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Estudos e Pesquisas em Psicologia

On-line version ISSN 1808-4281

Estud. pesqui. psicol. vol.11 no.2 Rio de Janeiro Aug. 2011

 

COMUNICAÇÃO DE PESQUISA

 

Ajustamento de alunos ingressantes ao ensino superior: o papel do comportamento exploratório vocacional

 

Adjustament of begginers college students: the role of vocational exploratory behavior

 

 

Eliane Gerk*; José Augusto Rento Cardoso**; Luiza Martins Krafft**

Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, RJ, Brasil

Endereço para correspondência

 

 

Introdução

O acesso ao Ensino Superior está sendo cada vez mais amplo e por um público cada vez mais socialmente heterogêneo, deixando de ser um “ensino de elites” para ser um “ensino de massas”. No Brasil, a procura deste nível de ensino tem ocorrido por um número cada vez maior e mais diversificado de jovens que concluem o ensino médio. Entretanto existe escassez de programas e de serviços de apoio à transição. Acresce-se a isto os elevados custos pessoais, familiares e sociais que a frequência a esse nível de ensino acarreta. Tais fatores aumentam significativamente a pressão que esses jovens sofrem relativamente à obtenção de sucesso. Existe um interesse crescente pelo desenvolvimento de estudos que procurem compreender a natureza do ajustamento desta população ao Ensino Superior, assim como do seu êxito e dos fatores que o facilitam ou o inibem.

Entre as múltiplas e complexas tarefas com as quais os jovens são confrontados nesta transição educativa, Almeida, Soares e Ferreira (1999) e Soares (1998) apontam para tarefas associadas a quatro domínios principais: acadêmico, social, pessoal e vocacional.

No âmbito do desenvolvimento vocacional, existe um tipo de comportamento que desempenha um papel muito importante, por possibilitar as informações essenciais para a formação do auto conceito, tanto geral, como vocacional. Trata-se do comportamento exploratório. Tal conceito encontra sua origem na obra de Jordaan (1963, apud TEIXEIRA; BARDAGI; HUTZ, 2007) no campo da Psicologia Experimental e designa um comportamento que possibilita o acesso a informações e facilita o aprendizado. Trata-se de um comportamento de solução de problemas, proposital e intencional. O objetivo de tal comportamento é reunir informações sobre si mesmo e seu ambiente e verificar ou encontrar recursos para construção de uma hipótese que ajude o indivíduo a escolher, preparar, assumir, ajustar-se ou progredir em seu campo de trabalho.

Dentro do comportamento exploratório duas dimensões são de especial interesse: a exploração de si e a exploração do ambiente. A exploração de si envolve, principalmente, comportamentos de busca por conhecer suas próprias capacidades e reflexões a cerca de si, suas habilidades, personalidade, valores e influências com respeito à escolha vocacional (TEIXEIRA; BARDAGI; HUTZ, 2007).

A exploração do ambiente envolve comportamentos de busca por conhecimento sobre a realidade do trabalho (carreira) e informações importantes sobre determinada área de conhecimento. Ela também resulta em um maior conhecimento das alternativas educacionais e profissionais (TEIXEIRA et al. 2007)

Buscando aferir empiricamente este conceito, Teixeira, Bardagi e Hutz (op cit) desenvolveram um instrumento voltado para a população universitária, com objetivo de avaliar essas duas grandes dimensões do comportamento exploratório vocacional: a exploração de si e a exploração do ambiente.

 

Hipóteses

Partiu-se da hipótese que os estudantes de psicologia apresentariam maior média de comportamentos voltados para a exploração de si, do que os outros estudantes dos cursos de direito e engenharia, em detrimento da exploração do ambiente. Acreditou-se que os ingressantes, por terem escolhido psicologia, têm seu interesse voltado para aspectos da psique humana.

 

Metodologia

Participantes: Participaram do estudo 42 estudantes ingressantes no primeiro período dos cursos mencionados, sendo 10 de Psicologia, 17 de Direito e 15 de Engenharia, sendo 25 mulheres e 17 homens, com idade média de 22,3 anos.

 

Tabela 1: Distribuição dos participantes por sexo

 

Como ingressantes entendemos aqueles alunos que nunca haviam iniciado um curso superior, ou seja, que pela primeira vez estavam entrando um uma Universidade como estudantes.

Instrumento: Foi aplicada a Escala de Exploração Vocacional – EEV (TEIXEIRA; BARDAG; HUTZ, 2007). Esta escala objetiva avaliar duas grandes dimensões do comportamento vocacional indicadas na literatura: a exploração de si, que resulta em maior auto conhecimento, e a exploração do ambiente, que resulta em maior conhecimento das alternativas educacionais e profissionais do mundo do trabalho. A escala é composta por 24 afirmações, sendo 10 referentes à exploração de si e 14 referentes à exploração do ambiente, sendo a mesma uma escala Likert de cinco alternativas.

Procedimentos

Foram obtidas as assinaturas do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido nas três turmas que participaram. A seguir foram aplicadas as Escalas, com duração de aproximadamente 20 minutos.

 

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 2.

 

Tabela 2: Resultados dos cursos.

 

Tabela 3: Resultado por gênero:

 

A análise dos resultados demonstra que a média da sub-escala exploração do ambiente é maior em todos os cursos em comparação a sub-escala exploração de si, uma vez que o nível de significância encontrado para o curso de psicologia no teste de Student foi 0,00145, para o curso de engenharia foi 0,00025 e para o curso de direito foi 0,00001.        Com referência ao gênero observou-se que as mulheres obtiveram escores mais altos em ambas as escalas. O curso de Psicologia foi o que apresentou a menor média tanto na sub-escala exploração do ambiente, como na exploração de si. O curso de Direito apresentou a maior pontuação em ambas as escalas.

 

Conclusões

No que se refere ao curso de Psicologia, a hipótese de que a média da sub-escala exploração de si seria maior do que a exploração do ambiente não foi confirmada, assim como também foi rejeitada a hipótese de que este curso apresentaria o resultado maior na sub-escala exploração de si, quando comparado com os outros dois cursos. Pode-se cogitar que os estudantes de psicologia estejam muito mais interessados em compreender o mundo e as pessoas do que a si mesmo.

Quanto à superioridade de resultados na sub-escala exploração do ambiente do que na exploração de si em todos os cursos, pode-se considerar que: 1) a sociedade atual não incentiva a busca pelo auto-conhecimento. A grande quantidade de estímulos e informações, o ritmo acelerado do estilo de vida, a estimulação à obtenção de prazeres imediatos criando uma cultura hedonista  e superficial são fatores que contribuem para uma postura menos reflexiva a respeito de si mesmo; 2) por serem estudantes do primeiro período e não terem cursado um outro curso superior anteriormente, tem seu interesse voltado mais para a exploração do ambiente, buscando um melhor ajustamento ao meio em detrimento da exploração de si.

Em continuidade a esta pesquisa, pretende-se aplicar a escala de Exploração Vocacional nos estudantes dos períodos subsequentes dos mesmos cursos, assim como de outros cursos da mesma Universidade. Buscar-se-á, assim, verificar se o comportamento exploratório vocacional se modifica a medida que o estudante avança em seus estudos.

 

Referências Bibliográficas

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MAGALHAES, M.; REDIVO, A. Re-opção de curso e maturidade vocacional. Rev. ABOP [online], São Paulo, vol.2, n.2 p. 7-28, 1998.

SELIGMAN, M. E. P. Aprenda a Ser Otimista. Rio de Janeiro: Nova Era, 2º ed., 2005.

SOARES, A. P. Desenvolvimento vocacional de jovens adultos: a exploração, a indecisão e o ajustamento vocacional em estudantes universitários. Dissertação de Mestrado. Braga: Universidade do Minho. 1998.

SPARTA, M.; BARDAGI, M. P.; ANDRADE, A. Exploração vocacional e informação profissional percebida em estudantes carentes. Aletheia [online]. Canoas, n. 22, p. 79-88, 2005.

TEIXEIRA, M. A. P.; BARGAGI, M. P.; HUTZ, C. S. Escala de Exploração Vocacional (EEV) para Universitários. Psicologia em Estudo, v.12, n. 1, p. 195-202. Maringá, 2007.

TEIXEIRA, M. A. P.; CASTRO, D. G.; PICCOLO, L. R. Adaptação à Universidade em Estudantes Universitários: um estudo correlacional. Interação em Psicologia, v. 11, n. 2, p. 211-220, Curitiba, 2007.

 

 

Endereço para correspondência
Eliane Gerk
Avenida General Felicíssimo Cardoso 835, bloco 1,aptº 1707, Barra da Tijuca,  CEP 22631-360, Rio de Janeiro – RJ, Brasil
Endereço eletrônico: elianegerk@gmail.com
José Augusto Rento Cardoso
Rua Paulino Afonso, Vila São José, 26, Centro, CEP 25680-003, Petrópolis – RJ, Brasil
Endereço eletrônico: j_rento@yahoo.com.br
Luiza Martins Krafft
Rua do Imperador, 880/604, Centro, CEP 25680-000, Petrópolis – RJ, Brasil
Endereço eletrônico: lui-mk@hotmail.com

Recebido em: 23/02/2011
Aceito para publicação em:03/03/2011
Acompanhamento do processo editorial: Adriana Benevides Soares

 

 

Notas

*Doutora em Psicologia pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, Rio de Janeiro.
**Graduando em Psicologia.

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