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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

On-line version ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.17 no.4 Ribeirão Preto Oct./Dec. 2021

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2021.000194 

APRESENTAÇÃO

 

A saúde mental em diferentes populações e contextos

 

 

Kelly Graziani Giacchero Vedana

Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil

Autor correpondente

 

 

 

A produção e a divulgação do conhecimento cientifico de qualidade sobre a saúde mental se constituem em importantes meios de promover o fortalecimento de discussões, investigações, políticas, além de subsidiar ações de cuidado e educação profissional. A SMAD, mantendo seu compromisso de colaborar com a disseminação do conhecimento científico, apresenta este fascículo com resultados de investigações com diferentes populações, contendo assuntos atuais e relevantes para o cenário nacional e internacional. Os artigos apresentam discussões oportunas sobre diferentes facetas da promoção da saúde mental, prevenção de agravos, assistência em saúde mental, além de provocar reflexões que precisam ser fomentadas e ampliadas na sociedade.

O editorial deste fascículo, de autoria do Professor Carlos Sequeira (da Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal), aborda a Primeira Ajuda em Saúde Mental. O autor indica que os "primeiros socorros" prestados a alguém que esteja em uma crise ou sofrimento emocional são importantes para que essa pessoa obtenha ajuda profissional ou alcance uma melhora no próprio bem-estar. Especialmente no contexto atual, é fundamental que a população tenha acesso a recursos que possam promover as competências para a Primeira Ajuda em Saúde Mental, como uma estratégia para reduzir estigmas, consolidar redes de apoio e fortalecer fatores de proteção para a saúde mental.

Um estudo interessante investigou a "Regulamentação do consumo de Cannabis no Uruguai e suas influências sobre a fronteira". O estudo foi desenvolvido com pessoas que utilizavam Cannabis e residiam em uma cidade da fronteira Brasil/Uruguai. Os resultados apontam que a regulamentação do consumo esteve ligada à ressignificação da Cannabis. O estudo discute questões ligadas à maior aceitação social, redução da patologização do consumo e menor depreciação da pessoa que utiliza a Cannabis. O estudo apresenta ainda reflexões sobre as implicações desse processo de ressignificação e defende a importância de promover discussões ampliadas, amadurecidas e contextualizadas sobre aspectos sociais e políticos que envolvem o uso de Cannabis.

Na pesquisa "A enfermagem vivenciando a proibição do tabagismo em um hospital psiquiátrico", os leitores têm acesso à uma teoria Fundamentada nos Dados que revela diversas dimensões e nuances da proibição do tabagismo. O estudo revela que essa situação envolveu insegurança, pessimismo, resistência e boicote, mas também a valorização da abstinência e a percepção de benefícios para as pessoas internadas. São discutidos contextos, significados e ações ligadas a essa experiência. Os autores apresentam esse processo como complexo, conflituoso, não linear, embora viável.

A percepção de enfermeiros também foi alvo da pesquisa "Saúde mental na Atenção Primária: (des)encontros entre enfermeiros e pacientes com diagnóstico de esquizofrenia", publicada neste fascículo. A investigação abordou o imaginário coletivo sobre pacientes com diagnóstico de esquizofrenia por parte de enfermeiros inseridos na Atenção Primária. Os autores exploraram as preocupações ligadas à crença de que o acompanhamento de pessoas com esquizofrenia é de responsabilidade exclusiva de profissionais ou serviços "especializados". Problematizaram ainda sobre como tal crença pode favorecer (des)encontros entre enfermeiros e pessoas com esquizofrenia, além de limitar o potencial desses profissionais nos cuidados em saúde mental na Atenção Primária.

Esta edição contem diversos estudos a sobre saúde mental e o consumo de substâncias em diferentes populações. O artigo "Uso de hipnóticos, qualidade do sono e síndrome de Burnout em estudantes de medicina" contribuiu com o conhecimento de fatores associados à Síndrome de Burnout e qualidade do sono de estudantes de medicina do nordeste do Brasil. Os resultados do estudo indicaram a necessidade de avaliar intervenções relacionadas à Síndrome de Burnout e seu impacto na qualidade do sono entre estudantes de graduação.

O trabalho intitulado "Incidência da síndrome de Burnout em militares do exército brasileiro na região amazônica" investigou militares que estavam em serviço na região amazônica brasileira e encontrou elevados níveis de Burnout, sendo que este esteve associado a menor tempo de serviço, estilo de vida sedentário, horas de trabalho extra, menor posição hierárquica e morar longe dos familiares. O estudo aponta a necessidade de investimento em ações que promovam o bem-estar e a satisfação com o trabalho entre os militares.

Na região metropolitana de Cuiabá-MT, Brasil, foi desenvolvida a pesquisa "Modelos preditivos de risco e proteção para uso problemático de álcool entre universitários da saúde" que identificou maior chance de uso problemático de álcool entre os universitários do sexo masculino, solteiros, que moravam sozinhos, que se consideravam agressivos, utilizavam o álcool predominantemente em momentos festivos, com finalidades de relaxamento, prazer e facilitar interação social. Por outro lado, o uso problemático de álcool foi menor entre os estudantes que residiam com cônjuges e/ou filhos, cursavam o segundo ano da graduação, referiram não ter mudado o padrão de consumo durante a graduação, não participavam de entidade esportiva e que se consideravam calmos e introvertidos. O estudo aponta fatores que podem auxiliar o desenvolvimento de estratégias de prevenção e cuidados ligados ao uso problemático de álcool nesse grupo.

O consumo de substâncias também foi abordado no artigo "O consumo de substâncias psicoativas entre pessoas idosas: um olhar complexo" que descreveu o padrão de consumo de substâncias psicoativas entre pessoas idosas sob a ótica da complexidade. O estudo explorou experiências e representações ligadas ao à experimentação de substâncias psicoativas, formas de consumo, consequências percebidas e motivos para continuação ou abandono da droga. Os autores discutem que o conhecimento sobre o consumo de SPAs por pessoas idosas é fundamental para o sucesso de intervenções para redução de danos e promoção da saúde.

Uma pesquisa realizada em Sergipe sobre o "Perfil sociodemográfico e de dependência química dos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial especializado" identificou o predomínio de homens solteiros com baixa escolaridade, moradores da zona urbana e em dependência de múltiplas drogas ou exclusivamente de álcool. No que se refere ao uso isolado das substancias psicoativas, além do álcool, o crack e a maconha também sobressaíram.

"A periculosidade como dispositivo nas publicações sobre os 'loucos-criminosos': revisão integrativa da literatura nacional e internacional" é um trabalho que apresenta a periculosidade como dispositivo que orienta medidas a serem tomadas quando uma pessoa com transtorno mental comete um delito. Os autores abordam o entrelaçamento de saberes e poderes relacionados ao tema, as limitações nos critérios para avaliar e classificar a periculosidade, apresentam divergências e questionamentos sobre a culpabilidade em sujeitos considerados inimputáveis e discutem a periculosidade enquanto qualidade atribuída às pessoas em sofrimento, além de refletir sobre as estratégias de poder para o controle dos corpos.

Espera-se que essa edição possa contribuir com discussões profícuas, empáticas e críticas relacionadas à saúde mental em diferentes contextos. Os conhecimentos e reflexões apresentados neste fascículo destacam a importância de fortalecer competências e o compromisso individual e coletivo com a promoção da saúde mental. Assim, caros leitores, sintam-se convidados a contribuir, com o que estiver ao vosso alcance, para a promoção da saúde mental e a proteção de direitos humanos.

 

 

Autor correspondente:
Kelly Graziani Giacchero Vedana
E-mail: kellygiacchero@eerp.usp.br

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