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IGT na Rede

On-line version ISSN 1807-2526

IGT rede vol.14 no.26 Rio de Janeiro Jan./June 2017

 

ARTIGO

Psicose e sofrimento ético: a exclusão e suas consequências.

Psychosis and ethical suffering: exclusion and your consequences.

André Luiz da Silva Leite*

Centro Universitário Dr. Leão Sampaio - Juazeiro do Norte - CE.

Endereço para correspondência

 


RESUMO

A psicose para Gestalt- terapia é uma forma de ajustamento criativo diante das demandas por afeto ou laço social, onde o sujeito procura encontrar possibilidades de enfrentamento diante das situações conflituosas. Quando essas demandas não cessam, o psicótico vê-se desprovido da camada de excitamentos ou função id, que corresponde as tentativas de suprir os pedidos advindos do laço social. Diante da precariedade em se articular frente a essas demandas ostensivas, o sujeito se vê obrigado a responder de uma forma desarticulada e precária, a qual denominamos de surto, tido com certa estranheza, trazendo uma série de consequências e prejuízos na vida social desses sujeitos. Neste artigo propomos uma descrição sobre as consequências sociais sofridas pelos psicóticos em virtude da falência dos ajustamentos no campo por meio da teoria do “self” proposta por Perls, Hefferline e Goodman, introduzindo as novas formas de leitura das clínicas gestálticas, em especial, a clínica do sofrimento ético e a intervenção nos ajustamentos de inclusão como possibilidade de restituir a cidadania desses sujeitos. Para compor o estudo, foram realizadas pesquisas de cunho bibliográfico e como resultado, conclui-se que o estigma social e a exclusão desses sujeitos por não corresponderem aos nossos apelos é o que de fato os levam a padecer em quadros de sofrimento.

Palavra-chave: Psicose; “self”; função id; sofrimento ético; exclusão social.


ABSTRACT

Psychosis to Gestalt therapy is a form of creative adjustment in the face of demands for affection or social bond, where the subject tries to find possibilities in the face of conflict situations. When these demands do not stop, the psychotic sees himself deprived of excitements layer or function from id, corresponding attempts to meet the demands arising from the social bond. Given the precariousness in articulating front of these ostensible demands, the subject is forced to respond in a disjointed and poor form, which we call outbreak, perceived with certain strangeness, bringing a series of consequences and losses in the social life of these subjects. In this paper we propose a description of the social consequences suffered by psychotic because of the failure of the adjustments in the field through self theory proposed by Perls, Hefferline and Goodman, introducing new forms of reading the gestalt clinics, in particular the clinic ethical suffering and intervention in the inclusion adjustments as possibility to restore the citizenship of these subjects. To compose the study, a research bibliographic was conducted, and as result, it is concluded that the social stigma and exclusion of these subjects do not correspond to our appeals is what actually lead them to suffer in pain frames.

Keywords: Psychosis; self; id function; ethical suffering; social exclusion.

 

1- INTRODUÇÃO

O presente estudo propõe uma visão gestáltica sobre os ajustamentos psicóticos em virtude do sofrimento ético e o excesso de demanda diante das situações de exclusão social.  Na psicose, ocorre a falência dos ajustamentos do sujeito no campo como consequência do excesso de demanda. A dificuldade em lidar com as exigências sociais, incide na fixação do comportamento, tornando-o habitual a realidade disponível. Essa realidade procura constantemente suprir o fundo afetivo- pulsional (função id), relacionada às nossas vivências, excitações e à temporalidade das experiências no campo.

A falência dos ajustamentos psicóticos produz o surto que não raramente é rechaçado socialmente causando estranhamento pela forma desarticulada frente às expectativas sociais. Atrelado a esse fato, a exclusão social na psicose gera o sofrimento ético e uma série de consequências sociais que estigmatizam e classificam as experiências, tornando-as insuportáveis. O sujeito entra em um processo de desarticulação de suas próprias atitudes enquanto é constantemente exigido dentro de um campo político, ético e social.

O referido estudo parte da pergunta: Quais são as consequências sociais sofridas pelos psicóticos em virtude da falência de seus ajustamentos? Dentro dessa perspectiva, como objetivo geral do estudo, buscou-se descrever as consequências sociais sofridas pelos sujeitos das formações psicóticas, como essas consequências são sentidas pelos interlocutores dessas produções, o sofrimento ético a partir da teoria do self, como ocorre o surto, suas consequências/ reverberações.

Durante a graduação foi estimulado o interesse em estudar com profundidade a experiência psicótica em virtude da pouca informação sobre o tema, tendo em vista os diferentes enfoques teóricos que buscam por meio de estudos, a compreensão dos fenômenos psicológicos envolvidos, tanto por sua complexidade, quanto pelo rigor clínico de se buscar alternativas que possibilite ao sujeito, a expressão de sua identidade dentro de uma experiência espontânea e criativa.  Nesse sentido, aprofundar teoricamente o estudo, é uma possibilidade de compreender a psicose muito além das concepções formuladas por outras abordagens psicológicas, repensando as formas de produção de cuidado e integração do sujeito enquanto criador de suas próprias possibilidades.

Espera-se que esse artigo possa contribuir frente ao estudo e o trabalho do psicólogo e outros profissionais diante das práticas e cuidado aos sujeitos das experiências psicóticas, promovendo reflexões e entendimento diante dos ajustamentos do sujeito em seus modos particulares de enfrentamento às demandas no campo. Vale ressaltar que o enfoque teórico proposto pela Gestalt- terapia quanto ao sofrimento ético e suas consequências pretende nortear a sociedade sobre as possibilidades existenciais do sujeito em surto, trazendo uma nova forma de se compreender a experiência psicótica e a inclusão social frente àquilo que se espera socialmente do sujeito.

 

2 - METODOLOGIA

A proposta metodológica apresentada consiste numa pesquisa de base bibliográfica dos principais escritos pertinentes ao tema, fomentando as discussões por meio do acesso ao material escrito e reproduzido por meio das vias de comunicação e a partir disso, contribuir com resultados inovadores. (LAKATOS, 2010).

As principais referências bibliográficas que constituíram esse trabalho encontram-se nas obras dos autores Perls, Hefferline e Goodman (1997), além das novas formas de compreensão das clínicas gestálticas nas obras “Clínicas Gestálticas: Sentido ético, político e antropológico da teoria do self” (Müller- Granzotto e Müller- Granzotto, 2012a) e “Psicose e Sofrimento” (Müller- Granzotto e Müller- Granzotto, 2012b), que serviram de base para introduzir a compreensão da psicose, enquanto um forma de funcionamento em que os consulentes procuram alternativas para lidar com as demandas do meio social.

À partir dessas perspectivas, como metodologia adotada, partimos do método de pesquisa qualitativa, que por sua vez, demonstra a “[...] aceitação explícita da influência de crenças e valores sobre a teoria, sobre a escolha de tópicos de pesquisa, sobre o método e sobre a interpretação de resultados” (GÜNTHER, 2006, p. 2013). Nesse caso, em particular, tratamos das influências do meio social e expectativas sobre os sujeitos da psicose, como essas expectativas são sentidas e como podem ser geradoras de sofrimento.

Delineamos por meio de pesquisa descritiva, a descrição dos processos relacionados aos ajustamentos criadores dos sujeitos das formações psicóticas enquanto falência dos ajustamentos no campo em função das demandas sociais. Além disso, utilizamos de pesquisa explicativa “[...] para explicar ou justificar os dados e/ou informações contidas no material selecionado” (SASSO DE LIMA, 2007).  Dessa forma, buscamos por via de esclarecimentos, explicar a relação de causa e efeito decorrentes do sofrimento nos sujeitos das formações psicóticas e as respostas radicais de enfrentamento a essas demandas, como ocorre no surto psicótico.

Por fim, foram utilizados livros e artigos eletrônicos, em sites de pesquisa acadêmica como: Scielo, Pepsic, e utilizadas as seguintes palavras chave: psicose, sofrimento ético, Gestalt-terapia, teoria do “self”, clínicas gestálticas.

 

3 - A GESTALT- TERAPIA

A Gestalt-terapia passou por profundas transformações nos seus fundamentos. Ocorreram releituras, adaptações desde a sua concepção à atualidade num processo de reestruturação do pensamento gestáltico. Em outras palavras, a Gestalt-terapia sofreu múltiplas influências epistemológicas de diferentes correntes que contribuíram para o desenvolvimento da abordagem. (BELMINO, 2015).

Com a publicação do livro “Gestalt Therapy” em 1951, a Gestalt- terapia se consolida enquanto uma abordagem teórica decidida a proporcionar um novo olhar sobre as práticas psicológicas e psicoterapia. Nesse período, a associação entre Paul Goodman, Ralph Heferline e Fritz Perls ocupou-se a discorrer a respeito da releitura do “self” (conceito este utilizado pelas teorias da psicologia e da psicanálise na época) apresentando contribuições no estudo do intercâmbio entre organismo e meio. A interação entre esses dois campos possibilita a articulação das experiências intersubjetivas através dos sistemas de contato o qual denominamos “self” (BELMINO, 2014).

A Gestalt-terapia sofreu influências de grandes pensadores como W. Reich e K. Goldstein que introduziram a compreensão dos fenômenos adjacentes da relação integrativa entre organismo e meio, por onde Perls partiu da hipótese de que não existiria diferenciação entre os fenômenos físicos e psicológicos orientados a satisfação das necessidades do organismo e da realidade (Ibid., 2014).

Partindo do pressuposto de que para formulação do pensamento gestático, a Gestalt-terapia sofreu múltiplas influências das correntes epistemológicas e diferentes pensadores reunindo a síntese de suas produções para propor uma abordagem psicológica:

"[...] aproximando-a das correntes fenomenológicas, existencialistas, fenomenológicas-existenciais, sistêmicas, transpessoais, pragmatistas, bioenergéticas, dialógicas, psicanalíticas e neopsicanalíticas (desde o retorno a Freud ou sua reinterpretação lacaniana, até a articulação com as psicologias do ego e a teorias das relações objetais), xânicas e pós-modernas, indo até as propostas aliadas à física quântica. Também poderíamos citar aqui a aproximação com as correntes humanistas, principalmente o trabalho de Carl Rogers e Abraham Maslow, assim como o psicodrama de Jacob Levy Moreno” (BELMINO, 2015, p. 38).

O autor afirma incisivamente que as grandes influências que serviram de apoio para construção das bases da Gestalt-terapia apresenta um acervo teórico que podem ser encontrado em outras abordagens. O diferencial, inovador e potencial da teoria fundamenta-se na organização das partes ou fragmentos que proporcionam a atenção indispensável a sua singularidade (PERLS, 2012). Após a consolidação da Gestalt-terapia, houve uma imensa transformação no campo psicológico com a introdução do “self”, afastando-se dos conceitos e interpretações impostos pela psicanálise conforme o autor ressalva:

"O self agigantado, egocêntrico da psicanálise não é mais o único objeto da psicoterapia; de fato, frequentemente diminui de tamanho e quase desaparece de vista, tornando-se parte do fundo, de onde possa ser retirado, contudo, quando preciso. O local primordial da experiência psicológica, para onde a terapia e prática psicoterapêuticas tem de dirigir é o próprio contato, lugar onde o self e ambiente organizam seu encontro e se envolvem mutuamente" (p. 23).

Nessa perspectiva, a Gestalt-terapia atravessa o campo das concepções egóicas e introduz o conceito de “sel”f enquanto uma possibilidade de contatar a experiência no campo. Essas experiências se encontram e se articulam reciprocamente estimulando a troca de vivências. Yontef (1998), assevera que a Gestalt-terapia é uma abordagem psicológica que se propõe a compreender os fenômenos da percepção humana com ênfase naquilo que pode ser sentido, percebido e reproduzido em termos de processo (o que acontece no aqui-e- agora). Partindo do método fenomenológico-existencial da “awareness” que imputa ao terapeuta e consulente a consciência (“aware”) do que se apresenta enquanto artefato da percepção através do diálogo. Dessa forma, a “awareness” configura-se em um estado perceptivo e sensorial por meio do qual, o organismo é capaz de manter o foco da sua atenção à medida que as necessidades dominantes emergem. Todavia, as necessidades que surgem em caráter primário são àquelas as quais o organismo precisa insistentemente satisfazê-las numa relação de figura, enquanto as outras passam a ser fundo e cessam temporariamente (PERLS, 2012).

A Gestalt- terapia fundamenta-se na visão holística de homem, concebendo o organismo como um ser biopsicossocial cujas influências evidenciam que o homem é constituído por meio da relação que estabelece com o meio, levando em conta que todas as experiências advindas interação entre o organismo e o meio perpassam as fronteiras da totalidade humana (PERLS et al., 1997). A relação coexistente entre o organismo e meio promove a interlocução entre os fenômenos através de uma visão mais abrangente em que a “[...] unidade dialética organismo-ambiente explicita a influência recíproca entre os fenômenos internos e externos” (DUSI, 2006, p. 50).

Müller- Granzotto e Müller- Granzotto (2007), admitem como ponto de partida para Gestalt-terapia a relação de troca nas múltiplas experiências decorrentes da relação entre organismo humano e o ambiente. A interação entre organismo e ambiente oferece uma visão ampliada dos eventos que surgem na fronteira de contato permitindo o desenvolvimento das condições necessárias aos ajustamentos criativos.

De acordo com Figueiredo (2015), a Gestalt-terapia possibilita a consciência intersubjetiva, concebendo o conhecimento interno que permite ao organismo se perceber diante de situações em que suas ações ou condutas surgem como costumes que se repetem ou evitam situações, bloqueiam ou inibem as suas necessidades. As necessidades fisiológicas só podem ser satisfeitas quando o organismo é capaz de manipular a si mesmo e o ambiente ao seu redor (PERLS, 2012).

Para Müller- Granzotto e Müller- Granzotto (2007), a Gestalt-terapia é uma possibilidade de intervenção social que possibilita ao sujeito ajustar-se criativamente às situações que dele necessitam de uma resposta imediata. Os ajustamentos permitem que o organismo revele-se através de ações criativas de expressão da sua espontaneidade dentro de uma perspectiva temporal surgindo como resposta aos desvios, aos sentimentos e ambiguidades decorrentes do laço social. Os autores descrevem esse processo a partir do fluxo continuo de experiências, por meio das quais o self se desdobra e alarga as possibilidades frente ao campo dos desejos, expressões e manifestações do próprio ser. Para a Gestalt-terapia o “self” proporciona na fronteira de contato a aproximação e afastamento da experiência constituídas através das próprias vivências.

Para ampliar a compreensão da complexidade do sistema “self”, torna-se necessário adentrar o campo das funções deste sistema através de uma perspectiva de campo, de modo que as relações interacionistas entre o organismo e meio articulam as possibilidades do organismo em responder as demandas, e ajustar-se às condições adversas. Nesse sentido, os fenômenosdescritos à seguir seguem uma orientação fundamentada na teoria proposta por Perls, Hefferline e Goodman para justificar as relações de contato estabelecidas entre o organismo e o meio.

 

4 - AS FUNÇÕES DO “SELF”

A noção de “self” para gestalt-terapia se dá através de um sistema complexo de contatos advindos da relação entre o campo organismo/ meio. Essa relação emerge por meio da correlação espontânea entre as experiências vindouras como um produto das vivências através dos atos intencionais que compõe a nossa dimensão histórica. Esta por sua vez, não é estática e modifica-se conforme o organismo interage com o meio apresentando-se enquanto espontaneidade (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER- GRANZOTO, 2007).

De acordo com MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER- GRANZOTO (2008), o sistema “self” descreve as funções essenciais para estabelecer contato com a realidade inatual através dos excitamentos que produzimos na temporalidade dos atos os quais dirigimos nossas excitações dentro de um horizonte de futuro. A temporalidade descrita calcifica a ação do contato entre aquilo que surge enquanto um contínuo, de modo que o passado é assimilado e reproduzido por meio dos atos criativos e assimilados oferecendo possibilidades de crescimento do organismo em função daquilo que se apresenta enquanto novidade.

Perls et al. (1997), denominou de “self” o princípio que traduz a complexidade dos nossos contatos em interação com o campo como um todo que se encontra e se ajusta as possibilidades.  O autor se propõe a discutir esse sistema como uma possibilidade representativa dos nossos ensaios no campo desde a aprendizagem por meio da interação com o meio, às funções biológicas que ensejam o crescimento e esforço do organismo em atender as suas necessidades orgânicas. Em síntese, a compreensão dos fenômenos intrínsecos dessa relação complexa representa uma forma peculiar do organismo ajustar-se as situações complexas. Dessa forma, o “self” é compreendido como um processo consciente de regulação por meio de ajustamentos criativos que são formas particulares deste sistema, em adequar-se as demandas.

Os processos criativos surgem como alternativas para suplência das excitações do organismo adaptando-as ao meio (TENÓRIO, 2012). Para Perls (1997), o “self” é essencial para os ajustamentos no campo. É através do sistema de contatos que o organismo executa conscientemente funções de ordem perceptiva e motora, satisfaz as suas necessidades e maneja os afetos, emoções operando na relação figura/fundo em diferentes circunstâncias.

O “self” atua entre a fronteira de contato por meio de relações integradas que são essenciais para que o organismo possa ajustar-se criativamente às condições impostas em situações adversas. Dessa forma o “self” atua diante de situações complexas e precárias que exigem do organismo uma resposta imediata, ou reduz ao equilíbrio quando as situações encontram-se amenas (VOGEL, 2012).

Conforme apresentado acima, o organismo procura incessantemente encontrar possibilidades para manter o equilíbrio e consequentemente a sua autorregulação mesmo diante das condições impositivas decorrentes no meio. Desse modo, Müller- Granzotto e Müller- Granzotto (2012a), asseveram que:

"[...] o self é uma espécie de espontaneidade que somos nós mesmos, sempre engajados em uma situação – que é o campo organismo/meio – na qual nos experimentamos únicos (e, nesse sentido, finitos) de diversas formas: como seres anônimos ( nas funções vegetativas, no sono, na sinestesia, no hábito, nos sonhos, etc.), como indivíduos (na sensomotricidade, nas formas de consciência que a habitam, na fala, etc.), e como “realidades” objetivas (nas identificações imaginárias, nas formações linguísticas já disseminadas como aquisição cultural, nas instituições, nos ideais, etc)". (p. 40).

Diante do exposto, é indispensável a compreensão do “self” como um sistema que atua na fronteira temporal de nossas vivências numa correlação espontânea que se configura enquanto o um fundo de vivências no tempo, em que o organismo responde as demandas do meio e reproduz suas ações como um fundo de hábitos temporais e linguageiros (Ibid.). Dentro desta perspectiva, o autor se dispõe a discutir as três funções do sistema “self”, denominadas de função id (o isso da situação), função ego (ou ato) e função de personalidade.

A função id representa o campo experiencial em que o organismo absorve e reproduz as suas vivências através dos hábitos aprendidos no contexto histórico de inatualidades no qual emergem os excitamentos (BELMINO, 2014). Para Perls et al. (1997), o id assume a função passiva e possui conteúdos alucinatórios decorrentes da desarticulação motora e sensorial do organismo. Diante dessa perspectiva torna-se contundente retomar as contribuições de Müller- Granzotto e Müller- Granzotto (2008), acerca da função Id enquanto o fundo de hábitos verbais e conteúdos da percepção que compreendem nossos hábitos motores e perceptivos. Muito mais do que conteúdos semânticos, a função id produz ações intencionais (awareness) nas nossas vivências cotidianas. O id é capaz de reter nossos atos perceptivos e linguageiros de modo a não permitir que o organismo se desate do mundo. Dessa forma, a totalidade dos hábitos retidos provoca uma espontaneidade como um impulso para as ações oriundas executadas através das nossas funções sensoriais e linguageiras assimiladas e manifestadas no ambiente (Ibid., 2008).

Para Perls et. al (1997), a função de ego (ato) relaciona-se as forças de ação espontânea que iniciam respostas motoras e sensoriais em função de um todo criativo. O ego atua diante da evocação dos nossos atos motores e sensoriais que incubem ao organismo a ação necessária a execução dos hábitos através de uma ação deliberada.

Na função ego, o “self” é sentido e vivenciado de forma consciente e racional criando condições favoráveis ao ajustamento porquanto estabelece contato com as suas fronteiras. O ego tenta a todo o momento estabelecer as vias de racionalização em função das demandas no campo e por meio deste, tenta ajustar-se criativamente utilizando-se de comportamentos ou ações adequadas para atender a si próprio. Diante desta tentativa o ego não consegue abstrair aquilo que é próprio de si e de outrem para abrir ou fechar suas fronteiras. A partir dessa perspectiva, o ego pode identificar ou recusar o que vem do exterior procurando restaurar o seu equilíbrio interno (TENÓRIO, 2012).

Por fim, a função de personalidade se configura em um sistema de atitudes e comportamentos que compõe a nossa identidade histórica por meio da cultura e reproduz através dos nossos atos intencionais constituídas por um conjunto de atitudes interpessoais que que estabelecemos nos nossos contatos (MÜLLER- GRANZOTTO E MÜLLER- GRANZOTTO, 2004). A personalidade apresenta-se como um conjunto de atitudes que o organismo adota diante das relações intersubjetivas através do qual conseguimos explicar os nossos comportamentos. Essa afirmação incube a função de personalidade a condição estrutural por meio da qual as nossas atitudes são imputadas ao sujeito no movimento de interação permitindo-o a possibilidade de responsabilizar-se por suas ações e orientar-se numa situação concreta ajustando-se a um todo criativo (PERLS et al., 1997).

 

5 - CLÍNICAS GESTÁLTICAS

À medida que a Gestalt-terapia foi se construindo ao longo da sua história, outros estudiosos dedicaram-se ao estudo mais aprofundado da teoria e posteriormente a Gestalt-terapia foi novamente reescrita através de novas perspectivas. A teoria do “self” proposta por Perls, Hefferline e Goodman (1997) precisaria ser reavaliada e trazida ao contexto histórico atual. No início dos anos 2000 a Gestalt-terapia tinha passado por profundas transformações na sua gênese tornando-se uma teoria capaz de promover uma releitura mais aprofundada do “self” a partir das concepções formuladas por outros teóricos como por exemplo, Merleau-Ponty. (BELMINO, 2015).

O autor discorre que as novas concepções da teoria encontraram uma nova proposta através dos esforços de Rosane Granzotto e Marcos Muller na construção do pensamento gestáltico inicialmente introduzido por Franz Brentano, Edmund Husserl servindo de base para o pensamento de Fritz Perls e Paul Goodman. É indispensável compreender que a priori a Gestalt-terapia:

"[...] apresenta um salto categórico na compreensão do significante Gestalt que dá nome à abordagem: mais do que uma referência direta aos psicólogos da Gestalt, a noção de Gestalt que atravessa a abordagem tem a ver com o fundamento fenomenológico husserliano apreendida por Paul Goodman e com a crítica desse filósofo ao movimento gestaltista" (Ibid., 2015, p. 45).

Entre outras palavras, as grandes influências que direcionaram a Gestalt-terapia ao contexto atual configuram-se na tentativa de se estabelecer uma correlação entre as principais bases teóricas conforme descritas pelo autor. Dessa forma é importante compreender que a Gestalt-terapia não tem o intuito de se prender a uma teoria epicurista (MULLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012a).

Diante do que foi mencionado, sabe-se que na Gestalt-terapia “buscar a coerência epistemológica de uma proposta psicoterapêutica não tem a ver simplesmente com um modelo de orientação filosófica, mas sim buscar esclarecer as bases que produzem uma teoria e uma prática” (BELMINO, 2015, p. 40). Portanto, não se trata apenas de uma teoria filosófica, mas sim de uma forma de orientar a atividade prática no cotidiano da clínica no intuito de identificar os tipos de ajustamentos que os consulentes apresentam e orientar a prática no sentido de acolher as suas demandas.

Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2007) apontam no discurso da gênese filosófica da Gestalt- terapia a conotação no campo da psicoterapia introduzindo o discurso de que:

"[...] a GT é uma forma de intervenção social cujo propósito é permitir a manifestação daquilo que se faz derivar, precisamente, a espontaneidade criadora de nossa história. Gestalt é o nome dessa espontaneidade; razão pela qual a GT se entende como uma “clínica gestáltica” (p. 23).

O que se sugere com a introdução da noção de clínica gestáltica é promover um espaço para manifestação dos ajustamentos no campo de uma forma espontânea, para que o próprio consulente seja capaz de revelar através do inédito, aquilo que na presença de outrem seria dificilmente concretizado. Para os autores, na presença desse outrem tendemos a reter nossos excitamentos para responder a ambiguidade do laço social que estabelecemos em algum momento. O outro nos causa um efeito paralisador e impede o organismo de gerar mudança. (Ibid., 2007).

Dentro desta perspectiva, as clínicas gestálticas proporcionam o resgate da pluralidade dos ajustamentos criativos com base no que se apresenta enquanto vulnerabilidade nas situações de contato. A vulnerabilidade do sistema “self” pode apresentar-se enquanto vulnerabilidade na função id das quais produzem os ajustamentos psicóticos, vulnerabilidade da função ego ou ato, que por sua vez produz ajustamentos neuróticos e as vulnerabilidades da função de personalidade relacionada às dimensões antropológicas do sujeito. Desse modo, é possível visualizar as diferentes formas de intervenção clínica empenhadas em fazer um resgate as possibilidades do sujeito e promover os ajustamentos criativos nos diferentes contextos em que são submetidos. Essas estratégias criativas oferecem a possibilidade de posicionar-se diante das demandas, produzindo respostas em circunstâncias complexas. (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012a).

A finalidade de propor uma clínica fundamentada na expressão das experiências por meio da manifestação espontânea dos ajustamentos no campo, ocupa-se na tentativa de perceber quais são as diferentes estratégias criativas dos consulentes para lidar com as demandas que surgem nas condições de contato. Desse modo, o clínico vivencia situações em que a ambiguidade da experiência revela conteúdos diversificados, encarregando – lhe a responsabilidade de atentar-se a forma peculiar dos ajustamentos dos consulentes e nomear esses ajustamentos para ampliar a compreensão da pluralidade da clínica gestáltica através de um viés ético, político e antropológico (BELMINO, 2015).

As clínicas gestálticas podem ser entendidas como a possibilidade de compreender os desvios e vulnerabilidades da experiência humana propriamente dita. Para o autor, as três dimensões das clínicas são distintas e agregam situações em que os consulentes apresentam suas vulnerabilidades como estratégia de ajustamento para lidar com as ambiguidades do campo. Diante do exposto, o autor afirma que:

"[...] podemos entender as três dimensões das clínicas: 1) as clínicas éticas, que se constituem pela vulnerabilidade na função Id do campo, o qual, por sua vez, produz experiências psicóticas (ou ajustamentos de busca); 2) as clínicas políticas, que se constituem a vulnerabilidade da função ato. Nesse sentido há três possíveis construções de campo: os ajustamentos neuróticos (ou evitativos), [...] os ajustamentos antissociais; [...] e os ajustamentos banais, [...] 3) Por último, podemos pensar a vulnerabilidade da função de personalidade [...]" (BELMINO, 2015, p.53-54).

Neste aspecto, é possível conceber as três dimensões da clínica articulando os diversos saberes da Gestalt-terapia e apropriando-se dos conceitos introduzidos por Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2012a), ao promover por meio da teoria, os principais componentes e características das clínicas gestálticas, os quais os autores concebem enquanto a clínica do acolhimento ao desviante.

A clínica de acolhimento ao desviante é uma possibilidade de receber e acolher os consulentes que apresentam comportamentos disfuncionais ou desvios de normalidade. Esses desvios são entendidos por Perls, Hefferline e Goodman; como a forma peculiar de ajustar-se criativamente em determinadas situações, que evidenciam aspectos particulares da experiência e que podem ser mapeadas para descrever como esses desvios se mostram conforme o sujeito atribui significado a sua experiência (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2007).  Diante do exposto, adentrar o campo das produções psicóticas, é uma possibilidade de compreender os motivos pelos quais, os sujeitos ajustam-se criativamente às situações impositivas advindas das relações de contato e por meio das quais, são obrigados a responder frente as ambiguidades do laço social.

 

6 - PSICOSE NA GESTALT-TERAPIA

A psicose no discurso da Gestalt-terapia compreende as formas criativas dos sujeitos em articular-se diante da presença de outrem em uma relação de vulnerabilidade (BOCCARDI, 2015).  Nesse sentido, incorre supor que, diante da presença do outro, os sujeitos das formações psicóticas ajustam-se à realidade como estratégia para lidar com as demandas por ausência ou excesso de excitamento.

A precariedade em articular-se perante as demandas por laço social incide na forma com a qual os sujeitos dessas formações, fixam-se na realidade disponível, procurando constantemente suprir a ausência ou excesso da função Id que, por sua vez, imputa possibilidades radicais de enfrentamento diante dos apelos por excitamento (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012b). Para os autores, os sujeitos das formações psicóticas ajustam-se às condições impostas pelo meio social na tentativa de suprir os excitamentos produzidos em função das demandas de outrem. Nessas condições, é apropriado alegar que “as formações psicóticas parecem querer substituir esse outrem transcendental que em seus cotidianos simbólico-imaginários os sujeitos psicóticos têm dificuldade de viver” (p. 123).

Trata-se, portanto, da dificuldade em se articular diante da presença de outrem à partir de uma relação de contato. As respostas aos desequilíbrios frente a presença de outrem produz atitudes enrijecidas e fixas em fragmentos da realidade. Nesse sentido, o psicótico ajusta-se criativamente ao campo de modo a apropriar-se em partes da realidade conforme se apresenta, tentado organizar o todo num contexto biográfico em que os discursos promovam uma correlação espontânea que justifique sua suplência por excitamentos (BOCCARDI, 2015).

Para Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2012b), os sujeitos das formações psicóticas não conseguem articular-se diante dos pedidos por laço social, pulsões, desejos ou diante de situações ambíguas em que nossos valores e crenças pessoais interfiram na forma desses sujeitos responderem aos discursos e atitudes ambíguas. Os sujeitos protagonistas dessas formulações acabam por se prender a dados da realidade que foram vivenciadas e que de alguma forma implicam na maneira desarticulada e fixa de se impor diante dos pedidos por afeto ou inteligência social.

Outro aspecto importante para compreensão da psicose na Gestalt-terapia, se constitui na percepção dos discursos derivados dos sujeitos das formações psicóticas. Neste contexto Muller (2015), assevera que os discursos oriundos da relação de campo denotam a incapacidade dos sujeitos em lidar com as demandas de conteúdo simbólico advindas do outro. O que significa dizer que, na relação constituída com outrem, a vulnerabilidade emerge como uma tentativa de se estabelecer contato social e “[...] portanto, uma dificuldade de viver a função id (exigida pelos interlocutores na atualidade da situação de contato)” (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012b, p. 126).

Na psicose a função id encontra-se ausente ou em excesso, o que faz com que os sujeitos das formações psicóticas se ajustem às demandas advindas de outrem e que, de acordo com Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2012b), compreende a forma desarticulada em lidar com a presença de outrem no meio social. Desse modo, função id atua como se houvessem impedimentos por parte dos sujeitos dessas formações em corresponder a suplência do laço social.

De acordo com Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2008), na experiência psicótica, a função id encontra-se ausente em períodos de enfrentamento às demandas sociais, não encontrando neste meio, os mecanismos de enfrentamento às circunstâncias que ofereçam risco, configurando-se na tentativa desordenada de realização dos próprios excitamentos em situações de contato. Utilizando-se das palavras dos autores:

"Tudo se passa como se, no enfrentamento das demandas do cotidiano, às quais incluem tanto as necessidades biológicas quanto os pedidos formulados no laço social, o “psicótico” se visse desprovido daquela camada de excitamentos (também denominada de função id), a partir da qual ele poderia operar com seu próprio corpo ou responder aos apelos sociais. O que nos sinaliza para o entendimento de que, para Perls: a psicose poderia ser um ajustamento em que, mais do que realizar os excitamentos (junto às possibilidades abertas pelos dados na fronteira de contato), procura preencher ou organizar o próprio fundo de excitamentos (função id) que, no dizer de Perls, apresenta-se como uma “camada de morte”(MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2008, p. 5).

As formações psicóticas, são na realidade, ajustamentos criativos que se apresentam como uma procura pela suplência à função id e pela perda da vitalidade em virtude do comprometimento desta função. O psicótico entra em um processo de estagnação do próprio organismo e desarticulação das próprias ideias, o que acaba por dificultar na satisfação dos seus próprios excitamentos. Ademais, sobre a psicose, pode-se dizer que se trata “de comportamentos cuja característica é a fixação da realidade” (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012b, p. 27).

De acordo com Boccardi (2015), a fixação na psicose configura-se em tentativas criativas para responder às demandas sociais. Para o autor, o psicótico é capaz de compreender os conteúdos dos apelos que a ele são dirigidos, como também podem aprender normas, crenças ou valores desde que estes não estejam emaranhados na ambiguidade das relações por afeto. Quando os sujeitos das formações psicóticas se deparam diante de situações de vulnerabilidade ou circunstâncias em que os pedidos por afeto pareçam confusos, surgem os delírios e alucinações como forma de ajustamento criativo diante de tais pedidos. Para reforçar a ideia, Müller-Granzotto e Müller- Granzotto (2012b), asseveram:

"É como se as alucinações, os delírios e as identificações fossem uma maneira de produzir uma ambiguidade na própria realidade, com a finalidade de habitá-la à responder as demandas cuja ambiguidade os sujeitos das formações psicóticas parecem não entender. Mas, porquanto a ambiguidade diz respeito à relação entre a realidade e o que está fora dela, a fixação psicótica na realidade fracassa em seu intento de satisfazer as demandas empíricas (da ordem da realidade) por algo virtual (ou fora da realidade)". (p. 41).

Do ponto de vista dos autores, as alucinações e delírios correspondem às formas de ajustamentos criativos diante das demandas em que, nas relações onde haja ambiguidade, os sujeitos das formações psicóticas se ajustam no intuito de habitar a realidade virtual pela dificuldade de enfrentar os pedidos por laço social.  Sendo assim, os sintomas que emergem na forma de delírios e alucinações são configurações de ajustamentos que o indivíduo encontra para lidar com aquilo que para ele é insuportável e que de acordo com Müller- Granzotto e Müller- Granzotto (2008), consiste na forma rígida em não poder se articular diante daquilo que se quer, que se deseja. Trata-se, portanto, da ausência dos próprios excitamentos como consequência de toda essa desorganização, que é a principal característica dos ajustamentos psicóticos.

De acordo Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2012b), em situações atípicas de funcionamento da função id tanto pela rigidez nos contatos, quanto pela forma desordenada em responder ao apelo das demandas sociais, pode ocorrer uma discrepância na maneira com a qual esta função se mostra, de modo que, a sua ausência, falha ou excesso se apresenta de forma inoperante, não sendo reconhecida pela função de ato (ego).

Ademais, com o comprometimento da função id nos ajustamentos psicóticos, a função de ato (ego) age na intenção de encontrar possibilidades para concretizar os excitamentos que a função id não conseguiu realizar. Noutras palavras, “[...] ele procura no dado (seja este o corpo próprio, o corpo de outrem, uma palavra ou uma coisa mundana) o excitamento que a função id ela própria não forneceu, ou forneceu a maior, como um elemento desarticulado” (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2008, p. 12). Nas condições apresentadas, a função de ato busca suplantar a ausência de um excitamento que não pôde ser satisfeito espontaneamente, na tentativa de suprir uma carência por parte do organismo em circunstâncias emergenciais.

Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2012b), identificaram a ação da função de ato nos ajustamentos psicóticos e descreveram sua atuação à partir de três formas distintas de ajustamentos, sendo eles: “[...] ajustamentos de isolamento (autismos), os ajustamentos de preenchimento do fundo e os ajustamentos de articulação de horizonte” (p.146). Nesse sentido, esses ajustamentos se apresentam quando a função id não se manifesta de forma suficiente nos ajustamentos de busca obrigando a função de ato a atuar na presença desses excitamentos. Nos ajustamentos de isolamento (autismos) as dificuldades de manter relações sociais configura-se como a principal característica desse ajustamento. Os protagonistas desse tipo de ajustamento criativo, apresentam comportamentos de defesa frente as tentativas de se estabelecer relações sociais, interferindo na maneira de se posicionar frente aos apelos de outrem. (Ibid. 2012b).

Nos ajustamentos de isolamento há a tentativa de barrar demandas afetivas que ensejam as respostas arbitrárias em função dos desejos e pedidos de outrem, razão esta que, nos ajustamentos autistas, existe a presença de comportamentos antissociais formulados quando estes indivíduos sentem-se demandados. No entendimento de Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2008), os ajustamentos de isolamento apresentam:

"[...] um traço comportamental comum, precisamente, a criatividade aleatória - refratária aos apelos sociais, especialmente àqueles formulados de maneira primitiva, na forma de uma comunicação intercorporal não lingüística, como a que estabelecemos por meio do olhar, das expressões faciais e de nossa gestualidade pragmática” (p. 13).

Em outras palavras, os autistas apresentam comportamentos aleatórios desprovidos de afeto, sendo incapazes de responder através de sentimentos determinados pedidos, como se “[...] nesses casos, os sentimentos lembram reações mecânicas, sem espontaneidade, verdadeiros ecos destinados a aplacar o afã do interlocutor” (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012b, p.155). Para os autores, as respostas desprovidas de afeto nos ajustamentos de isolamento, correspondem a falta de entendimento por parte destes sujeitos em corresponder às expectativas alheias ou não encontram respostas que explicitem uma certa clareza.

Já nos ajustamentos de preenchimento de fundo, a função de ato atua no intuito de preencher a ausência dos excitamentos que não se apresentaram nas relações de contato. Nesse tipo de ajustamento, os sujeitos são impedidos de responder as demandas incessantes de seus semelhantes e a forma que encontram para se desviar dessas tentativas ocorre por meio de atos corporais ou verbais não compreendidos, motivo este, que induz o indivíduo a alucinar. (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2008). Conforme afirmam os autores, “Tudo se passa como se a função de ego na qual estou polarizado não fizesse parte da comunidade lingüística do demandante, não participasse do mesmo mundo, do mesmo sistema ‘self’” (Ibid., 2008, p.15). Trata-se da dificuldade em se articular frente aos conteúdos verbais, a linguagem e os simbolismos presentes nas experiências intersubjetivas, que impactam na percepção do sujeito quando não consegue compreender os pedidos sociais.

Desse modo, não há êxito em corresponder aos apelos do seu semelhantes e consequentemente assimilar quais excitamentos estariam sendo produzidos. Em função dessa dificuldade, as tentativas de responder à essas demandas parecem não corresponder a relação de contato existente na fronteira de contato e os interlocutores dessas produções não encontram outra forma, se não alucinarem diante das demandas por excitamento. Por fim, nos ajustamentos de articulação de fundo, os sujeitos não conseguem apropriar-se da realidade para dar continuidade aos ajustamentos produzidos pela função de ato. É como se, diante das demandas incessantes, a função de ato tentasse produzir ajustamentos como forma de se articular perante as ambiguidades do laço social. No entanto, esses ajustamentos são limitados, uma vez que não apresentam uma sequência de hábitos motores, verbais, ou mesmo um direcionamento ao desejo. (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012b). Para os autores, nos ajustamentos de articulação de fundo, os conteúdos semânticos tornam-se mais importantes do que o ato de falar, tornando a comunicação fragmentada a dados da realidade, cabendo ao sujeito a fixação nesses conteúdos. Para reforçar o suposto, Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2008), afirmam que:

"As vivências de contato anteriormente estabelecidas são assimiladas, sejam elas intercorporais ou culturais. Acontece, entretanto, que a falha agora repousa no processo de repetição desse fundo junto aos novos dados na fronteira de contato. Ou, mais precisamente, os dados retidos não comparecem, junto ao dado, como um fundo de excitamento articulado, integrado entre si, como um só sentimento ou orientação intencional. É como se os muitos co-dados retidos se apresentassem como fundos diferentes, havendo não apenas um fundo, mas muitos" (p.18).

Nas palavras dos autores, os diversos estímulos decorrentes das relações intercorporais e culturais do sujeito não logram a possibilidade desse dados serem vivenciados de forma espontânea. E dessa forma, a função de ato não reconhece o fundo no qual deve operar e, portanto, não consegue formar a figura necessária para que os excitamentos sejam articulados. Essa desarticulação pode vir na forma de delírios ou na forma de identificação com a realidade de uma forma rígida, visto que a incapacidade de se articular num fundo de excitamentos é falha. Os sujeitos dessas produções não conseguem gerir os diversos ajustamentos em virtude das exigências de outrem, e em função disso, não conseguem responder a ordem dos desejos. Para reforçar a ideia, Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2012b), discorrem que:

"[...] os ajustamentos de articulação compreenderiam uma ampla gama de ajustamentos de busca, de busca de suplência às respostas demandadas pelos interlocutores no laço social, especificamente às respostas que se referissem aos desejos. O que é o mesmo que dizer que os delírios e as identificações seriam criações cujo propósito tem relação com a suplência aos desejos na forma das quais o meio social esperaria que eu operasse com os excitamentos" (p. 193).

Conforme citado, o excesso de excitamentos gera uma tentativa por parte da função de ato em suprir os apelos advindos de outrem, principalmente quando emaranhadas de desejo. O desejo desperta nos interlocutores dos ajustamentos de articulação, o impulso para se ajustar na forma de delírios ou identificações para corresponder aos pedidos formulados no laço social.

 

7 - EXCLUSÃO SOCIAL E SOFRIMENTO ÉTICO

É evidente que, os sujeitos das formações psicóticas são constantemente exigidos por intercâmbio das relações de contato com o meio social. As demandas por afeto ou desejo enclausuram a experiência psicótica e por este motivo, os demandados são constantemente excluídos dos ambientes sociais, tanto pelo estranhamento em lidar com os ajustamentos de busca, ou mesmo diante da incompreensão das respostas bizarras frente aos apelos por excitamento. As respostas produzidas pelos sujeitos das formações psicóticas são geralmente estratégias criadoras e precárias aos apelos sociais e em função disso, acabam por enfrentar situações de grande sofrimento em consequência da exclusão e rechaço social a que são constantemente submetidos e privados de responder seus próprios excitamentos. Dessa forma, os pedidos são geralmente acompanhados de uma ambiguidade que o remete a situações em que ele possivelmente perderá o controle (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012a).

Ainda que os pedidos sejam afogados nos desejos ou normas impostam pelo semelhantes, acabam por gerar quadros de sofrimento aos sujeitos das produções psicóticas. Nesse sentido, para Boccardi (2015) “[...] o sofrimento que vivem os sujeitos das formações psicóticas reside muito menos em seus delírios e alucinações do que no fato de que é difícil para os que estão ao seu lado participar dessas produções” (p. 97).  Portanto, o que leva o psicótico ao sofrimento é o próprio semelhante e a dificuldade em se compreender as formas de funcionamento desses sujeitos na sociedade ou por vezes, “[...] não entendem, menos ainda que aceitam os ajustamentos de busca, razão pela qual adotam uma atitude de rechaço ou exclusão social dos protagonistas das formações psicóticas” (MÜLLER, 2015, p. 125).

O rechacimento social tende a gerar quadros de sofrimento pelo estranhamento das produções advindas dos ajustamentos de busca. Dessa forma, o psicótico é desprovido do laço social e a exclusão por parte do seu semelhante reforça o desencadeamento dessas respostas. Para avigorar o suposto, Müller- Granzotto e Müller- Granzotto (2012b), alegam que:

"Por conta da esquisitice do uso que fazem da realidade, descartamos os sujeitos da psicose, como se suas produções não pudessem circular entre nós. E eis então que privados dos meios para interagir com nossas demandas, as quais não cessam nunca, esses sujeitos entram em sofrimento" (p.43).

Assim, a não aceitação dos apelos advindos do sujeito diante da ambiguidade de suas produções, desencadeia uma resposta bizarra, muitas vezes não compreendida ou aceita no contexto social. Em virtude desse estranhamento, os sujeitos das formações psicóticas são constantemente estigmatizados, e excluídos dos expedientes sociais e por este motivo, acabam por padecer em quadros de sofrimento.

É nesse contexto impositivo que os sujeitos psicóticos são impulsionados a reagir as demandas ambíguas que não param de cessar. Esse processo desencadeia o surto, como um produto da falência dos ajustamentos diante das situações em que o excesso de demanda provocaria um estado aflitivo pela dificuldade de encontrar no dado social, um meio de produzir ajustamentos de busca, fazendo com que o psicótico eleja comportamentos radicais em situações ostensivas. (Ibid., 2012b). 

Para Müller- Granzotto e Müller- Granzotto (2012a), o surto é uma resposta radical estabelecida pelos sujeitos da formações psicóticas quando estes, são desprovidos dos meios de satisfação de seus próprios excitamentos e pela precariedade nas formas de manter contato com os demandantes, por afeto ou apelo social, ou por vezes, através do sofrimento que ocorre em situações de exclusão social. Nesse sentido, o surto é uma resposta exagerada em face aos pedidos por inclusão social, que de acordo com os autores:


"[...] funcionam ou como um pedido extremo de inclusão na dimensão antropológica (da qual fora excluído), ou como um apelo desesperado para que as demandas afetivo/desejantes cessem (porquanto está muito fragilizado para enfrenta-las). A essa exageração dos ajustamentos de busca, denominamos de surto psicótico" (p. 163).

O surto corresponde as tentativas de manter contato com os demandantes por meio de respostas excessivas que emergem como um pedido de socorro no intento de ser incluso no meio social. É preciso ressaltar que existe uma diferença entre surto psicótico e ajustamento de busca. Conforme explanado anteriormente pelos autores, o surto corresponde a falência dos ajustamentos no campo, sendo assim uma maneira radical e falha em responder as demandas ambíguas. Nesse desse contexto, os ajustamentos de busca, atuam como estratégias criativas para lidar com as múltiplos pedidos empíricos advindos da relação com outrem. Quando o sujeito é privado de interagir com o meio social é que acontece o surto resultando em sofrimento, o equivale dizer que “O surto, a sua vez, seria uma criação malograda.” (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2007, p. 245).

Para Boccardi (2015), o surto é uma condição geradora de sofrimento e por consequência disso, deve ser evitado ou acolhido no momento em que o sujeito se encontra diante de condições de vulnerabilidade. Desse modo, a prática clínica necessita ser orientada para uma intervenção apoiada no acolhimento ao sofrimento frente as possibilidades de ação no momento das crises. Por essa razão, diante do acolhimento a essas demandas, é possível identificar os ajustamentos antropológicos de inclusão (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012a).

Em situações de sofrimento ético, político ou antropológico, a função de ato busca por meio do pedido de socorro, participar do meio social como uma possibilidade de ser aceito e acolhido, fazendo do meio um ato auxiliar. Esse processo faz com que o outro social deixe de exercer a condição de demandante e passe a ser um semelhante que irá responder aos pedidos de inclusão através de uma forma de identificação a quem os autores denominam de solidariedade. (MÜLLER-GRANZOTTO E MÜLLER-GRANZOTTO, 2012b). O semelhante não tende a ser responsabilizado pelo nosso sofrimento, mas a ele é delegado a função de oferecer o suporte adequado para que possamos encontrar alternativas para lidar com as situações de inclusão. Nos termos dos autores:

"Em vez de manipulação, indiferença, destruição ou uso, há, sim autorização do semelhante. Supomos que ele (o semelhante) saiba como nos ajudar com isso que para nós é impossível naquele momento: a inclusão em determinado contexto antropológico, político ou ético que pode ser desde um horário para consulta a uma vaga de internação em um hospital" (p. 355).

Os ajustamentos de inclusão são na realidade, um pedido no intuito de ser aceito e ter o suporte adequado para promover as condições necessárias para o surgimento dos ajustamentos criativos. “Trata-se de um ajustamento cuja meta é encontrar 'suporte' para que se possa voltar a criar, para que os outros ajustamentos criadores voltem a acontecer, sejam eles banais, de busca, de evitação ou antissociais” (p. 355).

Partindo da perspectiva da clínica gestáltica de inclusão, Boccardi (2015), afirma que o primeiro passo para intervir nesses casos consiste em promover o acolhimento ao sujeito que esteja enfrentando uma situação de vulnerabilidade, oferecendo um espaço para que o consulente seja capaz de expressar as suas vontades, interagir com o meio, defender-se e dirigir pedidos de ajuda quando necessário. Nas palavras do autor os clínicos são “[...] 'cuidadores' da vida antropológica dos sujeitos do que como 'terapeutas', intérpretes da dimensão simbólica que possa estar copresente ou vulnerável nas muitas construções discursivas dos sujeitos” (p. 126). A partir dessa afirmação, é possível verificar a importância do clínico nos ajustamentos de inclusão e as implicações deste terceiro frente ao apoio a essas demandas. A essa dialética, se insere a prática clínica de acolhimento aos ajustamentos de inclusão nos ajustamentos de busca. Para além dessas propostas, o intento da clínica necessita ser direcionado ao restabelecimento dos discursos, sejam eles delirantes ou alucinatórios no âmbito das relações sociais.

É preciso compreender que, as reações fracassadas dos sujeitos das formações psicóticas em responder as demandas por afeto ou laço social encontram uma nova perspectiva voltada ao reconhecimento dessas produções e os ensaios para tentar manter o vínculo com os expedientes sociais. Conforme assevera o autor em deferência a essas produções, “Se é nas relações interpessoais que as crises se iniciam, também é possível manejá-las através da vivência intersubjetiva” (Ibid., p. 102).

Diante desse contexto, Müller-Granzotto e Müller- Granzotto (2012b), trazem a ideia de que a intervenção clínica consiste em encontrar possibilidades de inclusão do ajustamento falido, procurando alternativas para afastar as expectativas sociais em torno das respostas emitidas pelo consulente. O que incorre dizer que, a intervenção é necessariamente a oferta de um espaço para que o ajustamento falido possa exercer sua natureza a partir inclusão da função de ato, cabendo ao psicólogo acompanhar cotidianamente as produções advindas dos ajustamentos de busca sem atribuir-lhe uma valor social que exceda as possibilidades de inclusão.

A intervenção nesta ocasião, não se remete a uma prática curativa dos sujeitos acometidos em quadros de sofrimento, seu intento abrange uma proposta metodológica dedicada ao acolhimento dos pedidos de socorro, mantendo a atenção “[...] rumo àquilo que se manifesta como sofrimento de exclusão (sofrimento antropológico e ético-político) e pedido de socorro (ajustamento de inclusão).” (Ibid., p. 357) promovendo a autonomia dos sujeitos em situações de exclusão social e garantir as condições necessárias para que os ajustamentos criativos possam reaparecer independente do contexto, seja na clínica ou em qualquer outro espaço social.

 

8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o sofrimento ético oriundo das situações de rechaço e exclusão social vivenciadas pelos sujeitos das formações psicóticas, podemos perceber que existe um certa recusa por parte dos expedientes sociais em aceitar a psicose como uma forma de funcionamento em que os sujeitos encontram possibilidades de ajustar-se criativamente às situações impositivas advindas dos nossos desejos e expectativas.

As situações de contato, na maior parte das vezes exigem muito desses sujeitos e o excesso de demanda produz o surto, que corresponde as respostas radicais e precárias nas situações em que as demandas ostensivas não cessam, gerando uma série de consequências que vão muito além das produções delirantes e alucinatórias. É evidente que, essas produções não são sintomas de uma patologia e não causam sofrimento aos protagonistas dos ajustamentos de busca, são na realidade formas criativas para lidar com as situações adversas. O que de fato promove angústia e sofrimento aos protagonistas das formações psicóticas, são o rechaço e exclusão social advindas das relações de contato com outrem e a recusa em entender a psicose pelos expedientes sociais.

Esse estudo possibilitou compreender o sofrimento ético à partir das situações conflituosas e angustiantes vivenciadas pelos sujeitos das produções psicóticas quando privados de satisfazer suas próprias intenções e a dificuldade em entender que, a psicose pode claramente, transitar no meio social.  Nesse contexto nos cabe refletir sobre a função do clínico diante das práticas de promoção de cuidados a esses indivíduos em situações de vulnerabilidade, e consequentemente repensar as intervenções psicológicas no âmbito dessas produções.

Discutir a psicose fundamentada na teoria do “self”, permite ainda reconhecer as possibilidades dos ajustamentos criadores acontecerem dentro de um campo temporal, por meio do qual os excitamentos são retidos na atualidade (função id), as ações corpóreas, da motricidade, deliberados como atos para manutenção do equilíbrio na fronteira de contato (ego) no enfrentamento das concepções sociais, culturas, valores e crenças formulados por meio da internalização desses juízos através da cultura, (personalidade).

Para o psicótico, as respostas desarticuladas, radicais advindas do surto nada mais é, do que um apelo para ser incluso. Conforme apresentado, pode-se concluir o trabalho trazendo a importância da clínica gestáltica dos ajustamentos de inclusão no sofrimento ético padecido pelos sujeitos das formações psicóticas, não se tratando de uma prática curativa ou normativa, mas sim uma clínica ampliada no intento de oferecer o ambiente adequado para que o consulente possa expressar-se espontaneamente, promovendo um espaço de gratuidade e acolhida, construindo práticas de inclusão para que os ajustamentos criativos possam apresentar-se novamente e o sujeito seja capaz de encontrar  autonomia necessária para exercer sua cidadania.

 

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NOTAS

*André Luiz da Silva Leite: Psicólogo graduado pelo Centro Universitário Dr. Leão Sampaio.

 

Endereço para correspondência
André Luiz da Silva Leite
Endereço eletrônico:andre19al@gmail.com

 

Recebido em: 16/11/2016
Aprovado em: 21/11/2017

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