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Estudos e Pesquisas em Psicologia

versão On-line ISSN 1808-4281

Estud. pesqui. psicol. v.2004 n.1 Rio de Janeiro jun. 2004

 

ARTIGOS

 

Maquiavelismo: um construto psicológico

 

Maquiavelism: a psychological construct

 

 

Ana Valéria Marques Fortes LustosaI,*; Antonio RoazziI,**; Cleonice CaminoII,***

I Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília
II Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

As idéias de Nicolau Maquiavel, discutidas em O Príncipe (1513), influenciaram decisivamente na iniciativa de Christie e Geis (1970) de desenvolverem um instrumento capaz de avaliar a personalidade maquiavélica. Este estudo investiga o Maquiavelismo, conforme definido por estes autores e outros, como Braginsky (1970) e Touhey (1977). Participaram deste estudo 10 meninos de rua, sem referência familiar formal; 20 meninos trabalhadores, que utilizam a rua como fonte principal ou secundária de geração de renda; 20 alunos de escola pública e 20 alunos de escola particular com idades entre 11 e 17 anos. O método consistiu na aplicação da escala Kiddie Mach, desenvolvida por Nachamie (1970). Os resultados indicaram que os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores constituem grupo menos maquiavélico do que o grupo da escola particular, no que se refere à visão de mundo. Por outro lado, o grupo de meninos de rua demonstrou ser mais maquiavélico do que o grupo da escola particular no que se refere às táticas para atuar no mundo

Palavras-chave: Maquiavelismo, Meninos de rua.


ABSTRACT

Nicolau Machiavel's ideas, discussed in “Il Principe” (1513), influenced decisively in the initiative by Christie and Geis (1970) to develop an instrument able to evaluate the Machiavellian personality. This study investigates Machiavellianism, as defined for these authors and others, like Braginsky (1970) and Touhey (1977). The participants of this study were 10 street boys, without formal family reference; 20 working boys, that use the street as main or secondary source of income; 20 state school students and 20 private school students with ages between 11 and 17 years. The method consisted in the application of the Kiddie Mach scale, developed by Nachamie (1970). The results indicated that the street boys' groups and working boys present less Machiavellian personality than the group of the private school.

Keywords: Street boys, Machiavellianism, Kiddie mach scale.


 

 

O famoso historiador e pensador político do século XVI, Nicolau Maquiavel (1469-1527) modificou o pensamento político considerado até então como meramente especulativo, religioso e ético, ao se opor à tradição do pensamento grego que priorizava a justiça e o bem-comum, separando efetivamente a política da religião e da ética (REALE & ANTISERI, 1990). Para esses autores, Maquiavel descreveu a natureza do homem de forma pessimista, pois, para ele “em si mesmo o homem não é bom nem mau, mas, de fato, tende a ser mau” (p.129). Essa visão de humanidade decorria, em parte, de uma herança intelectual da Idade Média, como também da influência da situação da Itália e de sua própria época.

Em O Príncipe (1513), Maquiavel aconselha o soberano sobre a arte de governar, especificando que, para tanto, deve usar todo e qualquer expediente. É o surgimento do tão conhecido “os fins justificam os meios”. Moreira (1980, p. 35) situa as lições contidas em O Príncipe em um contexto ético:

Seus conselhos aos príncipes e republicanos se situam no nível do que Weber chamaria de ética da responsabilidade e não no da ética da consciência. Isto é, da ética que analisa as ações não em função da hierarquia interna de valores, mas sim em vista das conseqüências, dos resultados previsíveis da ação, que procura condicionar, comandar e efetivar. É uma ética essencialmente política, da ação eficaz, que o coloca entre os fundadores da ciência política da categoria específica desta.

Embora o próprio Maquiavel nada tivesse em seu comportamento que sugerisse amoralidade, corrupção, ou comportamentos outros desprovidos de honra e decência, suas idéias chegaram aos nossos dias como fonte de intensa polêmica, pois alguns consideram-nas, como ao seu autor, exemplo de imoralidade e oportunismo, entre outras coisas; ao passo que outros consideram que Maquiavel era um patriota, defensor da liberdade e que sua obra, na verdade, destinava-se a ensinar ao povo e não ao soberano. Não obstante essa ambigüidade, o termo maquiavelismo em linguagem comum é visto como pejorativo e pressupõe um indivíduo destituído de moral e manipulador.

Com o intuito de investigar a personalidade maquiavélica, Christie e Geis (1970) apresentaram em seu livro Estudos sobre Maquiavelismo a análise de 38 estudos realizados no período de 1959 a 1969, considerando o comportamento e a forma de pensar de indivíduos por eles denominados muito ou pouco maquiavélicos. Esses autores criaram alguns instrumentos destinados a avaliar quantitativamente o maquiavelismo. Para tanto, utilizaram frases extraídas diretamente de O Príncipe, de Maquiavel, e adaptaram-nas para a linguagem contemporânea.

Desde então, o número de pesquisas referentes a esse construto tem crescido, abordando as mais diversas variáveis, sendo que pesquisas mais recentes abordam temas tais como: moralidade-consciência de culpa (DRAKE, 1995); narcisismo (MCHOSKEY, 1995); psicopatia (McHOSKEY, WORZEL & SZYARTO, 1998); esquizofrenia (SULLIVAN & ALLEN, 1999); entre outras.

Maquiavelismo tem sido definido ao longo do tempo ora como um traço ou disposição da personalidade (VLEEMING, 1979; MCHOSKEY, 1995), ora como estratégia de conduta social (WILSON, NEAR & MILLER, 1996), que envolve a manipulação de outros para obter ganhos pessoais. De um modo geral, Christie e Geis (1970) consideram que os indivíduos maquiavélicos tendem a ter uma relativa ausência de afeto nas relações interpessoais, não apresentam preocupação com a moral convencional, embora não sejam necessariamente imorais e demonstram baixo comprometimento ideológico. Além disso, eles consideram que os indivíduos altamente maquiavélicos superam aqueles menos maquiavélicos quando interagem em situações face a face, quando há espaço para a improvisação e em situações que envolvem detalhes afetivos que são considerados como irrelevantes para a vitória (ver VLEEMING, 1979). Para Gable e Dangelo (1994), maquiavélicos devem ser vistos não como antiéticos, mas como indivíduos capazes de sacrificar a ética, segundo seus interesses.

Inicialmente, interessa-nos abordar a influência da família no desenvolvimento do maquiavelismo. Nesse sentido, Nachamie (1970) desenvolveu uma medida do maquiavelismo adaptada para crianças, com pontuação de 1 a 5 para cada quesito, a partir dos instrumentos elaborados por Christie e Geis e encontrou que a orientação maquiavélica já é identificável a partir dos nove anos de idade. Os itens da escala Kiddie Mach são agrupados em três áreas específicas: táticas, moralidade e visão de mundo. Essa pesquisadora e Braginsky (1970) desenvolveram estudos voltados para a avaliação da existência de maquiavelismo em crianças, considerando também o desenvolvimento moral, cognitivo e emocional.

Braginsky (ver VLEEMING, 1979) em um primeiro estudo, verificou que crianças maquiavélicas parecem mais eficientes, mais bem-sucedidas e capazes de utilizar estratégias manipuladoras com mais freqüência do que as não-maquiavélicas. Em estudo posterior, encontrou que “o maquiavelismo da mãe está inversamente relacionado com o da criança e que o sucesso da criança em manipular outros está, por sua vez, inversamente relacionado à magnitude do maquiavelismo de seus pais, respectivamente, (F = 5.02, p< 0.025 para o pai e F= 4.28, p p<0.05 para a mãe)” (VLEEMING, 1979, p.301). Considerando esses resultados, observamos que, quanto mais maquiavélicos os pais forem, quanto mais utilizarem manipulação na sua relação com o filho, menos provável torna-se a evolução do maquiavelismo na criança.

A pesquisa realizada por Kraut e Price (1976), além de apresentar dados empíricos interessantes, também apresenta considerações teóricas adequadas e úteis para o esclarecimento dessa questão. Nesse sentido, eles avaliaram uma amostra de 53 estudantes de 6ª série, da cidade da Pensilvânia, através da escala Kiddie Mach. Com base nos resultados da escala, foram selecionados para o jogo do blefe 25 pais e 28 mães das crianças escolhidas. Este jogo foi desenvolvido por Nachamie (1970) e consiste em jogar os dados e tentar enganar o oponente sobre o resultado, sendo que, quem tem sucesso, é recompensado com uma bala. Os resultados mostraram que pais com crenças maquiavélicas tinham filhos com mais crenças desse tipo e manipulavam os outros melhor. Em relação às mães, essa correlação foi negativa.

Kraut e Price (1976) consideram que as crenças e os comportamentos maquiavélicos das crianças são aprendidos separadamente e, com o passar do tempo, tendem a ser unidos. Em alguns casos, as crianças têm seu comportamento influenciado indiretamente por um sistema de crenças aprendido dos pais, enquanto outros não adotam as crenças maquiavélicas, mas modelam seu comportamento através de técnicas manipulativas bem-sucedidas dos pais.

Além disso, estes autores acreditam que o maquiavelismo exige habilidade manipulativa que pressupõe duas características fundamentais: 1) habilidade para persuadir outros e 2) capacidade para perceber as intenções dos outros com exatidão. Os resultados mostram, todavia, que persuasão é aprendida dos pais, mas não a capacidade perceptual.

Vleeming (1979), ao comentar essa pesquisa, compara-a com aquelas realizadas por Dien (1976) e Braginsky (1970b), que descobriram que maquiavelismo se desenvolve fora do contexto familiar e que há uma relação inversa entre a atitude maquiavélica da mãe e da criança, ainda que somente quanto ao filho primogênito e ao filho único de famílias nucleares. Ele explica que esse resultado pode ser devido ao fato de Kraut e Price (1976) terem avaliado famílias nucleares e não-nucleares, simultaneamente. Além desses resultados, Dien e Braginsky encontraram que pais maquiavélicos têm crianças pouco astuciosas. Essa é também a conclusão a que chegam Dien (1974) e Dien e Fujiwa (1979).

Kraut e Price (1976) afirmam que existem duas hipóteses teóricas que tentam explicar a influência da família no desenvolvimento da orientação maquiavélica. A primeira pressupõe que a criança desenvolve essa orientação através da aprendizagem prática, na qual os papéis de manipulador e manipulado são desenvolvidos de forma complementar. Nesse sentido, para Christie e Geis (1970), pais muito maquiavélicos, ao interagirem com seus filhos, ensinam-lhes o papel de manipulado, ao passo que pais pouco maquiavélicos reforçam o comportamento maquiavélico dos filhos, por serem facilmente manipuláveis.

Essa hipótese tem recebido críticas por estar fundamentada em dados retrospectivos, obtidos através de entrevistas a sujeitos adultos sobre as crenças de seus pais. Somente Braginsky (1970) eliminou esse problema, pois investigou os pais e as crianças diretamente. Por outro lado, existem defensores dessa hipótese, como Tourney que, entretanto, foi criticado por ter equiparado modelação a identificação afetiva e pressuposto que boas relações entre pais e filhos conduzem ao modelo que uma criança tem dos pais.

Na verdade, Kraut e Price (1976) afirmam que outros pesquisadores consideram que conflitos pais-filhos e modelo parental podem ser causas coexistentes do comportamento das crianças. Além disso, no caso do maquiavelismo, é mais provável que a neutralidade afetiva dos pais atue como modelo para os filhos, justamente por atingi-los.

A segunda hipótese, modeladora ou de identificação, tem por preceito que, durante a socialização, as crianças buscam imitar os pais e, nesse processo, desenvolvem a habilidade e a ideologia que os pais usam para manipular outras pessoas, inclusive eles mesmos.

Segundo Vleeming (1979), outro estudo que considera que o maquiavelismo se desenvolve fora da família foi realizado por Touhey, que afirma ser o traço determinado pela socialização secundária, sendo a escola um dos primeiros e mais penetrante agentes da socialização.

Em um outro estudo, Touhey (1977) examinou se a relação entre maquiavelismo, previsibilidade e certeza afeta a percepção dos professores das crianças. Sua hipótese é de que professores costumam atribuir o comportamento maquiavélico de seus alunos a causas externas, ao invés de causas internas e investigou se a exatidão do julgamento dos professores era afetada por esse comportamento.

A amostra foi constituída por 75 garotas e 79 garotos da 5ª série de duas escolas. As condutas impróprias foram: lutas, brigas, falar muito, tomar objetos pessoais dos outros, trabalho desorganizado e prejudicar a propriedade escolar.

Os resultados mostram que os professores, em relação à atribuição de causalidade, responderam com menor atribuição de responsabilidade pessoal aos alunos com altos escores de condutas impróprias, o que sugere que estes têm uma maior capacidade de persuadir os outros a atribuírem seu mau comportamento a causas situacionais. Touhey (1977) afirma que tanto os professores quanto os pais de crianças maquiavélicas ignoram as preferências, atitudes e atividades das crianças.

Além disso, quanto à exatidão dos julgamentos em relação ao comportamento maquiavélico das crianças, os professores foram mais exatos em relação aos alunos com altos escores, mas não acertaram as preferências desses alunos, no que diz respeito a atividades acadêmicas e não-acadêmicas.

Concluindo a esse respeito, pessoas com altos escores em maquiavelismo aparentam ser mais previsíveis quando, na verdade, são menos previsíveis do que pessoas com baixos escores (Touhey, 1977), ou seja, elas aparentam, em virtude do próprio maquiavelismo, um comportamento dissimulado, que permite que realizem seus desejos, enquanto enganam os outros.

De uma forma geral, esses estudos não foram suficientes para pôr um ponto final na controvérsia acerca da origem do maquiavelismo, enquanto disposição da personalidade, permitindo-nos sugerir que novas pesquisas devem ser feitas com o intuito de esclarecer esse aspecto, principalmente no que se refere ao processo de socialização.

Foi com o propósito de explorar as habilidades maquiavélicas em suas diferentes facetas que desenvolvemos esse estudo, tendo como referência apenas a dimensão escola, como fator provável de aumento do maquiavelismo, conforme discutido por Touhey, Braginsky e Shu-Fang Dien (citados por VLEEMING, 1970), que afirmam que a orientação maquiavélica se desenvolve fora da família, principalmente através de outras agências socializadoras, como a escola. Nesse sentido, foram escolhidos para integrar a amostra crianças e adolescentes em situação de rua (meninos de rua e meninos trabalhadores) e grupos de crianças e adolescentes de escolas pública e particular.

Os estudos acerca dessa parcela da população infanto-juvenil têm aumentado em virtude do crescente interesse dos pesquisadores sobre como essas crianças e adolescentes em situação de rua se desenvolvem e em que condições sobrevivem. Aliado a esse fato há a necessidade de atuar de forma a atenuar e, se possível, modificar essas condições, fato que só é possível através do conhecimento real acerca dos mesmos.

 

MÉTODO

Amostra

Inicialmente, os sujeitos desta pesquisa foram 10 meninos de rua, aqueles sem referência familiar formal; 20 meninos trabalhadores, aqueles que utilizam a rua como local de geração de renda, mas que mantêm contato com a família, retornando para seus domicílios à noite. Posteriormente, foram selecionadas, através da técnica de pareamento, 20 crianças e adolescentes de escola pública e 20 crianças e adolescentes de escola particular, ou seja, para cada componente da amostra de meninos de rua, quanto à idade, foram selecionados 2 integrantes nas duas amostras com característica similar e que estavam matriculados em uma escola. A amostra definitiva foi, portanto, de 70 sujeitos, todos do sexo masculino, na faixa etária de 11 a 17 anos.

O grupo de meninos de rua foi definido através de três critérios norteadores: espaço, aparência e atividade. Nesse sentido, assim como no estudo de Rosemberg (1994), consideramos como rua “toda via ou logradouro público externo”1. Não entramos em espaços internos para contactar e/ou entrevistar o grupo em questão, que, conforme mencionado, foi considerado como aquele que usa tais espaços como o local principal ou secundário para outras atividades que não somente a circulação.

Quanto à aparência, foram considerados como integrantes da amostra as crianças e adolescentes que se apresentavam sem condições adequadas de higiene e vestimentas.

No que se refere à atividade, foram integrantes da amostra as crianças/adolescentes que estavam desenvolvendo atividades como trabalhar, esmolar, ou ainda brincar e/ou conversar em grupos. Sob essa perspectiva, não foram considerados adolescentes em atividades que envolviam somente o circular na rua, como por exemplo, a categoria de office-boys.

Ainda nesse sentido, a atividade estava associada à aparência física e à distância do local de moradia. As dúvidas quanto à pertinência de sujeitos na amostra foram dirimidas no processo de entrevista.

 

PROCEDIMENTO

Na fase inicial desse estudo, foram identificados os locais de concentração do grupo de meninos de rua e, a partir dessa localização, foram feitas observações em fichas de anotação, em que constaram dados acerca da sua organização, das práticas adotadas para a sobrevivência, as atividades que desenvolviam, as principais ocorrências e as ações que caracterizavam as interações sociais entre os membros do grupo e destes com os transeuntes.

Em um segundo momento, foi utilizado um roteiro de entrevista do tipo semi-estruturada, com ênfase nos seguintes temas: identificação da população infanto-juvenil na faixa etária de 11 a 17 anos quanto à idade, ao tipo de organização familiar, aos motivos de sua ida para a rua, ao tempo de permanência na rua e à escolaridade. A entrevista foi realizada apenas com o grupo de crianças/adolescentes em situação de rua, ou seja, os meninos trabalhadores e os meninos de rua, com o intuito de diferenciar esses dois grupos.

Após o período de observação, foram selecionadas aleatoriamente 10 crianças e adolescentes, cujas características apontavam como sendo meninos de rua e 20 sujeitos que somente utilizavam a rua como fonte de geração de renda, ou seja, 20 meninos trabalhadores, para as fases seguintes da pesquisa e que consistiram na aplicação de entrevista e de uma escala de maquiavelismo para crianças – Kiddie Mach2.

As entrevistas e aplicação da escala foram feitas no próprio ambiente dos meninos de rua, em virtude da constatação de que a mobilidade do grupo era intensa, o que poderia tornar inviável a apreensão das informações necessárias, uma vez que havia a possibilidade de ser dado início à pesquisa com um dos participantes e, posteriormente, não fosse possível localiza-lo, dada a fluidez que os caracteriza e que se manifesta através de constantes deslocamentos da rua para casa e até mesmo para outras cidades. As dificuldades foram contornadas com o apoio dos Educadores de Rua do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), que entre outras coisas auxiliou-nos a contatar o grupo, a discutir os dados das observações com o intuito de aprofundar nosso conhecimento acerca do mesmo.

Quanto aos grupos da escola particular e pública, as escolhas se deram, no primeiro caso, através de sorteio e, no segundo, em função de ser esta escola a única que estava tendo aulas normalmente, enquanto outras escolas da rede municipal de ensino de Teresina haviam aderido à greve dos professores naquele período.

O grupo de meninos em situação de rua foi entrevistado e todos os participantes responderam à escala de forma individual. O tempo médio de entrevista e aplicação da escala foi de 30 minutos, não tendo sido determinado o tempo para seu término. No caso dos grupos de rua e trabalhadores, o instrumento foi lido em voz alta e, ao término de cada sentença, foi permitido que perguntassem acerca do que não haviam entendido. Por outro lado, no caso dos sujeitos das escolas, cada um recebeu a escala Kiddie Mach, após a confirmação da sua adequação ao grupo em função do fator idade. Esses participantes responderam à escala, perguntando o que não compreendiam, à medida que respondiam.

 

RESULTADOS

Tendo em vista que julgamos necessário dar maiores informações sobre o grupo de crianças e adolescentes em situação de rua, a descrição dos mesmos teve prioridade nesta pesquisa. Nesse sentido, consideramos em primeiro lugar a família, tanto dos meninos de rua sem referência familiar formal, quanto dos meninos trabalhadores, que utilizam a rua como fonte de geração de renda e que possuem referência familiar formal. Constatamos que os meninos de rua foram, em sua maioria, criados pela mãe (40%) e, em segundo lugar, pelos avós (30%). No caso dos meninos trabalhadores, a maioria expressiva desse grupo (90%) foi criada pelos pais e continua morando com eles.

Os sujeitos são provenientes de famílias numerosas, com um número de irmãos entre 1-2 (25%); 3-4 (20%); 5-6 (25%); 7-8 (15%); 11-12 (15%); e de classe baixa, conforme análise da profissão dos pais e que buscam o mercado de trabalho informal por motivos tais como: ajudar a mãe (25%); ajudar ambos, pai e mãe (20%); para terem autonomia financeira (15%); por influência dos irmãos/colegas que já trabalham (20%); por não gostarem de ficar ociosos (15%) e para alimentar os irmãos (5%). No caso dos meninos de rua, os pais estão separados em 70% dos casos; o pai morreu em 10% e somente em 20% dos casos os pais ainda estão juntos.

A outra categoria analisada foi a escola . Nesse sentido, os meninos de rua apresentam como motivos para o abandono da mesma os seguintes: não aprender (10%); expulsão (30%); por que saiu de casa (50%) e em um único caso, o sujeito nunca freqüentou a escola (10%).

Além disso, quanto ao tempo de permanência na escola, houve variação, com um maior índice nas 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental (60%); na 4ª série (20%); na 5ª série (10%) e apenas um nunca freqüentou a escola. Entre os meninos trabalhadores, também houve variação, pois a maior incidência encontra-se na 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental, respectivamente, 25% e 45%; e o restante da amostra apresentou-se distribuída em outras séries do Ensino Fundamental, 3ª (5%); 4ª (5%); 5ª (10%); 6ª (10%), dos quais 15% já abandonaram a escola.

Quanto ao maquiavelismo, avaliado a partir dos itens da escala Kiddie Mach2, percebe-se alguns resultados interessantes que serão descritos a seguir. Inicialmente, como resultado geral, foi encontrado que existem diferenças significativas entre os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores em relação ao grupo da escola particular no que diz respeito à visão de mundo e às táticas para atuar no mundo

Com relação aos itens específicos da escala, a diferença entre os quatro grupos foi obtida através de uma análise de variância a uma via. Os resultados destas análises encontram-se apresentados no lado direito da Tabela 1. Diferenças significativas foram observadas no item 2 ( F= 8.43; p< .00); item 3 ( F= 5.63; p< .001); item 11 ( F= 5.92; p< .001); item 14 ( F= 19.8; p< .00). Em seguida, as diferenças entre as médias dos quatro grupos de crianças por cada item foram analisadas através do teste a posteriori de Duncan.

Tabela 1. Média, desvios padrões e ANOVA da avaliação dos itens da escala de maquiavelismo por cada grupo de crianças.

 

 

Em relação ao item negativo 02 (“A maioria das pessoas são boas e gentis”), os meninos de escola particular apresentaram média mais alta do que os outros três grupos (p< .01). No item 03 (“a melhor maneira de se dar bem com as pessoas é dizer coisas que as façam felizes”), os meninos de rua atingiram média superior aos sujeitos da escola particular (p<.01). No que se refere ao item negativo 11 (“Pessoas de sucesso são na maioria honestas e boas”), o grupo de meninos trabalhadores apresentou média inferior aos sujeitos dos grupos da escola pública e particular (p< .01). Foi encontrada também média superior no grupo da escola particular em relação ao grupo de meninos de rua (p<.05). No item negativo 14 (“A maioria das pessoas são corajosas”), o grupo da escola particular obteve média maior do que os outros três grupos (p<.05). Ainda em relação a esse item o grupo da escola pública obteve média mais alta do que os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores (pp<.05).

 

DISCUSSÃO

Os resultados da análise qualitativa apontam que a maioria dos meninos trabalhadores não se constitui de abandonados, mas sim que entre os motivos que alegam para procurarem a rua predomina o aspecto econômico, ou seja, para ajudar na manutenção da família, seguido pela necessidade de independência financeira e como forma de evitar a ociosidade. No caso dos meninos de rua, constata-se exatamente o oposto, uma vez que, embora tenham sido criados pelas mães (40%) ou pelas avós (30%), decidiram sair de casa em função dos constantes conflitos com a figura masculina, como por exemplo o pai ou o padastro, o que corrobora o que a literatura apresenta nesse sentido (PRADO & GOMES, 1993; ALVES, 1991).

No que se refere à hipótese, foram encontradas diferenças significativas entre os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores em relação aos da escola particular quanto à orientação maquiavélica. Esse resultado confirma aqueles citados pela literatura em Maquiavelismo (DIEN, 1976; BRAGINSKY, 1970B; TOUHEY, 1970 citados por VLEEMING, 1979), que consideram que a socialização secundária é geradora da orientação maquiavélica, mais do que a própria socialização primária. Em outras palavras, a escolaridade pode atuar de forma a aumentar o grau de Maquiavelismo em crianças e adolescentes, aliada à questão da competitividade, como é o caso dos sujeitos das escolas pública e particular.

No caso dos sujeitos em situação de rua, especificamente os meninos trabalhadores (que possuem referência familiar formal), a freqüência à escola não se dá de forma regular, em virtude da necessidade que os obriga a trabalhar para ajudar no sustento da família, o que pode explicar o fato da mesma não ter muita influência sobre eles, assim como ocorre em relação aos meninos de rua propriamente ditos, que não têm acesso à escola.

As experiências vivenciadas nas ruas pelo grupo de meninos trabalhadores diferenciam-se daquelas vividas pelos meninos de rua pelo fato de, sobre os primeiros, pesar a responsabilidade de auxiliar no sustento da família e, ao mesmo tempo, o vínculo com a mesma ainda existe, o que pode aumentar a possibilidade da influência dos valores familiares sobre esses sujeitos.

Analisaremos os itens específicos da escala, que apresentaram diferenças significativas. Chamamos a atenção para o fato de que os itens negativos foram convertidos em itens positivos quando da sua contagem e posterior análise.

Em relação ao item negativo 2 (“A maioria das pessoas são boas e gentis”), que se refere à visão de mundo, os meninos da escola particular consideram que as pessoas, de forma geral, não são boas e gentis. Essa forma de considerar o outro tem relação direta com a opinião de Maquiavel acerca da natureza humana, pois, para ele, o ser humano, embora não seja em si mesmo mau ou bom, tende à maldade mais do que ao bem.

O item 3 (“A melhor maneira para se dar bem com as pessoas é dizer coisas que as façam felizes”) refere-se às táticas para atuar no mundo, no qual os meninos de rua obtiveram média superior à dos sujeitos da escola particular. Esse resultado parece indicar uma maior tendência entre os meninos de rua para tentar agradar as pessoas com o intuito de conseguir sua benevolência em relação a eles, tendo em vista a necessidade de sobrevivência que os obriga a adotarem estratégias voltadas para esse fim.

O “estar” na rua implica relações interpessoais diversas em diferentes contextos, com indivíduos de todas as classes sociais. Nesse sentido, quanto mais recursos forem utilizados para ser bem sucedido, melhor. Isso não ocorre em relação aos sujeitos da escola particular, para quem as necessidades básicas estão supridas e que, de algum modo, podem correr o risco de não serem aceitos.

No que se refere ao item negativo 11 (“Pessoas de sucesso são na maioria honestas e boas”), avalia-se novamente a visão de mundo dos sujeitos, com relação ao que pensam sobre as pessoas de uma forma geral. O grupo de meninos trabalhadores apresentou média inferior em comparação ao grupo de escola pública e particular. Consideramos que essa diferença deve-se ao fato de o primeiro ter uma visão do ser humano menos crítica e realista, simultaneamente mais sonhadora e idealista. Esse aspecto pode estar relacionado ao fato de que esses sujeitos desenvolvem muito cedo a responsabilidade de arcar com o auxílio e, muitas vezes, com o sustento integral da família, nos casos em que o pai está ausente ou inválido, o que não é difícil acontecer, pois grande parte da literatura existente sobre esse grupo mostra que, em sua maioria, a mãe é a principal provedora da família (GOMES, 1994; NASCIMENTO, 1997).

Nesse sentido, consideramos que há por parte dos pais de famílias de baixa renda a transmissão de valores morais como a honestidade, bem como a idéia de que o trabalho é recompensado pelo sucesso; idéia essa alimentada pelos próprios meninos trabalhadores para justificar o fato de estarem trabalhando, enquanto poderiam estar na escola ou brincando ou até mesmo realizando outras atividades, como os meninos de rua, dos quais querem ser diferenciados, conforme notamos no trabalho de campo, através das entrevistas realizadas com esse grupo.

Foram encontradas, também em relação a esse item, diferenças entre os grupos da escola particular e o grupo de meninos de rua: o primeiro alcançou média superior ao segundo. A provável explicação para essa diferença pode estar relacionada à distinta experiência de vida dos dois grupos.

Para os meninos de rua, a honestidade é um valor a ser alcançado, uma vez que sua vivência os leva a atuar de forma a sobreviverem a qualquer custo, o que, conseqüentemente, os faz, muitas vezes, adotarem comportamentos considerados negativos, como roubar, por exemplo, para atingir essa meta. Nesse sentido, seu referencial na avaliação dessa questão é o próprio comportamento e aquele das pessoas com as quais convivem, os quais são distintos da maioria das pessoas da sociedade, o que os induz a avaliar os outros de forma positiva. Entretanto, pesquisas sobre a auto-estima são necessárias para confirmar a veracidade dessa suposição.

No caso das crianças da escola particular, há um maior senso crítico e consciência de que o sucesso nem sempre está relacionado a honestidade e bondade, bem como, provavelmente, conforme indicam os resultados, pode ser necessário adotar atitudes que permitam que se alcance o sucesso, independente da opinião de outros. Logo, sua visão está mais relacionada ao maquiavelismo do que a de crianças e adolescentes em situação de rua, uma vez que não existem diferenças significativas entre os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores.

A compreensão do item negativo 14 (“A maioria das pessoas são corajosas”), também relacionado à visão de mundo dos sujeitos, no qual o grupo da escola particular obteve média superior aos outros três grupos, relaciona-se da mesma forma à concepção de mundo. Ainda em relação a esse item, o grupo da escola pública atingiu média superior à do grupo de crianças e adolescentes em situação de rua. O que há em comum entre os grupos que obtiveram as maiores médias é a escolaridade.

De um modo geral, podemos notar que a escolaridade parece estar relacionada ao maquiavelismo, uma vez que a literatura psicológica referente a esse construto afirma que o mesmo desenvolve-se a partir da socialização secundária. Entretanto, ressalva-se que o maquiavelismo não é um construto unidimensional, tampouco uma característica definidora por si só da personalidade dos sujeitos, mas deve ser considerado, tendo em vista as circunstâncias de vida dos sujeitos e as interações que estes desenvolvem.

Nesse sentido, os resultados apontam que os meninos de rua constituem grupo mais maquiavélico do que o grupo da escola particular no que diz respeito às táticas para atuar no mundo, o que parece estar de acordo com a vivência desse grupo. No entanto, o grupo da escola particular demonstrou ser mais maquiavélico do que o grupo de meninos de rua quanto à visão de mundo.

Queremos ressaltar um ponto por nós considerado de extrema importância para a compreensão do grupo de crianças e adolescentes em situação de rua existentes em Teresina-PI. Com relação ao grupo de meninos de rua, especificamente, o mesmo difere de outros grupos em diferentes cidades, sob diversos aspectos. Em primeiro lugar, a cidade de Teresina é uma cidade de porte médio, com um número pequeno de habitantes, com um reduzido índice de violência, ainda que a situação sócio-econômica de grande parte de seus habitantes seja precária e, muitas vezes, miserável.

Contudo, a índole do povo é dócil e hospitaleira, o que nos permite afirmar que esses fatores influenciam na maneira como se comportam as crianças e adolescentes em situação de rua, que não são demasiadamente violentos, nem tão maquiavélicos conforme aponta esse estudo.

Considerando esses fatores, sugerimos que pesquisas futuras sejam realizadas, tendo em vista a comparação de meninos de rua de cidades de médio porte e metrópoles, bem como que levem em conta a influência da família no desenvolvimento desse traço de personalidade, assim como aprofundem a pesquisa no que se refere à relevância da socialização secundária para o desenvolvimento desse construto, controlando variáveis tais como a freqüência e a série dos sujeitos investigados. Por outro lado, recomenda-se também que novos estudos verifiquem a questão da moralidade nos grupos estudados.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência
E-mail: anavfortes@uol.com.br / roazzi@ufpe.br

Recebido em: 09/12/03
Aceito para publicação em: 04/03/04

 

 

NOTAS

* Doutoranda do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.
** Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco.
*** Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco.
1 Ruas, avenidas, praças, parques, terrenos baldios, estacionamentos, calçadões, portas/entradas de universidades, escolas, casas comerciais, igrejas, cinemas, restaurantes, teatros, etc.
2 A validação da escala Kiddie Mach está em andamento, sendo que este estudo faz parte do processo de validação. Nesse sentido, a escala foi utilizada mais como um questionário inicial e analisada a partir dos itens. A tradução foi feita pelos autores.

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