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Estudos e Pesquisas em Psicologia

On-line version ISSN 1808-4281

Estud. pesqui. psicol. vol.19 no.3 Rio de Janeiro Sept./Dec. 2019

 

RESENHA

 

Competência social e habilidades sociais: Manual teórico-prático

 

Social competence and social skills: Theoretical-practical manual

 

Competencia social y habilidades sociales: Manual teórico-práctico

 

Lucas Cordeiro Freitas*

Universidade Federal de São João del Rei - UFSJ, São João del Rei, Minas Gerais, Brasil

Endereço para correspondência

 

 

Del Prette A., Del Prette, Z.A.P. (2017). Competência Social e Habilidades Sociais: Manual Teórico-prático. Petrópolis: Editora Vozes, 252 p.

 

As dificuldades de relacionamento interpessoal, que muitas vezes podem se caracterizar como déficits em habilidades sociais e baixa competência social, estão associadas a uma diversa gama de transtornos mentais. Mesmo em indivíduos que não apresentam indicadores de transtornos psiquiátricos, as habilidades sociais são reconhecidamente uma variável preditora de bom ajustamento social, acadêmico e ocupacional, podendo atuar como um fator de proteção frente ao desenvolvimento de dificuldades interpessoais mais graves (Caballo, 2003; Del Prette & Del Prette, 1999).

No livro "Competência social e habilidades sociais: Manual teórico-prático", os autores apresentam contribuições em termos conceituais e aplicados no que se refere à concepção, ao planejamento, à implementação e à avaliação de intervenções baseadas nos princípios e evidências científicas do campo teórico-prático das Habilidades Sociais.

A obra está estruturada em três partes, contendo dez capítulos no total. Na primeira parte, composta por quatro capítulos, são apresentados os conceitos fundamentais que embasam a teoria e a prática no campo das Habilidades Sociais. O Capítulo 1 é dedicado ao conceito de habilidades sociais, com ênfase na sua definição mais atual, nas classes e subclasses de comportamentos que compõem esse conceito, bem como na apresentação de um portfólio geral das principais habilidades sociais identificadas na literatura. O Capítulo 2 discorre sobre o conceito de competência social, apresentando os critérios avaliativos relacionados a esse conceito e discutindo em profundidade a dimensão ética como critério básico para a competência social. Nota-se, nesse capítulo, a tentativa dos autores de estabelecer a dimensão ética enquanto critério básico da competência social, noção esta que norteia todo o restante da obra. O Capítulo 3 trata das definições de tarefa interpessoal e práticas culturais, contextualizando as habilidades sociais em função dos papéis sociais e das variáveis do contexto cultural mais amplo. Nesses três primeiros capítulos, os autores avançam na fundamentação conceitual de termos chave do campo das Habilidades Sociais, quando se compara à definição desses mesmos termos em obras anteriores (Del Prette & Del Prette, 1999, 2001, 2009).

No capítulo 4, são apresentadas as bases conceituais e empíricas dos programas de Treinamento de Habilidades Sociais (THS) e do Método Vivencial, proposto pelos autores. São descritos, brevemente, os problemas associados a déficits em habilidades sociais que podem ser foco de intervenções, as principais aplicações e clientelas dos programas de THS, bem como as definições e modalidades do Método Vivencial.

Na segunda parte do livro, direcionada para orientações para a prática, o Capítulo 5 apresenta diretrizes para a avaliação da efetividade dos programas de intervenção, contemplando todas as fases do processo: avaliação inicial, avaliação continuada ou de processo, avaliação final de resultados e avaliação de follow-up ou de acompanhamento. O Capítulo 6 apresenta uma variedade de técnicas, procedimentos e recursos terapêuticos que podem ser utilizados em programas de THS. São apresentadas tanto técnicas clássicas na aplicação do THS, como técnicas atuais, a exemplo das tarefas interpessoais de casa e da utilização de recursos multimídia. No capítulo 7, os autores discutem como promover os requisitos da competência social, por meio dos procedimentos e recursos apresentados anteriormente. São enfatizadas a importância da automonitoria e da análise de contingências, do conhecimento prévio do ambiente social, dos valores de convivência e do autoconhecimento.

A terceira parte do livro é dedicada ao planejamento e à condução de intervenções que visam à promoção de habilidades sociais e de competência social. O capítulo 8 é voltado especificamente para o planejamento e a estruturação de programas de THS. Questões práticas e metodológicas são discutidas como, por exemplo, o número de participantes, a duração das sessões, os critérios de definição dos objetivos das intervenções, bem como o planejamento de todas as etapas do programa. No capítulo 9, são apresentadas orientações para a condução de programas de intervenção, em formatos individuais ou grupais. Nesse capítulo, cabe destacar a ênfase dos autores nas habilidades exigidas do facilitador ou terapeuta na condução de programas dessa natureza. Adicionalmente, há exemplos de casos ilustrativos que englobam desde o histórico ou queixas dos participantes até a avaliação dos resultados finais da intervenção.

No capítulo 10, são apresentadas, detalhadamente, uma série de vivências e outras atividades que podem ser utilizadas em programas de THS com finalidades e públicos diversos, contendo a descrição de objetivos, materiais e procedimentos específicos para cada uma delas. Os autores dividem as vivências entre aquelas mais adequados para as fases de início e término de sessão e aquelas vivências centrais em uma sessão terapêutica. Nesse sentido, o terapeuta ou facilitador pode se beneficiar de orientações detalhadas que podem servir como guia para planejar e implementar cada fase de uma sessão.

Considerando a obra em seu conjunto, pode-se salientar que sua publicação representa uma contribuição importante no que se refere à disseminação de intervenções em THS para o contexto acadêmico e a sociedade em geral, que sejam embasadas em princípios conceituais bem estabelecidos e na busca por evidências científicas de efetividade. Além disso, vislumbra-se o potencial de aplicação do conteúdo do livro em termos da realização de intervenções para promoção de saúde mental, prevenção e tratamento em Psicologia ou áreas afins. Por ter um caráter didático, o livro pode ser útil também na formação básica de habilidades terapêuticas com estudantes de Psicologia.

 

Referências

Caballo, V. E. (2003). Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais. São Paulo: Santos.         [ Links ]

Del Prette A., Del Prette, Z. A. P. (2001). Psicologia das relações interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Editora Vozes.         [ Links ]

Del Prette A., Del Prette, Z. A. P. (2017). Competência Social e Habilidades Sociais: Manual Teórico-prático. Petrópolis: Editora Vozes.         [ Links ]

Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (1999). Psicologia das Habilidades Sociais: Terapia, educação e trabalho. Petrópolis: Editora Vozes.         [ Links ]

Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2009). Psicologia das Habilidades Sociais na Infância: Teoria e prática (4ª ed.). Petrópolis: Editora Vozes.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Lucas Cordeiro Freitas
Universidade Federal de São João del Rei
Departamento de Psicologia – Laboratório de Pesquisa em Saúde Mental
Praça Dom Helvécio, 74, Dom Bosco, CEP 36301-160, São João Del Rei - MG, Brasil
Endereço eletrônico: lcordeirofreitas@ufsj.edu.br

Recebido em: 20/03/2019
Reformulado em: 09/11/2019
Aceito em: 12/11/2019

 

 

Notas

* Doutor em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos, com estágio no exterior realizado na Louisiana State University. Realizou estágio de Pós-doutorado no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. Atualmente é Professor Adjunto no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São João del Rei.

 

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