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Estudos e Pesquisas em Psicologia

On-line version ISSN 1808-4281

Estud. pesqui. psicol. vol.5 no.1 Rio de Janeiro June 2005

 

ARTIGOS

 

Inteligência emocional: parâmetros psicométricos de um instrumento de medida

 

Emotional intelligence: psychometrical parameters of a instrument of mesure

 

 

Marilda Aparecida DantasI, *; Ana Paula Porto NoronhaII, **

I Universidade de Alfenas
II Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo investigar evidências de validade fatorial do Mayer Salovey Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT) bem como os índices de precisão do instrumento. O construto Inteligência Emocional, avaliado pelo teste, consiste na capacidade de perceber, entender e usar as emoções para facilitar o pensamento, assim como gerenciar as emoções para facilitar os processos cognitivos e promover o crescimento pessoal e intelectual. Participaram da pesquisa 270 universitários de diferentes cursos (psicologia, biologia, matemática e Educação Física), no qual responderam ao MSCEIT. Os resultados encontrados na análise fatorial indicaram que o instrumento apresenta a existência de dois fatores, a saber, Experiencial e Extratégica. Quanto aos índices de precisão alpha de Cronbach, os dados evidenciaram que o instrumento alcançou precisão suficiente, com exceção da tarefa mistura (a = 0,545). Os achados desta pesquisa indicaram validade fatorial do instrumento, bem como índices de precisão satisfatórios de acordo com o exigido.

Palavras-chave: Inteligência emocional, Instrumentos, Parâmetros psicométricos.


ABSTRACT

The present work investigated of validity factorial evidence in the Mayer Salovey Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT) and the reliability in the instrument. The construct definition, Emotional Intelligence assessed whereby test, has been described as the person's ability to accurately perceive, express, understand and use his or her own emotions and the emotions of others as well manager them in order to facilitate the cognitive process and to promote intellectual and personal growth. Participated 270 undergraduate students from Psychology, Physical Education, Mathematics and Biology courses. The material was MSCEIT and the collective data collection was in groups according to the courses. The results indicated MSCEIT factorial analyzes has been done and it allowed to verify the arrangement of two principal factors (Experential and Strategic). The reliability index of MSCEIT was considered as satisfactory (a = 0,92), with exception in the task Mistura (a = 0,545). The facts this research indicated validity factorial instrument, and reliability was satisfactory according to the demanded.

Keywords: Emotional intelligence, Instruments, Psychometric parameters.


 

 

INTRODUÇÃO

O termo Inteligência Emocional vem sendo estudado e pesquisado mais enfaticamente desde a década de 1990. O construto, definido por Salovey, Mayer, Caruso e Lopes (2001), abrange quatro aspectos, como a capacidade de perceber, usar as emoções para facilitar o pensamento e entendê-las, e de gerenciar as emoções para facilitar os processos cognitivos, promovendo o crescimento pessoal e intelectual.

A percepção de emoções, reconhecida como a primeira capacidade, é definida como a habilidade de perceber e identificar emoções em si e nos outros, bem como em estímulos, tais como músicas, objetos, quadros e estórias. A segunda se refere ao uso das emoções para facilitar o pensamento, que consiste na habilidade de usar emoções para focar atenção e pensar racionalmente. Diferentes emoções podem criar diferentes pensamentos e fornecer mais ou menos capacidade de adaptação diante de um determinado problema. Entender emoções, a terceira capacidade, pode ser definida como a atuação da inteligência sobre o sistema emocional. Isso inclui um entendimento das emoções e a maneira pela qual elas se combinam, progridem ou transitam, tanto em si mesmo quanto nos outros. Essa capacidade permite ao indivíduo ter um rico vocabulário de sentimentos e entender a maneira pela qual os termos são familiarizados. E, por fim, o quarto aspecto, gerenciar emoções, que consiste na habilidade de estar aberto a sentimentos, regular humor e emoções em si mesmo e nos outros. Essa habilidade consiste em monitorar, discriminar sentimentos precisamente, reparar ou modificar esses sentimentos, empregando estratégias que alteram e avaliam a efetividade (SALOVEY et al, 2001).

Alguns autores abordaram a Inteligência Emocional como aptidão mental, entre eles Mayer, Salovey e Caruso (2002b). Os autores o propuseram como um construto subdividido em quatro sistemas, que opera por meio cognitivo e emocional de um modo unitário. O conceito de sistema nessa discussão consiste na capacidade de identificar ou de incluir informações, bem como processá-las. Nesse sentido, a percepção e identificação emocional abrangem reconhecer e inserir informações do sistema da emoção, enquanto a facilitação emocional do pensamento envolve processar mais informações emocionais, buscando resolução de problemas. O entendimento emocional é similar ao anterior, porém focado no processamento cognitivo. E, por fim, a administração de emoções refere-se à auto-administração e à administração de emoções em outras pessoas.

Mayer e Salovey (1993) debateram críticas no que concerne a IE, as quais consistiram em: a) a IE como uma forma de inteligência inapropriada e como uma revisão da inteligência social, bem como talvez falsificando disposições de calor interpessoal como habilidade; b) que não há habilidade conectada com emoção; e c) relações controversas entre áreas da emoção e inteligência. Diante disso, os autores elencaram três principais questões, a saber; a IE como uma inteligência, os mecanismos que a envolviam e se a nomeação do construto de ‘inteligência’ seria a melhor titulação.

Os autores (MAYER & SALOVEY, 1993) discutiram as questões e concluíram que a IE envolve habilidades mentais que, embora independentes, foram qualificadas como uma forma de inteligência. A inteligência social difere da emocional, por essa última abarcar manipulação de emoções e conteúdo emocional. Quanto aos mecanismos que envolvem a IE, discutiram aspectos relacionados a experienciar as próprias emoções; a gerenciar emoções com o intuito de facilitar ou inibir a circulação da informação; e os mecanismos ligados na integração entre afeto e pensamento. Este último pode ocorrer, segundo os autores, em aspectos neurológicos, como por exemplo a Alexithymia (patologia caracterizada pela dificuldade de reconhecer emoções). Em relação ao termo inteligência, foi discutida a possibilidade de intitulá-lo como ‘competência’, embora tal termo envolvesse ainda outros fatores. Vale ressaltar que Mayer e Salovey (1993) afirmaram que o termo inteligência foi utilizado não para criar uma controvérsia, mas por referir-se a uma aptidão mental.

Mayer (2001) realizou um levantamento no intuito de analisar as produções científicas relacionadas à IE e concluiu que, entre 1970 e 1989, intensificaram-se as pesquisas que buscavam saber como as emoções interagiam com os pensamentos, abrindo caminho para os precursores da IE. No período de 1990 a 1993, foi publicada uma série de artigos sobre o tema e o desenvolvimento de medidas de habilidades para avaliar o construto. Os anos de 1994 a 1997 foram marcados pela popularização do termo Inteligência Emocional, graças ao best-seller, cujo conteúdo atribuía à IE o sucesso na vida. De 1998 até os dias atuais, novas pesquisas têm sido produzidas, assim como novas medidas para avaliação da IE.

Ciarrochi, Chan, Caputi e Roberts (2001) discutiram, entre outros assuntos, a relação entre medidas que avaliam desempenho e medidas de auto-relato na ótica da IE, e apontam algumas diferenças. As medidas de desempenho avaliam o construto como uma habilidade que o indivíduo apresenta de forma eficaz, e as de auto-relato avaliam a percepção das pessoas em relação ao que elas consideram a própria IE. No entanto, ambas podem ser importantes. As medidas de desempenho geralmente requerem mais tempo do examinando, por precisar de maior observação e resoluções situacionais e exigir uma percepção de si próprio bastante acurada. A maior dificuldade com medidas de auto-relato é que as pessoas podem distorcer as respostas para melhor ou pior do que são realmente. Os autores concluíram que medidas de auto-relato não refletem o desempenho verdadeiro e também não se correlacionam com a inteligência.

Um estudo referente às propriedades psicométricas de instrumentos de medida da IE foi desenvolvido por Mayer, Caruso, Salovey e Sitarenios (2003), no qual discutem os dados de sua pesquisa sobre o Mayer Salovey Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT). O objetivo foi verificar a convergência entre critérios de correção por especialistas e por consensos, a precisão e se a estrutura fatorial da escala está consistente no modelo teórico da IE. O critério de correção por especialistas está baseado no julgamento de profissionais com profundo conhecimento em emoções, enquanto o critério de correção baseado em consenso considera correta a resposta escolhida pelo maior número de pessoas. Participaram da pesquisa 2.112 adultos de ambos os sexos e os resultados proporcionaram análises do instrumento preenchido em papel e via on-line, apresentando equivalência. Na comparação entre especialistas e consenso, os resultados evidenciaram que os especialistas apresentavam maior precisão em seus julgamentos e convergiam em uma resposta correta. A precisão do instrumento dependeu do critério de correção usado e, embora a diferença encontrada entre um e outro tenha sido pequena, o MSCEIT alcançou precisão razoável e a estrutura dos fatores está de acordo com o esperado.

No Brasil, Bueno (2002) realizou um estudo com o objetivo de verificar a validade de um instrumento para avaliar a capacidade de perceber emoções, o Multifactor Emotional Intelligence Scale (MEIS). O trabalho procurou investigar a validade concorrente do instrumento, correlacionando os resultados com o desempenho de alunos de psicologia na disciplina de psicodiagnóstico (segundo avaliação de seus supervisores), e o desempenho em testes de Inteligência (BPR-5) e de personalidade (16PF). No que se refere à IE, inteligência e personalidade, os resultados apontaram dados que apóiam a IE como uma forma de inteligência, em função dos baixos coeficientes de correlação. Os índices de precisão (alpha de Cronbach) alcançaram coeficientes relativamente altos, 0,92 e 0,86. O autor sugere, então, que se desenvolva um critério de pontuação do instrumento MEIS, mais adequado e passível de fornecer resultados mais estáveis e apropriados. Vale ressaltar que o desenvolvimento de construção do instrumento MSCEIT foi baseado diretamente no MEIS, como uma forma melhorada (MAYER, SALOVEY, CARUSO, 2002a).

Freitas (2004) realizou um estudo, cujo objetivo foi investigar evidências de validade de critério do MSCEIT no contexto educacional, bem como a precisão. Participaram do estudo 83 sujeitos entre alunos do último semestre do curso de Psicologia e professores supervisores clínicos. Além do MSCEIT, a autora utilizou instrumentos denominados “Avaliação dos alunos-terapeutas segundo seus supervisores” e a “Auto-avaliação do aluno” no contexto psicoterápico. Os resultados das correlações entre esses instrumentos indicaram que a escala Gerenciar as emoções (MSCEIT) foi a que obteve mais correlações com os itens das avaliações. No que se refere à precisão do MSCEIT, os índices encontrados por meio do alpha de Cronbach, foram de 0,89 para a Área experiencial e 0,77 para a Área estratégica, e para a IE total 0.88. Freitas (2004) sugere que novos estudos sejam desenvolvidos com uma amostra mais representativa, podendo averiguar as diferenças entre as correções das respostas dos sujeitos com base nos critérios especialistas e no público-alvo.

Vale aqui melhor explicitar a respeito da técnica utilizada na presente pesquisa, a análise fatorial. Anastasi e Urbina (2000) definiram a análise fatorial como uma técnica estatística que fornece informações sobre a correlação entre os itens de um determinado instrumento, possibilitando assim definir quais os principais fatores envolvidos e de que maneira explicam o construto avaliado. Diante desse contexto, o objetivo do presente estudo foi investigar evidências de validade fatorial do Mayer Salovey Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT), bem como os índices de precisão em estudantes universitários.

 

MÉTODO

Participantes

Participaram deste estudo 270 universitários de diferentes cursos das áreas de Humanas, Exatas e Biológicas de duas universidades particulares do interior paulista. Dessa amostra, 31,9% (n=86) dos sujeitos eram do curso de Psicologia, 20,7% (n=56) do curso de Biologia, 15,2% (n=41) do curso de Matemática e 32,2% (n=87) do curso de Educação Física, sendo 71,1% do sexo feminino e 28,4% do masculino, dois sujeitos (%=0,7) não responderam esse item. A idade variou de 18 a 62 anos, sendo a média de 24 anos e o desvio padrão de 7,0.

Material

Foi utilizado o Mayer Salovey Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT). O MSCEIT é um instrumento que avalia a inteligência emocional, podendo ser aplicado em indivíduos com idade igual ou maior de 17 anos. A investigação é realizada por meio de um inventário composto de 8 seções, totalizando 141 itens. O material inclui um caderno de questões e uma folha de respostas. O MSCEIT apresenta uma escala global de Inteligência Emocional, que se subdivide em duas escalas, denominadas IE Experencial e IE Estratégica. A IE Experencial é formada por duas sub-escalas, uma chamada Percebendo Emoções e a outra Facilitando Emoções. A IE Estratégica também se subdivide em duas sub-escalas, uma chamada Entendendo Emoções e a outra Gerenciando Emoções. Essas informações podem ser melhor visualizadas na Tabela 1, bem como a descrição das seções a seguir. A seção A (tarefa Faces), pertencente à escala percebendo emoções, é composta de 20 itens e apresenta 4 expressões faciais, nas quais o sujeito deverá identificar o sentimento (felicidade, medo, surpresa, repugnância, tristeza, raiva ), numa escala de 1 a 5. As escalas são bipolares, contrastando da usual para a menos usual. A seção B (tarefa facilitação) faz parte da escala facilitando, emoções, é composta de 15 itens e apresenta diversas situações, na qual o sujeito deverá apontar as emoções que mais facilitam na execução de um determinada atividade, apontando numa escala de 1 (não ajuda) a 5 (ajuda muito). A seção C (tarefa transição) compreende a escala entendendo emoções, tem 20 itens, apresenta estórias envolvendo personagens e atribuindo sentimentos a eles; de acordo com um determinado contexto, o examinando deve apontar a emoção que pode transitar na situação. A seção D (tarefa gerenciamento emocional) da escala gerenciando emoções, tem 20 itens e apresenta estórias, nas quais os personagens envolvidos manifestam emoções de acordo com uma determinada situação; porém, nesta sessão, o sujeito deve apontar em diferentes ações do protagonista o grau de eficiência para que o mesmo mantenha-se ou consiga estar bem. A seção E (tarefa paisagens) da escala percebendo emoções apresenta 30 itens e é semelhante à seção A, apresentando 6 figuras, nas quais o examinando deve identificar as emoções expressas numa escala bipolar. A proposta da seção F (tarefa sensação) da escala facilitando emoções traz 15 itens e solicita ao sujeito imaginar as situações apresentadas e suas respectivas emoções; em seguida, deve-se apontar, numa escala de 1 (nada parecido) a 5 (muito parecido), as emoções que mais se assemelham. A seção G (tarefa mistura), pertencente à escala entendendo emoções, tem 12 itens e apresenta diversos sentimentos diante dos quais o sujeito deve apontar uma única alternativa, a que indique a melhor combinação entre diferentes sentimentos. A seção H (tarefa relacionamento) da escala gerenciando emoções tem 9 itens e apresenta estórias de personagens envolvidos em relacionamentos interpessoais e três possíveis respostas, o sujeito deverá apontar o grau de eficiência para cada reação (MAYER, SALOVEY & CARUSO, 2002).

 

Tabela 1 – Descrição da estrutura e escalas do MSCEIT

 

Quanto aos parâmetros psicométricos do MSCEIT, a amostra original de normatização baseou-se no resultado da aplicação do instrumento em 5000 participantes e foi possível verificar a precisão, utilizando os índices de coeficientes alpha e split-half, apresentando resultado consideravelmente alto. Além disso, a análise fatorial aplicada aos resultados indica que o MSCEIT mede um fator geral da IE, bem como aspectos específicos.

No que se refere aos critérios de avaliação do instrumento, vale ressaltar que o manual não apresenta a forma de obtenção desses valores, embora indique a orientação de que os resultados da aplicação sejam encaminhados on-line para a editora responsável. Os autores do instrumento citam três formas de correção: por especialistas, por consenso e por pessoa-alvo. Os dados dessa pesquisa foram corrigidos pelo critério de consenso, que está baseado na resposta mais adequada, aquela que o maior número de pessoas escolhe. O processo é identificar o item mais escolhido pela mostra e em seguida sua freqüência. A pontuação do item passa a ser então igual à freqüência; por exemplo, se uma determinada resposta obter uma freqüência percentual de 65, os sujeitos que a escolheram passam a ter uma pontuação igual a 65. Esse critério é válido para todas as respostas.

Procedimento

O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética. A aplicação do instrumento foi realizada coletivamente. Os sujeitos foram convidados a participar do estudo, sendo esclarecidos os objetivos e garantido o anonimato dos envolvidos. Todos os sujeitos assinaram um termo de consentimento e ficaram com uma via do mesmo.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise fatorial é empregada para identificar os fatores do teste por meio dos pesos de cargas estatísticas. Após a identificação dos fatores, esses podem ser utilizados para descrever a composição do instrumento. Charbonneau e Nicol (2002) já haviam sugerido essa técnica em instrumentos que se propõem a avaliar a IE.

Os resultados do MSCEIT foram submetidos a uma análise fatorial por meio do método Promax. Os dados indicaram reconhecer a existência de dois fatores, conforme apresentados na Tabela 2. As tarefas do instrumento se subdividiram em cargas fatoriais, de modo que a organização correspondeu às duas escalas apresentadas pelo manual do instrumento, sendo a primeira referente à área Experencial e a segunda à área Estratégica.

 

Tabela 2 - Análise fatorial do MSCEIT

 

Pode-se observar também a correlação entre os fatores encontrados na análise. O coeficiente de correlação entre os fatores 1 e 2 foi de 0,487, ao passo que a correlação entre si foi perfeita (r=1). O estudo de Mayer, Caruso, Salovey e Sitarenios (2003) também apresentaram validade fatorial de acordo com o esperado.

Quanto aos índices de alpha do MSCEIT, estes apresentaram-se satisfatórios, com exceção da tarefa Mistura (a = 0,545), pertencentes à sub-escala Entendimento (a =0,718). Esse dado pode-se justificar talvez pela dificuldade dos sujeitos em entender a combinação entre diferentes sentimentos, conforme apresentado na Tabela 3.

 

Tabela 3- alpha de Cronbach do MSCEIT

 

Segundo a Resolução 002/2003 do CPF, que define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos, os coeficientes de precisão acima de 0.60 são considerados Nível A (Excelente a Bom) e Nível B (Suficiente) quando apresentam coeficiente 0.60 e alguns fatores abaixo desse valor. Pode-se então afirmar que o MSCEIT apresentou evidências de precisão suficientes.

Os resultados confirmam os dados da pesquisa de Mayer, Salovey, Caruso e Sitarenios (2001), na qual discutiram os índices de precisão do MSCEIT de acordo com a forma de correção e, no caso, o critério por consenso é a forma que melhor contribui para melhores índices. A pesquisa de Carrothers, Gregory e Gallagher (2000) também apresentou índices de precisão aceitáveis, embora não fosse utilizado o MSCEIT e sim um instrumento criado pelos autores, cujo nome não foi citado.

Podem-se analisar também os índices de precisão referentes a cada curso separadamente, conforme apresentado na Tabela 4. De modo geral, os resultados indicaram precisão satisfatória, sendo que o maior índice foi encontrado no curso de Educação Física (a=0,867), seguido da Psicologia e o menor para Matemática (a=0,777). Mesmo sendo uma diferença pequena entre esses dois grupos, pode-se justificar tal resultado pelas características gerais dos sujeitos.

 

Tabela 4 - alpha de Cronbach do MSCEIT e dos cursos

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da presente pesquisa foi verificar as propriedades psicométricas de um instrumento psicológico de desempenho, que avalia Inteligência Emocional (MSCEIT). As propriedades psicométricas consistiram na investigação da validade fatorial e nos índices de precisão em um grupo de universitários.

Quanto aos instrumentos de avaliação psicológica, vale destaque para Noronha e Alchieri (2002), que apontam os questionamentos atuais da sociedade sobre os resultados decorrentes da avaliação psicológica em diversos contextos, seja em seleção de pessoal, psicodiagnóstico e outras possibilidades de atuação profissional. Esses autores salientam que o centro da discussão é a elaboração de indicadores, critérios e instrumentais que atendam as necessidades específicas da demanda, de forma que haja melhoria da qualidade dos instrumentos.

Segundo Noronha et al. (2003), o panorama atual referente à produção científica da área de avaliação psicológica é bem diferente do que ocorria nas décadas de 1970 e 1980, quando a qualidade dos instrumentos era limitada, se comparada em contexto internacional. Embora haja muito ainda a ser feito, ocorreram mudanças nessa área que estão contribuindo para o crescimento da avaliação psicológica no Brasil.

No que concerne aos objetivos desse estudo, acredita-se que foram alcançados, uma vez que puderam apresentar dados empíricos sobre as evidências de validade do MSCEIT. Esses resultados colaboraram com os parâmetros psicométricos minimamente exigidos, bem como para a Avaliação Psicológica.

Os resultados quanto ao instrumento de auto-relato indicaram a dificuldade de se criar instrumentos de medidas adequados que avaliem Inteligência Emocional e que atendam aos parâmetros psicométricos exigidos. Desta forma, comprova-se a necessidade de investimento em mais pesquisas, cujos objetivos visam fortalecer o construto e definir claramente os fatores envolvidos.

Ainda no que se refere aos resultados produzidos neste estudo, a análise fatorial de acordo com Anastasi e Urbina (2000) é uma técnica relevante para procedimentos de validação de construto, pois permite a caracterização do teste em termos de fatores mais importantes que determinam os escores. Pode-se também explorar a composição fatorial de um teste e definir semelhanças nas medidas, buscando encontrar a validade fatorial.

A validade fatorial do MSCET, conforme identificada, indicaram a presença de dois fatores (Experencial e Estratégico), bem como a correlação entre os dois. Esses dados estão em consonância com o manual do instrumento e reforçam a estrutura proposta segundo Mayer, Salovey e Caruso (2002a).

A área Experencial do MSCEIT, segundo a análise fatorial, abarcou as tarefas de Faces, Paisagem, Facilitação e Sensação. Tanto Faces quanto Paisagem se referem à capacidade do examinando em identificar sentimentos em expressões faciais e figuras e paisagens. A tarefa de Facilitação tem como objetivo solicitar ao respondente que indique o sentimento mais adequado para facilitar a conclusão de uma determinada tarefa. A tarefa Sensação solicita que o sujeito aponte a relação mais próxima entre um sentimento de uma situação específica e outros sentimentos e sensações.

A área Estratégica do MSCEIT, conforme a análise fatorial, compreendeu as tarefas de Transição, Mistura, Gerenciamento e Relacionamento. Transição propõe ao examinando identificar a mudança de sentimento, que pode ocorrer em uma determinada situação. A tarefa de Mistura solicita que se aponte a combinação mais adequada de vários sentimentos em relação a um sentimento específico. Gerenciamento de emoções pede ao examinando indicar a eficácia de sentimentos frente a uma situação apresentada. A tarefa de Relacionamento tem a mesma proposta de Gerenciamento, porém envolve a relação com outras pessoas.

O agrupamento encontrado dos fatores parece pertinente quando analisada a proposta das tarefas. Desta forma, a análise realizada estabeleceu, por meio de dados empíricos, clareza e organização do instrumento, contribuindo para a demonstração de evidências de validade fatorial.

A confiabilidade do instrumento confirma a consistência dos escores obtidos pelos índices de precisão encontrados nos resultados do MSCEIT, que foram satisfatórios e estão em conformidade com as exigências do CFP (2003), ou seja, a IE geral obteve um a=0,82. Porém, quando analisado separadamente nas suas escalas, Entendendo Emoções não atingiu índice suficiente. (a=0,19). Esse resultado pode ser explicado talvez pela dificuldade de os sujeitos entenderem emoções ou por uma das tarefas desta sub-escala ser a última, caracterizando cansaço ou descomprometimento por parte dos sujeitos.

Enfim, como já fora citado anteriormente, a Inteligência Emocional como um construto relativamente novo parece estar se fortalecendo no contexto nacional. Acredita-se que a presente pesquisa tenha contribuído para os estudos em Avaliação Psicológica, bem como para o fortalecimento de pesquisas sobre o construto Inteligência Emocional, uma vez que, no panorama nacional, pouco se viu a respeito do tema. De qualquer forma, o assunto não se encerra aqui; há a necessidade de pesquisas que busquem apresentar dados empíricos sobre o construto em outras amostras de sujeitos, conforme já mencionado por Schaie (2001).

 

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Endereço para correspondência
Marilda Aparecida Dantas
E-mail: marildapsi@uol.com.br

Ana Paula Porto Noronha
E-mail: ana.paula.noronha@terra.com.br

Recebido em: 04/01/2005
Aceito para publicação em: 03/06/2005

 

 

NOTAS

* Mestre em Psicologia, área de concentração avaliação psicológica, pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco e docente da Universidade de Três Corações e da Universidade de Alfenas.
** Doutora em Psicologia: Ciência e Profissão pela PUC-Campinas e docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.

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