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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versión On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.15 no.2 Ribeirão Preto abr./jun. 2019

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2019.152345 

ARTIGO ORIGINAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.smad.2019.152345

 

Uso de álcool e determinantes psicossociais entre estudantes de medicina e tecnologia médica

 

Consumo de alcohol y determinantes psico-sociales en estudiantes de medicina y tecnología médica

 

 

Maria Josefa Arcaya MoncadaI; Daysi Coras BendezuII; Sandra Cristina PillonIII

IUniversidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima, Peru
IIInstituto Nacional de Salud del Niño San Borja, Lima, Peru
IIIUniversidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil

 

 


RESUMO

O estudo teve por objetivo avaliar o uso de álcool e as possíveis associações com os determinantes psicossociais em estudantes de medicina e tecnologia médica da Faculdade de Medicina da Universidade de San Marcos, Peru. O estudo é do tipo transversal da abordagem quantitativa realizados com 219 estudantes. O Teste de identificação do uso de álcool e os determinantes psicossociais relacionados ao álcool foram utilizados. A prevalência de uso de álcool no último ano foi de 69,5%, com predominância de uso pelo sexo masculino (71,6%), e jovens (79,9%). As associações foram entre o uso de álcool e o estresse, com predominância da sobrecarga acadêmica, esses dados são relevantes para o planejamento de ações preventivas do uso de álcool nessa população.

Descritores: Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool; Determinantes Sociais da Saúde; Educação; Graduação em Medicina.


RESUMEN

El estudio tuvo por objetivo evaluar el consumo de alcohol y con los determinantes psicosociales en estudiantes de medicina y tecnología médica de la Facultad de Medicina de la Universidad de San Marcos, Perú. Estudio del tipo transversal, de abordaje cuantitativo realizado con 219 estudiantes. El test de identificación del uso de alcohol y los determinantes psicosociales relacionados al alcohol fueron utilizados. La prevalencia de consumo en el último año fue de 69.5%, con predominancia de uso entre el sexo masculino (71,6%) y jóvenes (79,9%). Las asociaciones fueron entre el uso de alcohol y estrese, predominando la sobre carga académica, eses datos son relevantes para el planeamiento de acciones preventivas frente al uso de alcohol en esa población.

Descriptores: Trastornos Relacionados con Alcohol; Determinantes Sociales de la Salud; Educación; Pregrado en Medicina.


 

 

Introdução

O consumo de bebidas alcoólicas é um importante fator de risco, resulta em altas taxas de mortalidade e morbidade em diversos países, especialmente na América Latina(1-5). Estudos mostram taxas mais elevadas do uso de álcool e de drogas, com consequências negativas entre os mais jovens (18 a 25 anos de idade), dos quais, uma grande parte são estudantes universitários. Dados do II Estudo Epidemiológico Andino sobre o uso de drogas na população universitária(5) mostraram que o álcool é a droga mais comumente consumida (71,9%) entre os estudantes e estimaram que cerca de 8% dos estudantes peruanos apresentaram possíveis sinais de dependência do álcool.

Estes números foram maiores somente entre os alunos que relataram o uso de álcool pelo menos uma vez no último ano, especialmente, os homens mais jovens. A percepção de danos ou riscos e o consumo de álcool foi maior em quatro países (75%), a prevalência de consumo entre homens foi de 32,5% no Peru e na Bolívia 48,3%, 35,5% na Colômbia e 43,9% no Equador. Entre as mulheres, por outro lado, as taxas foram de 29,7% na Bolívia, 27,1% na Colômbia, 28,8% no Equador e 17,7% no Peru(3).

Ao comparar os estudos realizados com universitários da Comunidade Andina (CAN) de 2009 e 2012, observa-se incremento significativo do consumo de álcool no último ano (64,4% em 2009 e 71,7% em 2012), tanto entre os homens (72,5% e 78,3%) como entre as mulheres (57,4% e 65,9%). Também pode ser observado incremento do consumo em nível de risco ou prejudicial de álcool, 29,5% em 2009 e 31,9% em 2012, com poucas variações desse consumo entre as mulheres em 2009 (15,9%) e 2012 (18%).

As percentagens de estudantes universitários com sinais de dependência do álcool também aumentaram significativamente, de 8,3% em 2009 para 10,8% em 2012, levando à conclusão de que se trata de um problema de saúde altamente preocupante, que gera impacto nas taxas de desempenho e abandono acadêmico(3-4).

Em 2010, a Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Vida sem Drogas (DEVIDA) no Peru, avaliou a prevalência de uso na vida de drogas na população geral (12 a 65 anos) mostrou o número de casos de alcoolismo no período de 12 anos (1998 a 2010) e estimou que há uma tendência decrescente no consumo de álcool, mais evidente a partir de 2006, de 83.0% para 75,4% em 2010. A incidência anual de estudantes que começaram a consumir álcool em 2006 foi de 30,2% e 26,4% em 2010(5).

As condições sociais que os alunos vivem e trabalham podem fortemente influenciar o consumo de álcool. Atualmente, o estilo de vida, o ambiente, bem como biologia humana e a organização de serviços de saúde são reconhecidos como os principais determinantes de saúde dos indivíduos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), embora esses tenham sido mais estudado na Europa e Estados Unidos (EUA) e muito pouco em países da América Latina(6).

No contexto microssocial ao entorno do estudante de universidade pública, existem condições sociais que incentivam o consumo de álcool. Considerando que a maioria deles são de classes socioeconômica mais baixa, de famílias migrantes da região dos Andes, com cultura, hábitos e estilos de vida que aprenderam com o seu ambiente familiar por meio de modelos parentais, influenciando o hábito de consumo de álcool. Um estudo mostrou que para 84,4% dos estudantes de Odontologia, o curso é estressante e entre os elementos considerados estressantes é ter que apresentar um determinado número de trabalhos clínicos durante um período curto de tempo, bem como atender pacientes não cooperativos com tratamento odontológico(7).

Em Lima, a prevalência do uso de álcool entre adolescentes foi de 42,2% e o fator psicológico mais fortemente associado ao uso de drogas foi o estresse psicológico severo(8).

Evidência sugere que entre os principais determinantes psicossociais do uso da substância entre os jovens são as formas que eles lidam com o estresse em suas vidas, as expectativas dos efeitos da substância, pressão dos pares e normas percebidas, bem como a autoeficácia em recusar as substâncias que lhes são oferecidas. Os resultados de estudos sobre o estresse acadêmico vão desde o reconhecimento à afirmação da relação direta existente entre essas variáveis, permitindo assim afirmar que os estudantes mais estressados são os que tiraram as melhores notas(9).

Esta situação foi evidenciada em estudantes de medicina, pela a presença de estressores acadêmicos tais como competitividade entre o grupo de pares, exames, sobrecarga de tarefas, apresentações, problemas relacionados com professores e colegas, um ambiente social desagradável e tempo limitado, entre outros fatores que provocam situações estressantes, produzindo mecanismo de enfrentamento inadequado sob pressão para ser parte de um grupo.

Além disso, o consumo de álcool em pequena ou grande quantidade é frequentemente observado em celebrações ou eventos sociais no âmbito universitário, provocando euforia e imprudência que pode resultar em comportamentos com consequências negativas.

Existe ainda evidências na América Latina que mostram resultados similares, em países com algumas variações, como no Peru, onde o consumo do álcool tende a diminuir nos últimos anos(10).

Por outro lado, existem poucas evidências de estudos em países da América Latina que abordam os fatores psicossociais relacionados ao consumo de álcool na população universitária, não existem estudos até o momento sobre a perspectiva dos determinantes psicossociais.

O presente estudo é baseado na teoria de Determinantes Sociais da Saúde (DSS), entendido como as condições sociais em que os estudantes universitários vivem, estudam e trabalham. Este modelo propõe que os indivíduos e os seus comportamentos são influenciados por sua comunidade e redes sociais que podem apoiar ou não a saúde dos sujeitos. A estratificação socioeconômica pode configurar em melhores ou piores oportunidades para a saúde. Ele não age diretamente, mas é mediada por uma variedade de fatores: habitação, circunstâncias psicossociais e comportamentos (hábito de fumar, uso de álcool ou má alimentação)(11).

O consumo de álcool é definido por uma série de fatores interligados, tais como: características individuais, características do entorno microssocial imediato (família, amigos, trabalho e comunidade) e fatores macrossociais (sistema social, cultura de valores imperante, meios de comunicação e a geografia física) que os indivíduos desenvolvem os seus comportamento(11).

Os principais determinantes para o consumo de álcool entre os jovens são a família e a cultura geral do consumo. Amigos e colegas são de particular importância, dada sua influência social e suas relações.

Fatores envolvidos na determinação das decisões em relação ao consumo de álcool, os padrões de consumo e a probabilidade de resultados benéficos ou prejudiciais podem ser agrupadas em quatro grandes categorias: predisposição genética, características individuais, fatores socioeconômicos e determinantes ambientais. O consumo abusivo de álcool e a disfunção familiar são fatores que influenciam o consumo de outras substâncias psicoativas em estudantes universitários(12).

Um outro fator relevante ao consumo de álcool é o estresse acadêmico. Entrar em uma instituição de ensino, manter-se como aluno regular e graduar-se são consideradas experiências estressantes por muitos estudantes. O estresse acadêmico envolve diferentes aspectos, tais como: a vulnerabilidade ao estresse, 69% dos estudantes de medicina podem ser considerados vulneráveis ao estresse. No Chile, a prevalência do estresse é de 36,3%, maior entre as mulheres (p<0.05), o curso de medicina é a carreira mais estressante que os demais cursos. O primeiro ano do curso de Medicina é o mais estressante que os demais anos da graduação (p<0,01)(13).

No Peru, elevados níveis de estresse foram observados em estudantes de medicina, com prevalência de uso na vida, uso e abuso de álcool, cigarros; comportamentos violentos e antissocial, além de hábitos de vida afetados pelas exigências do curso de medicina e poucas oportunidades de diversão social ou de entretenimento(10).

Em estudantes de enfermagem, a sobrecarga acadêmica foi o estressor mais prevalecente(14). Mediante esta situação, há uma necessidade justificável para estudar o consumo de álcool em estudantes de Medicina e Tecnologia Médica na perspectiva dos determinantes da saúde.

O objetivo deste estudo foi avaliar o uso de álcool entre estudantes de Medicina e Tecnologia Médica e as relações possíveis com os determinantes psicossociais.

 

Método

Este é um estudo descritivo transversal da abordagem quantitativa. O estudo foi realizado na Escola de Medicina e Tecnologia Médica da Universidade Nacional Mayor de San Marcos em Lima, Peru.

Os critérios de elegibilidade foram: ter idade igual ou maior que 18 anos, estar matriculado no curso de graduação em Medicina e a Tecnologia Médica. Os alunos que estavam afastados por licença médica ou ausentes por três dias consecutivos nas aulas, durante o período de coleta de dados foram excluídos.

Do total de 1192 estudantes matriculados, 219 estudantes foram selecionados, pelo método de amostragem aleatória simples, dos quais correspondem a 127 (58%) de medicina y 92 (42%) de tecnologia médica.

Um questionário foi composto pelo Teste de identificação dos problemas relacionados ao uso de álcool (AUDIT) e a avalição dos determinantes psicossociais do consumo de álcool foi utilizado. O AUDIT foi desenvolvido pela OMS(15,16), tem por objetivo identificar os níveis de risco de uso do álcool e realizar uma intervenção breve em relação ao consumo de álcool. Esse teste é composto por 10 itens. Ele foi validado nos EUA antes de ser culturalmente adaptado e validado para uso em espanhol em vários países da América Latina, incluindo o Peru. A sensibilidade do AUDIT é de 57-59% e especificidade de 91-96%(16).

O questionário de avaliação dos determinantes psicossociais está composto por 30 itens que avaliam a presença ou ausência de determinantes psicossociais específicos. O instrumento foi submetido a validação semântica. Informações foram processadas na tabela de concordância e teste binomial. A validade foi realizada mediante o teste de coeficiente de correlação de Pearson (os itens são válidos para os valores de r>0,2), valores de p binomial de 0,036 e o grau de concordância p<0,05. O teste de confiabilidade foi realizado por meio do Alfa de Cronbach de>0,7. Um teste piloto foi realizado com 20 estudantes, o instrumento é confiável para sua utilização, com valor de Alfa de Cronbach=0,951.

Os diretores da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional Mayor de San Marcos foram formalmente solicitados para autorizar o estudo. Os dados foram coletados no final da aula, em colaboração com o professor. Os alunos que voluntariamente concordaram em participar do estudo, em seguida, assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Processo número 314, em conformidade com normas peruanas para pesquisas envolvendo seres humanos, garantindo o anonimato, respeitando a privacidade e com possibilidade de desistência do participante em qualquer etapa da pesquisa. Os dados foram coletados no segundo semestre de 2016.

Os dados foram analisados utilizando o Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 17.0. Para análise estatística foi utilizado o teste de Chi-quadrado e o Exato de Fisher, que permitem avaliar as associações entre as variáveis socioeconómicas e uso de álcool. Para as variáveis categóricas foram calculadas as frequências absoluta (N) e relativa (%). As variáveis continuas foram descritas em termos de valores médio e desvio-padrão. O nível de significância de 5% foi adotado para todos os testes.

 

Resultados

A Tabela 1 mostra os dados sociodemográficos e o uso de álcool no último ano. A amostra foi composta por 219 estudantes da medicina e tecnologia médica, caracterizados pelo sexo masculino 119 (58,9%), idade entre 21 e 25 anos de idade 132 (65%), solteiros 201 (99%), provenientes da região da Costa, 173 (85,3%) e viviam com algum familiar 165 (81,7%).

 

 

Do total de estudantes, 141 (69,5%) consumiram bebidas alcoólicas no último ano. Na amostra as diferenças foram entre consumir bebidas alcoólicas, sexo (masculino 71,6% versus 28,4% feminino, p≤0,001) e faixa etária (21–25 anos 79,9% versus 14,2%≥26 anos, p=0,011).

A Tabela 2, mostra dados sobre os determinantes sociais e uso de álcool. Na amostra total, observa-se um predomínio de ausência de problemas em relação aos aspectos família (63,3%) e amigos (62,1%).

 

 

Entre os estudantes, os tipos de problemas predominantes foram relacionados ao trabalho (56,2%), estudo (65%), estressores (72,4%) e pressão para consumir bebidas alcoólicas (77,8%). Destaca-se que entre os estudantes com a presença de estressores era maior entre os que não consumiam bebidas alcoólicas (83,9%) quando comparados aos que consumiam (67,4%), com valores estatísticos significativos (p=0,011)

 

Discussão

O presente estudo buscou uma melhor compreensão entre o uso de álcool e as possíveis associações com os determinantes psicossociais em uma amostra de estudantes peruanos de medicina e tecnologia médica.

A prevalência do consumo de álcool no último ano pelos estudantes foi de 69,5%. O álcool é a substância que está muito presente na vida dos estudantes. Estes dados contrastam com a prevalência do uso de álcool em estudantes de medicina e de outras áreas da saúde(17-18), bem como da população peruana, que são bastante superiores.

Nos achados do estudo(10) as prevalências de uso de álcool na vida entre estudantes de duas escolas peruanas de medicina foram de 95,6% e 89,8% respectivamente. Os índices são bem baixo quando se compara com os jovens da população geral peruana, a prevalência de uso de álcool na vida foi 61% entre os mais jovens (15 a 17 anos) e 89% entre os de 21 a 24 anos, a idade de início do uso de álcool entre os estudantes foi de 15 anos(10).

Outro estudo com estudantes mexicanos de medicina, a prevalência de uso de álcool na vida foi de 71,9% e a idade de início 12,5 anos. A frequência de consumo foi baixa, mas em alta quantidade e o consumo em níveis de embriaguez, principalmente entre os homens. Nessa amostra foi avaliado o uso de drogas (licitas e ilícitas) e a prevalência de uso de álcool foi de 52,6%, níveis semelhantes ao de outros países(18).

Entre os estudantes universitários colombianos, a prevalência de consumo de álcool tem sido muito elevada quando comparada a do presente estudo, foi observado que nove a cada dez estudantes consumiam bebidas alcoólicas(19). Um estudo em Honduras, reportou que somente 25% dos estudantes de medicina haviam consumido bebidas alcoólicas recreacionalmente(20).

Em relação aos determinantes psicossociais (Tabela 2), no presente estudo não foi encontrado diferenças entre o uso de álcool e os determinantes relacionados à família e aos amigos. Esse resultado sugere que a integração, o suporte familiar e o de amigos exercem um papel determinante e favorável, por se constituir entre os estudantes um apoio essencial frente ao consumo de álcool. Uma outra justificativa para este achado, pode estar relacionado as questões familiares, uma vez que a maioria dos estudantes vivem com alguém da família e provavelmente recebem suporte, ambiente e comunicação, relacionamentos, papel do modelo, amor percebido da família, esses são elementos que podem contribuir para diminuir as possibilidades de consumo.

O entorno familiar, os amigos e as redes de apoio social influenciam o desenvolvimento de padrões e a trajetória de consumo de álcool do indivíduo ao longo do tempo. A influência familiar persiste na vida adulta, o que pode ser um fator de enfrentamento do uso problemático(21-22).

As pessoas com laços familiares mais fortes tendem ser menos influenciadas pelos amigos e com poucas habilidades para evitar o consumo de risco de álcool. Dessa maneira, melhores estreitamentos dos laços familiares, somados a maior participação nas atividades familiares caracterizam-se por ser importantes fatores de proteção(22).

Em nosso estudo, por outro lado, foi observado a existência de problemas relacionados ao trabalho (satisfação com o trabalho, salário e relacionamento), estudos (desempenho) e pressão para o consumo do álcool (celebração social e normas permissivas). Isso indica que os estudantes com tais características estão mais expostos aos riscos, criado pela exposição as condições laborais estressantes, estudo, pressão e a presença de estressores relacionados ao consumo de álcool.

O emprego, a qualidade do ambiente de trabalho, a segurança física, mental e social nas atividades laborais, incluindo a capacidade de controle sobre as demandas e pressão de trabalho são importantes determinantes a saúde. A igualdade de acesso à educação, a qualidade da educação recebida e a oportunidade de colocar em prática as habilidades aprendidas também são fatores muito importantes nas condições de vida e estado de saúde da população(23).

Um dos principais resultados deste estudo, foi a associação positiva entre uso de álcool e estresse, o que refere a capacidade de resolver situações problemáticas, exames (provas de avaliação cognitiva) e tarefa, a relação com professores e profissionais de saúde. Existem mais alunos com problemas relacionados com o estresse entre aqueles que não bebem, em comparação com aqueles que consomem bebidas alcoólicas. Este fato pode ser explicado pela adoção de outros estilos de enfretamento negativo, como fumar, comer demais ou negação do problema.

Estudos sobre estressores se dividem em duas categorias: os que abordam os estressores de forma genérica, incluindo os académicos e os que abordam exclusivamente os estressores académicos.

Geralmente, entre os estressores gerais, estudo descreve a falta de tempo ou o tempo limitado para realizar as atividades acadêmicas. Os estressores específicos incluem a sobrecarga acadêmica de trabalhos de casa, exames (provas), apresentações de trabalhos, atribuições obrigatórias, exercícios, atividades em sala de aula, a manutenção de um bom desempenho e avaliações pelos professores. Nesse sentido, estudo identificou que 84,4% dos estudantes de odontologia consideravam o curso de graduação estressante, entre os elementos estressantes incluía a apresentação de trabalhos clínicos em um período curto de tempo e atender os pacientes mais resistentes(24).

A sobrecarga acadêmica representou o maior estressor entre os estudantes de enfermagem, devido ao elevado número de créditos exigido e trabalhos obrigatórios. Assim, muitas vezes a resposta ao estresse tem sido o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas, a prevalência de uso de álcool é de 50%. No Chile, a prevalência de estresse foi de 36,3%, mais elevada em mulheres (p<0,05). Estudantes de medicina sofrem significantemente de mais estresse, especialmente no primeiro ano (p<0,01), quando comparado a estudantes de outros cursos, foi observado baixa prevalência entre os estudantes de Psicologia (p<0,05)(13).

Pode-se concluir que todas as situações produzem diferentes níveis de estresse, relacionadas com o fator de atividade/tempo, com a preocupação por ser a resposta mais comum frente ao estresse(14).

O presente estudo apresenta algumas limitações, em relação aos dados que foram coletados apenas uma escola. A amostra de estudantes pode não ser representativa da população de estudantes usuários de álcool, por ter sido realizada por meio de provas simples de amostragem, desse modo deve ser avaliada com cautela.

 

Conclusão

Os estudantes de medicina e tecnologia médica apresentaram níveis elevados de uso álcool no último ano. A predominância do consumo de álcool foi entre jovens do sexo masculino, o uso de álcool está relacionado ao estresse, estressores acadêmicos predispõem ao estresse e são fatores de risco para a utilização de mecanismos negativos, tais como o consumo de álcool. Os resultados têm implicações para repensar como lidar com a prevenção no contexto da Universidade, implementando estratégias que contribuem para minimizar os danos causados pelo álcool na vida destes futuros profissionais.

 

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Recebido: 05.11.2016
Aceito: 17.12.2018

Autor correspondente:
Maria Josefa Arcaya Moncada
E-mail: marcayam@yahoo.com
 https://orcid.org/0000-0003-0961-1193

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