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Estudos e Pesquisas em Psicologia

versão On-line ISSN 1808-4281

Estud. pesqui. psicol. vol.20 no.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2020

http://dx.doi.org/10.12957/epp.2020.50825 

Estudos e Pesquisas em Psicologia
2020, Vol. 01. doi:10.12957/epp.2020.50825
ISSN 1808-4281 (online version)

 

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

 

"O Lado B da Maternidade": Um Estudo Qualitativo a partir de Blogs

 

"The B-Side of Maternity": A Qualitative Study from Blogs

 

"El Lado B de la Maternidad": Un Estudio Cualitativo a partir de Blogs

 

Luisa Ruzzarin Pesce*; Rita de Cássia Sobreira Lopes**
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil
Endereço para correspondência

 

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo compreender o que foi denominado pelas mães, nas redes sociais, de "Lado B da maternidade". Foi realizado um estudo qualitativo envolvendo falas de mães, ao longo do primeiro ano de vida do bebê, extraídas de 101 blogs, que tinham como tema central o "Lado B da maternidade". As falas das mães nos blogs foram analisadas por meio de análise temática e expressaram sentimentos de desamparo, solidão e ambivalência, característicos do período de dependência. Há um confronto das expectativas sociais idealizadas em relação à maternidade com a experiência materna cotidiana com o bebê, que acaba gerando na mãe, também, sentimentos de culpa por não estar correspondendo ao ideal social. As mães relataram dificuldades em lidar com as exigências que perpassam sua vida pessoal, social e conjugal. Os resultados sugerem que nos espaços de blogs com referências explicitas ao "Lado B" da maternidade as mulheres falam sobre aquilo que, normalmente, permanece oculto e negado no discurso social, rompendo, assim, com a visão idealizada da maternidade. Poder falar livremente sobre aspectos da experiência da maternidade usualmente cindidos e negados – o lado B da maternidade –, oportuniza, para além do alívio, diminuição de angústia e de culpa.

Palavras-chave: lado b da maternidade, transição para a maternidade, relação mãe-bebê, blogs.


ABSTRACT

This study aimed to understand what was called by mothers, in social networks, "the B-side of motherhood". A qualitative study involving mothers' speeches, during the baby's first year of life, was extracted from 101 blogs, whose central theme was "the B-side of motherhood". The mothers' statements in the blogs were analyzed through thematic analysis and expressed feelings of helplessness, loneliness and ambivalence, characteristic of the period of dependence. There is a confrontation of the idealized social expectations regarding motherhood with the daily maternal experience with the baby, which also generates feelings of guilt for not corresponding to the social ideal. Mothers reported difficulties in dealing with the demands that permeate their personal, social and marital life. The results suggest that in blogs with explicit references to "the B side" of motherhood women talk about what normally remains hidden and denied in social discourse, thus breaking the idealized view of motherhood. Being able to speak freely about aspects of the motherhood experience usually spun off and denied - the B side of motherhood - provides, in addition to relief, a reduction of anxiety and guilt.

Keywords: b side of maternity, transition to motherhood, mother-baby relationship, blogs.


RESUMEN

El presente estudio tuvo como objetivo comprender lo que las madres llamaron, en las redes sociales, "Lado B de la maternidad". Un estudio cualitativo que incluyó los discursos de las madres, durante el primer año de vida del bebé, fue extraído de 101 blogs, que tenían como tema central el "lado B de la maternidad". Las declaraciones de las madres en los blogs fueron analizadas a través de análisis temáticos y expresaron sentimientos de impotencia, soledad y ambivalencia, característicos del período de dependencia. Hay una confrontación de las expectativas sociales idealizadas con respecto a la maternidad con la experiencia materna diaria con el bebé, que también genera sentimientos de culpa por no corresponder al ideal social. Las madres informaron dificultades para hacer frente a las demandas que impregnan su vida personal, social y marital. Los resultados sugieren que en los blogs con referencias explícitas al "Lado B" de la maternidad, las mujeres hablan sobre lo que normalmente permanece oculto y negado en el discurso social, rompiendo así la visión idealizada de la maternidad. Ser capaz de hablar libremente sobre aspectos de la experiencia de la maternidad que son generalmente escindido y negado, -el lado B de la maternidad- , proporciona, además del alivio, una reducción de la ansiedad y la culpa.

Palabras clave: lado b de la maternidad, transición a la maternidad, relación madre-bebé, blogs.


 

 

O termo "Lado B" da maternidade emergiu a partir de um movimento social criado por mães que passaram a utilizar o espaço disponível em blogs e outras redes sociais para compartilharem aspectos que usualmente permanecem cindidos e negados da experiência da maternidade. Apesar de a literatura psicanalítica ter contribuído para a compreensão dos desafios e exigências para a mãe no processo de transição para a maternidade, não escondendo o quanto esse processo é desafiador e exigente para a mãe (Caron & Lopes, 2014; Stern, 1997; Winnicott, 1956/1993), ainda existe no ambiente social uma idealização da maternidade, marcada pela negação de sentimentos ambivalentes, falhas e permeada pela tão idealizada sensação de completude. A literatura antropológica ajuda a iluminar como, culturalmente, as representações sociais da maternidade estão fortemente calcadas no mito da mãe perfeita (Badinter, 1985).

Dessa forma, há o perigo de naturalizarmos o que é histórico e de passarmos a ver a maternidade como parte inerente do ciclo vital feminino, algo inato à mulher e constitutivo da feminilidade. Nessa perspectiva, pode-se supor que a mãe desenvolva naturalmente um amor incondicional pelos filhos, tornando-se a pessoa melhor capacitada para cuidar dos mesmos (Falcke & Wagner, 2000). Desconsidera-se, assim, que a maternidade se constitui dentro de um processo de desenvolvimento e amadurecimento pessoal, podendo não acontecer, mesmo após a gestação e nascimento do bebê, como mostram estudos desenvolvidos por Caron e Lopes (2014), utilizando o método Bick de observação de bebês (Bick, 1964). Para Arrais e Azevedo (2006), essa idealização e naturalização da maternidade entra em conflito com a vivência da maternagem, o que acarretaria sentimentos semelhantes ao de estar sendo relapsa e irresponsável e, consequentemente, sofrimento por parte dessas mães.

É possível observar, que algumas redes sociais, tais como Facebook e Instagram, bem como a mídia convencional, são predominantemente palco de exibição de mães felizes, bebês risonhos, amamentação espontânea e sem dificuldades, atendendo ao ideal social de uma maternidade perfeita. Esses aspectos idealizados da maternidade vêm acompanhados de valores como realização pessoal, conquista, plenitude e símbolo de feminilidade.

Pode-se pensar que essa exposição das mães e seus bebês observada nessas redes sociais esteja ligada a aspectos narcisistas muito primitivos das mesmas, narcisismo esse que necessita do olhar do outro para validar sua perfeição. Em um estudo anterior, Pesce (2013) abordou os aspectos que permeiam o narcisismo e a inveja nas redes sociais virtuais. A autora discute o quanto esses espaços virtuais reforçam uma cultura marcada pela valorização da imagem, em que há maior ênfase em mostrar aquilo que se deseja ser do que o que de fato se é.

A valorização da imagem, mais do que a experiência, também se reproduz no âmbito da maternidade, onde se confere maior valor ao olhar do outro do que à intimidade da relação mãe-bebê. O movimento de falar sobre o "Lado B" da maternidade parece romper com essa lógica e também com uma visão idealizada do período, fornecendo um espaço de troca entre mães para que os conflitos em relação ao processo possam emergir.

Apesar de terem sido encontrados estudos que abordem os aspectos exigentes da maternidade, tanto em publicações nacionais quanto internacionais, não foi encontrada produção científica que aborde o fenômeno do "Lado B" da maternidade. Vale ressaltar que o termo "Lado B" da maternidade está sendo bastante utilizado no contexto brasileiro, estando, porém restrito ao ambiente de onde emerge: os blogs e outras redes sociais. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi compreender e dar visibilidade ao fenômeno do "Lado B" da maternidade, a partir da expressão espontânea de mães, no lugar onde surgiu esse movimento, isto é, nas redes sociais e, mais especificamente nos blogs. Em particular, visou-se conhecer e compreender esse espaço dos blogs como espaço de compartilhamento de angústias derivadas da maternidade.

 

Método

Seleção dos blogs

No presente estudo, optou-se pelo uso de espaços de compartilhamento de ideias e reflexões como os blogs, excluindo outras redes sociais, como Facebook ou Instagram, por onde circulam mais imagens. Trata-se de uma pesquisa envolvendo blogs, cuja busca ocorreu no período de novembro de 2017 a fevereiro de 2018 e a seleção foi baseada em alguns critérios: a) todos os blogs utilizados deveriam ter como tema central o "Lado B" da maternidade; b) ao falar sobre o "Lado B" da maternidade, o foco foram os depoimentos de mães que estavam vivenciando o primeiro ano de vida do bebê, uma vez que é durante esse período que a mãe encontra-se mais exigida física e emocionalmente (Caron & Lopes, 2014; Marson, 2008; Rapoport & Piccinini, 2011; Stern, 1997); c) os blogs utilizados deveriam apresentar a seção de comentários, de modo a tornar possível a interação de leitores e autores e, também, de leitores entre si; d) só foram utilizadas as publicações realizadas há, no máximo, cinco anos; e) os blogs selecionados foram escritos em língua portuguesa e as mães participantes eram brasileiras; f) a busca por novos blogs foi realizada até ser alcançado material suficiente para a compreensão do fenômeno, baseado no critério de saturação, proposto por Stake (2006).

Delineamento e Procedimentos

Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter exploratório. Foram utilizados os relatos encontrados em blogs que apresentavam como temática aspectos ligados ao fenômeno do "Lado B" da maternidade, além das publicações e comentários realizados pelos leitores dos mesmos. Para a busca inicial dos blogs, através da ferramenta de buscas "Google", foi utilizada como palavra-chave "lado b da maternidade". Foram identificados, inicialmente, 112 blogs em língua portuguesa, os quais foram exaustivamente examinados a partir dos critérios anteriormente mencionados, chegando ao número de 101 blogs como material do presente estudo. Os blogs foram selecionados com base nos critérios acima descritos, sendo utilizados os relatos que ofereciam uma boa oportunidade de aprendizado para a compreensão do "Lado B" da maternidade, conforme proposto por Stake (2006).

Considerações Éticas

Segundo a resolução n°510 (Brasil, 2016), que dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais, não serão avaliadas pelos Comitês de Ética em Pesquisa (sistema CEP/CONEP) as pesquisas que utilizem informações de acesso público, além de pesquisas que utilizem informações de domínio público. No presente estudo, foram buscados apenas os blogs de conteúdo aberto e público, o que não requer autorização.

 

Resultados e Discussão

A primeira autora, juntamente com a segunda, seguindo os passos propostos por Braun e Clarke (2006) para realização da análise temática, criaram os seguintes temas a partir dos próprios dados a fim de compreender as vivências dessas mães nesse espaço de compartilhamento: 1. Confrontação da experiência materna com imagens e discursos sociais idealizados sobre a maternidade; 2. Impacto emocional das transformações vividas pela mulher; 3. Sentimentos provocados pelo contato com o bebê. 4. Exigências do cuidar; 5. Relação conjugal.

1. Confrontação da experiência materna com imagens e discursos sociais idealizados sobre a maternidade

Nesse tema, são discutidos aspectos relacionados à discrepância sentida pelas mulheres entre o que vivenciavam na experiência da maternidade e as imagens e discursos sociais idealizados sobre a maternidade. O trecho a seguir pode exemplificar:

A sociedade, em geral, filmes, revistas, vídeos, fotos, nos fazem acreditar na maternidade perfeita. Na mãe perfeita, na gestação perfeita, e todas essas informações nos deixam super frustradas quando as coisas acontecem diferente com a gente... Hoje em dia, graças a Deus, existem blogueiras mamães que falam a verdade, que mostram o "lado B" da maternidade, e se tornam uma excelente fonte de informação para evitar essas frustrações. (Trapp, 2015)

Para Travassos-Rodriguez e Féres-Carneiro (2013), a maternidade, na sociedade ocidental, ainda é encarada de forma muito romanceada nos dias de hoje. Dessa forma, ser mãe está associado a significados como sacrifício, amor incondicional e disponibilidade completa, o que acaba se contrapondo à vivência real da função materna, sobretudo no mundo contemporâneo, em que tempo e espaço se tornaram "artigos de luxo" (Enzensberger, 2003). A possível frustração no aprendizado da função materna é negada, bem como os sentimentos hostis que a mãe possa vir a ter em relação ao bebê (Travassos-Rodriguez & Féres-Carneiro, 2013). Dessa forma, tornar-se mãe deveria ser algo "natural" e instintivo, excluindo todo o sofrimento que a ambivalência pode gerar (Azevedo & Arrais, 2005).

Essa idealização e naturalização da maternidade, reduzida muitas vezes a um instinto (Badinter, 1985), entraria em conflito com a vivência real, acarretando sentimentos semelhantes ao de estar sendo relapsa e irresponsável, despertando, assim, sofrimento por parte dessas mães, como é possível observar a seguir:

Tudo isso para dizer que maternidade não é instinto, não é natural, não é um dom divino que é acionado quando os dois risquinhos azuis aparecem no teste de farmácia. Não me venham falar de tempos das cavernas, de instinto animal, porque, até que provem o contrário, somos humanas e não babuínas que aprenderam a usar Pampers. Maternidade é uma construção social. Como é o casamento, o sexo, o emprego que a gente ama. E, como construção social, ninguém precisa dela e ninguém é feliz ou triste ou miserável ou abençoado só por ter cumprido essa etapa. (Cecílio, 2016)

São retratados os sentimentos relacionados à culpa e ao medo de não corresponder às expectativas sociais em relação à maternidade e ao papel de mãe, como exemplificado no trecho a seguir: "Culpa é o que não falta na vida de uma mãe. E a gente se culpa por tudo. E somos culpadas pelos outros. Julgadas e condenadas por pessoas que não convivem com a nossa realidade…" (como citado em Pesce, 2018, p.63).

Ao falar sobre a constelação da maternidade, Stern (1997) aponta que a reorganização da identidade materna, em que as mães passam de uma posição de serem cuidadas e protegidas durante a gravidez para serem cuidadoras, além dos aspectos que envolvem esses cuidados com o bebê, tende a gerar estresse na mãe. Rapoport e Piccinini (2011) destacam que, associado a essas questões subjetivas, a mãe viveria o confronto entre o bebê real, com suas demandas e características e o bebê imaginado e idealizado durante a gestação. Dessa forma, tornam-se frequentes sentimentos contraditórios e ambivalentes nesse período: compaixão pelo bebê contraposta à raiva, por considerar que o mesmo seria ingrato pelos seus esforços; frustração com o bebê, que na sua percepção parece insaciável, demandando muito, e pouco retribuindo, além de lhe privar de suas necessidades. Assim, essa situação de insatisfação pode gerar sentimentos de culpa e inadequação por parte da mãe (Rapoport & Piccinini, 2011).

Pode-se pensar que, para além do bebê real, a mãe também se depara com a maternidade real, maternidade essa antes idealizada e vivenciada com uma expectativa narcísica de completude, que jamais é alcançada. O choque e o desapontamento ao não sentir toda emoção e felicidade, normalmente mostradas nos filmes, nos livros, nas brincadeiras de infância, propagandas de fraldas e aleitamento materno e nas histórias das suas vizinhas e amigas estariam relacionados com possíveis causas da depressão pós-parto (Stern 1997; Arrais & Azevedo, 2006). O relato a seguir pode servir como ilustração:

Levo ele [bebê] para passear e me deparo com mães felizes na pracinha. Nada me faz mais culpada e raivosa do que mães felizes na pracinha. Começa a conversa de Alice no país da maternidade. Meu impulso é falar "Tá bom, vamos falar a verdade, tem horas que dá vontade de bater a porta e isolar a chave, num é? (Nunes, 2013)

Nos trechos acima apresentados, parece existir uma cisão. A maternidade ora é vista de forma idealizada, sem espaço para falhas, ora exclusivamente pelas falhas, desconsiderando os aspectos amorosos, tal como exemplificado no relato abaixo:

É horrível ser mãe. Tem nada de bom desse amor que vocês falam. Puta de hipocrisia da merda. Fala a verdade: não dormir, não comer, ficar passando mal de cansaço. Não poder cuidar de você…Sentir dores, ficar sem sair de casa. É horrível ser mãe, não suporto essa romantização que mãe é lindo, o paraíso. (Varela, 2017)

Os referidos relatos ilustram como os sentimentos de amor e ódio não são vivenciados de forma integrada, havendo exceções, como exemplificado a seguir:

Logo que eu me tornei mãe e que vivi alguns momentos difíceis da maternidade, me perguntei porque ninguém nunca havia me alertado que esse lado B também existe. Toda vez que eu conversava com uma mãe, ela se derretia em elogios ao filho, dizia como sua vida tinha mudado para melhor, como pela primeira vez na vida estava vivendo um amor incondicional e como era maravilhoso…Sim, tudo isso é verdade, por outro lado, nunca nenhuma delas me chamou num canto e disse: "olha só amiga, quero te contar uma coisa, ser mãe é tudo de bom, mas também tem uma parte bem difícil e chata, e você vai ver as duas coisas. Com certeza! (Hilgert, 2013)

Freud (1914/1990) também abordou a questão da ambivalência presente na relação mãe e filho. Para o autor, justamente na coexistência de opostos é que se encontra o caráter do que se denomina ambivalência emocional. Para Mathelin (1999), não existe maternidade sem ambivalência, assim como não há relações humanas sem ambivalência. Dessa forma, uma das principais questões que as mães têm de lidar é a ambivalência em relação aos seus bebês.

Pode-se pensar que a escrita feita no blog é um momento em que a mãe vai se apropriando dos seus próprios sentimentos, tendo a oportunidade de integrar aspectos da natureza humana que normalmente ficam cindidos, como os sentimentos de amor e ódio em relação ao bebê. A vivência da maternidade e a escrita sobre os sentimentos despertados acabam sendo um momento propício para as mães olharem para os seus medos, angústias, podendo, assim, integrá-los a sua vida psíquica.

Winnicott (1947/2000a) aponta todas as razões que a mãe tem para odiar o seu bebê. Para ele, o ódio estaria sempre presente na maternidade, uma vez que justamente no processo de adaptação da mãe ao bebê, será imposto à mãe que essa tolere a interferência do filho na sua vida pessoal. O autor acrescenta, ainda, que o ponto mais interessante em relação à mãe é justamente a sua capacidade de ser tão agredida e sentir tanto ódio pelo seu bebê sem se vingar dele, além de sua aptidão para esperar por recompensas que podem vir, ou não, muito mais tarde. Dessa forma, o nascimento representa um novo desafio para a mulher, a tarefa de contatar o desamparo do bebê e o seu próprio (Caron & Lopes, 2014; Winnicott, 1968/1988a).

Pode-se levantar a hipótese de que o espaço de troca proporcionado pelos blogs acaba funcionando como um ambiente facilitador para que as mães tomem contato com seus sentimentos ambivalentes, como no exemplo a seguir: "Ufa! Alguém pra escancarar o que ficava entalado na minha garganta! Obrigada! É libertador saber que isso é real." (como citado em Pesce, 2018, p. 35). A partir dessa fala, é possível pensar que a identificação com as falas de outras mães sobre suas vivências torna menos ameaçador o contato com sentimentos hostis em relação ao bebê.

Por outro lado, Costa e Ribeiro (2016) apontam que a mãe precisa contar com a sua agressividade e capacidade de odiar para promover a separação do seu bebê durante a dependência relativa. Para Winnicott (1965/2011), uma mãe saudável é capaz de tolerar a ambivalência no relacionamento objetal e utilizá-la de modo adequado (Costa & Ribeiro, 2016).

2. Impacto emocional das transformações vividas pela mulher

Nesse tema, são trazidas as falas das mães que abordam o impacto emocional das transformações que ocorrem na vida da mulher com a gestação e a chegada do bebê, tanto no que se refere aos aspectos relacionados aos cuidados pessoais, à rotina, à vida profissional e às mudanças corporais. Stern (1997), ao falar da Constelação da Maternidade, afirma que, durante esse período, aconteceria uma reorganização da identidade materna, que diz respeito à nova mãe mudar seu centro de identidade de filha para mãe, de esposa para progenitora, de profissional para mãe de família, de uma geração para a precedente.

Por meio do relato a seguir, pode-se observar, nas mães, sentimentos de angústia em relação às novas demandas:

Esse foi o exato momento em que eu caí na real. O exato momento em que percebi que agora eu tinha uma pessoa que dependia de mim para absolutamente tudo e que eu teria que continuar exercendo minhas outras funções de mulher, esposa, profissional e ao mesmo tempo, e acima de tudo, as de mãe. Ali percebi a condição definitiva em que eu me encontrava. E senti um peso enorme em cima dos meus ombros... (Amorim, 2013)

A vivência do corpo e das transformações físicas da gravidez confronta a mulher com a existência do bebê e com o seu novo papel de mãe, afinal, o seu corpo passou a conter outra pessoa (Meireles & Costa, 2004). Pode-se observar no discurso materno um sentimento de perda de liberdade em relação ao próprio corpo, exemplificado no relato a seguir: "Quando engravidamos deixamos de ser donas do nosso corpo, isso é logo evidente desde a primeira consulta ao obstetra. Tudo o que importa é a mãe enquanto receptáculo do ser que carrega na barriga…" (Almeida, n.d.).

Ainda considerando os aspectos relacionados às modificações corporais, as mães demonstram vivenciar sentimentos de frustração com as novas formas, bem como com as marcas decorrentes dessa gestação. Além disso, é gerado um conflito entre as vivências maternas e o que parece ser socialmente valorizado com relação à imagem corporal, ainda com puérperas, o que contribui para esses sentimentos de insatisfação, como se observa no relato a seguir:

Agora, vem cá...Por acaso alguém achou que o filho nasce e que as mulheres colocam calcinhas fio-dental logo seguida. Desculpa, pessoal, mas a gente coloca um absorvente quilométrico que mais parece uma fralda. Alguém achou que a gente fica penteada e maquiada depois de horas de trabalho de parto? Desculpa, mas a gente fica mesmo é exausta como se tivéssemos corrido uma maratona…Alguém achou que nosso corpo volta a ser lindo imediatamente depois que o bebê sai? Ledo engano. O corpitcho fica perto do normal depois de um ano. E olhe lá... (Maldonado, 2016)

Em relação aos aspectos ligados aos cuidados pessoais, há um descontentamento em relação à ausência de tempo e disponibilidade para se dedicar aos mesmos, exemplificado a seguir: "Não ter um tempo para si mesma –A gente cuida tanto dos filhos que acaba esquecendo de olhar para nós mesmas. Muitas vezes nem é questão de esquecimento e sim falta de tempo para poder respirar, pensar e se cuidar…" (como citado em Pesce, 2018, pp. 54-55).

É possível perceber a transformação que a maternidade representou na vida das mulheres, corroborando a noção de constelação da maternidade proposta por Stern (1997), ao compararem suas vidas antes e depois do nascimento do bebê, como no trecho a seguir: "O mais difícil pra MIM... foi perceber que não existia mais "MIM"... A dedicação full time nos primeiros meses de vida do bebê somado ao cansaço físico e falta de sono de meses faz com que nosso emocional desabe…" (como citado em Pesce, 2018, p. 55). Esses sentimentos de perda estão também relacionados à vida profissional, uma vez que a chegada de um filho interfere na vida da mulher e as atividades profissionais tendem a ficar em segundo plano (Piccinini, Gomes, Nardi, & Lopes, 2008), como revelado no relato a seguir:

Só eu sei quantas vezes esse dilema de ser mãe e ser profissional me perturbou as ideias. Pois quando pensava em voltar a ser eu, voltar a ter uma profissão, não me via fazendo nada a não ser ser mãe e dona de casa. E ainda assim deixava a desejar como dona de casa... Então ia adiando a ida para escolinha e meus planos profissionais… (Raquelapenas, 2012)

Beltrame e Donelli (2012), ao realizarem uma revisão da literatura sobre maternidade e carreira, apontam que a tentativa de conciliar esses dois projetos pode provocar um conflito na mãe, fazendo com que criem estratégias nesses dois ambientes para conciliar ambos papéis (Beltrame & Donelli, 2012), como relatado por essa mãe:

E como existe esse lado B, se não cuidarmos, nossa identidade vai pelo ralo. E esse é o maior perigo porque se não soubermos parar um pouquinho, trocar a fita e ouvirmos a nossa própria música, a tendência é a fita da maternidade tocar cada vez mais o lado B. (Vilarinho, 2017)

Os aspectos discutidos nesse tema remetem às dificuldades da mãe em abrir espaço para o bebê. A chegada de um bebê na vida de uma mulher necessariamente provoca transformações na sua identidade e, embora isso seja esperado, esses relatos demonstram a dor psíquica que acompanha esse processo.

3. Sentimentos provocados pelo contato com o bebê

Nesse tema, são abordados os sentimentos maternos despertados pelo contato inicial com o bebê e com as demandas da maternidade. Foram encontrados relatos relacionados ao desejo de viver sem o bebê, delivrar-se das responsabilidades da maternidade. O trecho a seguir pode servir de ilustração:

E mais do que isso, tem ainda outra coisa muito importante. Também nunca haviam me dito que tem horas que a gente simplesmente enche o saco. Que tem momentos que a gente secretamente se pergunta: Por que tudo tem que ser tao difícil? Por que resolvi ser mãe (Hilgert, 2013)

O desejo de se livrar do bebê, relatado pelas mães, se relaciona com a perda de liberdade e autonomia já conquistadas como adultas, como no relato a seguir:

Por isso acredito que muitas mães colocam seus filhos logo na creche para ter esse tempo "livre" só para elas... isso me faz falta... e hoje por exemplo é um dia bem difícil... dia que queria minha liberdade de volta…" (como citado em Pesce, 2018, p. 58).

Aparecem, também, discursos onde a mãe refere arrependimento na escolha pela maternidade: "Juro que cheguei a me arrepender do dia em que engravidei, passavam pela minha cabeça pensamentos como entregar ele pra minha mãe criar, etc. (como citado em Pesce, 2018, p. 58)

Winnicott (1964/1986) aponta a dificuldade para a mãe em passar, não apenas pelo nascimento de um filho, mas também pelo confinamento e responsabilidades extremamente restritivas que envolvem os cuidados a um bebê, o que pode ser ilustrado no trecho a seguir: "Sinto falta de respirar, tem dias que eu acordo e penso: vai começar tudo de novo, ou penso, acho que hoje não vou conseguir! Sinto falta de ter um tempo pra mim, evito olhar fotos antigas, pois me machuca…"

Pode-se pensar que, para além das exigências em termos de cuidados com o bebê e a consequente transformação na rotina materna, as mães parecem querer se livrar dos sentimentos que o bebê provoca nelas, como no relato a seguir: "CULPA, TRISTEZA, SOLIDÃO... e INVEJA da minha mãe e do meu marido que estavam lá dormindo, enquanto eu amamentava. Era isso que eu sentia… A verdade é que no começo é difícil administrar os sentimentos…" (como citado em Pesce, 2018, p. 59)

Em relação aos sentimentos despertados, foram encontrados relatos que descrevem a solidão vivenciada pelas mães:

Ele ri, você ri, ele chora, você chora, ele ri, você chora, você chora e ele chora, choramos. Choramos muito. Choramos por cansaço, por não saber lidar e por solidão. Sim solidão. Sentimos uma solidão intrínseca-visceral. Mesmo com alguenzinho grudado em seu peito, nos sentimos sozinhas. Adultas sozinhas, adultas crianças. Somos crianças e mais uma vez choramos. Desamparadas pela vida e por todos os nossos entes queridos mesmo que eles estejam no mesmo cômodo que nós. Não dá pra explicar. Só quem já foi mãe de um bebê de 1 mês sabe. SABE SIM do que tô falando. Não dissimulem. (Vaia, 2013)

Acreditamos que os sentimentos de solidão vividos pelas mães não sejam decorrentes apenas de falta de ajuda nos cuidados do bebê ou de uma rede de apoio que auxilie a mãe durante esse período, mas, sim, de sentimentos primitivos de angústia e desamparo revividos através de sua identificação com o bebê. Dessa forma, a regressão é um retorno à dependência, que leva a mãe a uma situação de vulnerabilidade. Caron & Lopes (2014), partindo das ideias propostas por Winnicott (1968/1988a), referem que a regressão da mãe ao estado de desamparo que caracteriza o ser humano do início ao fim da vida é algo inevitável e necessário para que a mãe possa se identificar com o seu bebê. Além disso, a mãe tem que ser suficientemente saudável para entrar em contato com o seu próprio desamparo.

Assim, pode-se pensar na perda momentânea da identidade da mulher, constituída até então, provocada por esse momento de regressão, em que a mulher fica imersa na identificação com seu filho. Esse mergulho no mundo emocional do bebê parece suscitar na mãe dúvidas quanto a sua capacidade de retornar ao mundo adulto, como aparece no relato a seguir:

Sou mãe há dois meses e meio e, apesar de amar profundamente minha filha, me sinto absolutamente só…Me sinto intelectualmente limitada, incapaz de manter um diálogo decente com outro adulto porque só sei falar de bebê e, apesar de sempre ter sido uma profissional muito requisitada, hoje estou "parada". (como citado em Pesce, 2018, pp. 61-62)

Nesse tema, foram abordados os sentimentos provocados na mãe pelo contato com o bebê. A integração dos aspectos de identidade já constituídos com a vivência da maternidade parece ser um processo doloroso. A mãe, em função da regressão e seu consequente desamparo, experimenta - por um determinado período - a sensação de que algo se perdeu e não será mais recuperado.

4. Exigências do cuidar

Nesse tema são analisadas as exigências do cuidar no período de dependência do bebê. Como cuidar entende-se aqui as condições ambientais que facilitam o desenvolvimento do bebê, tanto no âmbito físico, quanto emocional. Durante o período de dependência absoluta, em que a mãe está vivenciando o estado de preocupação materna primária (Winnicott, 1956/1993), um estado regressivo, de identificação com o bebê, que atende a sua necessidade básica de ser e continuar a ser. Pelo seu caráter regressivo, torna-se um período intenso e de enorme exigência para a puérpera. O relato a seguir pode exemplificar essa ideia:

O máximo da parte difícil que eu havia ouvido era: você vai sentir sono, muito sono, vai morrer de sono e nunca mais vai dormir direito na sua vida. Ou, então, o famoso: no início dói para amamentar. Ponto final! Foi só isso que me disseram. Foi só sobre isso que fui alertada. Nunca ninguém abriu a boca para me dizer que amamentar era muito, muito, muito difícil… Também nunca me alertaram que no início as coisas são muito, mas muito difíceis. Que não é só o não dormir direito, mas é o não dormir, não comer, não tomar banho, não escovar os dentes, não fazer xixi… (Miceli, 2014)

São intensas as exigências para se dedicar ao bebê no nível corporal que ele exige, de modo a adaptar-se às necessidades do bebê no seu ritmo próprio. Para Winnicott (1956/1993), a mãe se torna provedora de tempo e espaço para que o bebê possa se constituir psiquicamente, num período em que o bebê ainda não desenvolveu a noção de tempo e espaço. Assim, a dependência passa a ser mútua: tanto do bebê em relação à mãe quanto desta em relação ao bebê. Para Bick (1986): a mãe perde o controle sobre sua vida de adulta, passando a não ter mais controle nem mesmo sobre seu próprio corpo, que empresta ao bebê, já desde a gestação. Ademais, um aspecto trazido pelas mães diz respeito às angústias em relação à rotina de cuidados iniciais após o nascimento do bebê:

O primeiro mês de um bebê, acredito que não apenas para mim, e sim para todas as mamães é um mês um pouco assustador. São milhões de mudanças, na rotina, no sono (principalmente), na alimentação, enfim, em tudo! É como se fosse o "outro lado da vida", sem filhos X com filhos. Por mais que nos preparamos na gestação, lendo, estudando, ouvindo outras mamães, só quando a gente chega em casa do hospital é que sentimos como as coisas realmente são. É um mês onde sentimos todos os tipos de insegurança… (Silva, 2015)

Foi referido, também, o quanto existiu uma preparação do ponto de vista prático e racional para receber esse bebê e o quanto a experiência real era vivenciada de maneira diferente. Winnicott (1968/1988a), ao falar sobre a adaptação da mãe às necessidades do bebê, refere que não existem nem regras e nem livros capazes de ajudar as mães a se tornarem mães. Valoriza a importância da experiência com o bebê no processo de tornar-se mãe e faz uma ressalva em relação à importância de não interferir na intuição e sensibilidade da mãe em relação às necessidades do seu bebê, que vão se desenvolvendo a partir da experiência com ele, e que lhe permite realizar uma adaptação quase exata às mesmas.

Apesar disso, foram encontrados relatos em que as mães demonstraram insatisfação em ter que lidar com os conselhos e críticas recebidas de outras pessoas. Nesses casos, pode-se perceber que as mães vivenciam sentimentos de invasão, em que a experiência materna é atravessada por imagens e discursos sociais generalizantes, que desconsideram a singularidade de cada dupla mãe-bebê, conforme o exemplo a seguir:

E as palpiteiras sempre de plantão na vida da mãe: "essa criança é mimada porque fica muito no colo". "Coloque sua filha na escola, vai ver como ficará esperta". "Dê mucilon à noite que sua filha vai dormir a noite toda". "Você dá muito peito, toda hora que ela pede você dá mamá". "Você precisa dar um irmão pra ela aprender a dividir", e por ai vai… Além de ser mãe, nós precisamos entender de todas as áreas um pouco. Precisamos ser enfermeiras, psicólogas, nutricionistas, pedagoga… (Shimada, 2017)

Dentre as questões trazidas pelas mães, as falas relacionadas à amamentação ocupam um espaço importante nos blogs, como no relato a seguir: "Infelizmente, pra mim, nada foi mais doloroso, física e emocionalmente, como a tentativa de amamentar…" …" (como citado em Pesce, 2018, p. 46 )

Para Silva (1996), a ideologia contida nas campanhas de aleitamento materno reforçam ser essa uma forma natural de a mãe amamentar seu filho, considerada como resposta biológica e instintiva ligada ao amor materno. Ainda, para Cadoná e Strey (2014), as campanhas de incentivo colocam na mãe a responsabilidade da amamentação e das supostas consequências de sua ausência na saúde da criança, não parecendo atender ou respeitar as necessidades da mulher. Ainda ao falar sobre amamentação, não são abordadas as possíveis intercorrências e as dificuldades com a mesma, salientando-se apenas a sua importância biológica e emocional para a mãe e, principalmente, para o bebê. O relato a seguir pode ilustrar o exposto acima:

Amamentar é bom, faz bem para a mãe e para o bebe, mas também tem seu lado B... Amamentar pode doer, machucar fisicamente e, porque não, psicologicamente. Muitas mães não conseguem amamentar e são julgadas por pessoas que falam que não insistiram o suficiente, que podiam ter tentado mais. Mães que complementam também são julgadas muitas vezes. E também aquelas mães que não gostaram de amamentar, pois é, acharam chato, e não são poucas... Essas então, não são julgadas, são massacradas... Tem mães que querem muito amamentar e não conseguem por diversos motivos, elas tentam de tudo e nada... Imaginem a dor psicológica dessas mães nessa fase tão delicada... Elas se sentem mal, incapazes. E eu acho isso tão injusto. (Campos, 2016)

Em relação a esse tema, Winnicott (1968/1988b) ressalta que a principal dificuldade é que as mulheres, dominadas pela própria responsabilidade de ter um bebê e pelo estado de vulnerabilidade inerente à maternidade, acabam se submetendo e aceitando prontamente e com entusiasmo as regras, regulamentos e prescrições que tornam a vida menos arriscada. Para o autor, a ideia de alimentação natural se tornaria prejudicial caso se convertesse em algo conscientemente planejado ou frutos de uma prescrição, apenas porque as autoridades tivessem dito que isso era bom.

Outro aspecto abordado nos relatos encontrados nos blogs no que diz respeito à temática da exigência de cuidar refere-se à dificuldade das mães de tolerarem o choro do seu bebê, como aparece no trecho a seguir: "Pra mim, o mais chato é o choro.. Não chorinho normal, choro chato a toa e toda hora... o choro junto com grito suga minhas energias…" (como citado em Pesce, 2018, p. 49 )

Os relatos maternos em relação ao choro evidenciam a angústia em decifrar as comunicações do bebê. Esse foi outro aspecto em relação ao qual as mães demonstram perceber que ocorre uma adaptação da dupla. Com o passar do tempo, conseguem compreender o choro como recurso na comunicação mãe-bebê, como na seguinte fala:

O choro é maneira que o bebê tem de se comunicar com você, ele não fala! Então choro não quer dizer que ele está sofrendo, apenas quer te dizer alguma coisa. Pode ser fome (95% das vezes é!), pode ser uma fralda molhada, pode ser sono. Também pode ser saudades do seu colo, hehe! E pode parecer impossível nos primeiros dias, mas eu JURO que você vai começar a entender cada chorinho depois de uns quinze dias de convivência… (Ferreira, 2016)

Os aspectos que tornam a experiência de cuidar mais ou menos difícil talvez perpassem a capacidade da mãe de se identificar com o bebê, desconectando-se, na medida do possível, das imagens e discursos sociais que permeiam a maternidade. A adaptação ao ritmo do bebê se dará pela via da sintonia da dupla, da escuta do bebê e do mergulho na regressão.

5. Relação conjugal

Nesse tema, são abordadas questões que envolvem o relacionamento conjugal após o nascimento do bebê. Para o casal, a vinda de um filho representa uma série de novas demandas e prioridades, que requerem dos cônjuges uma reelaboração da imagem que fazem de si próprios, do outro e do relacionamento conjugal (Stern, 1997; Silva & Lopes, 2009). Durante esse processo de adaptação, importantes dimensões da relação do casal, tais como intimidade, comunicação e o sexo tendem a passar por transformações (Bradt, 1995; Menezes & Lopes, 2007; Silva & Lopes, 2009).

A transição da conjugalidade para a parentalidade é uma fase do ciclo de vida familiar em que o investimento direcionado para a organização marido-mulher passa a ser orientado para a relação pais-filhos (Magagnin, K pais, Hernandez, Cafruni, Tailor Rodrigues, & Zarpelon, 2003), como é possível observar no relato a seguir:

A grande mudança, pra mim, foi a distância entre eu e meu marido, estávamos casados há alguns anos e viajávamos muito e passeávamos muito juntos! De repente, a atenção foi apenas para minha filha! E senti muito isso! E senti mais por ficar triste de sentir falta disso, eu me condenava por sentir falta! (como citado em Pesce, 2018, p. 37)

Aparecem relatos que trazem a dificuldade do pai em compreender o momento de grande exigência emocional vivenciada pela mãe:

O casal passa a não ter o mesmo tempo e disposição, principalmente a mulher, para namorar e ficar a sós, acho que mesmo quem tem quem ajude como uma babá, nota que não é a mesma coisa. O marido nem sempre entende muito bem essa fase, que a mulher se vê como mãe, não como esposa. (como citado em Pesce, 2018, p. 37)

Já durante a gestação, as mudanças que envolvem esse período podem acarretar em transformações no relacionamento conjugal, uma vez que o que era um investimento mútuo, passa a um investimento no bebê. O investimento dos pais é direcionado para a chegada do primeiro filho, para as adaptações necessárias com essa chegada, exigindo, assim, uma nova organização no núcleo familiar (Magagnin et al., 2003).

A relação que antes era a dois passa agora a ser a três e o pai passa a ser o terceiro excluído. Esse sentimento iniciaria desde a gestação, quando a mulher grávida não se sentiria mais sozinha, uma vez que teria o bebê junto dela, condição essa que desperta no companheiro um sentimento de que agora ele está sendo excluído (Magagnin et al., 2003; Raphael-Leff, 1997).

Durante o período de dependência absoluta, no qual o bebê vive no interior de sua relação dual com a mãe, o pai participa dessa relação assumindo, principalmente, dois papéis (Rosa, 2009). Ele ocupa o lugar de mãe substituta, assim permanecendo, nesse papel, tal qual a mãe, como objeto subjetivo. Rosa (2009) sistematiza o que foi escrito por Winnicott (1955/2000b), que postula que o pai participa dos cuidados com o bebê indiretamente como marido e diretamente como mãe substituta. Para exercer a função de mãe substituta, o lado masculino do pai não seria importante, mas, sim, o seu lado feminino (Rosa, 2009; Winnicott, 1955/2000b). A segunda função assumida pelo pai seria a de "cuidador" da dupla mãe-bebê, no sentido de que ele daria sustentação à mãe, protegendo-a das interferências externas, dessa forma lhe possibilitando entregar-se à Preocupação Materna Primária (Winnicott, 1956/1993). Nesse estado, a mãe vivencia uma situação de grande desamparo, pois, identificada com o bebê, está também parcialmente regredida e, consequentemente, dependente. Dessa forma, Winnicott (1956/1993) insiste na importância da sustentação paterna.

No entanto, parece existir uma insatisfação, por parte das mães, com os pais, uma vez que eles não estariam auxiliando durante o período inicial, conforme o relato a seguir:

Um dia desses, eu estava mega cansada, querendo dividir com o pai algumas tarefas maternas para que eu pudesse descansar por cinco míseros minutos. E daí me vem a pérola do pai: Ué, na do pai: Ué, não queria ser mãe e agora não esta aguentando o tranco? Que ódio. (como citado em Pesce, 2018, p. 40)

Um aspecto que apareceu nos relatos maternos remete à relação homem e mulher e à sexualidade, como no exemplo a seguir: "Entre outras coisas queria meu casamento de volta, com sorrisos e desejos de homem para mulher e não respeito de pai para mãe" (como citado em Pesce, 2018, p. 40).

Pode-se pensar que o homem, muitas vezes, deseja um relacionamento num nível adulto, que inclui a sexualidade, enquanto a mãe está vivendo um período regressivo, no nível da dependência. O próprio seio, que costumava ser um objeto relacionado ao prazer sexual, se transforma em um objeto de necessidade do bebê. Outro aspecto que apareceu ao longo dos relatos encontrados nos blogs foi o que se refere à rotina de cuidados envolvendo o bebê, bem como a divisão dos mesmos no casal. O trecho a seguir pode ilustrar: "Muitas vezes os casais nem notam que a responsabilidade sobre os filhos acaba pesando mais para o lado da mãe. Como se a mãe tivesse feito 80% do filho e o pai só 20% restantes…" (como citado em Pesce, 2018, p. 42).

Hidalgo e Menendez (2003), em um estudo longitudinal que visava investigar a transição para a maternidade e paternidade, apontaram que fatores como apoio emocional dos cônjuges, o envolvimento do pai nos cuidados com o bebê e a satisfação com a divisão dos trabalhos domésticos podem influenciar a forma como a relação conjugal evolui durante a transição para a parentalidade. Além disso, as demandas que envolvem a parentalidade, principalmente para as mulheres, levam a um aumento da insatisfação e dos conflitos para o casal (Lewis, 1988; Menezes & Lopes, 2007). É possível pensar que o pai possa ter dificuldade em identificar-se com as demandas internas e externas vividas pela mãe, uma vez que o mesmo não vivencia essas exigências da mesma forma e com a mesma intensidade. Talvez um caminho que possa diminuir o distanciamento afetivo que se estabelece no casal, relatado nos blogs, aponte para a importância de o pai poder, também, transitar no mundo emocional do bebê. Vivenciar esse mundo primitivo poderá facilitar a identificação com a mãe, bem como favorecer a intimidade com o bebê.

 

Considerações finais

Não é fácil para a mãe abrir espaço para viver uma experiência junto com o bebê, ir lá onde ele se encontra, no estado de desamparo, solidão, fragilidade que nos constitui. A mulher se depara com uma inevitável ambivalência em relação ao bebê, sentimentos esses que entram em conflito com as expectativas de plenitude em relação à maternidade. É aqui que a visão romanceada sobre tornar-se mãe, da qual foi banida toda a ambivalência e sofrimento inerentes, contrapõe-se à vida real, despertando na mãe o sentimento de ser relapsa, irresponsável, o que acaba gerando muito sofrimento e culpa por não estar correspondendo às expectativas sociais.

Em meio a todas as angústias inerentes à maternidade, até então, silenciadas, o movimento de falar sobre o lado B da maternidade surge, como contraponto ao discurso idealizado, em um espaço onde o não dito encontra um lugar: os blogs. É nos blogs que as mães, ao terem contato com as vozes de outras mães, conseguem dar voz e colocar em palavras o que é da ordem do imperfeito, do real, da falta. É importante levar em conta a especificidade do momento de vida dessas mulheres com bebês para se pensar por que elas ficam mais permeáveis à exposição de opiniões e sentimentos próprios. O estado descrito por Winnicott (1956/1993) de "preocupação materna primária", ou de "transparência psíquica", de Bidlowski (1997), podem ajudar a explicar melhor o caso particular dessa "coragem" das mães para se exporem. As mães de bebês passam por um período, que começa já na gestação, de maior permeabilidade psíquica, de sensibilidade aumentada, de maior contato com o mundo psíquico primitivo de emoções.

Assim, se pode pensar numa quase "necessidade" por parte das mães de falarem, de colocarem em palavras e compartilharem suas emoções, de saírem da posição passiva de vivências intensas para uma posição ativa de relatar suas vivências, até mesmo as mais proibidas, negadas ou escondidas. Nesse sentido, entende-se que o blog seja um ambiente facilitador para que as mães possam ir se apropriando dos seus sentimentos, tomando contato com a sua ambivalência e, assim, integrando aspectos da natureza humana que normalmente ficam cindidos da experiência da maternidade.

A escrita no blog acaba funcionando como um espaço, também, de escuta, onde as mães se sentem acolhidas - e não julgadas - para verbalizarem sobre seus sentimentos em relação à maternidade. Ao se depararem com falas que expressam sentimentos semelhantes aos vivenciados por elas, as mães referem alívio, bem como diminuição da angústia e da culpa.

O presente estudo pode ser considerado relevante uma vez que contribui para a compreensão do "Lado B" da maternidade, fenômeno que surge nas redes sociais, não sendo até então, investigado na literatura científica. Ademais, é possível pensar que o mesmo traz contribuições na medida em que lança luz sobre um fenômeno que até então ocupava um lugar secundário nos discursos sobre a maternidade. Cabe ressaltar que as mulheres que fazem uso de blogs e redes sociais são as que têm acesso a esse recurso, portanto, mulheres em contextos urbanos, escolarizadas e ocidentais. Os resultados evidenciam uma demanda materna por espaços de compartilhamento das dificuldades inerentes à maternidade, aspecto que pode apontar caminhos para futuras práticas profissionais.

 

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Endereço para correspondência
Luisa Ruzzarin Pesce
Rua Ramiro Barcellos, 2600/ 108, Floresta, Porto Alegre – RS, Brasil. CEP 90035-002
Endereço eletrônico: luisarpesce@gmail.com
Rita de Cássia Sobreira Lopes
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Recebido em: 14/06/2018
Reformulado em: 11/10/2019
Aceito em: 28/10/2019

 

 

Notas

* Mestra e doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
** Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora e orientadora no programa de pós-graduação em Psicologia da UFRGS.

Financiamento: CAPES.

 

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