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Estudos e Pesquisas em Psicologia

versão On-line ISSN 1808-4281

Estud. pesqui. psicol. vol.21 no.3 Rio de Janeiro set./dez. 2021

http://dx.doi.org/10.12957/epp.2021.62733 

Estudos e Pesquisas em Psicologia
2021, Vol. 03. doi:10.12957/epp.2021.62733
ISSN 1808-4281 (online version)

 

PSICOLOGIA CLÍNICA E PSICANÁLISE

 

Reflexões sobre Subjetividade: Quatro Narrativas e Algumas (In)Conclusões

 

Rodolfo Rodrigues de Souza*
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Centro Universitário Celso Lisboa - UCL, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Endereço para correspondência

 

RESUMO

O presente artigo tem por finalidade colocar em tensão diferentes concepções teóricas acerca da noção de subjetividade, refletindo sobre como cada olhar em relação a essa ideia influi nas práticas no campo da clínica psicológica. Estas noções são tematizadas por meio de quatro narrativas breves que evidenciam as ideias de seus autores sobre o assunto: Bruno Latour e a Teoria Ator-Rede; Nigel Thrift e a ideia de uma subjetividade espacializada; Sartre e suas reflexões sobre o sujeito na história; Mattijs van de Port e Annemarie Mol e a prática do comer. Em seguida, algumas proposições que comentam as narrativas apresentadas são esboçadas a título de (in)conclusão, conectando o pensar teórico com as práticas no campo da psicoterapia. O artigo, ao propor diálogo entre as proposições teóricas e metodológicas dos franceses Bruno Latour, sociólogo, e Jean-Paul Sartre, filósofo, em relação à subjetividade, pode ser lido como uma contribuição para a aproximação entre Teoria Ator-Rede e Fenomenologia como intencionada por Sartre.

Palavras-chave: subjetividade, psicoterapia, psicologia clínica, teoria ator-rede, fenomenologia.


 

Reflections on Subjectivity: Four Narratives and Some (In)Conclusions

 

ABSTRACT

The present article purposes to put into tension different theoretical conceptions about the notion of subjectivity, reflecting on how each idea influences practices in the field of psychological clinic. These notions are themed in regard of four brief narratives that brings light to the ideas of their authors on subjectivity: Bruno Latour and the Actor-Network Theory; Nigel Thrift and his notion of a spatialized subjectivity; Sartre and the discussions regarding the subject in history; Mattijs van de Port and Annemarie Mol and the act of eating. Then, some propositions that comment on the presented narratives are outlined as (in)conclusions, connecting theoretical thinking with practices in the psychotherapy field. By proposing a dialogue between the thought of the French Bruno Latour, sociologist, and Jean-Paul Sartre, philosopher, in relation to subjectivity, it can be read as a contribution to the approximation between Actor-Network Theory and Phenomenology as considered by Sartre.

Keywords: subjectivity, psychotherapy, clinical psychology, actor-network theory, phenomenology.


 

Reflexiones sobre la Subjetividad: Cuatro Narrativas y Algunas (In) Conclusiones

 

RESUMEN

El propósito de este artículo es poner en tensión diferentes concepciones teóricas acerca de la noción de subjetividad, reflejando cómo cada mirada sobre esta idea influye en las prácticas en el campo de la clínica psicológica. Estas nociones están dirigidas a través de cuatro breves narraciones que evidencian las ideas de sus autores sobre el tema: Bruno Latour y la Teoría del Actor-Rede; Nigel Thrift y su discusión acerca de la subjetividad en el espacio; Sartre y el problema de lo sujeto en la historia; Mattijs van de Port y Annemarie Mol y el acto de comer. Luego, algunas proposiciones que comentan las narrativas presentadas se resumen como (in)conclusión, conectando el pensamiento teórico con las prácticas en psicoterapia. Al proponer un diálogo entre el pensamiento de los franceses Bruno Latour, sociólogo, y Jean-Paul Sartre, filósofo, en relación con la subjetividad, puede leerse como una contribución a la aproximación entre la teoría del Actor-Rede y la fenomenología como lo pensaba Sartre.

Palabras clave: subjetividad, psicoterapia, psicología clínica, teoría del actor-red, fenomenología.


 

 

Na abertura de A hermenêutica do sujeito, Foucault (2006) retoma a célebre frase utilizada por Sócrates e que serve de base a muitos fazeres no vasto campo da Psicologia: "Conhece-te a ti mesmo". Esta foi, aliás, uma das primeiras frases que aprendi no curso de graduação, visto que Sócrates, com esta recomendação, teria fundado uma tradição do pensamento psicológico: olhar para si mesmo para se conhecer, o que os clientes/pacientes fariam nos consultórios privados de psicoterapia, campo hegemônico, embora não único, da prática clínica. Entretanto, Foucault evidencia que há duas noções no pensamento helênico que são unificadas neste "conhece-te": gnôthi seautón ("conhece-te a ti mesmo"), proposição délfica, e epiméleia heautoû (cuida de ti mesmo), termo utilizado por Sócrates (Foucault, 2006, p. 4-5). Neste sentido, afirma o pensador francês:

Creio, pois, que esta questão da epiméleia heautoû deve ser um tanto distinguida do gnôthi seautón, cujo prestígio fez recuar um pouco sua [da epiméleia] importância. Em um texto que logo adiante tentarei explicar com mais precisão (o famoso texto do Alcibíades em sua última parte), veremos como a epiméleia heautoû (o cuidado de si) é realmente o quadro, o solo, o fundamento a partir do qual se justifica o imperativo do "conhece-te a ti mesmo". (Foucault, 2006, p. 11)

Assim, o "conhece-te a ti mesmo", cujo sentido aponta para as práticas de dominação de um saber sobre si, precisa ser relido como uma prática de cuidado,

uma atitude geral, um certo modo de encarar as coisas, de estar no mundo, de praticar ações, de ter relações com o outro. A epiméleia heautoû é uma atitude – para consigo, para com os outros, para com o mundo.
Em segundo lugar, a epiméleia heautoû é também uma certa forma de atenção, de olhar. (Foucault, 2006, p. 14)

No entanto, o que seria esse "si mesmo" do "cuidado de si"? E como esse "si mesmo" é retomado numa perspectiva psicoterápica? São estas as questões sobre as quais este artigo reflete sem, contudo, lhes dar uma resposta definitiva. Pretendo aqui tensionar diferentes concepções teóricas sobre subjetividade como modo de refletir acerca da prática psicoterápica. Estas concepções são tematizadas por meio de quatro narrativas breves que evidenciam as ideias de seus autores sobre o assunto: Bruno Latour e a Teoria Ator-Rede; Nigel Thrift e a subjetividade espacializada; Sartre e o sujeito na história; e, por fim, Mattijs van de Port, Annemarie Mol e o comer. Em seguida, algumas proposições que comentam as narrativas apresentadas são esboçadas, a título de (in)conclusão, conectando o pensar teórico com as práticas no campo da psicoterapia.

Longe de querer tematizar como se dá o cuidado ou qual seria o modo mais adequado para que esse aconteça, a proposta deste texto é refletir sobre como algumas noções de subjetividade podem ressoar no fazer clínico. Para tanto, não buscarei deslindar todo o campo teórico sobre o qual se fundamenta cada diferente noção, mas propor reflexões a partir de breves excertos extraídos das obras dos autores citados. Cada narrativa, assim, se faz presente como exemplificação de uma versão 1 possível da ideia de subjetividade, como uma cena em que um dado modo de lidar com a noção de subjetividade emerge, mesmo que essa versão não seja exatamente aquela que o autor do excerto defende.

Como exemplo que alinhava a ideia de subjetividade, recorro a uma história de nosso tempo, sem me ater, propositadamente, a um relato de prática clínica. Em PT como metáfora - o mal da sigla ao signo, a filósofa brasileira Tiburi (2017, p. 11) analisa o uso da sigla do Partido dos Trabalhadores (PT) como "metáfora sobrecarregada de elementos negativos que tem sido um recurso expressivo para o mal em nossa cultura". Em uma operação ampla, a sigla PT passa a ser signo de todo o mal que acomete o país: "a questão da corrupção, comum a todos os partidos e até à própria cultura, passa a ser usada no contexto da opinião pública como se fosse uma prática ‘petista' e não de todos os partidos e da maioria dos cidadãos" (Tiburi, 2017, p. 11). No mesmo sentido, lembro-me de um chiste a que eu e meu marido recorríamos, forma como ironizávamos esse uso metafórico que Tiburi aponta em seu texto: entre os anos de 2008 e 2010, período final do governo do então presidente petista Luís Inácio Lula da Silva, dizíamos, em pilhéria, "a culpa é do Lula" para qualquer pequeno mal, tal qual muitos amigos e familiares insatisfeitos com o governo genuinamente faziam. Perdeu-se a hora para o trabalho? "A culpa é do Lula". O almoço não estava a contento? "A culpa é do Lula".

Mas não é sobre política – ao menos não dessa, que podemos chamar de política institucional ou partidária – que me debruço aqui. Se narro essa história é para apontar para o problema: como um único sujeito pode ser tomado como produtor de uma realidade maior, mais complexa e heterogênea que ele próprio e o mundo mais imediato que o cerca? Ao mesmo tempo, e por outro lado, como esse mesmo sujeito pode ser desconsiderado em função dessa mesma realidade, em leituras que ignoram a ação específica de uma determinada pessoa sobre o mundo que a cerca? Afinal, cada um desses polos de pensamento sobre o lugar e as possibilidades da subjetividade implicaria em práticas clínicas diversas, uma vez que o sujeito estaria situado muito além ou deveras aquém do mundo.

Para enfrentar tal problema, apresentarei as já mencionadas quatro pequenas narrativas de artigos e livros, que tematizam direta ou indiretamente a noção de subjetividade. Por meio de cada narrativa, buscarei evidenciar, recorrendo ao exemplo de Lula e o PT, possíveis caminhos clínicos para os quais a noção de sujeito em cena poderia apontar. Este exercício, ressalvo, não é exaustivo: outros caminhos certamente podem se desdobrar de cada narrativa, limitando-me aqui a apresentar apenas um derivado de cada narrativa. Em seguida, tensionarei tais caminhos em conjunto, uma busca por alguma apropriação das discussões apresentadas – uma (in)conclusão. É importante situar que este trabalho parte de uma pesquisa no vasto campo da Psicologia, em contato com outros campos, como a Sociologia, a História e a Filosofia, sem, no entanto, que estes sejam esmiuçados em suas especificidades.

Primeira Narrativa: Bruno Latour e a Teoria Ator-Rede

Bruno Latour é um sociólogo francês contemporâneo que, ao lado de John Law e Michel Callon, criou uma abordagem para o pensamento sociológico chamada de Teoria Ator-Rede (TAR). Embora o nome já tenha sido criticado pelo próprio Latour, o sociólogo compreende que seu acrônimo, ANT 2, é uma excelente descrição de sua proposta: seguir os atores humanos e não-humanos em suas formações de rede como se fossem pequenas formigas traçando um caminho (Latour, 2012). Embora seus trabalhos enfatizem o fazer sociológico, as contribuições do pensador têm sido apropriadas para o campo psicológico por diversos autores, como Ronald Arendt, Laura Quadros e Márcia Moraes, cujo artigo sobre estilo será apresentado mais adiante (Arendt, Quadros, & Moraes, 2019).

Uma história encontrada nas primeiras páginas do livro de Latour (1988), A Pasteurização da França, obra originalmente lançada em 1984, me salta aos olhos. Neste livro, Latour analisa o pasteurismo, movimento que toma por base as descobertas do laboratório chefiado por Louis Pasteur, cientista que, ao dar visibilidade à ação de micróbios sobre o adoecimento, teve grande impacto no campo da medicina e saúde pública. Em sua análise, Latour (1988, p. 25) chama à atenção que, na empreitada de acompanhar o pasteurismo, é importante considerar "que aquilo que o movimento higienista fez por intermédio de Pasteur, teria feito de qualquer modo sem esse cientista em especial. Ele [o movimento higienista] teria tornado o ambiente mais saudável". Afinal,

Uma multidão pode mover uma montanha; um único homem, não. Se, no entanto, dizemos de um homem que ele moveu uma montanha, é porque ou ele se apropriou de ou a ele foi creditado o feito da multidão que ele dizia comandar, mas da qual ele também fazia parte . . .  Os pasteuristas, que somavam, é preciso lembrar, não mais do que poucas dúzias de homens no princípio do movimento, saíram a dirigir e traduzir o movimento higienista. Na França, o resultado foi tal que este movimento passou a ser identificado com o homem Pasteur, e finalmente, seguindo o curso de um costume bastante francês, o homem Pasteur foi reduzido às ideias de Pasteur, e suas ideias, a seu turno, a "fundamentos teóricos". No final, então, o que emergiu foi o mundo invertido como estigmatizado por Tolstoi: um homem remove montanhas unicamente pela força de seu gênio. (Latour, 1988, p. 22-3)

Retomando o exemplo de Lula e o PT (Tiburi, 2017), nos cabe refletir como uma prática clínica que partisse da noção de subjetividade posta em cena por esta narrativa poderia ocorrer. Se o petismo precisa ser compreendido como um movimento maior do que Lula, principal fundador do partido e grande nome do mesmo, pode-se daí derivar que a responsabilidade de Lula é menor se tomada no vasto contexto do -ismo ao qual se agregou. Não é como se Latour, neste breve excerto, negasse que há algo como a "subjetividade-Pasteur" se fazendo ver, mas evidencia que a mesma foi amplificada por atores outros, que lhe dão um contorno que escapa ao próprio Pasteur. Há o risco de uma diminuição da ação de um sujeito no mundo em função da rede de qual ele faz parte? Afinal, o sujeito é feito fazer ou é o centro de onde partem as ações?

É importante lembrar que essa breve narrativa não dá conta da noção de subjetividade que podemos derivar do pensamento de Bruno Latour. Neste sentido, o texto de Arendt, Quadros e Moraes (2019), Digressões acerca da noção de estilo: contribuições para uma perspectiva não moderna do eu, é exemplar. Partindo do pensamento de Latour como inspiração primeira, os autoresconcluem que "podemos compreender esse ‘eu' não mais como detentor de sua saúde ou adoecimento, ou simplesmente determinado por categorias nosológicas. Menos ainda pensá-lo como determinado pela sociedade com suas transformações. Esse humano está em relação (...)" (Arendt, Quadros, & Moraes, 2019, p. 13). Neste sentido, o artigo em questão dá conta de apontar o quanto, em verdade, a noção de subjetividade oriunda do pensamento de Latour não se dá como ênfase nem no polo social – aqui representado pelo pasteurismo e petismo – nem no polo individual, interiorizado – Pasteur ou Lula –, mas na relação, no entre que emerge nas redes estabelecidas pelos diversos atores. Vale frisar que a própria necessidade de recorrer à ideia de dois polos que estariam em diálogo faz parte da lógica binária, uma das caraterísticas do projeto de modernidade (Latour, 2019).

Por isso, reforço que as narrativas aqui são excertos que evidenciarão diferentes modos de performar a noção de subjetividade e não necessariamente como o modo último de pensa-la por cada autor das narrativas. A partir desse ponto, não mais irei indicar isso, mas é preciso que o leitor leve tal ideia em conta ao considerar os excertos que se seguem.

Segunda Narrativa: Nigel Thrift e a Subjetividade Especializada

Em complemento à ideia de subjetividade como um processo menos centrado em uma individualidade, apresento agora outra narrativa. O geógrafo e cientista social inglês Nigel Thrift tem, como um de seus interesses, os estudos sobre performance. Afinado com essa linha, Thrift (2008a, p. 83) abre seu artigo Eu simplesmente não sei o que há em mim: onde está o sujeito? 3 narrando um fato que ocorre ao personagem Frank Bascombe no livro The lay of the land, de Richard Ford. Bascombe, ao encontrar-se com sua ex-esposa, encerra a conversa perguntando se ela aceitaria encontrá-lo para um outro bate-papo. Nada demais, não fosse o fato de que ele, na verdade, não gostaria de fazer o convite. Arrepende-se imediatamente e afirma:  "estou preso numa fúria de arrependimento, autocensura e confusão. Porque, porque, porque, porque, porque tive que perguntar?". Thrift se interessa por essa performance naquilo que ela tem de incontrolável. Afinal, mesmo que não quisesse fazer tal convite, Bascombe sente-se como que impelido a fazê-lo. Afirma,

(...) quero usar esta experiência comum para desenhar uma lição levemente diferente sobre seres humanos: nomeadamente, sobre o lugar da subjetividade. Quero perguntar onde são realmente tomadas decisões cotidianas como a de F. Bascombe, decisões que parecem vir de outra pessoa. (Thrift, 2008a, p. 83)

Ou seja, Bascombe agiria a partir de uma decisão plenamente sua ou em função de alguma outra coisa? Seria ele "o centro de suas ações" ou "feito fazer" algo, questão que pendulava acerca da narrativa anterior? Em seu esforço, abre mão de concepções psicanalíticas, neurocientíficas, sociológicas e históricas, tentando compreender a intersecção entre a subjetividade e o espaço:

Nesta concepção, ainda existem pessoas, mas muito mais como frouxas formações alocêntricas com fronteiras porosas, sobre as quais elas têm apenas controle limitado. A geografia de cada pessoa consiste em inúmeras camadas de subjetividade fluindo através dela, moduladas por um estilo característico próprio, que poderíamos entender como um modo de composição, composições emotivas, até mesmo como formas de arte. Uma pessoa se torna um conjunto de estados em modificação que são recebidos e passados adiante, estados sobre os quais cada pessoa raramente tem algum controle direto, mas, os quais podem ser modulados ao passar, de modo a produzir nuances, ou mesmo, no limite, formas muito novas de seguir adiante. (Thrift, 2008a, p. 85)

Deste modo, Thrift nos permite aprofundar a narrativa anterior: não apenas alimentada por um movimento mais amplo, a subjetividade também é nutrida pelo espaço que habita. O espaço, com todos os atores humanos e não-humanos que nos apresenta, age sobre nós e nos leva a agir. Mas, ainda assim, a narrativa estaria falando sobre um sujeito que é feito agir, que é menos senhor de sua ação do que suporia ser. É como se nosso "cliente" Lula tivesse performado o que performou como figura pública a partir de todas as condições que o espaço que habitava e os movimentos em seu entorno apontassem. Ainda é preciso outras narrativas para ampliarmos essa noção.

Terceira narrativa: Sartre e o Sujeito na História

Jean-Paul Sartre foi um filósofo francês do século passado cujo pensamento ficou conhecido pela alcunha de Existencialismo. Autor múltiplo (Cohen-Solal, 2008; Ewald & Gonçalves, 2009; Moutinho, 1995), escreveu contos, romances, peças teatrais, ensaios filosóficos, roteiros de cinema, canções, e outras formas de manifestação. Dentre seus principais interesses, figurava a construção de um método que possibilitasse a compreensão do ser humano singular, projeto ensaiado algumas vezes diante de seus analisandos de papel, ou seja, aqueles que ele biografou, como Jean Genet, Baudelaire e Flaubert (Nascimento, Campos, & Alt, 2012). Um dos seus principais textos rumo à discussão das possibilidades metodológicas de realização de seu projeto é Questões do Método (Sartre, 2002). Neste, o pensador se vê às voltas com uma questão: os marxistas de seu tempo, critica ele em meados dos anos 1950, estavam extirpando o homem da história, realizando análises cada vez mais totalizadas em torno de certas categorias, ou seja, mais centradas em uma lógica explicativa e determinada sobre o humano. Em dado ponto de seu texto, Sartre nos remete a um fragmento de carta escrita por Engels a Borgius 4:

Foi por acaso que Napoleão, esse corso, foi precisamente o ditador militar que a República francesa necessitava, esgotado por sua própria guerra; mas há provas de que, sem que houvesse um Napoleão, um outro teria preenchido a lacuna, porque sempre se encontrou o homem de que se precisava: Cesar, Augusto, Cromwell, etc. (Engels, 1894, s/p)

Sobre este trecho, Sartre (2002, p. 55) considera que alguns marxistas acabam por considerar a História sob o ponto de vista do "eixo médio da curva (de uma vida, de uma história, de um partido ou de um grupo social) e esse momento de universalidade corresponde a uma outra universalidade (o econômico propriamente dito)". Para ele, o caminho – proposto por seu Existencialismo, doutrina que deve ser lida em conjunto com o marxismo, ao qual visa justamente reagregar a subjetividade – está na recusa de

abandonar a vida real aos acasos impensáveis do nascimento para contemplar uma universalidade que se limita a se refletir indefinidamente em si mesmo. Sem ser infiel às teses marxistas, [o Existencialismo] pretende encontrar as mediações que permitam engendrar o concreto singular, a vida, a luta real e datada, a pessoa a partir das contradições gerais das forças produtivas e das relações de produção. (Sartre, 2002, p. 55)

Esta narrativa coloca em cena, portanto, um acréscimo ao entendimento das duas anteriores. O que ela propõe não é a negação daquilo que os excertos já comentados evidenciam, mas um acréscimo – com o qual, decerto, Latour e Thrift 5 concordam, mesmo guardados os distanciamentos colocados por seus pontos de partida filosóficos em relação àquele de Sartre. Se essa concordância não aparece aqui é em virtude das limitações do esforço empreendido: partir apenas de breves narrativas evidenciando como colocam em cena a noção de subjetividade.

Tal acréscimo seria justamente o de considerar a importância da ação do próprio sujeito na determinação de si no mundo. Ou seja, o que a narrativa faz emergir é a necessidade de um duplo movimento em que sujeito e mundo estejam de tal modo conectados que ambos participam na determinação um do outro. Aliás, a separação sujeito e mundo não seria ela própria mais um dos resquícios do pensamento moderno como entendido por Latour (2019)?

Retomando nosso fio condutor, apenas Lula é como ele, há algo como um modo pessoal de ser, aquilo que Arendt, Quadros e Moraes (2019) chamam de estilo. Aliás, as reflexões que faço a título de (in)conclusão, por um caminho diverso, são bastante próximas daquelas presentes no referido texto de Arendt, Quadros e Moares (2019), embora este não se debruce diretamente sobre uma corrente fenomenológica, como é o caso do pensamento de Sartre.

É importante, no entanto, estarmos o tempo todo atentos para como o petismo ele próprio se torna um importante elemento que retroalimenta o estilo desse sujeito, apontando para caminhos possíveis, fazendo-o fazer (Latour, 2012). Nisso, o espaço certamente tem um papel crucial (Thrift, 2008a), com todas as interações humanas e não-humanas que ele é capaz de apresentar. Qualquer tentativa de compreensão da subjetividade, nesta perspectiva, passa, portanto, pela possibilidade de consideração dessa complexidade que é tanto una como diversa, aparentemente individual em sua multiplicidade, atravessada por diferentes elementos, mas ela própria um dos eixos de atravessamento.

Quarta Narrativa: Mattijs van de Port, Annemarie Mol e o Comer

Por fim, vejamos agora a última narrativa: aquela de Mattijs van de Port, antropólogo, e Annemarie Mol 6, médica, filósofa e etnógrafa. Ambos holandeses e interessados em pesquisar, dentre outras coisas, o modo como o comer é um ato complexo e envolve, para citar alguns elementos, memória, afeto e cultura local. Em um texto escrito a quatro mãos, Port e Mol (2015) apresentam o modo como o chupar frutas se distingue do comer na Bahia. Ao longo do texto, salta aos olhos a forma pela qual os autores defendem que certo modo de encarar as performances evidencia uma nova ontologia:

Na tradição filosófica ocidental o termo "ontologia" demarca a preocupação com o real tal qual ele é; com o ser. "Uma ontologia" é a soma total dos objetos e sujeitos que povoam o mundo. Na lógica monoteísta a que se subscrevem as ciências, assim é o mundo, no singular, e isso faz com que qualquer sugestão de que haja mais do que um mundo seja seriamente herética. (Port & Mol, 2015, p. 166)

Assim, um olhar que não necessariamente unifique, mas multiplique o mundo e, por conseguinte, "as ontologias", no plural, torna-se uma defesa dos autores. Decerto, esta nova forma de olhar compreende a organização de sujeitos e objetos distribuídos de uma forma distinta:

Na esperança de que suas frutas sejam adequadas, nossos performers/informantes [aqueles que aceitaram ser filmados ao longo da pesquisa que originou o artigo] as pegam, as olham, espremem e cheiram. Olhar, espremer e cheirar podem ser modos de obter informação sobre o quão maduras as frutas estão, mas também são atos prazerosos em si. Quando o chupar [grifos no original] realmente começa, o conhecimento formal é marginalizado mais ainda. Pois para que uma fruta seja chupada elas não interessam pelo que elas são [grifos no original], mas mais por aquilo que elas oferecem [grifos no original]. E o que elas oferecem não se deriva simplesmente de uma série de características (sabores, texturas) que um objeto-fruta tem [grifos no original] e que o sujeito que a chupa percebe [grifos no original]. (Port & Mol, 2015, p. 173)

Dentre os muitos sentidos presentes nesse pequeno excerto, aquele que gostaria de ressaltar na composição dessa visada sobre a subjetividade é o das afetações. O texto de Port e Mol (2015) evidencia quanto, para além dos conhecimentos, das teorizações, dos sentidos pré-estabelecidos, a vivência, marcada por tudo aquilo que a afeta, é o elemento primordial para a multiplicação de ontologias. A retomada do vivido é elemento fundamental para a compreensão da subjetividade, uma vez que fora deste se corre o risco de cairmos nas totalizações contra as quais a narrativa inspirada em Sartre aponta. O conhecimento formal sobre uma ação é diferente desta quando em curso e o modo como essa experiência marca, (des)centra, (re)atualiza o sujeito é distinto em cada nova vivência.

Reagregando as Narrativas, Pensando a Subjetividade: (in)Conclusões sobre a Prática Psicoterápica

Retomando o exemplo que abriu esta discussão sobre os modos de existência, à luz da narrativa de Latour (1988), poderíamos pensar que Lula e o PT são tomados como metáfora de uma realidade mais ampla, mais complexa, que reputa falaciosamente a ambos a capacidade de mover montanhas. Contudo, como negar que uma pessoa tenha a capacidade, minimamente, de transportar alguns caminhões de areia para lá e para cá, participando da transposição de um morro? Afinal, como falar do social e da história sem perder de vista o sujeito? E como, sem perder de vista o sujeito, não o utilizar como elemento explicativo de tudo aquilo que se passa numa determinada época, local ou acontecimento? Essa questão está no cerne da prática psicoterápica, já que estamos diante de um cliente/paciente que está inserido numa dada situação: ele a constrói? Ele é por ela construído?

Refletir sobre essa questão exige a retomada de alguns aspectos das narrativas apresentadas e da trajetória de seus autores. Inicialmente, é importante recordar que Latour é um sociólogo. Se retomarmos as noções de social apresentadas por ele (Latour, 2012) e a definição de redes (Moraes, 2004), ou seja, se mantivermos em mente que o social se dá pelas articulações entre atores e redes, podemos ampliar o debate sobre subjetividade e a clínica. É necessário, porém, uma inflexão: na verdade, pode-se dizer que, mais do que atores, Latour (2012) se interessa por actantes. Enquanto aqueles ainda apontam para certa individualidade humana – um ator no palco, por exemplo –, este é um termo que sinaliza uma complexa rede de conexões. O ator que atua no palco foi antes atuado por uma série de outros actantes e, ele próprio um actante, é resultado de todos os atravessamentos dessa rede que é, a um tempo, anterior e atual ao momento do palco. E mais, ele é ainda actante pois irá atuar sobre toda uma nova rede quando do momento de sua performance. O actante é um ator que faz fazer e que, a seu turno, foi também feito fazer nas, com e pelas redes em que ele se inscreve.

Em sua perspectiva de espacialização da subjetividade, poderíamos afirmar que o actante é o sujeito encontrado no texto do geógrafo Nigel Thrift (2008a), formação cujo centro não está em si mesmo – "alocêntrico" –, mas numa fronteira com os demais sujeitos e sobre a qual cada actante "têm apenas um controle limitado". Deste modo, colocar-se diante de um cliente deve ser uma prática atenta para esses diversos elementos que atuam espacialmente e em rede sobre ele, bem como para os aspectos sobre os quais o cliente retroage.

De acordo com Harman (2009, p. 14), filósofo que trabalha com a perspectiva de uma Ontologia Orientada para os Objetos (OOO), em uma obra em que faz uma revisão crítica do pensamento de Bruno Latour, comenta que a proposta deste é colocar todos os actantes em uma mesma base ontológica, sem privilégios: "Átomos e moléculas são actantes, assim como crianças, gotas de chuva, trens-bala, políticos e numerais". Deste modo, a ação, tão comumente atrelada ao homem e sua capacidade de atuar sobre o meio, é ampliada para tudo aquilo que, de algum modo, participa dos "fluxos, circulações, alianças" que caracterizam a rede. Portanto, compreender o fazer de um actante passa por compreender todas as "co-ações" que o fazem fazer, bem como aquelas que ele irá agenciar por meio de seus atos.

Porém a ideia de que actantes possam ser tanto humanos quanto não-humanos e que se desdobram em redes de fluxos e alianças ainda não dá conta da proposta de Latour. Em The pasteurization of France (Latour, 1988), na parte intitulada Irreductions, o sociólogo cria uma espécie de autobiografia para esclarecer, retrospectivamente, o desenvolvimento de algumas de suas propostas. Nesse sentido, afirma que, ainda sem ter clareza do que isso significaria em termos de sua produção intelectual posterior, percebeu em certo momento que "Nada pode ser redutível a nada mais, nada pode ser deduzido de nada, tudo deve estar aliado a tudo [grifos nossos]" (Latour, 1988, p. 163). Uma tal afirmação implica que mais do que se desdobrarem nas tais redes e fluxos, os actantes não podem ser nada além ou nada escondido por trás das alianças que fazem: "De fato, a tese central de Latour é que os actantes não são diferentes das relações que estabelecem" (Harman, 2009, p. 28).

Desta forma, o que Latour propõe como prática voltada a pensar o social – que nos esforçamos para refletir no universo da psicoterapia – é o acompanhamento dos atores e suas relações, sem a pressa de reduzi-los a algo, definindo-os, ou ainda sem a astúcia de deduzir algo a partir deles. Diferente daquilo que chama de "sociologia do social", que pensa essa categoria como um conjunto de atributos razoavelmente definidos, Latour propõe uma "sociologia das associações", a TAR. Esta sociologia é uma "lentociologia", uma vez que não permite agilizações e caminhos curtos, mas um lento acompanhar das interações entre os mais diversos atores (Latour, 2012, p. 239).

O sentido de como esse caminhar lento deve se dar em relação a uma subjetividade singular, acredito, fica evidente a partir do trabalho de Jean-Paul Sartre. Defendo que sua leitura sobre subjetividade é próxima daquela de Latour, embora fundamentada em base filosófica distinta, como já apresentado. Sartre, porém, ao analisar seus biografados, acaba por viabilizar pontes mais evidentes com o campo psicoterápico. Em 1971, Sartre lança sua derradeira – e inacabada – obra: O Idiota da Família, biografia do romancista francês Gustave Flaubert. Ao longo das cerca de três mil páginas deste livro, o filósofo busca mostrar como Flaubert foi constituído por sua época e, ao mesmo tempo, a constituiu. Afinal, Flaubert não foi um qualquer, mas foi ele próprio. A sua escolha pela escrita – pelo trabalho de autor – não é uma escolha indiferente: poderia ter sido médico como seu pai e seu irmão mais velho, por exemplo (Sartre, 2013). O interesse pelo escritor é anterior a essa publicação, aliás. Já em Questão do Método, de 1950, Sartre (2002) lançara algumas análises sobre Flaubert. Em seguida ao trecho em que analisa o que os marxistas acabam fazendo com o sujeito na história, citado acima, Sartre afirma: "Não sabemos a razão pela qual Flaubert preferiu a literatura a tudo o mais, nem a razão pela qual ele viveu como um anacoreta, tampouco a razão pela qual escreveu esses livros em vez dos livros de Duranty ou dos Goncourt" (Sartre, 2002, p. 55). Não podemos dissolver o sujeito na história e nem tomarmos sua ação como uma que seria levada a cabo por qualquer outro indivíduo de seu tempo. Seus traços apontam para a rede em que ele se insere – voluntariamente ou não -, ao mesmo tempo em que seus traços também apontam para ele mesmo. Pensarmos a subjetividade fora dessa complexidade seria correr o risco de "explicar a flor pelo estrume", assim como afirma outro filósofo francês, Gaston Bachelard (1974, p. 350), sobre certa psicanálise. Seria tomarmos a rede como causa do sujeito ou vice-versa.

A proposta de ontologias múltiplas (Port & Mol, 2015) implica, por sua vez, em organizações também diversas entre o par cliente e mundo. Afinal, narrar o ato de chupar, num exemplo que busca estabelecer uma referência direta ao texto de Port e Mol (2015), é compreender que no momento daquela ação havia modos distintos de cada sujeito se relacionar com o objeto que se lhe apresentava. Embora este não seja o tema para os autores naquele texto, extrapolo seu escrito para pensar que a psicoterapia, numa perspectiva das múltiplas ontologias, seria, portanto, poder cuidadosamente considerar cada pessoa que chupa frutas, cada fruta que se oferece a este ato e o que emerge do encontro entre esses polos, não esquecendo que há outros mediadores em cena:  uma língua, uma cultura, uma época etc. Compreender que cada subjetividade ilumina uma ontologia própria, não sendo possível uma descrição única do ontos como aquelas encontradas na tradição filosófica, salvo se essa toma-lo como algo que é sempre movente e mutável 7. Assim, cada chupar de frutas requer uma visada que renuncie aos conhecimentos prévios – eles são importantes, têm seu lugar, mas não esgotam as possibilidades de compreensão daquele momento analisado. O que emerge no texto de Port e Mol (2015) são pessoas dispostas a chupar frutas em dado momento, frutas que estão aptas ou não a serem chupadas e o encontros entre tais pessoas e tais frutas. Cada elemento dessa trinca remete a um mundo em si. Passar rápido por esses diferentes mundos na tentativa de construção de uma lógica explicativa, de defini-los, categorizá-los, é invisibilizar perspectivas.

Na multiplicação de ontologias, o espaço é um elemento importante (Thrift, 2008a). É um dos rastros fundamentais, campo de existência e experiencial de sujeitos e objetos. A subjetividade é espacial. Mas é também performática, múltipla, histórica, inserida numa rede infindável que a conecta, atravessa, interpela. A formulação de Thrift (2008a) já retomada acima – a de que as pessoas são "frouxas formações alocêntricas" –, não parece perder a possibilidade de que o estilo de um sujeito seja considerado. Esse estilo (Arendt, Quadros, & Moraes, 2019) não se esgota no sujeito – já que este não controla plenamente o que emerge nesse campo subjetivo, que é fruto do encontro entre si mesmo e outros (humanos ou não). Mas também o estilo não está para além do sujeito: Pasteur fazia ciência apenas como Pasteur fazia. Qualquer outra personagem histórica posta em seu lugar pelos higienistas e já não saberemos o tom que todo o movimento higienista teria: um novo mundo se criaria.

A prática psicoterápica que desconsidera a subjetividade em sua especificidade, que se apressa para controlá-la por meio de conceitualizações, teorizações, perde o cliente em seu espaço, em sua cultura, em seu tempo. Já aquela que considera a subjetividade encapsulada, apenas atenta ao cliente, o encontra, mas fora de seu espaço, cultura e tempo – de que vale esse esforço? Por fim, uma psicoterapia que encapsula o social, o tempo, o espaço, a cultura e o sujeito, e os analisa cada qual a seu turno, os encontra todos, e os perde logo em seguida, para dar lugar ao seguinte, ao próximo tópico da análise. Assim, se a culpa é ou não do Lula, se o petismo é maior ou menor que o sujeito Luís Inácio, tudo isso são questões que invisibilizam a complexidade de cada um desses elementos postos em cena por tais visões. A pressa por encapsular a subjetividade em uma determinação positiva dela própria, em uma explicação de si, nos coloca distante daquilo que ela é de modo mais próprio: abertura para e com o mundo.

Por fim, é forçoso indicar que há divergências teóricas e de fundamento entre os autores chamados ao diálogo neste texto. Enfoco aqui o que eles têm de contato possível e contribuição para os pensamentos um do outro e, sobretudo, para uma reflexão sobre a prática psicoterápica. As quatro narrativas apresentadas apontam para caminhos distintos, porém complementares. É de fundamental importância ressaltar – o que busquei fazer em diferentes momentos ao longo do artigo – que cada narrativa não é denotativa da complexidade das obras de cada pensador que a originou. Elas servem apenas como excertos, breves cenas, que permitem o desdobramento de reflexões sobre a subjetividade. É sobre o que conecta essas diferentes narrativas que se tecem essas reflexões.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Rodolfo Rodrigues de Souza
Rua Barão de Mesquita, 605 apto 303, Tijuca, Rio de Janeiro - RJ, Brasil. CEP 20540-001
Endereço eletrônico: rodolforsouza@gmail.com

Recebido em: 07/11/2019
Reformulado em: 17/04/2020
Aceito em: 02/06/2021

 

 

Notas

* Doutorando em Psicologia Social pelo PPGPS/UERJ. Mestre em Psicologia Social pelo mesmo programa. Especialista em Psicologia Clínica na Abordagem Fenomenológico-Existencial. Professor no Centro Universitário Celso Lisboa.
1 Versão aqui é utilizado no sentido lato do termo, sem guardar relação com a noção de versão e tradução presente em Despret (2012).
2 Oriundo do inglês Actor-Network Theory, sendo a tradução de ant  para o português, formiga.
3 A tradução deste artigo a qual recorro foi realizada pelo professor Ronald Arendt.
4 Erroneamente, no próprio texto de Sartre (2002, p. 54-55), há indicação de que a carta foi escrita para Hans Starkenburg. No entanto, na compilação de textos em que encontrei a tradução em francês desta missiva, encontra-se a explicação de que a carta foi publicada pela primeira vez na revista Der Sozialistische Akademiker n° 20 de 1895 sem indicação de destinatário. Como a publicação foi realizada pelo colaborador do periódico Hans Starkenburg, muita confusão se produziu ao creditar este como sendo o destinatário do escrito de Engels. Por este motivo, opto por citar a carta no original e não por intermédio do texto de Sartre.
5 Latour (2012), ao defender a consideração simétrica de ator humanos e não-humanos, se coloca criticamente em relação à Fenomenologia, perspectiva adotada por Sartre, uma vez que esta toma como ponto primordial os atores humanos, que seriam, para esta, os únicos dotados de ação. Thrift (2008b), a seu turno,  toma o pensamento de Latour e outros autores afinados com a TAR, como um dos fundamentos para a constituição de sua perspectiva, a Teoria Não-Representacional.
6 Embora Annemarie Mol tenha uma vasta produção que tematize as relações de cuidado, contribuição importante para a reflexão sobre o fazer psicoterápico, opto por me distanciar destes escritos, convocando aqui apenas um excerto que contribua para a ampliação gradativa da noção de subjetividade ao longo das quatro narrativas propostas.
7 Perspectiva encontrada na primeira grande obra filosófica de Sartre (2007). Ao definir o ser do humano pela nadidade, Sartre o afirma como o ser da liberdade.

 

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