SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.15 issue3Common mental disorders and its association with sociodemographic variables and occupational stressors: a gender analysisSocialization groups for the elderly: participants, drop-outs, and uninterested author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Estudos e Pesquisas em Psicologia

On-line version ISSN 1808-4281

Estud. pesqui. psicol. vol.15 no.3 Rio de Janeiro Nov. 2015

 

PSICOLOGIA SOCIAL

 

Reflexos do tempo: uma reflexão sobre o envelhecimento nos dias de hoje

 

Reflections of time: a reflection on aging nowadays

 

Reflexiones de tiempo: reflexiones sobre el envejecimiento hoy

 

Carlos Mendes Rosa*, I; Lana Veras**, II; Alysson Assunção***, III

I Universidade Federal do Tocantins – UFT, Miracema, Tocantins, Brasil
II Universidade Federal do Piauí – UFPI, Parnaíba, Piauí, Brasil
III Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação – IBMR, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Reflexões sobre a maneira como lidamos com o envelhecimento, com os sinais da passagem do tempo e com a finitude, são colocadas em cena neste artigo. A morte, na sociedade ocidental dos tempos atuais, tem sido, frequentemente, tratada com negação e com evitação. De modo que o envelhecer, como sua antessala, é muitas vezes associado a estereótipos de obsolescência, devendo ser evitado ou camuflado. As repercussões do desencontro entre uma subjetividade imortal e um corpo envelhecido podem estar ligadas a vivências de sofrimento que não vêm encontrando amplos espaços de expressão e acolhimento em uma sociedade atravessada pelo imperativo da felicidade, pela espetacularização, pelo culto da performance e pela patologização e medicalização da tristeza. Os autores encontraram – no diálogo com obras artísticas da literatura, da escultura e da fotografia – a possibilidade de pensar alguns dos sentidos do envelhecer e da finitude na contemporaneidade.

Palavras-chave: tempo, envelhecimento, morte, desamparo.


ABSTRACT

Reflections on how we deal with aging, the signs of passage of time and the notion of finitude, are put into scene in this article. Death has been treated with denial and avoidance in the modern Western society. The aging process, as his anteroom, is often associated with stereotypes of obsolescence, so that must be avoided or hidden. The repercussions of the mismatch between an immortal subjectivity and the aged body may be linked to experiences of suffering that doesn't find an ample place for expression and acceptance in a society crossed by the imperative of happiness, the spectacle, the cult of performance, the pathologizing and medicalization of sadness. The authors found – in the dialogue with literature, painting, sculpture and photography – the chance to think some of the senses of aging and finitude nowadays.

Keywords: time, aging, death, helplessness.


RESUMEN

Reflexiones sobre cómo lidiar con el envejecimiento, los signos del paso del tiempo y la noción de finitud se ponen en escena en este artículo. La muerte ha sido tratado con la negación y la evitación en la sociedad occidental moderna. El proceso de envejecimiento, como su antesala, se asocia a menudo con los estereotipos de la obsolescencia, por lo que debe evitarse o escondidos. Las repercusiones de la falta de coincidencia entre una subjetividad inmortal y el cuerpo envejecido pueden estar vinculados a experiencias de sufrimiento que no encuentran un lugar amplio para la expresión y la aceptación en una sociedad atravesada por el imperativo de la felicidad, el espectáculo, el culto de la actuación, la patologización y medicalización de la tristeza. Los autores encontraron - en el diálogo con la literatura, la pintura, la escultura y la fotografía - la oportunidad de pensar en algunos de los sentidos del envejecimiento y la finitud en la actualidad.

Palabras clave: tiempo, envejecimiento, muerte, desamparo.


 

 

1 Introdução

Por isso não se deve temer no amor, como na vida habitual, tão somente o futuro, mas também o passado, o qual não se realiza para nós muitas vezes senão depois do futuro, e não falamos apenas do passado que só se nos revela mais tarde, mas daquele que conservamos há muito tempo em nós e que de repente aprendemos a ler.
Proust.

Reflections: essa foi a palavra que o fotógrafo americano Tom Hussey (2014) escolheu para título de uma sequência de fotos premiadas que realizou em 2010. As imagens capturam o momento em que pessoas envelhecidas se miram em um espelho. No entanto, em lugar de um corpo velho, o que elas veem refletido é uma figura jovem, uma face repleta de frescor e um corpo pleno de potência da juventude (Figura 1).

 


Figura 1 Imagem da série "Reflections" do fotógrafo Tom Hussey. (Hussey, 2014)

 

Hussey afirma ter criado a série após ouvir o relato de um veterano de guerra que não acreditava estar chegando aos 80 anos. Ele dizia se sentir como se tivesse acabado de retornar do combate, contudo olhava para o espelho e via "esse cara velho".

Constatação semelhante à do ex-combatente fez, também, nossa poetisa brasileira Cecília Meireles. Com mais beleza, evidentemente, ela narra seu confrontar-se com o espelho, que a sinaliza a passagem do tempo no seu corpo:

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
(Meireles, 1958, p. 10)

Podemos pensar a respeito do papel da obra de arte, que capta aquilo nos escapa (a nós que tentamos enxergar a lógica do mundo) e que nos transporta para essa experiência singular que deriva, por sua vez, da singularidade da visão do artista (Silva, 2014).

A tradução do termo Reflections – título da série de fotografias de Tom Hussey (2014) – para a língua portuguesa admite ao menos duas possibilidades: "reflexos" e "reflexões". São justamente os reflexos mostrados no trabalho, incongruentes com os corpos dos sujeitos refletidos, que colocam em cena reflexões sobre a maneira como lidamos com o envelhecimento, com os sinais da passagem do tempo, com a finitude.

Considerando o envelhecimento uma questão inerente à existência humana e merecedora de um olhar compreensivo apresenta-se, aqui, como proposta para este ensaio, a tentativa de compreensão do significado da passagem do tempo para o "estar envelhecendo".

Colocam-se reflexões sobre o envelhecimento, que se torna uma questão problemática quando é entendido como uma inevitabilidade da obsolescência, o que faz com que o indivíduo seja subutilizado e seja destituído de importância social.

 

2 A construção do ser velho

É pertinente sugerir que a noção de finitude é evocada pelo envelhecer. Por conseguinte, o desejo de não envelhecer reflete um desejo de o homem manter-se jovem, imortal. Com inspiração em Heidegger, podemos dizer que o compreender-se a si mesmo enquanto um constante "poder-ser" é reconhecer-se como o mortal, como um "ser-para-a-morte". A finitude ontológica é a instância balizadora de toda e qualquer possibilidade de estar no mundo, que é onde o ser desempenha as suas atividades e se reconhece como pertencente (Heidegger, 1997). Apenas o homem, dentre todos os seres vivos, tem consciência da inevitabilidade da morte. Exatamente por essa consciência, durante milênios, a proteção contra o aniquilamento foi a função central dos agrupamentos humanos (Elias, 2001).

O "ser-para-a-morte" é, por sua vez, caracterizado pela angústia, que se manifesta de forma diferente em cada ser. Para alguns, apresenta-se como inquietação, um incômodo, um não saber o que fazer. Em outros, aparece nos sintomas físicos e psíquicos como, por exemplo, a depressão. Para outros, até mais comumente, a forma de encarar tal angústia é a negação: pensamos que jamais envelheceremos e, então, nos recusamos a perceber, nos detalhes, as transformações corporais.

A imagem de si, enquanto visão ou concepção que o indivíduo tem de si mesmo, resulta de um processo que envolve as experiências, as impressões e os sentimentos que o indivíduo vivenciou ao longo de sua existência. A maneira como cada um irá reagir ao envelhecimento não deixa de estar relacionada com as primeiras experiências de infância, que serviram de espelho estruturante com o qual foram constituídos os alicerces da subjetividade (Rosa & Vilhena, 2015).

É importante destacar que o envelhecimento costuma aparecer mais claramente para os outros do que para o próprio sujeito; ele é um novo estado de equilíbrio biológico: se a adaptação se opera sem choques, o indivíduo que envelhece não percebe. Enquanto envelhecemos, nossas montagens, estratégias e hábitos permitem amenizar durante muito tempo as deficiências psicomotoras (Beauvoir, 1990). Esta surpresa causada no sujeito, ao se encontrar com a imagem envelhecida que o espelho lhe devolve, tão diferente daquela que o inconsciente, que é atemporal, tende a conservar, foi capturada e transformada em arte pela lente de Hussey (2014). Ou seja, é o olhar do outro que aponta nosso envelhecimento.

A construção imagética que inspira o presente escrito chama a atenção para o fenômeno da passagem do tempo até a velhice não apenas como um fenômeno individual, a ser encarado somente pelo sujeito, mas aponta para um caráter eminentemente social. Enfatizando os mecanismos de construção, simultaneamente social e subjetiva do homem moderno, lembra Elias (2001) que "ser velho" é uma construção, que parte da interiorização de uma identidade individual e coletiva e, portanto, não é algo que ocorre de uma forma homogênea.

Devemos considerar ainda que em muitos casos o corpo adoecido, macilento e desvitalizado dos estágios finais da vida é criado imaginariamente pelo sujeito, muitas vezes, antes mesmo de possuí-lo verdadeiramente. No entanto, a nova construção não aponta para um corpo belo e idealizado para a vida, mas um corpo decrépito e adequado para a morte (Messy, 1992).

Tampouco o inconsciente freudiano possui representações que deem conta do fato inalterável de que vamos morrer. Freud (1974a) já nos avisara que exigência de imortalidade, por ser tão obviamente um produto dos nossos desejos, não pode reivindicar seu direito à realidade. E assim todos nós padecemos do medo da perda dos nossos objetos de investimento afetivo. A vida em si é alimentada por um constante gerenciamento das nossas porções de afeto, interesse, amor e tempo – sim o tempo se tornou um capital na economia moderna.

Pode se apontar, na atualidade, uma tendência à crença na imortalidade e ao afastamento da ideia da morte. Para Elias, a passagem do tempo é algo que, quando percebido, tende a ser encarado como problemático, não tanto pelo temor do morrer, mas pelo desgosto frente à imagem antecipada da morte na consciência dos vivos (Elias, 2001).

Exemplo perfeito desse "estranhamento" é o pequeno conto La Otra, da escritora hispânico-mexicana Mariana Frenk-Westheim (2001, p.76-77):

Um dia a senhora NTS se viu no espelho e se assustou. A mulher do espelho não era ela. Era outra mulher. Por um instante pensou que fosse uma brincadeira do espelho, porém descartou esta ideia e correu a se olhar no grande espelho da sala. Nada. A mesma senhora. Foi no banheiro, no corredor, nos pequenos espelhinhos que carregava na sua bolsa, e nada. Aquela mesma senhora desconhecida estava lá. Decidiu sentar e fechar os olhos. Sentia vontade de fugir para um lugar bem longe onde não pudesse encontrar-se com aquela pessoa. Porém era mais prudente ficar por perto, não deixá-la sozinha. Observá-la. Parou para refletir: quem poderia ser essa senhora? Talvez a que morou antes de mim neste apartamento? Talvez a que morará aqui quando eu sair? Ou quem sabe, a mulher que eu mesma seria se minha mãe se tivesse casado com seu primeiro namorado? Ou quem sabe, a mulher que eu mesma teria gostado de ser? Lancei uma rápida olhada no espelho e decidi que não. De jeito nenhum eu teria gostado de ser essa senhora. Depois de pensar muito tempo, a senhora NTS chegou à conclusão de que todos os espelhos da casa tinham enlouquecido, agiam como atacados por uma doença misteriosa. Tentei aceitar a situação, não me preocupar mais, e simplesmente parar de me olhar no espelho. A gente pode viver muito bem sem se olhar no espelho. Guardei os pequenos espelhos de bolsa para tempos melhores, e cobri com panos os maiores. Um belo dia, quando por força do hábito estava me penteando frente ao espelho do armário, o pano caiu, e ali estava a outra me olhando, aquela desconhecida. Desconhecida? Parece-me que já não tanto assim. Contemplo-a durante longos minutos. Começo a achar que tem um certo ar de família. Talvez esta dama compreenda minha situação e por pura bondade tente se adaptar a mim, a minha imagem que por tanto tempo habitou meus espelhos. Desde então, olho-me ao espelho todos os dias, a toda hora. A outra, não tenho dúvidas, se parece cada vez mais comigo. Ou eu com ela? 1 (Frenk-westheim, 2001, p. 76-77).

O texto acima ressona as ideias de Elias, Beauvoir, Freud e Heidegger. O "ser velho" é sempre o outro, no qual não nos reconhecemos. A imagem do velho parece sempre estar fora do sujeito, por isso, mesmo que saibamos que se trata da nossa imagem, o "ser-para-a-morte" se dá conta de uma inquietante experiência de estranheza.

Segundo Goldfarb (1998) há algo de apavorante nessa imagem especular, algo que é, ao mesmo tempo, da ordem do familiar. "A imagem do espelho não corresponde mais à imagem da memória; a imagem do espelho antecipa ou confirma a velhice, enquanto a imagem da memória quer ser uma imagem idealizada que remeta à familiaridade do Eu especular" (Goldfarb, 1998, p. 53). Pensamos em um inevitável desencontro entre o inconsciente atemporal e o corpo envelhecido. Assim, é o olhar do outro que nos enxerga mais velho do que os demais, pois como ressalta Freud (1974a) a exigência da imortalidade parece não deixar que nos demos conta do envelhecimento. Sua associação é sempre com a falta, com a perda. O velho do espelho é sempre outro, não pode ser admitido como a representação conhecida pelo sujeito de sua própria face.

 

3 Envelhecer em tempos de imortalidade

As utopias ligadas à imortalidade e à juventude eterna não são novidade na história humana. No entanto, observamos uma presença forte desse desejo no imaginário contemporâneo, que tem essa aspiração reavivada pelas promessas e possibilidades que a tecnologia científica apresenta. As maneiras como lidamos com a passagem do tempo, com o envelhecimento e com a morte sofreram muitas mudanças e, hoje, é frequente a tentativa de apagar ou disfarçar os indícios desses processos (Veras, 2015).

Especialmente, quando observamos uma mudança na responsabilização do sujeito frente ao seu destino enquanto velho. Trata-se do fenômeno atual, e problemático, chamado de reprivatização da velhice, no qual o discurso ideológico porta a ideia de que para viver bem o último período da vida, basta aos "idosos" se engajarem na luta pela melhoria de sua qualidade de vida, aproveitando a grande quantidade de tempo disponível para fazer o melhor por seus corpos e almas e, se não o fazem, isto se deve mais a eles mesmos do que às condições sociais e culturais (Debert, 2004).

Assim, a técnica e o mercado oferecem tratamentos médicos, prescrição de dietas, estilos de vida, cirurgias plásticas ou mesmo intervenções virtuais nas imagens, de forma que a aproximação das pessoas com o envelhecimento e com a morte seja postergada. É cultivada, simultaneamente, uma expectativa de que o envelhecimento possa ser paralisado e a morte adiada, indefinidamente, por meio dos avanços da tecnologia biomédica.

Esse cenário é discutido pelo historiador Lucian Boia (2006) em publicação apropriadamente intitulada: Quand les centenaires seront jeunes 2. Neste trabalho, Boia apresenta o que poderíamos chamar de "tempos de imortalidade" vividos na contemporaneidade e que teve seu início tão bem descrito por Tolstoi na novela "A Morte de Ivan Ilitch", publicada ainda em 1886, na Rússia. Na obra, Ilitch declara seu conhecimento sobre a proximidade de sua morte, mas relata a impossibilidade de compreender tal fato. A lógica que havia sido perfeitamente entendida, na dimensão racional, do silogismo que apreendera: "Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal", parecia não fazer sentido algum quando se aplicara a ele próprio. Fato evidenciado na seguinte constatação de Ilitch:

Se eu tinha de morrer, assim como Caio, deveriam ter-me avisado antes. Uma voz dentro de mim desde o início deveria ter-me dito que seria assim. Mas não havia nada em mim que indicasse isso; eu e todos meus amigos sabíamos que no nosso caso seria diferente. E eis que agora... Não... Não pode ser e, no entanto é assim! Como entender isso? (Tolstoi, 2005, p.63).

As consequências mais comuns no ser humano do "medo de perder algo valioso" são a antecipação defensiva e a culpa. Sempre que estamos excessivamente felizes ou em momentos importantes de nossa existência, esses mecanismos entram em ação nos informando que a felicidade ou estabilidade a qual nos encontramos pode acabar subitamente; são transitórios (Freud, 1974a). A perda relaciona-se, em última análise, com o receio da morte–ou seja, a perda da existência. O homem primitivo aprendeu a admitir a morte como fato inalterável, mas não conseguiu assimilar a ideia da sua própria aniquilação. Por essa razão, a nossa história guarda uma profusão de mitos e religiões espiritualistas. De fato, nada do pulsional solicita a crença da própria morte (Freud, 1974b).

Na contemporaneidade, como já dissemos, a experiência de envelhecer vem se transformando em função de fatores sociais, que influenciam os desafios e as identidades atreladas ao processo de passagem do tempo. Observamos várias manifestações culturais que alargam o escopo simbólico que compõem a identidade do envelhecer.

Bauman (2005) ressalta que, durante o processo de filiação identitária na contemporaneidade, cada vez mais os sujeitos encontram-se desprovidos de fontes seguras que lhes sirvam como parâmetros e confiram estabilidade à existência. A busca da identidade deve dar-se de acordo com parâmetros individuais e, logo, o sujeito pode contar apenas consigo mesmo para realizar seu projeto de vida – assumindo responsabilidade individual pelo comportamento, pela aparência, até pela própria condição de enfermidade.

Ainda que esta relação insatisfatória e produtora de sofrimento não acompanhe a totalidade das experiências de envelhecimento, Mike Featherstone – um dos principais sociólogos a se dedicar à relação entre cultura de consumo e envelhecimento – ressalta que existem diferenças entre o "corpo vivido" e os corpos virtuais que se disseminam nas representações públicas da mídia (Featherstone & Hepworth, 2005). Os conceitos de "máscara da velhice" e "ageless" (eterno, imortal) vêm sendo frequentemente utilizados para interpretar a dicotomia entre o corpo que envelhece e a disposição interior que insiste em fazer-se jovial como forma de filiação identitária.

As fantasias de imortalidade podem ser evidenciadas em imagens do cotidiano, a exemplo da capa quádrupla da edição da revista Superinteressante que, em fevereiro de 2010, estava nas bancas de jornais no Brasil. Nessa capa figuram hipotéticas imagens de pessoas com 40, 80 e 120 anos, mas com aspecto jovem para a idade alegada.A matéria depositava na ideia de progresso e de ciência a realização não só de um desejo, mas de uma urgência:

Você pode ser imortal: Nascer, reproduzir, morrer
- eis o ciclo da vida. Mas isso é só por enquanto. A
ciência está trabalhando para que ninguém mais
morra de velho. E é possível que dê tempo de você
entrar nessa (Cinquepalmi, 2010, p. 14).

Cinco anos antes da publicação dessa matéria jornalística brasileira, em 2005, o escritor português José Saramago inicia seu livro, As Intermitências da Morte, com a frase: "No dia seguinte ninguém morreu" (Saramago, 2011, p.11).

Nesse caso, contudo, a obra ficcional literária revela um olhar mais cauteloso e crítico do que o texto jornalístico baseado em "evidências científicas". Nesse romance, o autor parte de uma suposição: E se não houvesse mais morte? Assim, com inteligência e elegância, mas também com ironia e humor, o escritor descreve em sua narrativa o que se passa em um país onde a morte não mais existe.

A princípio, as pessoas vivenciaram a estranheza do acontecimento, logo depois, expressaram a euforia e a alegria de se saber imortal, sonho acalentado pelos humanos desde que estes se perceberam finitos. Porém, com o passar do tempo, a alegria e a euforia deram lugar à preocupação e ao alvoroço, pois começaram a se apresentar os problemas sociais, econômicos, políticos e morais originados do fato de as pessoas não mais morrerem.

É óbvio que na realidade – diferentemente da obra de Saramago e da capa da revista Superinteressante – nós continuamos a morrer. Entretanto, a relação de muitos homens contemporâneos com a morte tem sido permeada pelo distanciamento, pela técnica, pela institucionalização, pela medicalização e pela mercantilização (Veras, 2015).

A morte afronta a utopia da imortalidade e passa a ser escamoteada, escondida, e quem morre "deletado", lembra a pesquisadora Paula Sibília (2008). O verbo utilizado pela autora é empregado de forma salutar, pois a morte – enquanto uma existência que cessa, algo "deletado" – pois desvela que o existir, na contemporaneidade, não vale apenas para o corpo vivido, mas para todo o conjunto das suas representações, do corpo virtual, sejam elas em espaços "reais" ou "virtuais". Não ocupar tais espaços é como não existir (Bauman, 2011).

O morrer deixa de ser um momento já esperado do desenvolvimento humano para se configurar como uma derrota, como um fracasso. Conforme afirmam Soares e Dantas (2006, p.100): "O homem hipermoderno tende a ver a morte como uma traição, cometida pela tecnociência, que se apresentou a ele como onisciente e onipotente, que lhe prometeu eterna juventude e imortalidade".

Norbert Elias (2001) comenta os modos pelos quais se instalam os sentimentos de constrangimento, medo e embaraço em relação a tudo que lembre a finitude da vida biológica; dando especial relevo ao isolamento dos velhos e moribundos em asilos, hospitais e clínicas de saúde. Segundo o autor, o abandono e isolamento dos velhos em nossa sociedade não podem ser explicados unicamente a partir da ideia de que velho é improdutivo economicamente. Pais e professores evitam falar da morte, de pessoas que morrem ou estão morrendo. As crianças, muitas vezes, são impedidas de verem pessoas mortas e, por conseguinte, de vivenciarem as emoções provocadas pela morte.

 

4 O imperativo da felicidade e a medicalização da vida

Ao pensar na relação do Homem com o tempo e com a finitude, são pertinentes os questionamentos: Qual o tempo destinado ao sofrer na sociedade ocidental contemporânea?  De que maneira o período do luto é abreviado em uma época que valoriza, e mesmo impõe aos indivíduos, o "ser feliz"?

A experiência com as situações de morte e morrer advém, primeiramente, da morte do outro, que nos remete à percepção de que também somos seres para a morte e que, em algum momento de nossa existência, passaremos pelo mesmo processo. As tentativas de amortecer esse tipo de experiência desconfortável, apesar da sua imanente inevitabilidade, parecem constituir a lógica corrente de lidar não apenas com a morte, mas com tudo que a ela se relaciona ou imprime semelhante sofrimento.

Vivenciar a alternância entre vivências de felicidade e de tristeza faz parte da experiência pessoal da maioria dos seres humanos, porém, na contemporaneidade, a proporção esperada de cada um desses polos tem sido bastante modificada. Estamos diante do que podemos chamar "imperativo da felicidade" (Freire Filho, 2010), pois a felicidade é colocada como condição indispensável de bem estar e sucesso pessoal e as formas apontadas pela sociedade para sua obtenção são as mais diversas, contudo em sua maioria ligadas ao consumo e à imagem.

No entanto, não é suficiente ser feliz, em uma sociedade do "culto da performance" (Ehrenberg, 2010) temos que ser o mais feliz dentre os outros. Se estamos bem, por que não podemos ficar melhor? Esse é o pressuposto do conceito de "melhor que bem", muito utilizado na chamada "Psiquiatria cosmética" que – diferentemente da acepção derivada do grego para a "arte de curar a alma" – concebe o uso dos medicamentos psicotrópicos não só como auxilio às pessoas com quadros patológicos, mas como potencializador de características desejáveis em uma sociedade performática.

As fronteiras entre tratamento e aperfeiçoamento, segundo o psiquiatra Benilton Bezerra, estariam indefinidas para a psiquiatria, que se voltaria: "Não apenas ao tratamento, mas ao alívio do sofrimento inerente à vida cotidiana e aos limites naturais da vida, bem como pela produção biotecnológica de estados de felicidade" (Bezerra, 2010, p.121).

O uso elevado e frequente de medicações ou intervenções para a melhoria de um estado ou característica das pessoas foi comparado pelo sociólogo Ehrenberg (2010) com o doping dos atletas, cujo objetivo não seria um tratamento, e sim, uma melhoria de suas performances. No caso dos não-atletas, performances profissionais, sexuais, estéticas, enfim, a busca da tão propagada (e propagandeada) felicidade. A competição permeia todo esse contexto, posto que o conceito do "melhor que bem" nos lembra que não é suficiente ser bom ou feliz, é necessário ser o melhor e o mais feliz. O sociólogo questiona se não estaríamos lidando com drogas de integração social e relacional, considerando o consumo disseminado de medicamentos psicotrópicos destinados aos mais diferentes objetivos de melhorias de performances (Ehrenberg, 2010).

Ao que parece, em uma sociedade que cultua a performance, a tolerância com as diferenças tem diminuído. Na medida em que, ao nível da representação, se vêem diminuídas as possibilidades de contribuição para a sociedade (apesar de ser um momento onde se deveria estar gozando o benefício de uma vida inteira de trabalho) o "ser velho" passa a ser entendido como "fardo", o que tem seus impactos na construção social do envelhecer (Featherstone & Hepworth, 2005). Nesse cenário o velho, por exemplo, que encarna tanto a discrepância do modelo publicitado quanto a face inescapável da morte, tem se tornado cada vez mais um pária social.

Com relação ao descaso para com os idosos, Simone de Beauvoir afirma que nossas sociedades não são apenas culpadas, mas criminosas. Extenso estudo bibliográfico realizado em seu livro A Velhice leva a autora a considerar que os velhos, em algumas sociedades, encarnam a categoria de Outro do social, portando toda ambivalência característica a este conceito. Ou o velho é reconhecido como uma espécie de super-homem, ou tratado como uma subespécie da raça. Ele sempre está além ou aquém da condição normal dos demais homens. Esse cenário cria diversas situações martirizantes para aqueles que viveram mais anos do que o aceitável pela sua própria comunidade (Beauvoir, 1990).

Outra questão é o fato de o estatuto da velhice ser outorgado pela comunidade. Seu status social e subjetivo pouco ou nada depende de suas próprias capacidades, sendo determinado pelos ideais e objetivos da sociedade na qual se encontra inserido. Podendo ser valorizado ou descartado, de acordo com as exigências da nova onda midiática da próxima estação. Nas palavras de Brum (2008) os velhos do nosso tempo se encontram "reduzidos a um único tempo verbal, o pretérito, com suspeito presente e um futuro que ninguém quer" (Brum, 2008, p. 58).

Além disso, vivências e estados subjetivos, antes considerados como indissociáveis do viver de qualquer pessoa, têm figurado como patológicos ou indesejáveis, de modo que devem ser tratados ou evitados. Bezerra (2010) observa que a forma de compreensão do sofrimento psíquico característica das correntes psicodinâmicas e fenomenológico-existenciais, como instrumento de transformação pessoal, vem perdendo espaço para concepções diferentes, que classificam o sofrimento como desnecessário e mesmo patológico. Um exemplo dessa realidade é a medicalização da tristeza e do luto.

A sociedade contemporânea tem elegido a medicalização do viver como alternativa para lidar com essas questões. Assim, a medicalização não só da tristeza, mas de outras vivências humanas, do nascimento à morte, coloca no domínio técnico âmbitos antes não pertencentes à clínica médica.

Assim, parece pertinente questionar seria por conta desse processo de medicalização do viver e do envelhecimento – que não causou grande surpresa o fato do trabalho fotográfico Reflections – ponto de partida das reflexões desse artigo, ter sido vendido para a campanha publicitária de um medicamento para Mal de Alzheimer?

As reflexões aqui realizadas mostram que, atualmente, o tempo destinado ao sofrer tem diminuído, por outro lado tem aumentado o sofrimento diante da percepção da passagem do tempo, que remete ao envelhecimento e à morte. Apesar dos dados demográficos de aumento da expectativa de vida e o consequente envelhecimento da população humana, em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a sociedade contemporânea ocidental tem demonstrado menos tolerância com os sinais desse envelhecimento.

Para camuflar os sinais da passagem do tempo, são utilizados os mais diversos artifícios. Com esse objetivo, são cada vez mais frequentes as intervenções, sejam no corpo, nas imagens virtuais e mesmo na linguagem. No corpo, o apagar dos indícios do escoamento do tempo, do envelhecimento, utiliza desde a aplicação de toxina botulínica para paralisação dos músculos e redução das rugas a cirurgias plásticas, cosméticos, exercícios, medicamentos, dietas controladas e até injeção de células-tronco. Nas imagens virtuais, em um mundo imagético e performático, a ingerência sobre o envelhecimento se dá com os meios virtuais de rejuvenescimento, como os recursos do "photoshop", ou "filtros" utilizados para intervenções nas imagens das pessoas em fotos e vídeos.

Na linguagem, podemos observar uma profusão de termos como "Terceira Idade", "Melhor Idade", "Idoso", "Espírito Jovem", "Sênior", que, ao se referir ao velho e ao envelhecimento, faz uso de constante eufemismo. Essa figura de pensamento, o eufemismo, é conceituada pelos gramáticos como um tipo de linguagem que substitui uma expressão rude por outra mais agradável, para não gerar ofensas ao comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante. A utilização frequente dessa estratégia linguística para tratar o velho coloca em cena a nossa relação com o envelhecimento, permeada pela negação, evitação e patologização.

 

5 Considerações finais

Se antes falávamos da velhice em termos apenas de perdas cognitivas e executivas, hoje comemoramos entusiasmados as conquistas da medicina e os avanços legais e sociais de alguns países na defesa dos direitos dos velhos. Envelhecer como sinônimo de decadência deixou de ser uma profecia autorrealizável (Vilhena, Novaes, & Rosa, 2014). Mas sabemos que tal como a bela paisagem lamentada pelo amigo de Freud (porque esta iria acabar) em seu texto sobre a transitoriedade, quando sobrevier o inverno da alma, estas maravilhas, estes avanços, rapidamente serão solapados pela inexorabilidade do processo vital.

Pior do que a decadência física nos parece ser a condição de desamparo que a contemporaneidade impõe a todos e, em especial, aos velhos. Falamos aqui de um desamparo estrutural, fruto de uma sociedade que optou por abrir mão de seus baluartes e garantidores em nome de um estilo de viver mais fluído, descompromissado e mesmo superficial.

Vivemos um tempo de falta de garantias, onde há poucos pontos de sustentação na vida que não sejam o próprio consumo, o capitalismo, a eterna busca de uma quimera chamada felicidade, como estratégia de evitação quase que automática da falta mais intrínseca a todos. Esta lacuna no ser humano contemporâneo, que era a mesma do homem moderno, como já nos garantira Freud, diz respeito aos ideais que são erigidos na base de nossa constituição subjetiva, ou seja, os ideais de onipotência, de propriedade exclusiva do amor materno e, quando tudo mais falha, da proteção do pai todo poderoso. A diferença reside exatamente na maneira como os homens dessas duas épocas lidam com tais questões.

Modos distintos de se relacionar com o envelhecimento, que aqui optamos por evidenciar, com o auxílio de mais uma obra de arte, porém agora escrita pela pena de Shakespeare (2000). Trata-se de uma parte da trajetória do Rei Henrique V, contada no livro que leva o nome do monarca. Lá estava o exército inglês, às portas de Azincourt, no auge da famosa Guerra dos Cem Anos. Os ingleses já haviam tomado grande parte da França, mas suas hostes se encontravam em frangalhos, destruídas pela fome, pela peste e, é claro, pelo exército inimigo.

Às vésperas da grande batalha Henrique V decide sondar o moral das tropas disfarçando-se de reles camponês e caminhando entre as fileiras de seus homens. Em dado momento ele ouve dois soldados conversando sobre o que o alvorecer os reservava, quando um deles questiona seu companheiro de campanha:

– E se você morrer amanhã?
– Ora. Se eu morrer eu acho que serei julgado pelos meus atos. Provavelmente, vão me perguntar por que eu matei tantos homens. Então eu poderei dizer que matei porque o Rei mandou. Sou um fiel súdito da coroa, e se o rei manda ir à guerra e matar franceses, então é isso que eu faço. Por isso estou tranquilo para morrer por meu país.

Ao escutar essa conversa, o rei toma-se de um súbito desespero por não saber se estava tomando a decisão certa ao levar seus homens para o que poderia ser a morte e a destruição do seu exército. Neste momento Shakespeare narra que os soldados, mesmo deitados no solo duro, dormem tranquilamente, confiantes nas decisões do rei, garante último de suas vidas. Enquanto Henrique, posto num dossel esplêndido, cravejado de ouro, contempla a noite horrenda que nada lhe responde sobre seus dilemas.

O homem moderno, oriundo dos sistemas de governo unificados na figura de um representante máximo, crente nas ideologias religiosas, encontra bases que possam dar a eles o suporte necessário para a caminhada de sua existência, bem como os soldados ingleses. Ao tempo em que o sujeito da contemporaneidade, muito se assemelha ao Rei, que não tem ídolos, sábios, ou mestres a quem endereçar suas angústias vivenciais. Acrescente a este quadro a série de angústias trazidas pelo envelhecimento (debilidade física, preconceito, castração, morte), e a incapacidade da sociedade atual em lhes dar qualquer resposta satisfatória e não paliativa e teremos uma mostra da condição de desamparo do velho nos dias atuais.

 


Figura 2. Escultura "Homem em um Barco" 159cm x 138cm x 425,5cm.  Ron Mueck. 2002

 

Tal como o desamparo de um homem, que navega solitário e desnudo, na escultura hiper-realista de Mueck (figura 2), um enorme barco sem leme ou remos. E que, com seus braços cruzados e grande palidez, lança longo olhar. Mas... Para onde?

 

Referências

Bauman, Z. (2005). Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.         [ Links ]

Bauman, Z. (2011). 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.         [ Links ]

Beauvoir, S. (1990). A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.         [ Links ]

Bezerra JR, B. (2010). A psiquiatria e a gestão tecnológica do bem-estar. In J. Freire Filho (Ed), Ser feliz hoje. Reflexões sobre o imperativo da felicidade (pp. 117-134). Rio de Janeiro: Editora FGV.         [ Links ]

Boia, L. (2006). Quand les centenaires seront jeunes: l'imaginaire de la longévité de l'Antiquité à nos jours. Paris: Les Belles Lettres.         [ Links ]

Brum, E. (2008) O olho da rua: uma repórter em busca da literatura da vida real. São Paulo: Editora Globo.         [ Links ]

Cinquepalmi, J. (2010). Você pode ser imortal. Super Interessante, fev. São Paulo: Editora Abril.         [ Links ]

Debert, G. (2004). A Reinvenção da velhice. São Paulo. EDUSP.         [ Links ]

Elias, N. (2001). A solidão dos moribundos, seguido de "envelhecer e morrer". Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor.         [ Links ]

Ehrenberg, A. (2010). O sujeito cerebral. Psicologia clinica, 21(1), 187-213.         [ Links ]

Featherstone, M., & Hepworth, M. (2005). Images of ageing: cultural representations of later life. In M. L. Johnson (Ed.), The Cambridge handbook of age and ageing (vol. 116, pp. 354-362) Cambridge: Cambridge University Press.         [ Links ]

Freire Filho, J. (2010) A felicidade na era de sua reprodutibilidade científica: construindo "pessoas cronicamente felizes". In J. Freire Filho (Ed), Ser feliz hoje: Reflexões sobre o imperativo da felicidade (p. 49-60). Rio de Janeiro: Editora FGV.         [ Links ]

Frenk-Westheim, M. (2001). Y mil aventuras. México: Siglo XXI.         [ Links ]

Freud, S. (1974a). Luto e melancolia. In S. Freud. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (vol. 14). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1915).         [ Links ]

Freud, S. (1974b). Sobre a transitoriedade. In S. Freud. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (vol. 14). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1916).         [ Links ]

Goldfarb, D. (1998). Corpo, tempo e envelhecimento. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Heidegger, M. (1997). Ser e Tempo. Petrópolis: Editora Vozes.         [ Links ]

Hussey, T. (fevereiro, 2014). Reflections. Hussey Photography. Recuperado em 10 julho de 2014, de: <http://www.tomhussey.com/SERIES/Reflections/1/thumbs>         [ Links ].

Meireles, C. (1958) Obra Poética. Rio de Janeiro: José Aguilar.         [ Links ]

Messy, J. (1992). A pessoa idosa não existe. São Paulo: Aleph.         [ Links ]

Rosa, C. M., & Vilhena, J. (2015) Envelhecimento e seus possíveis destinos. Uma reflexão acerca do trabalho do negativo. Revista do Tempo Psicanalítico, 47(1), 112-133.         [ Links ]

Saramago, J. (2011). As intermitências da morte. São Paulo: Leya.         [ Links ]

Shakespeare, W. (2000). Henrique V. São Paulo: L & PM Editores.         [ Links ]

Silva, C. (2014). Proust, Bergson, Benjamin: breve nota sobre o tempo, a duração e a modernidade na "busca do tempo perdido". Jornal Opção, Goiânia, 29 de maio de 2011. Recuperado em 10 maio de 2014, de: <http://www.jornalopcao.com.br/posts/opcao-cultural/proust-bergson-benjamin-breve-nota-sobre-o-tempo-a-duracao-e-a-modernidade-na-busca-do-tempo-perdido>         [ Links ].

Sibilia, P. (2008). O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.         [ Links ]

Soares, J., & Dantas, M. (2006). Considerações sobre a morte e o morrer na hipermodernidade. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 6(2), 89-104.         [ Links ]

Veras, L. (2015). Aqui se jaz, aqui se paga: a mercantilização da morte, do morrer e do luto. Curitiba: Appris.         [ Links ]

Vilhena, J., Novaes, J., & Rosa, C. (2014). A sombra de um corpo que se anuncia: corpo, imagem e envelhecimento. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 17(2), 251-264.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Carlos Mendes Rosa
Universidade Federal do Tocantins Miracema
Quadra 604 Sul, Alameda 12, nº 45, Casa 1, CEP 77.022-032, Palmas - TO, Brasil
Endereço eletrônico: carlosmendesrosa@gmail.com
Lana Veras
Universidade Federal do Piauí
Curso de Medicina
Avenida Capitão Claro, 382, CEP 64.200-500, Parnaíba - PI, Brasil
Endereço eletrônico: lanaveras@hotmail.com
Alysson Assunção
Instituto de Brasileiro de Medicina de Reabilitação
República do Chile, 65 - 9 andar sala 902, Centro, CEP 20.031-912, Rio Janeiro – RJ, Brasil
Endereço eletrônico: alyssonassuncao@gmail.com

Recebido em: 15/09/2014
Reformulado em: 02/09/2015
Aceito para publicação em: 20/09/2015

 

 

Notas

* Doutor em Psicologia pela PUC-RJ. Professor adjunto da Universidade Federal do Tocantins.
** Doutora em Psicologia Social pelo PPGPS-UERJ. Professora Adjunta da Universidade Federal do Piauí. Parnaíba.
*** Mestre em Tecnologias da Comunicação e Cultura pelo PPGCom/UERJ. Professor associado ao Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação – IBMR.
1 O texto no original em espanhol é: "Un día, la señora NTS fue visto en el espejo y se asustó. La mujer en el espejo no era ella. Era otra mujer. Por un momento se pensó que era una broma del espejo, pero rechazó esta idea y corrió a mirarse en un espejo grande en la habitación. Nada. La misma señora. Estaba en el baño, en el pasillo, en los pequeños espejos que llevan en su bolso, y nada. Esa misma dama desconocida estaba allí. Decidió sentarse y cerrar los ojos. Quería escapar a un lugar lejano donde no pudo cumplir con esa persona. Pero era más prudente quedarse, no lo deje en paz. Al verla. Parado a pensar: ¿quién podría ser esta dama? ¿Tal vez eso vivió en este apartamento antes que yo? ¿Tal vez los que quieren vivir aquí cuando me vaya? ¿O tal vez la misma mujer con la que sería si mi madre se había casado con su primer novio? ¿O tal vez la mujer que yo mismo hubiera gustado ser? Eché un rápido vistazo en el espejo y decidí que no lo hice. De ninguna manera me hubiera gustado ser esa señora. Después de pensarlo mucho tiempo, la señora NTS llegó a la conclusión de que todos los espejos de la casa se había vuelto loco, actuó como atacada por una misteriosa enfermedad. Traté de aceptar la situación, no te preocupes más, y simplemente dejar de mirarme en el espejo. Podemos vivir muy bien sin mirar en el espejo. Puse los pequeños espejos de bolsos de tiempos mejores, y se cubren con paños más grandes. Un día, cuando por costumbre me estaba peinando el armario con espejo, cayó el telón, y no había otro que me mira, ese desconocido. ¿Desconocido? me parece que no tanto. Miro fijamente durante largos minutos. Empiezo a sentir que tiene un cierto aire de familia. Tal vez esta señora entiende mi situación y tratar de adaptar la bondad pura, mi imagen que durante tanto tiempo habitó mis espejos. Desde entonces, me miro en el espejo cada día, cada hora. El otro, no tengo ninguna duda, se ve cada vez más a mí. ¿O yo con ella?".
2 O termo, em francês, pode ser traduzido como "quando os centenários forem jovens".

Creative Commons License