack, estimulantes, inalantes, alucinógenos, opióides e outras foram classificadas como de uso ocasional.

Na análise da relação entre as variáveis sociodemográficas e o consumo de drogas lícitas e ilícitas, observou-se que o uso dos derivados do tabaco foi mais frequente entre os indivíduos do sexo masculino (p=0,000), e àqueles que se declararam ateus (p=0,000). O uso de bebidas alcoólicas foi mais frequente em universitários de religião católica e ateu (p=0,000), e em indivíduos que residiam em repúblicas ou sozinhos (p=0,038).

O uso de maconha obteve maior percentual entre os indivíduos do sexo masculino (p=0,009), e àqueles que se declararam ateus (p=0,000). Com relação ao uso de inalantes, o maior percentual foi encontrado em indivíduos que se declararam ateus (p=0,000), e nos estudantes do curso de Farmácia (p=0,015).

Quanto à relação entre os escores do ASSIST e às variáveis sociodemográficas, observou-se que o sugestivo de abuso para bebidas alcoólicas foi mais frequente entre os acadêmicos do sexo masculino (p=0,010), e em indivíduos do curso de Educação Física (p=0,004) (Tabela 2).

 

Discussão

No que diz respeito às características sociodemográficas dos estudantes universitários da área da saúde, evidenciou-se no presente estudo uma maior prevalência de jovens com faixa etária entre 18 e 21 anos, tal perfil também se observa em uma pesquisa realizada para verificar a prevalência de tabagismo e consumo de álcool entre os estudantes da Universidade Federal de Pelotas, onde a maioria dos estudantes possuía idade inferior a 20 anos(11-12). O achado referente à faixa etária pode estar relacionado ao fato de que nos dias atuais os estudantes estão iniciando sua busca por um nível superior cada vez mais jovens.

Do total de sujeitos investigados no presente estudo, 72,4% pertenciam ao sexo feminino. Em uma pesquisa realizada para analisar a relação entre o uso de drogas e as normas percebidas pelos estudantes universitários dos cursos de Medicina e Enfermagem, entre seus pares no ABC paulista, foram encontrados resultados semelhantes ao nosso estudo onde 70,4% dos indivíduos eram do sexo feminino, assim como estudo realizado com o objetivo de traçar o perfil do uso de álcool e tabaco entre universitários do curso de graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, onde 81% dos estudantes pertenciam ao sexo feminino. Essa predominância era fator esperado, pois a procura por cursos da área de saúde ainda ocorre em sua grande maioria por parte das mulheres(4,6,13).

No que se refere ao estado civil, 96,9% dos indivíduos do presente estudo se declararam solteiros, corroborando com a amostra encontrada com uma porcentagem de solteiros de 97,9% que analisou comparativamente o consumo de álcool e expectativas do beber de homens e mulheres, com jovens universitários do curso de Medicina e Fisioterapia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto(14). Esse fato se dá, principalmente, devido à idade jovem dos participantes da pesquisa.

A etnia parda foi a mais frequente na amostra com um percentual de 56,8%. Estudo com objetivo de avaliar a associação entre o consu­mo de tabaco, bebidas alcoólicas e drogas ilícitas e os fatores de proteção familiar com estudantes do ensino médio, encontrou indivíduos em sua maior parte que se declararam brancos com uma porcentagem de 40,1%(15). Foi identificado em outra pesquisa, a frequência de uso de drogas lícitas e ilícitas entre adolescentes estudantes da rede pública estadual no município de São Paulo, que obteve uma porcentagem de 47,9% indivíduos que se declararam brancos(16). Esses dados diferem do encontrado no nosso estudo, no que diz respeito à classificação de etnia. O critério de autoclassificação utilizado no instrumento em muitos casos é dependente da percepção de cada indivíduo sobre si, o que pode tornar essa informação sugestionável, comprometendo o resultado dessa variável no presente estudo.

Com relação à religião, a católica apresentou maior porcentagem com 52,8%, corroborando com os estudos, onde 51,5% se declararam católicos. Porém houve discordância com outro estudo, que teve como objetivos verificar o conhecimento do adolescente do Rio de Janeiro sobre as drogas lícitas e ilícitas, no qual a maior prevalência foi a religião evangélica com 40%. Já em outro estudo, 51,1% dos universitários não eram praticantes de alguma religião. Mais de 80% dos estudos publicados que investigaram a relação entre religiosidade e uso de drogas encontraram correlação inversa entre essas variáveis(2,4,14,16).

Em relação ao tipo de domicílio, o mais frequente nesse estudo foi à república com 38,4%. Em outros trabalhos, verificou-se que 69,6% dos estudantes não residiam com os pais ou familiares, já em outro 66,8% dos estudantes residiam com os pais ou parentes, apontando na literatura que a presença dos pais ou parentes no domicílio exerce um efeito protetor quanto ao uso de drogas(12,14).

No que se refere ao uso de drogas lícitas e ilícitas durante a vida, evidenciou-se nesse estudo que a droga mais utilizada foi à bebida alcoólica (78,1%) seguida pelos derivados do tabaco (9,1%) e hipnóticos/sedativos (8,4%). Esse achado torna-se semelhante ao encontrado em estudo, onde as substâncias mais usadas foram, respectivamente, álcool (85,07%), tabaco (33,03%) e tranquilizantes (20,81%)(4).

 Outros trabalhos apresentaram dados semelhantes ao presente estudo, como o que traçou o perfil do uso de substâncias psicoativas entre os universitários do curso de Odontologia da Universidade Federal do Espírito Santo, obtendo um consumo de álcool de 87,9% e tabaco de 27%. Outro estudo que determinou o perfil epidemiológico do consumo de álcool e fatores relacionados entre os estudantes de ensino superior da área de saúde em uma cidade da Região Nordeste, o qual demonstrou que 90,4% dos indivíduos utilizaram álcool e 27,8% fizeram uso de tabaco na vida(11,13).

O álcool é uma das substâncias consumidas cada vez mais cedo pelos jovens. Isso se deve ao fato de ser uma droga legalizada, de fácil obtenção, baixo custo e fartamente propagandeada, facilitando assim, o seu consumo precoce e difundido. Essa utilização está associada à várias consequências negativas e é uma das principais causas de morbidade e mortalidade entre estudantes universitários. A sua venda restrita a indivíduos de maioridade ainda hoje não é estratégia suficiente para diminuição do seu consumo por parte dos jovens(2,7).

Em relação ao resultado do escore do ASSIST, os estudantes da área de saúde foram classificados quanto ao consumo, em sua grande maioria, como de uso ocasional, de acordo com o nível de risco detectado pelo questionário, porém houve uso sugestivo de abuso para substâncias como álcool (25,4%), tabaco (23,1%), maconha (14,3%) e sedativos (11,1%).

Devido à escassez de estudos que utilizaram o ASSIST, não foi possível correlacionar os resultados dos escores com os do presente estudo. Porém, em estudo que utilizou o questionário AUDIT, foi observado o uso problemático para álcool em homens e mulheres com 30,6% e 14,6%, respectivamente(14).

Em estudo foi encontrado um padrão de uso de risco (de moderado a alto) para o álcool (16,3%) e o tabaco (4,07%). Outro estudo observou um risco para o alcoolismo entre os alunos que relataram o consumo de álcool, 6,2% destes apresentaram resulta­do positivo. Em relação ao tabagismo, 11,4% dos estudantes homens relataram que fumam regularmente ou nos fins-de-semana(4,12).

Na análise da relação entre as variáveis sociodemográficas e o consumo de drogas lícitas e ilícitas, observou-se que o fator religião apresentou relação inversa com o uso dessas substâncias, visto que houve associação entre os usuários de álcool, tabaco, maconha e inalantes com indivíduos que não eram praticantes de alguma religião e que se declaravam ateus. Algumas pesquisas destacam a religião como fator protetor em relação ao consumo de drogas, onde indivíduos que possuam uma crença ou que se envolvam em atividades religiosas apresentem menos predisposição de se tornar usuário.

Outra associação observada foi entre o sexo masculino e o uso de drogas como o tabaco, a maconha e um consumo sugestivo de abuso para o álcool, corroborando com estudo que verificou o uso na vida de substâncias psicoativas segundo o sexo, com o consumo de tabaco (36,9%) e maconha (23,1%), sendo maior no sexo masculino. Os homens apresentaram uma prevalência de uso abusivo de bebidas alcoólicas quase três vezes maior que as mulheres com uma porcentagem de 18,3%. Assim, os homens re­presentam um grupo de maior risco em comparação com as mulheres, devido à busca de fatores que facilitem a convivência social, o ganho de autoconfiança, desinibição social e aumento da atratividade física/sexual(8,11,13).

O uso de bebida alcoólica também teve associação com o tipo de domicilio dos indivíduos, sendo que a maioria que consumiam essa substância residia em república ou sozinho. A associação do uso dessas substâncias com o local de moradia pode ser explicado pelo fato destes estudantes estarem vivenciando pela primeira vez a experiência de morar longe dos pais, com isso ocasionando uma possível ruptura de alguns hábitos e a adoção de novos(12).

É importante ressaltar que o estudo apresentou limitações relacionadas ao tipo de desenho epidemiológico empregado, uma vez que um estudo transversal não permite o estabelecimento das relações de causa e efeito. Outra limitação foi à faixa etária estipulada como critério de inclusão, visto que isso por sua vez acarretou uma redução da amostra.

 

Conclusão

O ingresso no campo universitário representa uma importante fase de transição na vida dos jovens, porém relaciona-se a fatores de risco que podem levá-los a se engajar em condutas que comprometam a sua saúde, como o aumento do consumo de álcool, tabaco e outras drogas, visto que o ambiente universitário coopera para a situação ao se tornar um local de propaganda e apologia às drogas, sejam elas lícitas ou não.

Considerando-se os resultados encontrados e a equivalência destes com outros estudos, conclui-se que o álcool prevaleceu como a substância mais utilizada entre os jovens, possivelmente devido a sua ampla propaganda e seu fácil acesso. Além disso, o estudo identificou que pertencer ao sexo masculino, não possuir alguma religião e morar longe dos pais ou parentes constituem fatores que podem influenciar no uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas.

Por sua vez, outras pesquisas serão importantes para identificar os fatores e compreender as motivações que levam os estudantes universitários a consumirem essas substâncias cada vez mais cedo, com o intuito de subsidiar ações de prevenção nesta população, sensibilizando e informando os jovens sobre as consequências do uso e dependência.

 

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Recebido: 18.11.2016
Aceito: 31.07.2018

Endereço de correspondência:
Claudineia Matos de Araujo
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Av. José Moreira Sobrinho, s/n
CEP: 45210-506, Jequié, BA, Brasil
E-mail: neialis@yahoo.com.br

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